Leitura Partilhada
quarta-feira, outubro 31, 2007
  Épigraphe pour un livre condamné

Épigraphe pour un livre condamné

Lecteur paisible et bucolique,
Sobre et naïf homme de bien,
Jette ce livre saturnien,
Orgiaque et mélancolique.

Si tu n'as fait ta rhétorique
Chez Satan, le rusé doyen,
Jette ! tu n'y comprendrais rien,
Ou tu me croirais hystérique.

Mais si, sans se laisser charmer,
Ton oeil sait plonger dans les gouffres,
Lis-moi, pour apprendre à m'aimer;

Ame curieuse qui souffres
Et vas cherchant ton paradis,
Plains-moi !... Sinon, je te maudis !

Additions de la troisième édition des Fleurs du Mal

O “primeiro maldito”, venerado pelas gerações subsequentes e fonte de inspiração para homens como Rimbaud, Verlaine e Mallarmé. Original e extravagante, Baudelaire foi o protagonista de uma nova época na poesia francesa (segundo muitos, a mais importante revolução poética do sec XIX), virando a página do romantismo, para inaugurar a poesia moderna. Um insurrecto que afrontou a autoridade (da família, da escola, da religião) e os ideais burgueses, um boémio libertino que desprezava a trivialidade (o dandismo é o último rasgo de heroísmo na decadência), um apreciador do torpor da consciência causado pelo haxixe, o ópio ou o álcool, muito embora à subjectividade bacoca tenha contraposto o raciocínio, a curiosidade e a inquietude. Para Paul Valéry, com Baudelaire, a poesia francesa ultrapassou finalmente as fronteiras das nações.

Isolado e incompreendido, sem pretender convencer ninguém (pelo menos, assim o afirmava), Baudelaire quis extrair a beleza que existe no mal, rebelando-se contra uma sociedade anestesiada e bronca (A França atravessa um período de vulgaridade. Paris é o centro da irradiação da estupidez universal). Em guerra com a monotonia da rima e a postura supostamente acrítica do então glorificado romantismo, Baudelaire ousou "afrontar o sol da estupidez", através da criação desta planta espinhosa, onde, à bonomia prefere a incredulidade e, face à ventura, privilegia a angústia. Ao Diabo, “todos o servem”, mas poucos o reconhecem…

azuki
 
terça-feira, outubro 30, 2007
  Neste livro atroz pus todo o meu coração, toda a minha ternura, toda a minha religião, todo o meu ódio.
As Flores do Mal, obra-prima de Baudelaire, publicada em 1857, foi acusada pelos intelectuais, pela imprensa, pelo Ministério Público, pela sociedade em geral, de ofensa à moral e à religião, e proibida em todos os estabelecimentos escolares franceses durante 50 anos. Sobre ela, escreveu-se no Figaro: Este livro é um hospital aberto a todas as demências de espírito, a todas as podridões do coração...

Sim, toda a sua ternura e todo seu coração: Paris, a mãe, as musas. Mas também aborrecimento, mágoa, solidão, incerteza, desesperança e fraqueza. Neste “livro atroz”, os vícios, os venenos, o jogo, os esquemas e as imposturas; as vielas tortuosas, os becos infames, a sujidade, a sordidez; os marginais, os bêbedos, as prostitutas, os pedintes, os trapeiros, os pobres, os assassinos; o crepúsculo, a bruma e a chuva; os velhos, os cegos, os solitários, os amantes, os artistas, os mártires e as irmãs da caridade; os cadáveres e os cemitérios, a decadência e a morte. Neste “livro atroz”, alguma dor e algum rancor.

azuki
 
segunda-feira, outubro 29, 2007
  La fin de la journée
La fin de la journée

Sous une lumière blafarde
Court, danse et se tord sans raison
La Vie, impudente et criarde.
Aussi, sitôt qu'à l'horizon

La nuit voluptueuse monte,
Apaisant tout, même la faim,
Effaçant tout, même la honte,
Le Poète se dit : "Enfin !

Mon esprit, comme mes vertèbres,
Invoque ardemment le repos ;
Le cœur plein de songes funèbres,

Je vais me coucher sur le dos
Et me rouler dans vos rideaux,
O rafraîchissantes ténèbres !"

