Leitura Partilhada
quarta-feira, dezembro 31, 2003
  Preparam-se para uma noite fantástica...
Não haveria melhor altura para dar início à leitura do 15º capítulo de Ulisses do que a noite de fim de ano (com a possível excepção do Entrudo... mas isso é uma outra história). Enfim, uma noite de excessos, em que quase tudo se perdoa... em que tantas promessas se fazem, e tanto muda.

A Leitura Partilhada deseja a todos um feliz 2004.

nastenka-d
 
segunda-feira, dezembro 29, 2003
  Rudolph
em aparição no capítulo 15.º, toma o papel de consciência do seu filho Bloom...


«Que andas a fazer por estes sítios? Não tens alma?»




Leitora
 
domingo, dezembro 28, 2003
  O Fazedor de Pão.
Em Belo Horizonte há um fazedor de pão muito especial. Trabalha com suas próprias mãos, amassa, deixa levedar enquanto prepara o lume certo, controla a cozedura. O resultado é um pão enorme, generoso, de aroma doce e fresco. Feito com palavras, sentimento e sonho. Fermentado com luz das mais belas e enigmáticas estrelas. Pão que se parte em pedaços e se partilha com os melhores amigos. Alimento de alma.

Bem haja, fazedor de pão!



Leitora
 
  Tempo
.

«Quando o dia enfim clareou fomos cada um de nós para as nossas casas. Não estávamos nem tristes nem alegres, e nem falávamos, e nem tinhamos qualquer sonho da noite anterior para contar um para o outro. E também não sabíamos o que fazer com aquele novo tempo que chegara.»

Paulinho de Assunção, Pequeno Tratado sobre as Ilusões, Campo das Letras, Porto, p.64.


Leitora
 
sábado, dezembro 27, 2003
  Um conto da Revista Ficções 6 (Brasil)
Visita de Paulinho Assunção


Durante um longo tempo, não houve luz em minha casa. Por isso, e sempre retornando à noite, aprendi a me locomover no escuro, sabia de cor as ranhuras e as superfícies, conhecia os buracos e as marcas, era capaz de apanhar uma agulha em tal armário, naquela gaveta, dentro de uma caixa.

Tamanha habilidade para as trevas foi-me inútil quando, entre os lençóis, eu apalpei o corpo, a pele, deslizei os dedos entre os cabelos imensos, investiguei boca, nariz e olhos, toquei seios e quentumes, mas jamais soube quem era ela, de onde viera, para onde ia.





Leitora
 
sexta-feira, dezembro 26, 2003
  "Mas tenho esperança...."
“Nada era diferente até que eu pisasse no jardim, até que eu sentisse os pés colados no chão, até que eu percebesse em que massa viscosa eu havia me metido, uma armadilha ocupando a grama, as passarelas de cimento, os canteiros, e dando a impressão de que eu era um ridículo e desengonçado animal preso numa superfície de cera.”




“À noite, tresloucada, testei idiomas de feras, falei com vultos, pratiquei as unhas.”



“Mas preferi deixar que o tempo escorresse à maneira de Ícaro, o tempo dos grandes pássaros, o tempo das grandes altitudes.”



“Eu possuía muitas forças dentro de mim, uma delas a força da persistência.”



“Os homens silenciosos, como nós, não temos medo.”



“Mas a minha derrota saiu pela boca.”



“Algumas épocas são melhores. Outras nem tanto. Mas a vida de um aventureiro é assim mesmo.”




“ – Se fosse preciso eu faria a viagem toda outra vez, pois não é todo o dia que se tem a oportunidade de ouvir o gemido das plantas...”




“Entre morrer aqui, é melhor morrer no mar.”
“...somos sal, eu penso, ao sal haveremos de voltar um dia.”




“Constante, repetitivo, o rumor acabava se transformando em silêncio, um silêncio interminável, semelhante àquele das longas viagens, quando o ruído da máquina entranha o corpo.”


.
“Mas tenho esperança.”



“E alguém trouxe fogos de artifício para que explodíssemos na escuridão.”






5. ARMADILHAS
25. NABAN
21. ÍCARO
16. O ENCONTRO
23. JÁ FAZ MUITOS ANOS.
11. A MORTE PELA BOCA
28. 0S SAQUEADORES
8. SINAIS
6. OS NAVEGANTES
22. LONGA VIAGEM
28. 0S SAQUEADORES
26. A PASSAGEM




Troti


 
  Ilusões e Desilusões no Pequeno Tratado de Paulinho Assunção
O substituto
Uma ilusão em família: O irmão manco desaparece. Fica o gato. O gato vira manco e todos acreditam ver nele o mano.

Visita
Uma ilusão individual: (...) aprendi a me locomover no escuro, sabia de cor as ranhuras e as superfícies(...) jamais soube quem ela era, de onde viera, para onde ia.

Audiência
Uma desilusão agrilhoante: Eu não posso vê-las, mas, quando procuro sair da sala para longe do dedo em riste do chefe, sinto as algemas, sinto duas, quatro grossas algemas acasaladas em meus pulsos e em meus pés

Os navegantes
Uma ilusão partilhada: Muito lindo este conto. Da cabina, vemos o campo escuro do bairro estender-se tão longe quanto as constelações.
Minha velha ri. Ri com os seu dentes de saudade. E, assim, olhando-a sorrir, vejo o exacto momento em que ela adormece com o balanço do nosso mar.


Olhos negros
Ilusão e desilusão: A mulher que eu escolhi para companheira tem olhos negros e desde que a vi pela primeira vez soube que o meu destino seria ao lado daqueles olhos. Um bilhete anónimo põe fim à ilusão: E terminava dizendo que em todos os sete mares, na imensidão dos oceanos, só uma ùnica vez o autor do bilhete encontrara uma cor semelhante aos olhos da minha mulher. – O azul arenoso do Oriente - ele dizia

Cidade circular
Uma ilusão colectiva: ou de como é perigoso adorar cegamente um só homem, por mais sábio que ele seja.

Da cor da romã
Uma ilusão falhada: O homem planejou a própria loucura com a exactidão dos grandes sistemas matemáticos. Por fim: Ele estava apenas lúcido e mais envelhecido.

Do vento e da chuva
Uma ilusão obsessiva: De vento e de chuva ele sabia tudo. (...) Não percebeu, porém, em todos aqueles anos, e em toda aquela vida, os dois olhos acinzentados, de ternura líquida e permanentemente cravados nele, como se o quisessem devorar. Os olhos eram os olhos de uma cega, na janela vizinha

Naban
Uma desilusão iludida: Um conto sobre o fim do erotismo. Hoje Naban é um animalzinho que ressona preguiçoso junto às macegas, nos ermos do terreiro. E eu, eu sou uma mulher que, com os anos, perco saudades e palavras. Sou uma flor que desfolha.

A passagem
A ilusão de uma noite de fim-de ano: (...) nós cantavamos em coro, os velhos com as bocas em oh, as mulheres com as bocas em ah, as crianças com as bocas em ih (...)
Quando o dia enfim clareou fomos cada um de nós para nossas casas. Não estávamos nem tristes nem alegres, e nem falávamos, e nem tinhamos qualquer sonho da noite anterior para contar um ao outro. E também não sabíamos o que fazer com aquele tempo novo que chegara.


Mendrugos
Uma ilusão infantil: Um conto que faz lembrar gambusinos.

Mariana
 
quinta-feira, dezembro 25, 2003
  20. OS DERROTADOS
"Mas tudo, para tudo, há um dia."




Troti
 
  18. O PORÃO
"O menino aguardou que a mãe saísse para a missa, como fazia todos os dias, e também foi procurar o seu deus nos porões da casa abandonada.
...
E quando começou a gritar por socorro, o seu grito era mais para dizer que não encontrara o seu deus, nem vozes, nem fantasmas, nem avôs, nem ancestrais."





Troti
 
  17. ESPELHOS
“O homem disse que no momento exacto saberíamos quem estava escolhido para morrer.
- O escolhido traz o sinal da morte – ele falou.
...
Na hora do valete, senti que era observado. Algo pulsou em minha cinco sete, aço em minha carne. O olhar vinha do leste e era o do meu companheiro.
- O ferro e a fera – ele gritou.
- A gosma e o cuspe – eu respondi.
Estávamos escolhidos."




Troti
 
  16. O ENCONTRO
“Faz algum tempo, avisaram-me que as colheitas seriam feitas, não duas, mas apenas uma vez por ano, e que a razão disso era que a terra em volta da minha cidade estava cansada.
...
Continuei indo, e numa das vezes em que fui, soube que naquele ano não haveria colheita. E não me deram explicações.
...
Hoje eu já não volto à minha cidade.”





Troti
 
  13. DA COR DA ROMÂ
“O homem planejou a própria loucura com a exactidão dos grandes sistemas matemáticos.
...
Foi com tristeza, porém, que ele constatou ser a loucura algo que até então prescindira de todo e qualquer planejamento, pelo menos dos próprios loucos. Mas se isto lhe trouxe tristeza e temor ( o temor de ser um pioneiro), o homem pôde, também, na criação do seu sistema, reviver a emoção dos conquistadores de terras desconhecidas, sabendo de antemão que a margem de erro ( e de rota) nos seus propósitos teria certamente uma contraparte de prazer.
Desse modo, ao se ver solitário na tarefa de enlouquecer, o homem foi buscar na memória, na memória de infância, um método tantas vezes ouvido...
...
Caso isso ocorresse, o seu sistema seria irrefutável e ele poderia enfim iniciar a queda à região do limbo, região sem ordem e gramática que ele idealizara como sendo a dos loucos, território de vazios, sem céus ou infernos.
...
Só....
...
O homem percebeu então que estava apenas lúcido e mais velho. Ele estava apenas lúcido e mais envelhecido.”





Troti


 
  Pequeno tratado sobre uma amizade
Quando, há alguns meses, li o "Pequeno Tratado Sobre as Ilusões", o Paulinho
Assunção era apenas um notável autor de língua portuguesa, cultor exímio da
lavra das palavras e das subtilezas da narrativa. O texto que, então,
escrevi para o "Mil Folhas" parece-me hoje, sobretudo, um pedaço inaugural e
grato da amizade que, aos poucos, me foi ligando ao homem que produz livros
com as próprias mãos, como um paisano que amanha a terra de onde hão de
brotar, para os nossos olhos, frases de pasmo. Desse momento para cá, fui
conhecendo o Paulinho-homem e o Paulinho-amigo que existem por trás do
Paulinho-escritor. Tomei contacto com o Paulinho que habita o mundo dos
blogs com subtilezas quase impróprias do imediatismo que as novas
tecnologias sugerem e a que incitam, mas também toquei os delicados volumes
manufacturados onde o obreiro das palavras verte as mesmas deambulações de
um Kafka imaginário cirandando pelas ruas de Belo Horizonte. Daí que, se a
minha admiração pelo escritor tem crescido com o passar deste tempo, o que
de melhor posso dizer sobre o Paulinho deve obrigatoriamente dar ênfase aos
laços afectivos que, entretanto, e ainda por via digital, fomos criando.
Entre o escritor e o amigo, preferirei sempre o amigo. Entre beber as suas
delicadezas de escrevente e esperar que o futuro nos coloque um diante do
outro, aguardarei pelo momento em que, enfim, poderemos erguer os cálices de
Porto que temos vindo a prometer-nos. Até lá, continuarei cúmplice fiel das
suas incursões à arca mágica dos arcaísmos da língua portuguesa.

Jorge Marmelo
 
quarta-feira, dezembro 24, 2003
  A ternura é um dom de beleza
Minha velha ri. Ri com os seus dentes de saudade. E assim, olhando-a sorrir, vejo o exacto momento em que ela adormece com o balanço do nosso mar.

nastenka-d
 
  "Entretanto, senhoras e senhores, as Boas Festas"
*

"(...)

Calma.
Espero a multiplicação dos pães e a multiplicação dos peixes. Espero pelos segundos da esperança. Espero pelos instantes da fé.

(...)."


Paulinho de Assunção, Pequeno Tratado sobre as Ilusões, Campo das Letras, Porto, p.18.

* Jorge de Sena, Visão Perpétua, Edições 70, Lisboa, p.178.


imorgado
 
  O Sábio faz coisas com as palavras?
Cidade Circular

"Qualquer tragédia, mesmo a tragédia ainda não acontecida, encontrava naquele homem um guerreiro que, para enfrentá-la, não necessitava mais que meia dúzia de sílabas tão simples como a água, mas tão poderosas como um chicote no lombo de dois potros negros."

Paulinho Assunção, PequenoTratado Sobre as Ilusões, Campo das Letras, Porto, 2003, p.29.


imorgado
 
  Quintandas na Varanda
.
A Mulher Com Asas chegou de madrugada com o “Livro do Desassossego”. Pôs as flores no jarro, passou o café, tirou as sombras das persianas, pronunciou duas vezes a palavra “sublime”. Depois se cobriu com um lençol de vogais e dormiu no lado direito das minhas perguntas.


