Leitura Partilhada
quarta-feira, abril 30, 2008
 
Desculpem...

ainda não estou preparada para deixar o Manual ou ALA. Falta-me tanto. Quero rever as personagens, ver no papel todas as ligações e repensá-las devagar, muito devagarinho.

Cristina_pt

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  para fechar com chave de ouro: temos um grande vencedor
é verdade, o prémio que oferecemos nesta página já tem dono. Trata-se de Pedro Guilherme-Moreira, que não deu hipóteses à concorrência. Assim:



É AMOR

Porque não há nada que goste mais senão ler sobre Lobo Antunes, mais ainda que lê-lo, não posso perder a oportunidade de ser iluminado por um livro que nem sequer conhecia e cuja propriedade potencial já me está a embriagar.

E porque o quero mesmo, vou ser por uma vez sincero, usando aquela sinceridade sem artifícios ou tácticas de auto-depreciação, e essa sinceridade é coisa que intelectualmente é quase impossível, porque convém sempre disfarçar a sabedoria de ignorância e a vaidade de modéstia.

A minha sinceridade leva-me a confessar que o compreendo tão profundamente quanto me sinto pensando da mesma forma. Lobo Antunes não faz nada de extraordinário, mas tem o mero de o ter feito em português de uma forma inaugural. Se se reparar, o António acaba por repetir fórmulas e recursos, mas o facto é que nunca considerei que na literatura a diversidade fosse um mérito. Não me espantou que o vaidoso do João Pedro George não tivesse pegado no António para explanar a sua tese do auto-plágio. É que criticar Lobo Antunes não granjeia respeito entre os pares, e criticá-lo seriamente, então, está fora de causa. Claro que Lobo Antunes tem o mérito de cada crítica que lhe é dirigida poder ser utilizada negativa e positivamente.

Ele sabe, e transpira, e eu acho-o, radicalmente egoísta. Mas a verdade é que não escreveria como escreve se o não fosse. Complementarmente, quem estiver atento (e não é preciso estar muito atento) sabe que ele é de humanidade desarmante. Aliás, Lobo Antunes dá-se (deu-se) a críticas ignorantes. É muito fácil dizer que não é acessível, que é críptico, mesmo sem ler. É muito fácil dizer que é lunático, antipático e anti-social sem sequer olhar dez segundo seguidos para ele. Mais difícil é dizer que a sua escrita é simples e com um vocabulário acessível. Uma verdade. E que dá vontade de ser amigo dele e ficar à conversa calado durante duas horas na pastelaria onde ele vai comer uma torrada todos os dias, e depois abraçá-lo no fim só para ele dizer o nosso nome: Adeus, Pedro.

Portanto, sou sincero se te disser que Lobo Antunes me é complementar e fácil, mas quanto à escrita, bom, essa não é exemplo para ninguém, apenas um desafio para todos. Um escritor, e eu sou um escritor, come relva para escrever diferente e melhor, mas Lobo Antunes está lá, na génese, na raiz.

Do ponto de vista de um livro, o que é melhor, o escritor ou a página em branco?

Obviamente não poderiam existir um sem o outro. Não há virtuosismo sem um vazio pré-existente, não há excelência sem mediocridade.

Mas o que realmente faz de Lobo Antunes um desafio fundamental é a consciência de que o esforço de o perceber é o esforço que todos devíamos fazer todos os dias para entendermos o nosso próximo.

E como nos julgamos sumariamente uns aos outros todos os dias, sem qualquer esforço de compreensão, assim fazem muitos dos que violentam a bondade e simplicidade da escrita de Lobo Antunes com o desprezo do escritor difícil.

É difícil como o é uma pessoa, é simples como o é uma pessoa.

É, afinal, amor, necessariamente ódio em contraponto, mas sempre amor.



Pedro Guilherme-Moreira




Sinto que este exemplar não podia ir para melhores mãos - um livro de que gosto profundamente. Um livro que comprei mal foi publicado, e de que me ofereceram uma cópia alguns dias depois. Está muito bem entregue, final feliz.
belém

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  Autocrítica - Manual dos Inquisidores IV

"(...) a sua [do ministro] frase fica em suspenso, porque eu próprio não sei muito bem o que estaria na sua cabeça. (...) No fundo todos os romances ficam suspensos, todos."