La Mort, CXXIV

Baudelaire foi escritor contra a vontade da mãe e do padrasto, conseguiu destruir a avultada herança paterna com uma existência boémia de patuscadas, antiguidades, alfaiates e amantes (“apaixonei-me unicamente pelos prazeres, por uma excitação permanente”), vivia com uma mulher que o exasperava e dominava, abusava dos estupefacientes e dos excitantes, sofria de um considerável complexo de Édipo. Morreu jovem com uma paralisia hereditária e potenciada pela sífilis, interdito judicialmente (com o acesso impedido ao pouco que restou da fortuna do pai), obcecado pela penúria e perseguido pelos credores, rejeitado pela família e atraiçoado pela amante. No final da sua relativamente curta mas desregrada vida, talvez o cansaço: O Mort, vieux capitaine, il est temps!

azuki
 
domingo, outubro 28, 2007
  ler Baudelaire do outro lado do Atlântico
Em devaneios bauldelairianos encontrei Jorge Pontual (jornalista, escritor, brasileiro, blogger a partir de Nova Iorque). Um pouco como nós, lê meticulosamente as Flores, uma a uma, enquadrando-as com pensamentos e imagens relacionadas. Diferente de nós, propõe versões quase literais para a língua portuguesa adoçada do Brasil.

Para exemplo deste trabalho de leitura, escolho 31/08/2005, a referência ao fim de vida de Baudelaire e ao seu amor pelas artes, sonorizado por Karajan dirigindo Wagner.


(apenas como nota desenquadrada, vejam também este Chove? (...) de Pessoa, e a versão para americano descobrir)

Belém
 
sábado, outubro 27, 2007
  negra, contudo luminosa
Les ténèbres
Dans les caveaux d'insondable tristesse
Où le Destin m'a déjà relégué ;
Où jamais n'entre un rayon rose et gai ;
Où, seul avec la Nuit, maussade hôtesse,

Je suis comme un peintre qu'un Dieu moqueur
Condamne à peindre, hélas ! sur les ténèbres ;
Où, cuisinier aux appétits funèbres,
Je fais bouillir et je mange mon coeur,

Par instants brille, et s'allonge, et s'étale
Un spectre fait de grâce et de splendeur.
A sa rêveuse allure orientale,

Quand il atteint sa totale grandeur,
Je reconnais ma belle visiteuse :
C'est Elle ! noire et pourtant lumineuse.




Toda a arte da escrita é uma arte de palavras - e apetece-me dizer que escritas há que são mais arte do que outras. Aos poetas, isto é, aos bons poetas, reconhecemos capacidades extraordinárias de medir, ponderar, equilibrar palavras em frases imateriais. Na minha incapacidade-iliteracia de absorver um poema-todo, deliro com expressões, frases soltas - às vezes apenas palavras. Pronunciar noite e sentir maussade hôtesse, saber-se seul avec la Nuit, com maiúscula musculada é sentir que sim, pode existir luz na mais espessa escuridão. Aliás, não é por acaso que a luz mais bela é a crepuscular.

Belém

 
 
A doutrina das correspondências é uma das teorias fundamentais do Hermetismo.
Dentro das sete categorias de correspondências desenvolvidas pelos hermetistas, encontramos toda uma simbologia ligada aos planetas, aos metais, às plantas, ao corpo humano e sei lá mais.
No soneto Correspondances, Baudelaire actualiza essa simbologia no domínio da poesia. A floresta/templo de símbolos que observa familiarmente o passante e que, como um eco, se apropria dele, nada mais é que o próprio ser humano recheado de referências e ligações ao mundo volátil do conhecimento de si. Palpável disso tudo ficam os perfumes e as cores, a juventude e a velhice. Assim, como quem se passeia fora e dentro do mundo.


Correspondances


La Nature est un temple où de vivants piliers
Laissent parfois sortir de confuses paroles;
L'homme y passe à travers des forêts de symboles
Qui l'observent avec des regards familiers.

Comme de longs échos qui de loin se confondent,
Dans une ténébreuse et profonde unité,
Vaste comme la nuit et comme la clarté,
Les parfums, les couleurs et les sons se répondent.

Il est des parfums frais comme des chairs d'enfants,
Doux comme les hautbois, verts comme les prairies,-
Et d'autres, corrompus, riches et triomphants,

Ayant l'expansion des choses infinies,
Comme l'ambre, le musc, le benjoin et l'encens,
Qui chantent les transports de l'esprit et des sens.