É dos textos que mais gosto dele.

Deda
 
terça-feira, dezembro 23, 2003
  e então o homem disse ser um pescador
.


«Era um pescador, mas não de peixes. Era um pescador de palavras.»


A explicação é demasiado bela. Passem para comprovar...


Leitora
 
  20. OS DERROTADOS
“Agora sou eu aquele que segura a viga mestra de uma casa desabando.”



Quem nunca sentiu que segurou a viga mestra nem que tenha sido só por um momento?




Troti
 
  19. DO PAI E DO FILHO
“Já tentei explicar ao meu filho que nós, os homens, não somos fortes.”




Eu também já tentei.




Troti
 
  2. ASAS
“Quando a encontrei, eu era ainda um homem com asas.
Minhas especialidades na vida consistiam em apenas três: voar, descer por chaminés e investigar fechaduras.
Nunca fizera ou participara de qualquer batalha. Nunca matara um homem. E somente uma vez, e assim mesmo estimulado por amigos, eu tentara o salto para o precipício.
Desisti, pois as asas não suportariam o peso do meu corpo.
Então, quando a conheci, foi aquele arrebatamento. Em instantes, ela fez com que eu provasse dos seus mistérios. Em minutos, eu soube como se amarrava um tigre, como se esquartejava uma corça, como se degolavam macacos.
Fomos o festim e o incêndio.
...
Depois ela partiu.
Hoje eu já matei um homem e fiz algumas guerras.
...
E abandonei as asas.”




Esta é a história do homem com asas que voa mas que, na verdade, não sabe o que é voar, não sabe o que é o verdadeiro voo. Não sabe o que é a vida. Com o amor e a desilusão vai desvendar o cerne do conhecimento e atingir a raiz da maturidade. E, ao fazê-lo, numa paradoxal intenção, abandona as asas que lhe formatavam os movimentos e lhe impediam a libertação.



Troti
 
  Envelheceste Ícaro? Tu também?
Ícaro

"O quarto ficava no final do corredor. Sem bater, eu entrei, e já do pequeno hall vi Ícaro de frente para a janela, quase debruçado, as longas e velhas asas esparramadas à sua volta. Ao notar que eu entrara, ele falou um "até que enfim" sussurante e cansado. Mas não virou-se para mim. Permaneceu absorto, o mesmo Ícaro das quintas-feiras, de poucas e sempre dificultosas palavras. /.../"

Paulinho de Assunção, Pequeno Tratado Sobre as Ilusões, Campo das Letras, Porto, 2003, pp.53.



imorgado
 
  Tempo
.

«Bebemos em silêncio uma e uma dezena de vezes. Tinhamos muito tempo. Talvez a eternidade.»

Paulinho de Assunção, Pequeno Tratado sobre as Ilusões, Campo das Letras, Porto, p.58.


Leitora
 
segunda-feira, dezembro 22, 2003
  O gato da casa
Deixei por momentos o livro aberto sobre a mesa, junto ao computador. Venho encontrar o gato a ler: sentado em frente ao teclado, imóvel, concentrado nas letras. Só reage quando lhe faço uma festa e decido ler em voz alta, para a sua delícia:


«Eu só o trouxe para casa porque ele cruzou o meu caminho. (...) um gato é sempre um gato, tem dias e dias, pode estar de uma maneira ou de outra.»

Paulinho de Assunção, Pequeno Tratado sobre as Ilusões, Campo das Letras, Porto, p.11-12.


Leitora
 
  «Abraçada ao invólucro dele»
«Entre nós mudou pouco e mudou muito. Quando toco-o, já não sei se aquela pele está prestes a estalar, a se abrir, mostrando a outra que, não demorará muito, também será substituída
«Revoluções», Pequeno Tratado sobre as Ilusões, p. 66
 
  Revoluções
Sabemos que existe uma personagem masculina de quem se diz que, como as cobras, vai mudando de pele («O ruído é de palha seca. E geralmente a pele começa a se romper pelas costas. Depois estala. Logo sai inteira, fica no chão como um homem sem recheios.», p.65)
Percebemos que se trata de uma renovação que assenta numa experiência de redução: os invólucros vão-se gradualmente desprendendo do corpo, como se houvesse um cerne ou um núcleo a atingir.
Mas não sabemos o que aconteceu antes; gostaríamos de saber o que vai acontecer depois. O fim não nos ajuda: o corpo da personagem feminina parece estar contagiado, e envia-lhe uma mensagem quase gráfica que ela insiste em não querer decifrar.
E tudo isto fica a intrigar-nos durante muito tempo, como um enigma cuja solução precisássemos de descobrir para entender finalmente algumas coisas na nossa vida.

Alex
 
  Afortunados
Nós, que lemos. Este livro caiu nas minhas mãos, acidentalmente. Ganhei-o num sorteio. Sim, há sorteios que dão livros... Calhou-me em sorte este Pequeno Tratado. Bela fortuna.

Depois de ler, numa tarde de verão, emprestei-o à  Nastenka. Livro epidemia: apesar de ser difí­cil de encontrar nas livrarias, a Nastenka quis um só para ela. (A propósito, algo tem estado menos bem com a editora ou com a distribuidora; há livrarias do Porto com reservas ainda não satisfeitas...)

E depois... nada com desencaminhar amigos leitores: livro conquistador. Livro merecedor.



Leitora
 
 
 
  NABAN
Para quem quiser ler um dos contos do livro "Pequeno Tratado Sobre as Ilusões", (Prêmio Guimarães Rosa de Contos, 1998, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais e Universidade Federal de Minas Gerais), basta clicar.


O convite aqui fica...


Leitora
 
  14. DO VENTO E DA CHUVA
“No início, o homem só observava a direcção dos ventos. Depois, de tanto ficar ali junto ao muro, confundindo-se com o musgo e a humidade, ele também passou a observar a chuva.
....

De vento e de chuva ele sabia tudo.
Não percebeu, porém, em todos aqueles anos, e em toda aquela vida, os dois olhos acinzentados, de ternura líquida e permanentemente cravados nele, como se o quisessem devorar. Os olhos eram os olhos de uma vizinha cega, na janela vizinha.”


Encontrei neste conto uma mensagem extraordinária.
A história do homem que, de vento e de chuva sabia tudo mas que estava cego para a cega da janela vizinha, mostra-nos a cegueira humana perante a realidade comum, expõe a ilusão dos que se mantêm à margem, isolados nas suas convicções, perdidos para o mundo nos meandros da sua abstracção."




Troti
 
  PAULINHO ASSUNÇÃO...
Um nome.
Paulinho Assunção.
Paulinho.
Quanta ternura contém este simples nome.
Assunção.
A ilusão assumiu a forma humana para nos desvendar um universo.
O universo do encantamento, da fraqueza e da força, do mistério e da alegria, da crença e do romance, da vida e do fim. Mas sempre um universo empolgante de ternura, uma forma de carinho muito próprio, de sensibilidade profunda. Um universo de imaginação encantada e voz peculiar com raízes numa mente criadora e única na sua singularidade. E na sua ilusão.



Troti
 
  PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES
Esta pequeno livro foi uma revelação. Pelo teor e pela linguagem. Palavras comuns voam dispersas e pousam ao longo das páginas num toque de magia, para logo levantarem voo outra vez; cheias de poder, as asas em metamorfose, saltitam nos vários contos em volteio inesperado. E no voo da sua fantasia deixam cravadas na nossa mente marcas audazes, ideias sonhadas plenas de ilusão.



Troti
 
  Sem orgulho mas com preconceito
A Leitora tinha-me proposto a leitura do livro O pequeno tratado sobre as ilusões de Paulinho de Assunção. Não tinha a obra, nem conhecia o autor. Mas...Paulinho?! Vou ler o livro de um Paulinho?! E depois nós, portugueses, é que somos agarradinhos ao diminutivo! Pois sim! Está-se mesmo a ver que me vai sair um tropicalíssimo autor, amante das curvas das mulatas e outros temas quejandos. Com este nome...e ainda por cima poeta! Só os poetas brasileiros, homens feitos, são capazes de dizerem, sem corar: “Paulinho de minha graça!”. Ó vida!

Fui à livraria mais perto e encomendei a obra. Volvidos os dias de busca e requisição lá fui buscá-la. Como me distraí com outros livros que comprara, já vinha a chegar à porta quando me lembrei do motivo maior que me tinha feito entrar na livraria. Volto para trás. “Venho buscar o livro de Paulinho de Assunção." “E então, o título é...?”, pergunta-me o livreiro. O título? Qual título? Vergonha. Pouca. Na minha memória só mesmo o nome de “Paulinho” e enfatizei “Assunção. Paulinho de Assunção. É um livro de poesia.” Lá trouxe o meu livro de “poesia” para casa. Empilhei as minhas compras e o livro “Pequeno Tratado Sobre as Ilusões” ficou a meio. Folhei volumes, consultei índices, li parágrafos até chegar ao pequeno livro. “Belo título. Será uma conversa com os filósofos do século XVII?”. E abri a obra como sempre abro os livros de poesia e comecei a ler:



“Do pai e do filho



Meu filho de oito anos diz que deseja ser um titã. Logo de manhãzinha, ele já está praticando as suas palavras de guerra. Imagina derrubar paredes. Sonha com dia em que enfrentará o tigre de Bengala.

Já tentei explicar ao meu filho que nós, os homens, não somos fortes. Mas não adianta. Ele pega o meu braço e quer que eu o contraia. Apalpa o meu peito e quer o estiramento do músculo como se eu tivesse braços de aço. E tenta fazer das minhas mãos o triturador de inimigos invisíveis.

A cada dia, a professora envia um bilhete dizendo que o meu filho brigou mais uma vez. Já são frequentes as reclamações de pais de alunos. Recebo dezenas de cartas anónimas, nas quais sou chamado de monstro, demónio, pai de víbora.

Agora, até as noites do meu filho são dedicadas às batalhas. Seu sono é entrecortado por gemidos, grunhidos, roncos, ordens de ataque, sons de metralhadora pelos vastos campos de combate.

Certa noite, observando-o, não tive dúvidas de que ele pouco a pouco transformava-se em guerreiro sanguinário. Suas mandíbulas assemelhavam-se às de um comandante pedindo sangue, sangue, sangue.

Sei que qualquer dia desses serei acordado por seus punhos em meu pescoço. E não terei outra alternativa do que dizer a ele, talvez gritando, talvez com um ódio enorme no coração, que sou fraco, que não sou o herói que ele imagina.”
*



Sim, claro, percebi logo que o livro do poeta Paulinho de Assunção é um livro de contos. E que contos... gostei tanto, tanto, que para exorcizar o meu preconceito pus o livro a morar entre os livros de Jorge Luís Borges e os de Ítalo Calvino. Ali mesmo. Porque julgo que eles têm muito que contar uns aos outros, porque há afinidades, e assim, quem sabe, talvez haja conserto para a minha ignorância arrogante.



Obrigada Leitora por me teres dado a ler este livro surpreendente.



imorgado



* Paulinho de Assunção, PequenoTratado Sobre as Ilusões, Campo das Letras, Porto, 2003, pp.49,50.
 
  Como descobri o Pequeno Tratado Sobre as Ilusões
Foi a Leitora quem mo passou; aparentemente algumas coisas (as mais preciosas?) são assim encontradas, pela mão dos amigos. (Nessa altura, pela mesma mão, já visitava habitualmente Belo Horizonte)
Li o livro numa só noite, deslumbrada, a cada página, com a construção leve que se ia montando à minha frente. Em duas ou três páginas, ou menos até, pequenos e preciosos mundos, belos e frágeis e ternos como camélias.
nastenka-d
 
  A Realidade
O inesperado, o abrupto, o repentino corte, a súbita interrupção, muito comum em quase todos os contos, tudo isto faz parte de um certo trato com o real: enxergar no real a prenhez de outras realidades, realidades que os nossos olhos nublados pela secura do fato não mais enxergam.



Palavras do Autor, durante a entrevista a Nunes Carneiro, NovosLivros


Leitora
 
  Sou um pedestre convicto.
O pedestre, o homem que anda pelas ruas, ao nível do chão, também escreve com os pés. Andar é também uma espécie de escrita. Assim, meu interesse pelo homem mínimo, por essas povoações e essas gentes nas esquinas, essas povoações no ir e vir das ruas, essa vida que se faz em pequenas fagulhas no território cosmopolita de uma cidade, tudo isto se reflete em boa parte do que escrevo.


Palavras do Autor, durante a entrevista a Nunes Carneiro, NovosLivros


Leitora
 
  Outra apresentação...
Sexta-feira, com brisa para caravelas

Franz Kafka — Quem é aquele, com passadas filosóficas, pela Rua Outono?