António Lobo Antunes
in Escrita em Dia, SIC, 1996, com Francisco José Viegas

Fonte: CITI

cristina_pt

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terça-feira, abril 29, 2008
  Outro Livro de ALA, "Os Cus de Judas" , Livro com bolinha vermelha no canto superior do ecrã
Um grande livro sobre a Guerra Colonial Portuguesa,
Só recomendo o livro a quem tenha um bom estômago e esteja preparado para o relato das grandes violências e desumanidades que são descritos no livro. O livro é "autobiográfico" (O narrador é o médico que é recrutado para ir para a guerra de África), é um relato muito vivido, e muito sofrido da experiência da guerra que marcou toda a vida dos que nela participaram. No livro percebe-se a necessidade e urgência de relatar esta parte da sua vida. E a incompreensão pelo silêncio e vergonha de se falar neste assunto.
"Escute. Olhe para mim e escute, preciso tanto que me escute, me escuute com a mesma atenção ansiosa com que nós ouvíamos os apelos do rádio da coluna de baixo de fogo, a voz do cabo de transmissões que chamava, que pedia, voz perdida de náufrago esquecendo-se da segurança do código, ... , escuta-me tal como eu me debrucei para o hálito do nosso primeiro morto na desesperada esperança de que respirasse ainda,..."
( H , Os Cus de Judas)
"Porque camandro é que não se fala nisto? Começo a pensar que o milhão e quinhentos mil homens que passaram por África não existiram nunca e lhe estou contando uma espécie de romance de mau gosto impossível de acreditar" (I , Os Cus de Judas)
Na altura em que foi escrito e publicado deve ter sido um grande abalo nas consciências das pessoas sobre este assunto.

A seguinte passagem pode dar uma imagem da forma como o António Lobo Antunes nos mostra a guerra. É incompreensivel , é de grande brutalidade, é um acto "Imbecil".
"Voçê, por exemplo, que oferece o ar asséptico competente e sem caspa das secretárias de administração, era capaz de respirar dentro de um quadro de Bosch, sufocada de demónios, de lagartas, de gnomos nascidos de cascas de ovo, de gelatinosas órbitas assustadas? Estendido numa cova à espera que o ataque acabasse, ... de G3 inútil no suor das mãos e cigarro cravado na boca como palito em croquete, ..." (Os Cus de Judas)

Outra passagem em que se pode imaginar o absurdo da guerra.
"Um amigo negro da Faculdade levou-me um dia ao seu quarto no Arco do Cego, e mostrou-me o retrato de uma velha esqueléctica, em cujo rosto se adivinhavam gerações e gerações de petrificada revolta:
- É a nossa Guernica .Queria que a visses antes de me ir embora porque me chamaram da tropa e fujo amanhã para a Tanzânia." (Os Cus de Judas)

Sobre o quadro de Bosch, em http://www.wga.hu/index1.html
Sobre o quadro Guernica, em http://pt.wikipedia.org/wiki/Guernica
Luis Neves

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  Uma diálogo entre amigos

Luís - Gostava de acrescentar outra ideia que me ficou do livro. Todas as personagens massculinas são marcados e caracterizados por um conjunto de manias e de taras, são quase todos despresiveis, ora são poderosos e são violentos e mesquinhos, ou são homens incapazes, alheados, ladrões ou Pides.As personagens femininas embora cada uma delas com caracteristicas de submissão, elas por outro lado têm caracter forte, o leitor consegue identificar-se com as misérias das suas vidas, e são personagens com força para ressurgir, alterar as suas vidas, com quem o leitor simpatiza.Acho que o livro terá um maior agrado e identificação no público feminino. Será o livro (e o autor) muito marcado por uma ideia de feminismo? De as mulheres serem uma esperança e salvação para as fraquezas e os instintos dos homens??

Belém - bem, eu tenho-o por um ser muito inteligente... mas é melhor não responder à tua pergunta / provocação... a Cristina, essa sim, é a pessoa indicada para dar uma resposta...(risos maquiavélicos)

Cristina - Confesso que não vislumbro personagens femininas fortes, pelo menos não no sentido de empoderamento feminino. As vidas destas mulheres vai girando em torno dos homens, da tal submissão a que te referes. Abnegadas e capazes de grandes actos de amor? Sim!Mas se pensarmos bem. O empoderamento do sexo feminino vai-se ganhando aos poucos, até hoje.

Um pequeno P.S.. Não consigo deixar de as ver como sucessivas vítimas, seja das circunstâncias ou dos homens que as rodeiam.Eu heroismo submisso no feminino, tende a irritar-me. Sabe-se lá porquê!

Belém - E eu acho que este diálogo merecia um post arejado e mais visível... os autores que se perfilem, por favor

Luís - Ops! parece que não fui muito feliz no meu comentário. Não posso entrar em confronto sobre feminismo e sobre a obra de Lobo Antunes com a Cristina ou Belém, não tenho capacidades nem os minimos conhecimentos para esse debate, sou apenas um iniciante na leitura de Lobo Antunes. Concordo com os comentários da Cristina e entendo muito bem a sua irritação quanto a mulheres submissas. Acho que esses tempos já acabaram, felizmente.Acho que num aspecto podem concordar, é que quando Lobo Antunes escreve os personagens femininos, os seus pensamentos, os diálogos e a sua visão da história é muito verdadeira, consegue dar uma perspectiva muito feminina e autentica. A mim as personagens femininas do livro deixaram-me uma impressão de vitalidade e de terem um sentido. Os personagens masculinos são demasiado fracos e infelizes. Mas isto não indica que o livro ou o autor tenham influências feministas.