...
laerce
 
quinta-feira, outubro 25, 2007
  ainda os gatos
Xaninha, uma das minhas gatas

Le Chat

Viens, mon beau chat, sur mon cœur amoureux;
Retiens les griffes de ta patte,
Et laisse-moi plonger dans tes beaux yeux,
Mêlés de métal et d'agate.

Lorsque mes doigts caressent à loisir
Ta tête et ton dos élastique,
Et que ma main s'enivre du plaisir
De palper ton corps électrique,

Je vois ma femme en esprit. Son regard,
Comme le tien, aimable bête,
Profond et froid, coupe et fend comme un dard,

Et, des pieds jusques à la tête,
Un air subtil, un dangereux parfum
Nagent autour de son corps brun.

Spleen et Idéal, XXXIV


Têm ar de esfinge, são enigmáticos e distantes, quase indiferentes, dengosos gatinhos dentro de casa e independentes gatos adultos fora dela, capazes até de constranger pelo pouco que de nós precisam, praticamente lhes pedimos o favor de gozarem as nossa carícias, “não, não te vás embora, deixa-me ouvir o motorzinho que aí tens, não faças de conta que não estou aqui”. Indomável, altivo, tão na sua que nada se lhe pode impor, a não ser o caminho certo para a areia. Afabilidade, disciplina, habilidades, previsibilidade, isso, são assuntos de cão. O que perturba, atrai. Ou repele. Assim mesmo, sem meio-termo. Se fosses como um cão, Jeanne-Marie-Apollonie, ele não olharia para ti duas vezes.

azuki
 
segunda-feira, outubro 22, 2007
  os gatos
Tuca, uma das minhas gatas

Les Chats

Les amoureux fervents et les savants austères
Aiment également, dans leur mûre saison,
Les chats puissants et doux, orgueil de la maison,
Qui comme eux sont frileux et comme eux sédentaires.

Amis de la science et de la volupté,
Ils cherchent le silence et l'horreur des ténèbres ;
L'Erèbe les eût pris pour ses coursiers funèbres,
S'ils pouvaient au servage incliner leur fierté.

Ils prennent en songeant les nobles attitudes
Des grands sphinx allongés au fond des solitudes,
Qui semblent s'endormir dans un rêve sans fin ;

Leurs reins féconds sont pleins d'étincelles magiques,
Et des parcelles d'or, ainsi qu'un sable fin,
Etoilent vaguement leurs prunelles mystiques.

Spleen et Idéal, LXVI


Baudelaire, que plantou três maléficas flores sobre este animal, corrobora a teoria de que indivíduos menos gregários terão tendência para os gatos, dizendo-nos que a voluptuosidade do seu sono, a satisfação do seu ronronar, a sua graciosidade e elegância agradam, quer ao estudioso austero, sedento de ler, amigo do saber, que procura o sossego, quer ao libertino fervoroso, amigo do prazer, que procura a sombra estranha (traduções de Maria Gabriela Llansol).

O vínculo que existe com o gato é marcado pela independência e, a partir do momento em que lhe abrem a porta (eles odeiam portas), o gato já não olha para trás. Ao contrário dos cães, que vivem em sociedade (sendo que a sociedade canina é estratificada, pelo que as noções de camaradagem e de disciplina não lhes são estranhas), os gatos não agem em grupo (aliás, são tão capazes de viver em grupo, quanto de tolerar a solidão; caso se tratasse de humanos, esta sua flexibilidade levaria a classificá-los como oportunistas: aproveitam-se da vida social, podendo abandoná-la a qualquer momento).

Exceptuando o facto de serem exímios caçadores de ratos, os gatos não têm utilidade prática para o Homem e nada se lhes exige. Contudo, é adorável partilhar um espaço com um gato. Não só é adorável, como é calmante, quase libertador. O gato é presença simpática para o intelectual debruçado sobre os livros e vai bem com um coração volúvel. Não há dúvida: os altivos, indiferentes, esfíngicos gatos são excelente companhia para os solitários.

azuki
 
sábado, outubro 20, 2007
  Ser poeta, o que é
Mágico das letras (dedicatória), alimentador de remorsos (au lecteur), irmão do impostor que é o leitor (au lecteur), necessitado, indesejado (bénédiction) que, em fuga do destino (ou em colisão com ele?) se alimenta de fogo (élévation) - poetavisionário:

Envole-toi bien loin de ces miasmes morbides;
Va te purifier dans l'air superiéur,
Et bois, come une pure et divine liqueur,
Le feu clair qui remplit les espaces limpides.