Lucas Baldus — Aquele é o meu amigo Paulinho Assunção.

Franz Kafka — Parece que ele comprou tintas...

Lucas Baldus — São galões de azul para as luas de maio.




Pudesse ser aqui, nestas ruas frias do inverno do Porto, estranhamente povoadas de anjos feitos de lâmpadas, estrelas penduradas em árvores, e demais seres psicadélicos a festejar a época do menino...



Leitora
 
  Perguntas de Nunes Carneiro
Se pudesse falar directamente com os leitores portugueses, como se apresentaria e como descreveria a sua obra?

A eles eu diria: sou um escritor mínimo, recolho migalhas e pequenezas nas ruas deste nosso mundo. Em um tempo no qual vivemos, com essa ânsia alucinada pelo que é mega, pelo que é super, pelo que é ultra, declaro-me homem mínimo, pedestre, homem desmotorizado, com os pés ao nível das ruas. Leiam, então, a minha pequena obra, os meus pequenos livros, as minhas pequenas cartas com os olhos rentes às páginas. Não tenham complacência nem benevolência, tenham apenas a disposição para as frestas, os interstícios, as pequenas rachaduras por onde a luz encontra um sopro de vida.





Não sonhava eu encontrar uma apresentaçãoo perfeita, mas aqui a têm...



Leitora
 
domingo, dezembro 21, 2003
  Luxúria
«Breve é a nossa luxúria. Não somos mais que meios para essas pequenas criaturas que trazemos dentro de nós e a natureza tem outros fins além de nós.»



Leitora
 
  Idade
«Qual é a idade da alma do homem? (...) a sua idade é tão variável como o seu humor.»



Leitora
 
  Bloom visto no 14.º Capítulo
«Vens daí? Diz-me em voz baixa, quem demónios é aquele tição, esse de negro? Chiu!»


Nem neste desejado encontro com Stephen Bloom é bem aceite...


Leitora
 
  Tinha nascido um herdeiro
Finalmente, ao capítulo 14, Bloom e Stephen encontram-se.


«(...) E agora Sir Bloom que do seu corpo não tinha varão por herdeiro olhou para o filho do seu amigo e em pena se cerrou pela sua perdida felicidade mas por mais triste que estivesse por lhe faltar um filho de tão gentil intrepidez (pois todos de boas partes o consideravam) em não menos medida também se molestava pelo jovem Stephen pois vivia desordenadamente com aqueles vagabundos e consumia os seus bens com prostitutas.»

«Stephen D. Bloom.»


«Tinha nascido o herdeiro»

«Agora, por sua vez, é ele paternal e os que estão à volta dele podiam ser seus filhos. Quem pode ser? O pai atilado conhece o próprio filho.»




Leitora
 
  Sir Leopold no castelo
(notas ao 14º capítulo)
Um qualquer homem que ia de caminho deteve-se junto à porta ao tombar da noite. Do povo de Israel era aquele homem que na terra vagueando tanto tinha caminhado. Bondade pura de homem fora a missão que o levara àquela casa!
Começa em tom de romance de cavalaria, o capítulo. Quem assim fala, mostrando-nos um Leopold transformado em cavaleiro medieval, outrora ferido por uma seta com que o havia varado um dragão, e levantando a viseira do seu elmo em saudação aos companheiros? Estes formam uma fila de escolares de cada lado da mesa em torno da qual se reúnem; entre eles, o jovem Stephen. É por ele que Bloom aceita a companhia dos estudantes. Ruborizava-o a compaixão, o amor o compelia com o desejo de vaguear, pesaroso de partir.
nastenka-d
 
sábado, dezembro 20, 2003
  Citação XII
“Há tempo que chegue para compreender todos os caminhos do mundo.”



Troti
 
  Citação XI
“Como é que as pessoas podem apontar pistolas umas às outras. Por vezes disparam.”




Troti
 
  Citação X
“Qualquer coisa há em todas essas superstições, porque quando alguém sai não sabe os perigos que o esperam.”




Troti
 
  Citação IX
“As cores dependem da luz a que se vêem.”



Troti
 
  Citação VIII
“As pessoas têm medo do escuro...A luz é uma espécie de segurança. “

Troti
 
  Citação VII
“Não se recusa nenhuma oferta razoável”



Troti
 
  Canção
...e um carcás repleto de sorrisos complacentes para esta ou para aquela dona de casa, meio convencida, a fazer contas pelos dedos ou para uma virgem em florescência que timidamente aceita (mas o coração? diz-me!) os seus estudados beija-mãos.

Poderá parecer despropositado ou abusivo o paralelismo – mas estava a ler e recordei-me imediatamente...

Tinha um cravo no meu balcão;
veio um rapaz e pediu-mo
- mãe, dou-lho ou não?

Sentada, bordava um lenço de mão;
veio um rapaz e pediu-mo
- mãe, dou-lho ou não?

Dei o cravo e dei o lenço,
só não dei o coração;
mas se o rapaz mo pedir
- mãe, dou-lho ou não?

Eugénio de Andrade, Primeiros Poemas

nastenka-d
 
sexta-feira, dezembro 19, 2003
  Desencontro
(notas ao 14º capítulo)
Mais uma vez, embora embriagado, Stephen distingue-se dos demais pelas suas preocupações; é o único a ocupar-se minimamente de uma questão ética (que prioridade deve ser dada – ou não – à vida da mãe sobre a vida do filho), que o toca profundamente. Entretanto todos os outros aproveitam o nascimento para falar de (contra)concepção, ou antes, para se rirem das piadas mais ou menos obscenas que o assunto provoca... Todos menos Stephen, todos menos Bloom. Finalmente, os dois excluídos encontram-se...
Mas cada um vive as suas preocupações, e elas não se tocam: Ninguém há agora para Leopold o que Leopold foi para Rudolph...
O trágico no seu encontro é que Bloom, mais do que desejar ter um filho, deseja tornar-se pai; mas Stephen não o reconhece como tal, pois o seu desejo é por uma mãe. Ter-se-ão, na realidade, encontrado?
nastenka-d
 
quinta-feira, dezembro 18, 2003
  Para o Burke! Para o Burke!
Cedo o tom empolgado do início do 14º capítulo (que evoca antigos castelos e nebulosas noites) começa a ser substituído; mas tão subtilmente que só quando a ironia é por demais evidente nos apercebemos da mudança. Os cavaleiros reunidos continuam Senhores: Senhor Sofisma, Senhor Às Vezes Piedoso, Senhor Macaco Para Cerveja, Senhor falso Nobre, Senhor Acepipe, Senhor Cauteloso Tranquilizador. E Jovem Fanfarrão. A atmosfera há muito se tornou delirante; e falta ainda Mulligan propondo o estabelecimento de uma “herdade nacional de fertilização”... À medida que o episódio vai avançando, o discurso deixa de ser pesado; mas parece que os gritos e a balbúrdia aumentam.
nastenka-d
 
quarta-feira, dezembro 17, 2003
  Citação VI
“A areia é uma coisa sem esperança. Nada nela cresce. Tudo se desvanece.”




Troti
 
  Citação V
“Cada bala tem o seu alvo.”




Troti
 
  Citação IV
“Aprende-se sempre alguma coisa. Vermo-nos a nós, como os outros nos vêem.”


Troti
 
  Citação III
“Fé? Pão arremessado à água.”



Troti
 
  Citação II
“Julgas que te escapas e é em ti próprio que tropeças. A volta mais longa é o caminho mais curto para casa.”



Troti


 
  Citação I
“Amar, mentir e estar elegante porque amanhã morreremos.”



Troti
 
  O homem e a sua mulher
“É curioso, o meu relógio parou às quatro e meia. Foi precisamente quando ele e ela?
Oh, foi. Dentro dela. Foi ela que fez. Feito.
Ah!”




Ele come as ameixas e eu os caroços. Foi onde cheguei...


...Vinte anos a dormir na Caverna da Bela Adormecida. Tudo mudou...”



Os pensamentos de Bloom voltam sempre a Molly .


“A olhar para o mar, disse-me ela...Sempre pensei que me casaria com um lord ou com um cavalheiro rico que viesse num iate particular...

Porquê eu? Porque tu eras diferente dos outros.”




Sabemos assim que Leopold Bloom é diferente dos outros.




Troti

 
  Considerações de Joyce sobre os homens e as mulheres
"Há raparigas bonitas e homens feios que se casam. A bela e o monstro."

“...o velho ricaço de setenta anos e a noiva ruborizada”

“Casa-te em Maio e arrepende-te em Dezembro.”

“O comprido e o curto. Um ele grande e uma ela pequena.”

“A cada qual o seu gosto, como disse Morris quando beijou a vaca.”





“Têm os seus próprios segredos entre eles.”




“No fundo de tudo há magnetismo... E o tempo, bem é o tempo que faz o movimento. Depois, se uma coisa parou, toda a trapalhada pararia pouco a pouco. Porque tudo está coordenado. A agulha magnética é o que diz o que se passa ao sol, nas estrelas. Um pedacinho de aço. Quando se aproxima o íman. Vem. Vem. Pim! É isso, o homem e a mulher, íman e aço.”



“...anda por aí obra do destino, apaixonar-se.”




“O amor ri-se das fechaduras”





Troti



 
  Considerações de Joyce sobre os homens
“A força que um homem dá. É aí que está o segredo.”

“Não há frango que não volte ao poleiro.”

“As mão procuram as opulências.”

“Vê-se sempre o lado fraco de um fulano pela própria mulher.”

“Gajos que iriam por água abaixo se certas mulheres não lhes deitassem a mão.”

“Viúvos é que odeio vê-los. Parecem perdidos.”




Troti
 
  Considerações de Joyce sobre as mulheres
“Porque têm as mulheres tais olhos de feitiçaria?”

“Um defeito numa mulher é dez vezes pior. Mas torna-as argutas.”

“É isso que elas apreciam. Tirar o homem a outra mulher”

“As virgens, suponho, acabam por ficar loucas”

“À sua disposição. Porque é isso que elas querem. É o desejo natural.”

“Se tu não queres, atiram-se a ti.”

“Estou toda limpa, vem cá e suja-me”

“Põem tudo para tirar tudo.”

“Vestidas a rigor para alguém”

"Nunca esquecem um encontro."

“Mudam precisamente quando já estamos na senda do segredo.”

“Gostas de mim ou quê? O que elas olham é para o fato.”

“Sabem sempre quando um gajo lhes está a fazer a corte: colarinhos e punhos.”

“Gentilmente é que é. Não gostam de rudeza e de confusão. Beijar às escuras e nunca dizer nada.”

“O cabelo é forte durante o cio.”

“De qualquer maneira, temos de nos aliviar...Elas não se importam. Talvez lisonjeadas.”

“Oh! Se não se lhes responde quando se oferecem, deve ser horrível para elas...”

“Papagaios. Aperta-se o botão e o pássaro começa a palrar.”

“É isso que elas apreciam. Tirar o homem a outra mulher.”

“Como elas mudam de música quando a coisa não é como elas gostam.”

“Fingir que se necessita urgentemente, depois censurar-se por sua honra.”

“No primeiro beijo é que está o truque. O momento propício. Uma coisa desperta dentro delas.”

“Têm olhos par tudo. Espreitam debaixo da cama, à procura do que não está lá.. Desejosas de apanhar o susto da sua vida. Finas como agulhas, é o que são.”

"Diabos, é o que são."

"Mulher fechada em casa, esqueleto no armário."

“Não imagino como é que ela se sente naquela parte. A vergonha é o que mostram em frente de terceiros.”

“...muitas delas não sabem chegar bem ao fundo, acho eu. Mantêm a coisa durante horas. “

“Oh, padre não quer? Deixe-me ser a primeira.”

“Elas sentem tudo...Abertas como flores, sabem a hora delas...”

“...deve-se estar em guarda para não sentir muita piedade. Aproveitam-se.”

“Feia: não há mulher que julgue que é.”

Troti


 
  Bois do Sol
(para o 14º capítulo)
Depois chegarás à ilha de Trinácia, onde pastam
em grande número as vacas e as robustas ovelhas do Sol:
sete manadas de bois e igual número de belos rebanhos,
cada um com cinquenta ovelhas; estas não têm crias,
nem morrem nunca; e são deusas as suas pastoras.,
ninfas de belos cabelos, Faetusa e Lampécia,
que a divina Neera deu à luz para Hiperíon, o Sol.
Depois de as ter dado à luz e criado, sua excelsa mãe
mandou-as para a ilha de Trinácia para morarem longe
e guardarem os bois de chifres recurvos de seu pai.
Se deixares o gado incólume e pensares no regresso,
podereis chegar a Ítaca, embora muitos males sofrendo.
Mas se lhes fizerdes mal, então prevejo a desgraça,
tanto para as naus como para os companheiros; e se tu próprio
escapares, regressarás tarde, tendo perdido todos os companheiros.


nastenka-d
 
terça-feira, dezembro 16, 2003
  “Toda a alma tem uma face negra, nem eu nem tu fugimos à regra….”
(Rui Veloso, Lado Lunar)

Por muito cínica que a vida seja, acabo sempre por me descobrir programada para tentar descortinar os bons e os maus da fita, tal como me ensinaram nas histórias da minha infância.

Mas a leitura maniqueísta do mundo não parece ter enquadramento neste romance (embora haja representações de um certo tipo de indivíduos, mas cuja natureza secundária não nos permite vislumbrar os meandros da sua personalidade). Esta terá sido, julgo eu, uma das inovações de Joyce, por contraponto à concepção dualista patente nos romances algo delico-doces, tão em voga no sec. XIX (a virgem de uma candura imensa, o rapaz enamorado com alma de cavaleiro andante e todos os outros que lhes sacaneavam a paixão).

Acredito que, na época, tenha sido chocante, para leitores habituados a eufemismos e a colocar cada personagem na sua devida prateleira, este desafio às representações que já tinham construído na sua cabeça. As personagens de Ulisses são densas, surpreendentes, sendo que cada frase nos vai ajudando a desvendar a sua complexidade. Aparentemente antagónicas, revelam uma espantosa flexibilidade para percorrerem diversos registos, desde a força à fraqueza, a certeza à insegurança, a pureza ao calculismo, a suavidade à dureza.

Se eu pensar bem, nada de espantoso. Apenas, tal como cada um de nós.

Na maior parte das vezes, os seres castos não são assim tão castos; na maior parte das vezes, as pessoas de espírito suave também têm os seus momentos de intensa crueldade; de uma forma geral, ninguém é tão mau ou tão bom quanto isso. Talvez este seja um dos pluralismos que Joyce nos quis transmitir.

Perante tão grande lugar comum (!), não percebo porque passei por momentos de embaraço com aquilo que é, afinal, profundamente humano.


J.M.
 
  Definição...
"De qualquer modo foi uma espécie de linguagem entre nós."



Definiçãoo de Bloom para o que se passou entre ele e Gerty.


Troti
 
  Relação...
"Isso era o segredo deles, só deles, sozinhos no crepúsculo que se escondia e ninguém havia que o soubesse ou dissesse, salvo aquele pequeno morcego que tão suavemente voava pela noite, de cá para lá, e os pequenos morcegos não falam...
...
As suas almas uniram-se num último demorado olhar e os olhos que lhe atingiram o coração, repletos de um estranho fulgor, ficaram arrebatados no seu rosto doce como uma flor. Ela sorriu-lhe debilmente, um meigo sorriso de perdão, um sorriso quase em lágrimas e depois separaram-se."
...
diabinho cálido...O Deus, esse diabinho coxo...
...
Fez-me bem de qualquer modo. Estava em baixo de forma...Graças por este alívio...
...
Obrigado. Fizeste-me sentir tão jovem...
...
Voava um morcego...O senhor Bloom com a boca aberta...respirou."



Troti


 
  Explosão...
"E então subiu um foquete e estoirou num estampido cego e Oh, então a vela romana rebentou e era como um suspiro, Oh, toda a gente gritou Oh, Oh, em arrebatamento e soltou-se uma torrente de cabelos de ouro em cascata e dispersaram-se e Ah, eram como as estrelas de orvalho verde tombando douradas. Oh, que belo, Oh, suave, doce, suave."


Troti
 
  Crescendo...
"Um rosado delicado subiu-lhe ao lindo rosto mas ela estava decidida a que vissem e assim levantou um pouco da saia... para chamar a atenção por causa do cavalheiro em frente a olhar...Sim, era para ela que ele olhava e havia intencionalidade no seu olhar. Os seus olhos ardiam sobre ela como se a explorasse, como se lhe lesse a própria alma..
...
...Mirava-a como a cobra olha a sua presa. O seu instinto de mulher disse-lhe que tinha despertado o demónio dentro dele e ao pensá-lo um escarlate escaldante subiu-lhe da garganta à testa...
...
Os olhos escuros dele fixaram-se novamente nela, tragando-a em todos os contornos, adorando-a literalmente no seu trono...
...
Os olhos que nela estavam cravados faziam-lhe acelerar as pulsações. Olhou-o por momentos , ao encontro do seu olhar e nela se fez luz... invadiu-a um tremor...
...
Gerty deitou-se muito para trás...porque sabia bastante sobre a paixão de homens como aquele, de sangue quente...tinha o rosto abrasado por uma sufocação divina e arrebatante de tanto se esforçar por se inclinar para trás e ele pôde ver também as outras coisas...e ela deixava e viu que ele via... tremia por todo o corpo...que ele via tudo acima do seu joelho que ninguém jamais viu...e não tinha vergonha nem ele...e ele continuava a olhar, a olhar..."



Troti
 
segunda-feira, dezembro 15, 2003
  Gerty
“Toda a gente pensava o melhor dela por causa dos seus modos gentis.”

Pois é, por um lado sentimos toda a candura na descrição que Joyce faz de Gerty, mas ao mesmo tempo ela revela-se e expõe-se nos pensamentos menos bonitos que tem para com as suas amigas e as crianças:

- queria “que levassem aquele bebé chorão para casa para não lhe dar cabo dos nervos” e irrita-se com “os exasperantes fedelhos dos gémeos...uns macaquinhos grosseiros e aborrecidos...alguém devia dar-lhes uma boa tareia”, pensa que “Seria bem feita se (Cissy) tivesse tropeçado...”, acha que ela “parecia uma bruxa...com aquela blusa ridícula...e um pouco da saia interior a pender como numa caricatura” , e quanto a “Edy...uma solteirona...Mosquito irritante...sempre a meter o nariz onde não era chamada...gata execrável...delambida”.
Convenhamos que é um contraste. Não mostra a bondade genuína de quem é puro. Não é a heroína sensível dos romances cor-de-rosa. E sabe muito bem o que faz.


Troti

 
  Era o adeus?
Não. Tinha de ir mas voltariam a encontrar-se ali e disso sonharia até então, amanhã, do sonho da véspera.



Leitora
 
  Sedução
...


Mirava-a como a cobra olha a sua presa.


Leitora
 
  2004 está a chegar
...

além disso era ano bissexto e cedo passaria.



Leitora
 
  Amor
...

Pode ser que fosse isso, o amor que podia ter sido, que por vezes emprestava ao seu rosto de suaves linhas um parecer tenso de reprimidas significações, que dava uma estranha e anelante tendência aos belos olhos, um encanto que poucos podiam resistir. Por que têm as mulheres tais olhos de feitiçaria?



Leitora
 
domingo, dezembro 14, 2003
  «Mas quem era Gerty?»
Para que não sejamos nós a colocar a questão e a tentar adivinhar características - que se note que este capítulo é diametralmente diferente dos anteriores! - aparece esta interrogação na terceira página do capítulo.

Gerty. Um devaneio de Bloom num final de tarde. O Homem passou momentos difíceis, escapou para as rochas. Este é um local de deambulação, de facto. De encontro de tranquilidade. Já Stephen por aqui passara no final da manhã, agora Bloom vem em busca de tranquilidade.

Gerty,

adolescente irlandeza tão encantadora quanto se poderia desejar ver

esbelta, graciosa, inclinada para a fragilidade

em toda a Irlanda, bela terra de Deus, não haveria quem se lhe igualasse.



Assim a vê o cansado, carente, humilhado, desprezado Bloom.



Gerty observa Bloom, abatido e estranhamente tenso, pareceu-lhe o [homem] mais triste que já vira.



Encontram-se, assim, dois seres desafortunados, que por uma hora se imaginam, trocam olhares e excitações, seduziram-se.





Como se nada mais existisse no mundo. Como se o resto do mundo, o tal mundo que teima em não os aceitar e apreciar, pudesse deixar de existir.


Leitora
 
sábado, dezembro 13, 2003
  Capítulo 13
Ah, foi este! O tal... A gota de água que levou os censores a acabar com a publicação dos fascículos...

Logo este, escrito de uma forma tão conservadora, à época... mas certas palavras e actos provocaram o escândalo...


Leitora
 
  Comércio
(ainda a propósito do 13º capítulo)

Mas se és uma mulher mortal, das que na terra habitam,
três vezes bem-aventurados são teu pai e tua excelsa mãe;
três vezes bem-aventurados os teus irmãos! Será contente
a alegria que no seu coração eles sentem por tua causa,
quando vêem um caule florido como tu entrar na dança.
Por sua vez é mais bem-aventurado de todos aquele homem,
que com os presentes nupciais te levar para sua casa.
Nunca com os olhos vi outra criatura mortal como tu,
homem ou mulher: é reverência que sinto quando olho para ti.


Palavras de Ulisses a Nausícaa. Não duvido que Bloom as tivesse proferido (ou outras com o mesmo sentido) nos momentos anteriores ao fogo de artifício. Fútil enganador e instável como todos os do seu sexo. Logo, porém, se afasta de qualquer aproximação sentimental, chega a ser cruel, implacável com os defeitos de Gerty; abandona-a e regressa às suas habituais preocupações.
No entanto, não usou Gerty mais do que ela o terá usado; a troca, se a houve, foi justa para ambos. Talvez não tenha havido comunhão (ao lado, paralelamente, a cerimónia na igreja), apenas a satisfação individual de um desejo. Terminada a utilidade mútua, separam-se; entre eles não terá existido nada de real, de duradouro.
nastenka-d
 
sexta-feira, dezembro 12, 2003
  Um diabinho cálido
Primeiro, com toda a franqueza, pareceu-me repulsivo,
mas agora parece um dos deuses, que o vasto céu detêm.
Quem me dera que um tal homem pudesse chamar-se
meu marido, aqui vivendo, e gostando de aqui ficar.


É Nausícaa que assim fala de Ulisses, na Odisseia; e em Gerty reconhecemos o mesmo movimento. Apresentada como um modelo de virtudes, nem por isso se coíbe de calcular (ruborizando-se) a altura da saia que subirá em benefício de Bloom. E, qual Jane Eyre, deseja amá-lo para o salvar. Talvez apenas na aparência (na forma) seja ingénua, mas não é por isso que se torna desprezível; pelo contrário, o desejo de seduzir, a fragilidade (o defeito), apenas a tornam mais humana.
nastenka-d
 
  Amor
...

Tu amas uma determinada pessoa. E essa pessoa ama outra pessoa porque toda a gente ama alguém, mas Deus ama toda a gente.



Leitora
 
  Amor
.

M. B. ama um belo cavalheiro.



Leitora
 
  O amor que poderia ter sido
O entardecer de verão tinha começado a estreitar o mundo no seu misterioso abraço.
Ainda pensei ter aberto o livro errado, mas não; estava em Sandymount, ao cair do dia. Joyce satiriza o sentimentalismo do romance do século anterior, aquele contra o qual Ulisses se erige, e fá-lo pela cópia da sua forma; agora aumenta a certeza de que o narrador anónimo do capítulo anterior seria ele mesmo.
Apresenta-nos então Gerty MacDowell como uma figura quase etérea: a palidez de cera, a delicadeza das mãos; por fim, a desventura de não ter nascido em berço de ouro, admirada e pretendida. É esse o segredo de Gerty, o que lhe confere um encanto próximo da feitiçaria: O amor que poderia ter sido.
nastenka-d
 
  Amor
!

O amor ama para amar o amor.



Leitora
 
  Garryowen
Era o rafeiro amarelento que corria atrás de Bloom, instigado pelo cidadão. Lembram-se? Pois ouçam o que é o rafeiro aos olhos de Gerty: o lindo cão Garryowen do avô Gitrap que quase falava e era tão humano.
Quem feio ama...
nastenka-d
 
  Um novo livro
Quando começamos a ler o capítulo treze, a sensação é a de que estamos a ler um novo livro, devido à  diferença no estilo de escrita. Leiam um pouco...



“O entardecer de Verão tinha começado a estreitar o mundo no seu misterioso abraço. Lá longe, no ocidente, o sol estava a pôr-se e o último resplandecer de todo o também efémero dia detinha-se amorosamente no mar e na areia,...


Gerty MacDowell..., perdida em pensamentos, o olhar fixo no horizonte, um exemplar de adolescente irlandesa tão encantadora quanto se poderia desejar ver. Era proclamada formosa por todos os que a conheciam...a sua figura era esbelta e graciosa, inclinada para a fragilidade...A palidez de cera do seu rosto era quase espiritual na sua pureza de marfim...As mãos eram de alabastro raiado de finas veias...Mas a coroa de glória de Gerty era a riqueza do seu maravilhoso cabelo. Era castanho escuro com ondeado natural...e anichava-se-lhe na linda cabeça numa profusão de ondas luxuriantes...O bem torneado tornozelo exibia as suas perfeitas proporções sob a saia...