E, como se não bastasse, fala a linguagem das flores e das coisas mudas. Pelo Poeta foi a beleza inventada (la beauté) - para o ensinar a amar de amor eterno e mudo como a matéria.


Belém
 
sexta-feira, outubro 19, 2007
  perturbação
Pegar neste livro pela primeira vez foi um duplo prazer. O livro tardou, hesitou, dizia-se esgotado, difícil. Mas apareceu. Da capa amena nomes prometedores acenavam bons momentos. Baudelaire para lá das flores sempre me encantou, Valéry estendia recomendações, e Llansol dáva-me a entender uma tradução de profundo respeito pelas palavras e pela poética.



Infelizmente os meus conhecimentos da língua francesa não me dão independência - e por isso a minha leitura arrasta-se, lenta e irritantemente. Nunca pensei fazer isto, mas não posso ensaiar sequer uma participação nesta leitura sem partilhar o meu profundo desgosto pela tradução que tento ler. Do pouquíssimo que posso supor entender de ética de tradução, nada encontro neste livro. Tudo é revisto: nomes, forma, discurso, sinalização das frases, até o tom discursivo. Será isto correcto ou aceitável? Não o posso dizer. Digo, antes, que estou profundamente desiludida com a versão portuguesa proposta por Maria Gabriela Llansol para as Flores do Mal. Tudo é recriado - e eu esperava apenas uma transposição tão fiel quanto possível para português.


Ao menos tem dado para aprender umas coisas, a mais importante das quais: Gajo pode ser proposto como tradução para Démon. Nunca tinha pensado nisto. Mas já me tinham dito, muitas vezes, que devia rever o meu vocabulário. (vou estremecer de cada vez que um gajo me saltar conversa fora...)
E agora vou tentar esquecer a proposta de tradução e perder-me pelos sentidos de Baudelaire...


Belém
 
quinta-feira, outubro 18, 2007
  ainda a beleza
Taj Mahal

La Beauté

Je suis belle, ô mortels ! comme un rêve de pierre,
Et mon sein, où chacun s'est meurtri tour à tour,
Est fait pour inspirer au poète un amour
Eternel et muet ainsi que la matière.

Je trône dans l'azur comme un sphinx incompris ;
J'unis un cœur de neige à la blancheur des cygnes ;
Je hais le mouvement qui déplace les lignes,
Et jamais je ne pleure et jamais je ne ris.

Les poètes, devant mes grandes attitudes,
Que j'ai l'air d'emprunter aux plus fiers monuments,
Consumeront leurs jours en d'austères études ;

Car j'ai, pour fasciner ces dociles amants,
De purs miroirs qui font toutes choses plus belles :
Mes yeux, mes larges yeux aux clartés éternelles !

Spleen et Idéal, XVII


O conceito de Beleza foi variando ao longo dos séculos e de acordo com as diversas culturas, acrescendo que esta é apreendida de forma díspar por cada um dos indivíduos que constituem uma mesma sociedade. Belo: o que é agradável aos sentidos, o que atrai ou exerce fascínio, o que é bom ou é justo, o que significa proporção e harmonia... (como refere Umberto Eco, na sua História da Beleza, é de Platão que nascerão as duas concepções mais importantes da Beleza que foram elaboradas ao longo dos séculos: a Beleza como harmonia e proporção das partes (derivada de Pitágoras) e a Beleza como esplendor).

A Beleza pode ser vista, sentida, intuída ou apenas imaginada; a Beleza é susceptível de provocar emoções tão díspares como alegria ou raiva, tranquilidade ou nervosismo, satisfação ou desespero; a Beleza não tem que vir do exterior até nós, pode existir de dentro para fora, na medida em que é belo tudo aquilo de que eu gosto e todos aqueles que eu amo, independentemente das suas características físicas e psíquicas, ou das suas qualidades morais (amo-os porque são belos ou são belos porque os amo?).