E contudo- e contudo! Essa tensa expressão no rosto! Uma tristeza torturante sempre presente. Traz a alma nos olhos...
...
A luz pálida do cair da tarde projecta-se sobre um rosto infinitamente triste e pensativo. Gerty MacDowell suspira em vão...O seu belo ideal não é o de um príncipe encantado...mas antes o de um homem viril...talvez com o cabelo já ligeiramente manchado de cinza e que a compreendesse, que a tomasse nos seus braços protectores, estreitando-a com toda a força da sua natureza profundamente apaixonada e a confortasse com um longo beijo. Seria como o céu. É por um assim que ela suspira neste perfumado entardecer estival.”


Troti


 
quinta-feira, dezembro 11, 2003
  Nomes...
"Elijah the Prophet
Eliyahu Ha-Navi ("Elijah The Prophet" in Hebrew) was a biblical prophet who lived in the 9th century B.C.E. during the reign of King Ahab and Queen Jezebel in the Kingdom of Israel. His prophetic fervor and fierce defense of G-d in the face of pagan influences in comparison with all other Hebrew biblical prophets earned him the honor of being the 'guardian angel' of the Hebrews and subsequently, the Jewish people. Because he was considered the strongest defender of G-d, he was said to be the forerunner of the Messiah. In the Book of Malachi, Malachi, who was the last of the Hebrew prophets, states that Elijah would reappear just before the coming of the Messianic Age (Malachi 3:1).


Abba is an alternate Aramaic term for "father." It is the word that Jesus used to address God in Mark 14:36. Paul pairs the word with the Greek word for "father" in Rom. 8:15 and Gal. 4:6.
The 'alep that terminates the form 'abba' functions as both a demonstrative and a vocative particle in Aramaic. In the time of Jesus the word connoted both the emphatic concept, "the father," and the more intimate "my father, our father."
While the word was the common form of address for children, there is much evidence that in the time of Jesus the practice was not limited only to children. The childish character of the word ("daddy") thus receded, and 'abba' acquired the warm, familiar ring which we may feel in such an expression as "dear father."


Adonai
The root 'dn occurs in Ugaritic with the meanings "lord and father." If the word originally connoted "father," it is not difficult to understand how the connotation "lord" developed from that. The basic meaning of the word in the OT is "lord."
Critical to the understanding of the meaning of the word is the suffix ay. It is commonly suggested that the ending is the first person possessive suffix on a plural form of 'adon ("my lord"). This is plausible for the form adonay, but the heightened form adonay, which also appears in the Massoretic text, is more difficult to explain, unless it represents an effort on the part of the Massoretes "to mark the word as sacred by a small external sign."
Attention has been drawn to the Ugaritic ending -ai, which is used in that language "as a reinforcement of a basic word," However, it is doubtful that this explanation should be applied in all cases. The plural construction of the name is evident when the word occurs in the construct as it does in the appellation "Lord of lords" ('adone ha adonim) in Deut. 10:17. And the translation "my Lord" seems to be required in such vocative addresses as "my Lord Yahweh, what will you give me?" (Gen. 15:2; see also Exod. 4:10).
It appears, then, that it is best to understand the word as a plural of majesty with a first person suffixual ending that was altered by the Massoretes to mark the sacred character of the name"



Troti
 
  Bloom queda e ascensão...
“- E chamam um homem a isso?”...
“- Duvido que alguma vez tenha posto a coisa à mostra”...
“- Bem, de qualquer modo teve dois filhos”...
“- E de quem é que ele suspeita?”...
“Caramba, a brincar, a brincar, dizem-se muitas verdades.”

...impotente, maricas, choramingas, raio gordurento, mijão, sacana...

Isto é Bloom ao longo do capítulo 12.

Mas, no final, Joyce troca-nos os dados adquiridos e apresenta-nos um Bloom apoteótico em ascensão. Quem é Bloom? Quem é que Joyce quer que Bloom seja?

“Eis senão quando se fez em volta deles uma grande claridade e eles contemplaram a carruagem onde Ele ascendia ao céu. E contemplaram -nO na carruagem, revestido na glória da luz, que por temor não ousaram olhar para Ele. E veio então uma voz do céu, a chamar: Elijah! Elijah! E Ele respondeu com um grande grito: Abba! Adonai! E eles contemplaram-nO, a Ele mesmo, ben Bloom Elijah, entre nuvens de anjos a ascender à glória da luz num ângulo de quarenta e cinco graus sobre Donohoe, em Little Green Street, como se fosse lançado por uma pazada.”


"...And it came to pass, as they still went on, and talked, that, behold , there appeared a chariot of fire, and horses of fire, and parted them both asunder; and Elijah went up by a whirlwind into heaven." II Kings 2:11



Troti
 
 
The Fiery Ascension of Elijah the Prophet
Northern School, 16th century.

The Tretiakov Gallery, Moscow, 99.5 x 64 cm.








The Fiery Ascension of Elijah the Prophet, painted in the sixteenth century, is classified as a work of the Northern school of icon painting. The Northern School can be described as a local, provincial, and archaizing school, which is often affected by folk art of the North. The icon depicts several moments leading to the ascension of Elijah, but in comparison to similar icons from Novgorod, it gives a unique interpretation of the Biblical story. The painting's ornate border, vibrant colors, and carefully placed detail help to distinguish this icon from its counterparts.

The story of Elijah is extremely important to the understanding and interpretation of the icon, as it is significant for both, Christianity and paganism. Beliefs associated with Elijah the prophet are among the clearest examples of the so-called double faith (dvoeverie). The saint became connected with Perun, the pagan god of thunder because of his own judgement by fire on Mount Carmel and, ultimately, because of his fiery ascension to heaven (Onasch, 379). Elijah's ascension in a chariot of fire gave him the title of protector from fire and thus turned him into one of the most popular saints. Elijah's importance to the inhabitants of Northern provinces rests on their belief that veneration should be given to the saints that could benefit the peasants in "their daily occupations...and preserve them from dangers" (Rice, 70). Thus, Elijah's famous fiery voyage became a popular topic of icons, particularly between the fourteenth and the sixteenth centuries.

Elijah's Fiery Ascension is composed of three episodes: the prophet's fiery ascension, Elisha's attempt to hold his master up, and the angel's visit to Elijah. The most important episode is the prophet's ascension to heaven on a chariot pulled by three fiery horses. In this rendition, his chariot is not shown, only the fancy light-colored wheel substitutes for the commonly shown cart with spoke wheels. The bright red "fireball" is encircled by four blue, green, and brown bands. Desperately trying to save his master, the disciple Elisha is holding on to the coat of Elijah, while the prophet looks onward to the outstretched hand of Christ reaching for him out of heaven in the left upper corner. Two angels are hovering at each side of the fiery ball. They seem to escort Elijah to heaven; the one on the left announces the prophet's arrival, paving the way with music from a trumpet. In the bottom register, Elijah can be seen resting near a "juniper" bush while an angel urges him to eat, for he has a "...long way to go" (Onasch, 379). Scholars interpret this scene as an allusion to the Garden of Gethsemane. Near the head of the sleeping Elijah stands a red cross patterned with white dots.

One of the most striking features of the Fiery Ascension are the bright and intense colors characteristic for Novgorod, Pskov, and Northern schools of icon painting. A few blue accents counter the impact of the red and yellow, balancing the composition and providing an element of interest that attracts the viewers' attention. The border of the icon, with its wonderful detail, reminds one of popular distaff designs. In addition to the more obvious characteristics of the icon, there are less apparent features that give the painting its vibrancy and grace. For instance, a standard feature of the Pskov school is the emphasis placed on emotions of the depicted characters, as well as their angularity and stockiness. In Elijah's Fiery Ascension, the faces of the characters play an important role in creating the emotional impact of the story; the face of the angel kneeling beside Elijah, the face of Elisha trying to pull him down to earth; the face of the prophet, and the faces of two angels above are full of emotions. It is worth noting that the figures do appear to be slightly more rounded and stockier than in the sixteenth-century Moscovite works, noted for the elongation of figures. Finally, the details and the clear composition add to the unique quality of the work. The detail is not only seen in the border, but also in the trees, mountains, inscriptions, and carefully decorated clothing. All these elements make this rendition of Elijah's story one of the most unique Russian icons."



Troti




 
  ...
"Nascem muitas flores para florescer sem ser vistas."


Troti
 
  ...
“E Bloom a fingir que está terrivelmente interessado em coisa nenhuma...”



Troti
 
  ...
“E no fim de contas, - diz John Wise – porque é que não pode um judeu amar a sua pátria como um gajo qualquer?"



Troti
 
quarta-feira, dezembro 10, 2003
  Ben Bloom Elijah (2)
Bloom enfrenta um contexto de enorme agressividade e insulto.

Esta coisa de nos porem em causa, espicaça, até, um morigerado, pacífico, gentil Bloom.

Nunca levantou a voz, fazendo-se, por vezes, de desentendido, fingindo-se se “terrivelmente interessado em coisa nenhuma”.

No entanto, este ataque cerrado funcionou como elemento catalisador do seu amor-próprio.

Bloom defendeu os seus pontos de vista, reconheceu as suas origens e, qual Elias, ascendeu vitorioso aos céus, “entre nuvens e anjos (..) num ângulo de quarenta e cinco graus sobre Donohoe, em Little Green Street”.

J.M.
 
  Ben Bloom Elijah (1)
“É o novo Messias para a Irlanda”

“Por Deus que o crucifico..”


J.M.
 
  Desintegrar um homem
A sua generosidade para com a viúva é mal-interpretada.

A sua masculinidade é posta em causa.

“..e Bloom a tentar apanhar-lhe o lado fraco, a fazer de maricas…”

A sua paternidade é posta em causa.

“E de quem é que ele suspeita?”

A sua nacionalidade é posta em causa.

“Qual é a sua nação, se me permite perguntar?”

A sua honorabilidade, e a do seu pai, são postas em causa.

Crueldade, arrogância, maledicência.

“Um cavalo obscuro. Ele próprio é o sacana de um cavalo obscuro.”

Não é muito viril que um homem se insurja contra o ódio e a perseguição.

Estou a falar de injustiça.”

“Força, ódio, história, tudo isso. Não é vida para homens e mulheres, insulto e ódio. E toda a gente sabe que isso é exactamente o oposto daquilo que é a vida.” “Amor…. Isto é, o oposto do ódio.”

“Perseguição.. toda a história do mundo está cheia dela. Perpetuando o ódio nacional entre as nações.”


Ele é um ser aborrecido e patético.

“Juro por tudo que se apanhares uma palha do sacana do chão e se disseres a Bloom: “Veja, Bloom. Você esta a ver esta palha? É uma palha.” Juro pela minha tia que ele desataria a falar durante uma hora e ainda continuava a falar.”

A moderação também não é grande símbolo de virilidade…

“… e Bloom a tentar apoiá-lo na moderação e na chatice..”

J.M.
 
  A Dialéctica é para os fracos
“Não vos disse? Tão verdade como estar aqui a beber esta cerveja que se ele estivesse nas vascas da agonia tentaria convencer-nos que morrer era viver.”

J.M.
 
  Quando estou embalado detesto que me contrariem
“Mas, - diz Bloom - a disciplina não é a mesma em toda a parte? Isto é, não seria a mesma aqui se à força se opusesse a força?”

J.M.
 
  O que é isso de raciocínio?
“Assim começaram a conversar acerca da pena capital e, é claro, Bloom vem com os porquês e os dondes…”

O que interessam os porquês numa discussão??

“Isso pode ser explicado pela ciência, - diz Bloom..”

A erecção dos enforcados, os perigos do álcool, os direitos dos credores hipotecários, a febre aftosa, os efeitos do exercício físico, o passado/futuro da língua irlandesa, as leis e a história, a exploração do Homem pelo Homem,… "O Senhor Sabichão;"

Os argumentos que Bloom tenta fundamentar recorrendo à ciência e à sua experiência pessoal, são ridicularizados.

"E Bloom com os seus “mas não vêem?” e “mas por outro lado”".

J.M.
 
  Anti-semitismo
Os judeus exploram viúvas e crianças.

Os judeus não são irlandeses.

Os judeus roubam sem escrúpulos.

Conhecemos esses velhacos.. a pregar e a esvaziar-te os bolsos.”

“Explora o teu próximo é que é o lema dele.”

“Oh, não me recomendem a um israelita!”

“Não queremos mais estranhos na nossa casa.”

“… disseram-me que esses judeus têm uma espécie de odor estranho que deitam para os cães..”


Os judeus são um óptimo alvo de arremesso.

“…raça… que é odiada e perseguida…. Roubada… saqueada. Insultada. Perseguida. Tirando-nos o que por direito nos pertence.”

J.M.
 
  Nacionalismo Primário
“A adúltera e o chulo trouxeram os ladrões dos saxões”.

“Não são europeus.”


J.M.
 
  Os grandes nomes da Irlanda
“Toda a civilização que têm foi a nós que a roubaram.”

Aliás, basta reflectir na extensa lista dos “muitos heróis irlandeses", tais como:

Dante, Colombo, Cleópatra, Buddha, Heródoto, Rainha do Sabá, Napoleão…

já para não falar do Homem que Faliu a Banca em Monte Carlo ou na Mulher que Não

e… claro… Adão e Eva.

J.M.

 
  Obscuridade
Perfeitamente certo, - diz Bloom, - mas o meu ponto de vista era…”. Bloom, acho que eles não estão interessados em conhecer o teu ponto de vista…

Um Bloom enxovalhado, criticado, gozado, discriminado, enfrenta uma “…figura sentada numa rocha .. de ombros largos, de fundo peito, de fortes membros..” que “De ombro a ombro media várias varas..”.

Um cidadão violento, irado, maldizente, ressentido, escarninho.

Um ciclope, como símbolo de uma visão fragmentada, da cegueira intelectual que Joyce tanto criticava nos seus concidadãos.



“… o cidadão estava apenas à espera da oportunidade da palavra e começa a esvaziar…”, arremessa as suas injúrias em todas as direcções, cospe raiva e desdém, lança dardos venenosos contra os seus (favoritos) bodes expiatórios. Até o não-tão-amigável-quanto-isso narrador percebe que ele é “todo gases e mijo”.

“Há pessoas – diz Bloom – que sabem ver o argueiro no olho do vizinho mas não vêem o madeiro no seu próprio olho.”


J.M.
 
terça-feira, dezembro 09, 2003
  Bloom, a conversa e o cão
...

Na conversa, Bloom, é claro, vem com os porquês e os dondes, sublinha o narrador.

O cão não pára de farejar Bloom. O cidadão que nos narra os factos relembra um tal odor judeu divulcado pelo preconceito - ah, mas será com objectivos desencorajantes...


So they started talking about capital punishment and of course Bloom comes out with the why and the wherefore and all the codology of the business and the old dog smelling him all the time I'm told those jewies does have a sort of a queer odour coming off them for dogs about I don't know what all deterrent effect and so forth and so on.



Esta é apenas a introdução do amargo encontro de Bloom com este grupo de homens que bebem no Pub. Bloom é desprezado em primeiro lugar por ter alguns conhecimentos que usa na conversa, e por isso é ignorado ou desdenhado. Depois não é aceite pela sua religião, nem lhe reconhecem a cidadania, gozam com a afirmação de Bloom sobre a Irlanda como sua nação. E Molly. A senhora B. que é uma das razões para Bloom ser gozado.

Estranho, sempre tratado como estranho. Pior, é apelidado de percevejo.


-- Those are nice things, says the citizen, coming over here to Ireland filling the country with bugs.

So Bloom lets on he heard nothing and he starts talking with Joe, telling him he needn't trouble about that little matter till the first but if he would just say a word to Mr Crawford. And so Joe swore high and holy by this and by that he'd do the devil and all.



-- The strangers, says the citizen. Our own fault. We let them come in. We brought them in. The adulteress and her paramour brought the Saxon robbers here.


Leitora
 
segunda-feira, dezembro 08, 2003
  A Paródia e a Tensão
Ambas coexistem neste capítulo, de forma por vezes estranha Mas nada a que não nos tenhamos habituado já neste ULISSES de Joyce.

Nestas páginas, temos o até agora mais forte exemplo de desrespeito e insulto para com Bloom, em que toda a sua dignidade é questionada e mesmo levada a chacota. Mas mantém-se a paródia, como que para contrabalançar - breves narrações que se intrometem na história principal, por vezes em tom heróico. conseguem-se, assim, momentos cómicos num capítulo extremamente tenso e até violento.



Leitora
 
  Abstémio (entre cada copo!)
-- Are you a strict t.t.? says Joe.
-- Not taking anything between drinks, says I.




Ainda a esse propósito, umas páginas mais tarde, aqui temos uma referência a Joe:

Decent fellow Joe when he has it but sure like that he never has it.



Leitora
 
  Cobrança difícil
Collector of bad and doubtful debts. But that's the most notorious bloody robber you'd meet in a day's walk and the face on him all pockmarks would hold a shower of rain. Tell him, says he, I dare him, says he, and I doubledare him to send you round here again or if he does, says he, I'll have him summonsed up before the court, so I will, for trading without a licence. And he after stuffing himself till he's fit to burst! Jesus, I had to laugh at the little jewy getting his shirt out. He drink me my teas. He eat me my sugars. Because he no pay me my moneys?



Leitora
 
  Local
Barney Kiernans Pub, célebre nos inícios do século XX, e onde se desenrola o capítulo 12.º de ULISSES.





Seria este Pub o tal gardado por um rafeiro de impor respeito aos clientes, e cultivar ódios:

The bloody mongrel let a grouse out of him would give you the creeps. Be a corporal work of mercy if someone would take the life of that bloody dog.


Ou, referido de outra forma, numa das paródias literárias que vão povoando o capítulo:

a savage animal of the canine tribe whose stertorous gasps announced that he was sunk in uneasy slumber, a supposition confirmed by hoarse growls and spasmodic movements which his master repressed from time to time by tranquillising blows of a mighty cudgel rudely fashioned out of paleolithic stone.




Leitora
 
  Quem és tu?
(Capítulo 12)


Fala-nos um narrador: «Estava eu a passar o tempo com o velho Troy...»

Espanto-me: mas quem é este narrador, que toma agora a palavra, e que nos submete aos seus olhares, padrões de avaliação de terceiros...

Pouco sabemos dele: é Irlandês, é tradicional, é de Dublin. Faz cobrança de dívidas, ruíns e duvidosas. Não tem uma vida profissional fácil, pois os caloteiros que persegue são fugidios e não lhe pagam!

Conhece Bloom. Mas não o podemos considerar um amigo. Aliás, o episódio que nos narra é o mais ingrato que até agora vimos em relação a Bloom, e ao contar a história fá-lo com exageros que muito prejudica a imagem do Bloom.

Será este narrador, que nunca nos é apresentado ou nomeado, um "mero cidadão de Dublin", uma personagem que representa a cidade e a mentalidade que circunda Bloom e Stephen? Um representante do todo hostil e intolerante?



Leitora
 
  M'appari
(ainda para a Troti)

MARTHA O RETURN LOVE....... From M’Appari by Flotow. This beautiful song is integral to the Siren’s episode which is the musical centre of Ulysses. There is a background of continuous music in the episode; 158 references to 47 different songs in 50 pages. Half a dozen songs are sung in full; their words affect every character in the room. In Homer’s Odyssey the warrior Ulysses and his men near the island where the Sirens sing. The Sirens bewitch sailors with their singing and lure sailors to their deaths on the rocks. The sailors stuff their ears with wax , but tie Ulysses to the mast so he can hear the music without harm.

Bloom is enraptured by the singing of M’Appari in the midst of his own longing and sense of loss. “Through the hush of air a voice sang to them, low, not rain, not leaves in murmur, like no voice of strings or reeds or whatdoyoucallthem dulcimers, touching their still ears with words, still hearts of their each his remembered lives. Good, good to hear: Sorrow from them each seemed to from both depart when first they heard. When first they saw, lost Richie, Poldy, mercy of beauty, heard from a person wouldn’t expect it in the least, her first merciful lovesoft oftloved word.”



Fonte: bloomsdaycabaret


Leitora
 
  M'appari
(para a Troti)

Versão original em Italiano
M' APPARI (Martha)



M'appari tutt''amor, il mio sguatdo l'incontro:
bella si che il mio cor, ansioso a lei volo:
mi feri, m'invaghi quell'angelica belta,
sculta in cor dall'amor cancellarsi non potra:
il pensier di poter palpitar con lei d'amor,
puo sopir il martir che m'affana e stranzia il cor.
M'appari tutt'amor, il mio sguardo l'incontro;
bella si che il mio cor ansioso a lei volo;
Marta, Marta, tu sparisti e il mio cor col tuo n'ando!
Tu la pace mi rapisti, di dolor io moriro.


Uma tradução para inglês
M' APPARI (Martha) She appeared to me



She appeared to me, purest of love,
I discovered with my eyes this vision of delight.
Lovely was she, that my hungry heart, in a snap, to her did fly.
I was hurt, I was charmed by that beauty from above.
Love is etched in my heart, and cannot now be erased.
The mere thought that our hearts
with sweet love might beat as one
is enough to forget all the sorrow that fills my heart.
She appeared to me, purest of love.
I discovered with my eyes this vision of delight.
Lovely was she, that my hungry heart, in a snap to her did fly.
Marta, Marta, you have left me,
and my heart with yours has vanished.
Peace and quiet, gone now forever, I will surely die of pain.




Fonte: elyrics4u



Leitora
 
  Bloom fala...
“Há pessoas, - diz Bloom – que sabem ver o argueiro no olho do vizinho mas não vêem o madeiro no seu próprio olho.”



Troti
 
  Amor...
“O amor ama para amar o amor...
Tu amas uma determinada pessoa. E essa pessoa ama outra pessoa porque toda a gente ama alguém..."



Troti

 
  Bloom fala...
“- E eu também pertenço a uma raça, - diz Bloom – que é odiada e perseguida. E agora. Neste mesmo momento. Neste mesmo instante...
Roubada...Saqueada. Insultada. Perseguida. Tirando-nos o que por direito nos pertence. Neste mesmo momento...
- Está a falar da nova Jerusalém? – diz o cidadão
- Estou a falar de injustiça, - diz Bloom.
...
...Então que se oponham com força, como homens.
...
- Mas não serve para nada...Força, ódio, história, tudo isso. Não é vida para homens e mulheres, insulto e ódio. E toda a gente sabe que isso é exactamente o oposto daquilo que é realmente a vida.

-O quê?...

- Amor, - diz Bloom. – Isto é, o oposto do ódio.”


Troti

 
  Bloom fala...
“Bloom falava que se desunhava com John Wyse...
- Perseguição, - diz ele, - toda a história do mundo está cheia dela. Perpetuando o ódio nacional entre as nações.
- Mas você sabe o que é que significa uma nação? – diz Jonh Wyse.
-Sim, - diz Bloom.
- O que é? Diz Jonh Wyse?
- Uma nação? Diz Bloom.- Uma nação é a mesma gente que vive no mesmo lugar.
...
Assim, é claro, toda a gente começou a rir de Bloom e, diz ele, a tentar safar-se:
- Ou que também vivem em sítios diferentes.
...
-Qual é a sua nação, se me permite perguntar? Diz o cidadão?
- A Irlanda,- diz Bloom.- Nasci aqui. Irlanda.”





Troti
 
  Bloom fala...
“E, é claro, Bloom teve de dizer da sua lavra...


...e se disseres a Bloom: Veja, Bloom. Você está a ver esta palha? É uma palha. Juro pela minha tia que ele desataria a falar durante uma hora e ainda continuaria a falar.”





Troti
 
  Bloom fala...
(“_A ferramenta do pobre diabo que foi enforcado...quando cortaram a corda depois de o deixar cair, a ferramenta estava tesa...como um espeto”)

- Isso pode ser explicado pela ciência, - diz Bloom.- É apenas um fenómeno natural, não sei se estão a ver, por causa de...
E então começa com os seus palavrões acerca do fenómeno e da ciência, e este fenómeno e aquele fenómeno...

...Assim, é claro, o cidadão estava apenas à espera da oportunidade da palavra...

“E o cidadão e Bloom a discutir acerca da questão...E Bloom, é claro, com o seu charuto de presunção, a puxar à arrogância e com o rosto gorduroso. Fenómeno. O monte de manteiga com quem ele se casou é que é um lindo e velho fenómeno com um cu que parece uma bola....

- Você não compreende o meu ponto de vista, - diz Bloom
- O que eu queria dizer era que...

-Sinn Fein! – diz o cidadão.- Sinn Fein ambain! Os amigos que amamos estão ao nosso lado e os inimigos que odiamos, diante de nós.”





Troti

 
  ?
"-Bom Cristo!...
Quem disse que Cristo era bom?..."




Troti
 
domingo, dezembro 07, 2003
  Bloom
...

Blooquem
Bloom.
Mas Bloom?
Olhos gordurentos. Nariz de graxa.

gordurentobloom.