Dificilmente se poderá encarar a Beleza como um conceito absoluto, mas o belo não é assim tão relativo: i) há quem tenha maior capacidade para detectar a Beleza, sendo mais atento, mais sensível ou mais culto; ii) a frase “gostos são gostos” nunca me convenceu (há gostos que são de mau tom e há gente de mau gosto); iii) pese embora a sua natureza subjectiva, existe também o inquestionavelmente belo e o ideal estético da Grécia antiga é na mouche. Baudelaire escreve que a beleza “odeia o movimento que o linear reduz” (tradução de Maria Gabriela LLansol), embora não deva existir ninguém que não considere belos a Pietá ou o David, ou que não encontre um equilíbrio e um encanto quase celestiais no Taj Mahal. A beleza é híbrida, sim, mas há momentos em que, de tão simples, até intimida.

azuki
 
terça-feira, outubro 16, 2007
  Apollonie Sabatier
Femme piquée par un serpent , Auguste Jean-Baptiste Clésinger, 1847
 
  Marie Daubrun
 
  Jeanne Duval

Retrato de Jeanne Duval , Charles Baudelaire, circa 1850
 
domingo, outubro 14, 2007
  A uma passante
Baudelaire inagurou, com este poema, uma visão que hoje já se tornou banal: a rápida troca de olhares, ou sequer isso, entre duas pessoas em uma cidade. Os infinitos cruzamentos de que é feito um simples passeio pelo centro, uma pessoa subindo uma escada rolante enquanto a outra desce, alguém atravessando a rua. Todas essas cenas como que se originam do poema.
La rue assourdissante autour de moi hurlait. A rua em torno era um frenético alarido. A visão, original naquela época, ainda consegue guardar certo frescor mesmo após décadas e décadas, como no filme Closer. Quem há de resistir a Natalie Portman caminhando despreocupadamente pela rua?

................................Fugitive beauté
Dont le regard m'a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l'éternité?


Gabriel
 
sexta-feira, outubro 12, 2007
  Ainda a beleza
La beauté, "A Beleza é difícil, Yeats", disse Aubrey Beardsley,
Quando Yeats lhe perguntou porque ele desenhava horrores
Ezra Pound, Canto LXXX


Gabriel
 
quinta-feira, outubro 11, 2007
  Viens-tu du ciel profond ou sors-tu de l'abîme, / O Beauté?
Houve épocas em que o belo era necessariamente bom ou justo, houve tempos em que significava proporção e harmonia, mas o belo de Baudelaire é bem mais abrangente. A Beleza não tem que vir da luz ou produzir luz, pode ser um qualquer reflexo maligno do que nos escraviza e asfixia; não tem que respeitar simetrias ou equilíbrio, pode ser algo disforme ou excessivo; não tem que significar bondade, pode ser moralmente condenável e desprezível; não tem que dar prazer quando contemplado, pode ser uma visão desoladora e sem valor estético; o belo não tem sequer que ser belo para o ser.

azuki
 
terça-feira, outubro 09, 2007
  Beleza

Viens-tu du ciel profond ou sors-tu de l'abîme,
Ô Beauté?

C. Baudelaire

A thing of beauty is a joy forever
John Keats

Aimer la beauté, c'est vouloir la lumière
Victor Hugo

The best part of beauty is that which no picture can express
Francis Bacon

- O that deceit should dwell
In such a gorgeous palace!

W. Shakespeare

Belo é o que se ama
Safo

O que é belo é sempre querido
Eurípedes

Beauty is no quality in things themselves. It exists merely in the mind which contemplates them
David Hume

azuki
 
  Hymne à la Beauté
Viens-tu du ciel profond ou sors-tu de l'abîme,
O Beauté ? ton regard, infernal et divin,
Verse confusément le bienfait et le crime,
Et l'on peut pour cela te comparer au vin.

Tu contiens dans ton œil le couchant et l'aurore ;
Tu répands des parfums comme un soir orageux ;
Tes baisers sont un philtre et ta bouche une amphore
Qui font le héros lâche et l'enfant courageux.

Sors-tu du gouffre noir ou descends-tu des astres ?
Le Destin charmé suit tes jupons comme un chien ;
Tu sèmes au hasard la joie et les désastres,
Et tu gouvernes tout et ne réponds de rien.

Tu marches sur des morts, Beauté, dont tu te moques ;
De tes bijoux l'Horreur n'est pas le moins charmant,
Et le Meurtre, parmi tes plus chères breloques,
Sur ton ventre orgueilleux danse amoureusement.

L'éphémère ébloui vole vers toi, chandelle,
Crépite, flambe et dit : Bénissons ce flambeau !
L'amoureux pantelant incliné sur sa belle
A l'air d'un moribond caressant son tombeau.