O velho Bloom.
ele (quem?)
o sensato Bloom
Blooelequem
Bloo
Bloom inconquistado herói
Negro matreiro gato
E Bloom?
o nosso amigo Bloom foi muito prestável
Bloom
Blomm
Príncipe Bloom
Bloom, suave Bloom, sinto-me tão só Bloom
Bloommar Bloomgraxa


Leitora
 
sábado, dezembro 06, 2003
  Portugal no "Ulisses"
Sim, Joyce lembrou-se de Portugal ( não no seu melhor ) e o nosso país aparece mencionado no 12º capítulo, inserido na seguinte frase:

"- Com tão poucas árvores como Portugal estaremos em breve, - diz Jonh Wyse, - ou como Heligoland com a sua única árvore, se nada se fizer para reflorestar o país."



Já agora aqui fica uma pequena informação sobre Heligoland:


Heligoland
From Wikipedia, the free encyclopedia.

Heligoland (in German, Helgoland and in North Frisian, Halund) is a small, German, triangular-shaped island approximately 2 km long, though a smaller island east of it is usually also included. The islands (population 1,650) are located in the Heligoland Bight or German Bight in the south-east corner of the North Sea, approximately two hours' sailing time from the mouth of the river Elbe.





Troti
 
sexta-feira, dezembro 05, 2003
  CITAÇÃO II
"Deixai que as pessoas se estimem umas às outra: harmonizai-as."


Troti
 
  CITAÇÃO I
“A flor verdadeira é no centeio que se dá.”




Troti
 
  Música inspirada no capítulo "As Sereias"



Thema (Omaggio a Joyce)
1958. For mezzo-soprano and tape. (8:12)


Luciano Berio's Thema


Realized in 1958 at the Studio di Fonologia, Thema is one of Berio's electronic/tape pieces, and takes the "Sirens" chapter of Ulysses as its source material.
The work opens simply, with Berio's wife Cathy Berberian reading the opening text from "Sirens." Eventually her agile voice is subjected, at first subtly, to amplification and slight distortion, until her final "hissss" opens the doors fully to Berio's technological manipulations. Although there are no electronically generated sounds per se, her reading is used as the material for a bizarre fugal exploration that eventually renders the text unrecognizable. The applied effects are myriad: distortions, echoes, stutterings; the tape speeds up, slows down; multi-trackings and splicings modulate her voice from incoherence to layered beauty. At times it achieves a spooky otherworldliness; at others it sounds like a tape machine having a particularly bad nightmare. To modern ears, used to Pink Floyd, trip-hop and electronica, it seems almost quaintly outdated; but nevertheless it is certainly due respect, for both its avant-garde spirit as well as the ingenuity it expresses in its limited medium. And even given its technologically dated nature, it's still an impressive accomplishment, and makes for a bizarre and intriguing listening experience, blurring the borders between language and sound.


http://www.themodernword.com/joyce/music/berio_thema.gif




Troti
 
  "Tudo está já perdido"
"All is lost now"

in Bellini's Italian [qv] Tutto è Sciolto (a title Joyce used in Pomes Penyeach: qv)

All is lost now,
By all hope and joy am I forsaken.
Nevermore can love awaken
Past enchantment, no, nevermore.




Troti
 
  "A Última Rosa de Verão"
'Tis the Last Rose of Summer

Melody - Melody - Thomas Moore, 1779-1852

Sir John Stevenson, 1761-1833


'Tis the last rose of summer,
Left blooming all alone,
All her lovely companions
Are faded and gone.
No flower of her kindred,
No rose bud is nigh,
To reflect back her blushes,
Or give sigh for sigh

I'll not leave thee, thou lone one,
To pine on the stem;
Since the lovely are sleeping,
Go sleep thou with them;
'Thus kindly I scatter
Thy leaves o'er the bed
Where thy mates of the garden
Lie scentless and dead

So soon may I follow
When friendships decay,
And from love's shining circle
The gems drop away!
When true hearts lie withered
And fond ones are flown
Oh! who would inhabit
This bleak world alone?




Troti
 
  Toque Paul de Kock
Tive curiosidade de decifrar o que seria o toque Paul de Kock. Eis um resumo do que encontrei sobre o autor. Curiosos títulos, não acham?

Paul de Kock (1793-1871) fut un écrivain français prolifique (plus de quatre cents textes : romans, vaudevilles, mélodrames, etc.) et immensément populaire. En pleine époque romantique, il se tourne délibérément vers la comédie de mœurs, parfois leste et souvent sentimentale. Ses textes se caractérisent par une structure assez lâche, un sens percutant du dialogue, des gags, des fins heureuses, des hommes ridicules et des femmes énergiques.

(http://bricabrac.mc.free.fr)




Títulos de obras de Paul de Kock:

« La femme, le mari et l'amant »

« Les femmes, le jeu et le vin. Un mari perdu »

« L'amour qui passe et l'amour qui vient »

« Un monsieur très tourmenté »




Troti
 
  Eh, eh, eh, eh. Não via
O capítulo 11 mostra-nos a angústia de Bloom e a sua pacificação e o triunfo de Blazes Boylan. Todo o capítulo é penetrado por música nas suas diferentes variantes, ritmo, pulsação, angústia, exaltação.

A música é o caminho para o clímax - o adultério de Molly . As palavras são notas que choram, que vibram , que penetram, que tangem melodias e transportam as sensações de Bloom num crescendo de emoção anímica e as palavras são também sinos que, numa cadência cada vez mais rápida, nos incutem a intensidade do acto sexual de Boylan . Joyce transporta-nos para estas situações com uma gradação de dois sons: o tinir da tipóia e o som associado ao simples vocábulo “Toc”, que de forma repetida se amplia. E ao fazê-lo imprime em nós a necessária tensão dramática do momento.


“Palavras? Música? Não: é o que está atrás.”



“Tinir.
...
Tinir, alegre tinir.
...
A retinir...
...
Uma tipóia tilintou junto ao passeio...
...
Retiniu o tilintar da tipóia.
...
Bloom ouviu um tinir, um pequeno som. Partiu.
...
Retinir. Partiu. Tinir...
...
Retinir de tipóia pelo cais abaixo. Blazes refastelado em rodas saltitantes.
...
Retinir.
...
A tipóia tine e retine.
...
O tilintar da tipóia.
...
Retinir todo deliciado.
...
Retine.
...
O retinir a passar...
...
A retinir pela Dorset Street.
...
Esta é a tipóia que tine e retine
...
Toc
...
Toc
...
A tipóia a ranger, rangente, parou.
...
Bate alguém a uma porta, bate com um toque, toque Paul de Kock com um sonoro orgulhoso toque, com um toque de faisão, toque. Toquetoque.
Toc.
...
Toc
...
Toc
...
Galofaisão.
...
Toc.
...
Toc. Toc.
...
Toc. Toc.
...
Com um galo, com um faisão.
Toc. Toc. Toc.
...
Toc. Toc. Toc.
...
Toc. Toc. Toc. Toc.
...
Toc. Toc. Toc. Toc.
...
Toc. Toc. Toc. Toc.
...
Toc. Toc. Toc. Toc. Toc.
...
Toc. Toc. Toc. Toc. Toc. Toc. Toc. Toc.
...
Toc. Toc.
...
Toc.
...
Toc. Um rapazote invisual estava à porta....Eh, eh, eh, eh. Não via."




Troti

 
  Toc
“Mas espere. Mas oiça. Escuros acordes. Lúlugugubre. Profundo. Numa caverna do escuro centro da terra. Mineral em fusão. Música em bruto.
A voz de uma era negra, de desamor, o cansaço da terra aproximava-se grave e dolorosamente, vindo de longe, de velhas montanhas a chamar pelos homens bons e verdadeiros…
Toc…”

...


“Baixo caia a música, melodia e letra…A emoção que arrepia…"
Toc. Toc…"


Troti


 
  MÚSICA
“É no silêncio que se sente depois de ouvirmos. Vibrações…”

“Vibrações: são isso os acordes.”

“…é necessário ouvir muito atento.”

“o tempo faz a melodia.”

“A beleza da música tem de ouvir-se duas vezes”

“Música. Implica com os nervos.”

“Até com um pente e papel de seda se pode tocar uma melodia.”

“As mãos e os pés também cantam.”

“Mar, vento, folhas, trovões, chuvas, vacas a mugir, a feira de gado, galos, as galinhas não cantam, serpentes a silvar. Há música em todo o lado…”

“O simples facto da música mostra que estás.”




Troti
 
  "M'appari"
.
Simon sings substitute English lyrics by Charles Jeffreys:



When first I saw that form endearing
Sorrow from me seemed to depart:
Each graceful look, each word so cheering
Charmed my eye and won my heart.
Full of hope, and all delighted,
None could feel more blest than I;
All on Earth I then could wish for
Was near her to live and die:
But alas! 'twas idle dreaming,
And the dream too soon hath flown;
Not one ray of hope is gleaming;
I am lost, yes I am lost for she is gone.
When first I saw that form endearing
Sorrow from me seemed to depart:
Each graceful look, each word so cheering
Charmed my eye and won my heart.
Martha, Martha, I am sighing
I am weeping still, for thee,
Come thou lost one,
Come thou dear one,
Thou alone can'st comfort me:
Ah Martha return! Come to me!


(peço desculpa pois não registei o site onde encontrei a canção e agora não o descubro)


Troti
 
quinta-feira, dezembro 04, 2003
  Tenho...Dito
"Sonnez.
...
Lacloche!
...
Naminedamine.
...
- Oh, Idolores, rainha dos mares do leste!
...
-Desvanecem-se as brilhantes estrelas…
...
…rompe a aurora.
...
-A pérola do orvalho…
...
-E eu de ti…
...
…aos lábios de Flora acorria.
...
-Não podia deixar-te…
...
-Sonnez la cloche!
...
Sonnez!

-Sonnez!

-La cloche

-…amor, adeus!

-Amor e guerra
...
- Quando o amor absorve a minha a minha alma ardente...
..
Amoroso ma non troppo
...
-...............minha alma ardente
...
-...................minha alma ardente
...
que me importa o amanhá
..
-M’appari
...
Um derradeiro adeus
...
-Máppari tutt’amor
...
Il mio sguardo líncontr...
...
Sonnâmbula
...
Lá em baixo entre os mortos
...
-Tudo está já perdido
....
-Quando a primeira vez eu vi essa forma sedutora...
...
...A tristeza pareceu partir de mim
...
- Cheio de esperança e de todo o encanto
...
-Mas, ah, era sonhar em vão...
...
...raio de esperança é...
...
Martha
...
- Cada gracioso olhar...
...
- Encantava o meu olhar...
...
Esperando
...
- Martha! Ah, Martha!
...
- Ve, tu, oh perdida!
...
Vem tu, querida!
...
- Vem...!
...
-Para mim!
...
Cloche. Sonnez la. Cloche. Sonnez la.

Era a glória e a fama
...
Já que o amor não vive
...
Não vive
...
Era a glória e a fama
...
Corpus paradisum
...
Blumenlied
...
-Qui sdegno
...
O rapaz rebelde
...
In nomine Domini
...
Mea culpa
...
Corpusnomine
...
- Abençoai-me, pai
...
Abençoai-me e deixai-me partir
...
A Última Rosa de Verão
...
Cloche. Sonnez la.
...
Nominedomine
...
Quando a minha pátria ocupar o lugar entre
...
As nações da terra
...
Então
...
Deixai que o meu epitáfio seja
...
Escrito
Tenho
...
Dito"


Estes vocábulos estão em itálico no texto e aparecem ao longo da acção. Muitos estão ligados ao mundo da ópera, género musical ao qual Joyce foi buscar introdução e ênfase para certos climas e momentos na narrativa.

Troti
 
  Diário de Bordo VIII - Terceira Leitura
A primeira vez que fui à ópera: quero fugir daqui.... Uma experiência lancinante de má. Até doeu.

A segunda vez: aagh... mas pode ser que...será?.... Algum assombro.

A terceira. Fascínio. Um lugar dentro de mim onde nunca tinha estado.

Não. Não é como comer bolachas de chocolate ou sentir o sol a bater na cara.

Uma aprendizagem. O gosto que se educa, que se acarinha, que se alimenta.

Um livro difícil, uma ópera, pedem-me....perseverança e dedicação, em troca de .... uma explosão interior.

J.M.
 
  ...
"Quando o amor absorve"




Troti
 
  ...
“…a música tem mandíbulas.”




Troti
 
  Sons no capítulo 11
.

Imperthhthh thnthnthn
Tinc
Ah!
Clapclap. Clipclap. Clapiclap
Pff
Uiii
tschink...tschunk
Pff! Uuu!
Rrrpr. Kraa.
Oh
Ufa! Ufa!
Tlim
Aah...
Oh! Oh!
Traztraz
Pum
Rum tumtum
Dlim,dlim,dlam,dlom,
Ssss
Toc.
Rrrrrrrsss
Puf …iiii
Rrrrr
Pum. Catrapum
Pum. É música. Isto é, é claro, é tudo pum, pum, pum…
Fff
Psst
Prrprr
Fff! Uuu. Rrpr.
Cran,cran,cran
Crancrancran
Craaa
Pprrpffrrppfff.”