Que tu viennes du ciel ou de l'enfer, qu'importe,
O Beauté ! monstre énorme, effrayant, ingénu !
Si ton œil, ton souris, ton pied, m'ouvrent la porte
D'un Infini que j'aime et n'ai jamais connu ?

De Satan ou de Dieu, qu'importe ? Ange ou Sirène,
Qu'importe, si tu rends, – fée aux yeux de velours,
Rythme, parfum, lueur, ô mon unique reine ! –
L'univers moins hideux et les instants moins lourds ?

(Spleen et Idéal, XXI)
 
segunda-feira, outubro 08, 2007
  O homem e o mar
É o mar das metáforas mais sugestivas que existem. Compará-lo ao ser humano foi uma bela sacada do poeta francês:

Homme, nul n'a sondé le fond de tes abîmes ;
O mer, nul ne connaît tes richesses intimes,
Tant vous êtes jaloux de garder vos secrets!

Na tradução excelente tradução de Jamil Almansur Haddad:

Homem, ninguém sondou teu fundo sorvedouro,
Mar, ninguém viu jamais teu íntimo tesouro,
Porque muito sabeis guardar vossos segredos.

Antes de Baudelaire, o abismo já havia sido sondado timidamente. Após Baudelaire, se o fundo sorvedouro não se tornou conhecido, ao menos teve seu caminho aberto.

Gabriel
 
quinta-feira, outubro 04, 2007
  L'albatros
Souvent, pour s'amuser, les hommes d'équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.

A peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l'azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d'eux.

Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule !
Lui, naguère si beau, qu'il est comique et laid !
L'un agace son bec avec un brûle-gueule,
L'autre mime, en boitant, l'infirme qui volait !

Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l'archer ;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l'empêchent de marcher.

Este poema foi o primeiro que aprendi em francês, apesar da pronúncia não ser lá muito boa. Os dois últimos versos da quadra inicial foram os primeiros sons harmônicos que guardei na memória nesta língua. As asas de gigante impedem-no de andar. Mas, de qualquer maneira, há sempre a esperança do vôo.

Gabriel
 
quarta-feira, outubro 03, 2007
 
folhas com flores







Mal compreendida por seus contemporâneos, apesar de elogiada por Victor Hugo, Teóphile Gautier, Gustave Flaubert e Théodore de Banville, a poesia de Baudelaire está marcada pela contradição. Revela, de um lado, o herdeiro do romantismo negro de Edgar Allan Poe e Gérard de Nerval, e de outro o poeta crítico que se opôs aos excessos sentimentais e retóricos do romantismo francês.
foto
texto

...
laerce
 
  Sonnet d'Automne
Sê bela e cala! O meu coração, que se irrita
Por tudo, exceto a antiga candura animal,

Não te quer revelar seu segredo infernal
(...)
Amemo-nos em paz.

Está certo, Baudelaire terá sido grosseiro, porém, razoável.

Gabriel
 
terça-feira, outubro 02, 2007
  Ao leitor
Talvez haja outro, mas vale o risco: Baudelaire é o primeiro a começar um livro de poemas dessa forma, dedicando o primeiro poema, da maneira que o faz, ao leitor. Não, não é nada agradável a visão de mundo descortinada no poema inicial. O primeiro verso - La sotisse, l'erreur, le péché, la lésine - é impactante (descobri, dia desses, que não há a palavra "impactante" no dicionário...).
Um verso que me chama a atenção é este: Dans nos cerveaux ribote un peuple de Démons (Em nosso crânio um povo de demônios cresce). Aí está o problema da consciência posto em voga. Voltaremos a esse tópico.
Por fim, se nada de ruim ainda nos aconteceu "é que nossa alma arriscou pouco ou quase nada". O Tédio!, tão conhecido, entra em cena. E o famoso verso final, que inaugura uma nova consciência do poeta em relação ao leitor, apesar do dedo apontado para nós, não deixa a ternura de lado: "Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão!".


Gabriel
 
 
"A qualquer pessoa, desde que saiba entreter os outros, é dado o direito de falar de si".

Charles Baudelaire em Meu coração posto a nu (Mon coeur mis à nu)

Isto é ainda mais pertinente em se tratando de um poeta.

Gabriel
 
segunda-feira, outubro 01, 2007
  150 anos depois
Passados 150 anos da sua publicação e da sua condenação.
 

O QUE ESTAMOS A LER

(este blogue está temporariamente inactivo)

PROXIMAS LEITURAS

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LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

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