Troti
 
  Traição
“Com reverências, o criado traidor.”

“Bateu com a mão no peito, confessando: mea culpa.”

“Cantava a suspirante voz de mágoa. Os seus pecados. Por três vezes blasfemara desde a Páscoa.”

“Batem à porta. O último retoque a pôr-se catita.”

“Esta casa é minha. Ámen. Rangeu os dentes furioso. Traidores à força.”


J.M.
 
  Abandono
“Vestidos de gala de todas as espécies a dançar nos salões do castelo. Miséria. Os camponeses lá fora. Faces verdes esfomeadas a comer azedas.”

”Sob o mostrador das sanduíches jazia uma última num ataúde de pão, uma solitária, a última sardinha do Verão.”

“Sinto-me tão só.”


J.M.
 
  Stephen
“A música tem encantamentos. Disse Shakespeare.”

“Outra vez passara pelo cemitério e não rezara pelo descanso de sua mãe.”


J.M.
 
  Dissimulação
“Se ela descobrisse. (…) Não, não dizer tudo. Mágoa inútil. Se elas não vêem.”

“Gostam de um final triste.”


J.M.
 
  Coincidências
“É Martha. Coincidência. Ia justamente escrever. A canção de Lionel. Belo, o nome que tem.”

“Marta. Que estranho! Hoje.”


J.M.
 
  Sempre a pensar em Molly
“Se apanho cinco guinéus com esses anúncios. A saia interior de seda violeta.”

”Oh, essa loção, não devo esquecer-me.”

“Molly é extraordinária a perceber se olham para ela.”

“Ela parecia bem. Levava um vestido cor de açafrão..”

”Lembra-te da loção.”


J.M.
 
  Robert Emmet
“I have but one request to ask at my departure from this world--it is the charity of its silence! Let no man write my epitaph: for as no man who knows my motives dare now vindicate them. Let not prejudice or ignorance asperse them. Let them and me repose in obscurity and peace, and my tomb remain uninscribed, until other times, and other men, can do justice to my character; when my country takes her place among the nations of the earth, then, and not till then, let my epitaph be written. I have done.”

(parte final do discurso de Robert Emmet, na véspera da sua execução)

Robert Emmet (1778-1803) was an Irish nationalist rebel leader. He led an abortive rebellion against British rule in 1803 and was captured and executed. During his trial, after he had been sentenced Emmet delivered a rousing speech, the Speech from the Dock, which secured his posthumous fame. (Wikipedia)

J.M.


 
  Diário de Bordo VII – Estado de Espírito
Deslumbramento intelectual.

Enorme prazer que retiro do facto de tentar decifrar, com a vossa inestimável ajuda, um livro que pretende desafiar o leitor.

Mas confesso que, por vezes, me surpreendo de coração fechado, sem perceber o que Ulisses me faz sentir.

J.M.
 
  Diário de Bordo VI – Os Melhores Momentos
“Lascas, a tirar lascas de uma das suas pétreas unhas de polegar. Lascas.”

“Um mais dois mais seis é sete. Faz-se o que se quer com números e malabarismos.”

“Isso da tristeza é demasiadamente poético.”

“Quem me dera que eles cantassem mais. Entretém-me.”

“Também se assoou numa cortina. Talvez seja costume na pátria dele. Também é música. Não é tão má como soa.”

“Não gerara ódio.”

“Sinto-me tão só.”

“Muito, - disse o senhor Dedalus olhando fixamente para uma sardinha sem cabeça. Sob o mostrador das sanduíches jazia uma última num ataúde de pão, uma solitária, a última sardinha do Verão.”


J.M.
 
  Diário de Bordo V – Os Piores Momentos
“A língua dela, quando fala, é como o ferrolho de um fole. Não sabem aguentar os intervalos dos homens.”

(eu só conhecia a expressão fole de ferreiro..)


“Virgem, diria: ou só manuseada. Escrever uma coisa qualquer ali: página. Se não, o que é que lhes acontece? Declínio, desespero. Mantém-nas jovens.”

“Três buracos, todas as mulheres.”


J.M.
 
quarta-feira, dezembro 03, 2003
  Shakespeare again...
“Isso da tristeza é demasiado poético. É o que faz a música. A música tem encantamentos. Disse Shakespeare. Citações para todos os dias do ano. Ser ou não ser. Sabedoria para quando se está à espera.”




Troti
 
  Irlanda, 1904
«A Irlanda vem aí agora. O meu país acima do rei. Ela escuta. Quem tem medo de falar de mil novecentos e quatro? Hora de desandar. Já viu que chegue.»



Leitora
 
  Desvanecer...
“Uma dezena de notas de pássaro chilrearam clara tríplice resposta sob sensitivas mãos. Limpidamente as teclas, todas a cintilar, conjuntas, todas em cravo, convocaram uma voz que cantasse a melodia da orvalhada manhã, da juventude, da saudade do amor, da vida, do alvorecer do amor…"


"Pairava uma ave, detinha-se no voo, um vivo puro grito, a pairar orbe de prata saltava sereno, veloz, sustido, para vir. Sem prolongar demasiado o alento, respirava a longa vida, pairando alto, alto resplandecente, inflamado, coroado, alto no resplendor simbolístico, alto no seio do etéreo, alto na alta vasta irradiação por toda a parte a pairar em torno do todo, o semfimfimfim…"


"Os acordes harpejaram mais lentos. A voz de penitência e de dor vinha lenta, embelezada, trémula…"


"Desvanecem as brilhantes estrelas…"



Troti
 
  Permitem-me que regresse por instantes a DESGRAÇA?
Lembram-se de uma referência a um texto crítico do professor Michael S. Kochin àcerca do livro "DESGRAÇA"?

Pois bem, o professor passou por este blogue, e deixou-nos na caixa do correio mais informações interessantes àcerca da obra e do autor. Aqui vos deixo alguns extractos:


Sobre Coetzee:
Here is a man who does not believe that literature can save us. The prize is given, according to the terms of Alfred Nobel's bequest, for "the most outstanding work in an ideal direction," while J.M. Coetzee's works expound a critique of the ideals of the modern West and of the possibilities of literature as a vehicle for those ideals. Coetzee has tackled both the transient and the permanent difficulties of modernity: rationalist social engineering as exemplified in Western colonial projects from Vietnam to Zululand, modern humanism, and the hope for a rational system of ethics.

More important, Coetzee has in his fiction critically explored the notion that literature as we know it can promote humane ideals. His work constitutes a radical challenge to our learned prejudice that Western high culture can help twenty-first century men and women find a humane life together. Coetzee criticizes Western high culture from within: His essays reveal him as a penetrating critic of great figures of modernist fiction such as Robert Musil. Yet Coetzee's greatest literary debts as a novelist are to the experimental formalism of writers such as Franz Kafka and Samuel Beckett. Like Kafka and Beckett, Coetzee carries on literary modernism's critique of technological modernity while parodying modernism's aspirations that literature can replace religion as a ground for community and as a moral compass.




Sobre DESGRAÇA:
IN "DISGRACE," we see not only the end of romance, but also the apparent end of all distinctively human possibilities for a life worth living, as racial inequality is overcome by tribal chaos. In the face of the brutal reality of the South African past, nostalgia for civilization and its values is untenable--the only solace that Coetzee's character Lurie holds out to the reader is the possibility of redemption through an art that accompanies the memorial traces of longing, like the soft trio of instrumentalists on cello, flute, and bassoon accompanying the singer in Lurie's unfinished and perhaps unfinishable opera on Byron's last mistress, Teresa. Yet that art can only redeem us if its value is recognized by a human future whose probability Coetzee presents as highly questionable.


Novamente sobre Coetzee:
Coetzee is a disturbing writer because he excavates the lost possibilities of the Western tradition only to extinguish the hopes that we have wrongly placed in Western high culture. The white male academic, who reads Coetzee seeking self-knowledge, is told that his days are over by one who knows the promises and the failures of Western literature as well as any critic of our time. Such a reader, to say nothing of others, must face the fact that after him will come not a global cultural wasteland, but something wholly new, whether local, peripheral, national, or global. From this rebirth, Coetzee claims, a reader sufficiently versed in Western high culture to appreciate Coetzee's own critique is by virtue of that very knowledge excluded. Perhaps the most disturbing possibility Coetzee raises, for his typically secularist reader, is that this rebirth might come out of Christian faith in the value of suffering, a faith that demands its believers spurn humanist affirmations of permanent value in the beauties of form.





Obrigada, professor!

Leitora
 

O QUE ESTAMOS A LER

(este blogue está temporariamente inactivo)

PROXIMAS LEITURAS

(este blogue está temporariamente inactivo)

LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

Primeira Viagem Temática BLOOMSDAY 2004

Primeira Saí­da de Campo TORMES 2004

Primeira Tertúlia Casa de 3 2005

Segundo Aniversário LP

Os nossos marcadores

ARQUIVO
07/01/2003 - 08/01/2003 / 08/01/2003 - 09/01/2003 / 09/01/2003 - 10/01/2003 / 10/01/2003 - 11/01/2003 / 11/01/2003 - 12/01/2003 / 12/01/2003 - 01/01/2004 / 01/01/2004 - 02/01/2004 / 02/01/2004 - 03/01/2004 / 03/01/2004 - 04/01/2004 / 04/01/2004 - 05/01/2004 / 05/01/2004 - 06/01/2004 / 06/01/2004 - 07/01/2004 / 07/01/2004 - 08/01/2004 / 08/01/2004 - 09/01/2004 / 09/01/2004 - 10/01/2004 / 10/01/2004 - 11/01/2004 / 11/01/2004 - 12/01/2004 / 12/01/2004 - 01/01/2005 / 01/01/2005 - 02/01/2005 / 02/01/2005 - 03/01/2005 / 03/01/2005 - 04/01/2005 / 04/01/2005 - 05/01/2005 / 05/01/2005 - 06/01/2005 / 06/01/2005 - 07/01/2005 / 07/01/2005 - 08/01/2005 / 08/01/2005 - 09/01/2005 / 09/01/2005 - 10/01/2005 / 10/01/2005 - 11/01/2005 / 11/01/2005 - 12/01/2005 / 12/01/2005 - 01/01/2006 / 01/01/2006 - 02/01/2006 / 02/01/2006 - 03/01/2006 / 03/01/2006 - 04/01/2006 / 04/01/2006 - 05/01/2006 / 05/01/2006 - 06/01/2006 / 06/01/2006 - 07/01/2006 / 07/01/2006 - 08/01/2006 / 08/01/2006 - 09/01/2006 / 09/01/2006 - 10/01/2006 / 10/01/2006 - 11/01/2006 / 11/01/2006 - 12/01/2006 / 12/01/2006 - 01/01/2007 / 01/01/2007 - 02/01/2007 / 02/01/2007 - 03/01/2007 / 03/01/2007 - 04/01/2007 / 04/01/2007 - 05/01/2007 / 05/01/2007 - 06/01/2007 / 06/01/2007 - 07/01/2007 / 07/01/2007 - 08/01/2007 / 08/01/2007 - 09/01/2007 / 09/01/2007 - 10/01/2007 / 10/01/2007 - 11/01/2007 / 11/01/2007 - 12/01/2007 / 12/01/2007 - 01/01/2008 / 01/01/2008 - 02/01/2008 / 02/01/2008 - 03/01/2008 / 03/01/2008 - 04/01/2008 / 04/01/2008 - 05/01/2008 / 05/01/2008 - 06/01/2008 / 06/01/2008 - 07/01/2008 / 07/01/2008 - 08/01/2008 / 08/01/2008 - 09/01/2008 / 09/01/2008 - 10/01/2008 / 10/01/2008 - 11/01/2008 / 11/01/2008 - 12/01/2008 / 12/01/2008 - 01/01/2009 / 01/01/2009 - 02/01/2009 / 02/01/2009 - 03/01/2009 / 03/01/2009 - 04/01/2009 / 04/01/2009 - 05/01/2009 / 05/01/2009 - 06/01/2009 / 06/01/2009 - 07/01/2009 / 07/01/2009 - 08/01/2009 / 08/01/2009 - 09/01/2009 / 09/01/2009 - 10/01/2009 / 10/01/2009 - 11/01/2009 / 11/01/2009 - 12/01/2009 / 03/01/2010 - 04/01/2010 / 04/01/2010 - 05/01/2010 / 07/01/2010 - 08/01/2010 / 08/01/2010 - 09/01/2010 / 09/01/2010 - 10/01/2010 / 05/01/2012 - 06/01/2012 /


Powered by Blogger

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!