[saída do Luís, de fininho, antes que o mulherio se insurja]

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  Autocrítica - Manual dos Inquisidores III
"As personagens continuam a existir agora. Pareceu-me importante confundir os tempos, para conseguir uma história intemporal, mesmo correndo riscos de tornar a história pouco crível e de dar ao leitor uma ausência de tempo."




António Lobo Antunesin Escrita em Dia, SIC, 1996, com Francisco José Viegas
Fonte:
CITI

cristina_pt

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segunda-feira, abril 28, 2008
  Ainda a Alice...
A verdade relativa:





eu a responder-lhe que a mãe pelo menos não se lamentava de nada mas sem acrescentar que no cemitério, sobretudo com umas pazadas de terra na boca, as queixas são difíceis, a responder-lhe que a irmã conseguira um emprego de relações públicas bem pago com horário nocturno mas sem acrescentar que alternava, de calças justas a imitar pantera, numa discoteca de Arroios, com o apoio moral de um moço benemérito que ela apoiava por turno, visto o amor ser um sistema de trocas, pagando-lhe uns fatinhos ingleses e as prestações do descapotável amarelo, a Alda na volta do correio, comovida com a prosperidade da família





cristina_pt

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  Sugestão de Governo
A Alice sugere:





vendia logo a porcaria do mar e do calor aos suiços que são ricos ou aos ciganos que são espertos e arranjavam logo maneira de se livrar das ondas a retalho





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domingo, abril 27, 2008
  Em defesa da Paula
Sei que no final a vemos a pilhar o que pode, com base na sua filiação. Mas não posso de sentir alguma empatia com Paula. Quando se apercebe das "vantagens" que lhe adviram pela notoriedade do seu pai, tenta impedi-las, porque as reconhece como motivadas pelo medo. E depois da Revolução recebe uma revolta que não lhe deveria ser dirigida.

Assim, não surpreende que tendo obtido todos os prejuízos, depois procure as vantagens em ser filha do Ministro.

Com Paula temos uma visão mais clara do dia a dia que terá acompanhado os saneados no período do pós-25 de Abril. Excessos que geralmente ocorrem com a obtenção da liberdade após uma ditadura.

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  Retornados
"a Cova da Piedade, senhores, a mesma desgraça do que em Angola, com a diferença de os pretos sermos nós"



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  Os círculos
Com o desenrolar do romance, vemos ALA fechando os círculos que unem as suas personagens, num enredo quase querosiano.

Afinal João casa-se com a sobrinha (Sofia) do amante da mãe (Isabel). Afinal, Isabel e Tinita são colocadas na mesma instituição.

The plot thikens...
cristina_pt

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  A beleza está nos olhos de quem a vê
eu a ir-me embora e a entender o medo dele de que eu me fosse embora igual ao medo do Joãozinho que o abandonassem sem defesa no escuro, de forma que era como se ambos me chamassem ao mesmo tempo, cada um deles em lágrimas na sua ponta de casa

Albertina, a Tinita, vive completamente voltada para aqueles que de si vão precisando. Assim fantasia que eles não conseguem viver sem si e como tal, empodera-se deles (na sua fantasia). Tristemente, ver-se-à expulsa pelo objecto do seu afecto (como todos os empregados) e verá o seu Joãozinho a abandoná-la e a sequer reconhecê-la no lar da Misericórdia.

cristina_pt

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sábado, abril 26, 2008
  Vocabulário em Lobo Antunes
Estando a ler o livro "os cus de judas" encontrei umas palavras inventadas e singulares do Lobo Antunes.

"é conforme o senhor presidente acaba de declarar ... , e já agora e se me permite porque é que os filhos dos seus ministros e dos seus eunucos, dos seus eunucos ministros e dos seus ministros eunucos, dos seus miniucos e dos seus eunistros não malham com os cornos aqui na areia como a gente"

Certamente são palavras muito úteis e que poderiam bem caracterizar muitas figuras da nossa politica. (Eles andam ai)

E como descrever as pessoas que se arranjam para um almoço de domingo?

"atrás do portão cor-de-tijolo e do pátio repleto dos automóveis das visitas, as pessoas, endomingadas, deviam estar a chegar para o almoço"



Luis Neves
 
  O Manual dos Inquisidores, de António Lobo Antunes: Antes e depois
O décimo primeiro título da obra de António Lobo Antunes é, antes de tudo, agora que vão mais de uma vintena de livros escritos, uma ponte que liga a obra anterior à mais actual. Pode muito bem servir como ponto de partida para o leitor iniciante neste autor: prepara-o para prosseguir cronologicamente a fim de se inteirar da evolução do estilo da escrita até aos dias de hoje, ao mesmo tempo que lhe inspira curiosidade para ler a obra anterior, de mais fácil leitura mas nem por isso menos densa e rica. Para os leitores menos acostumados a um discurso analéptico onde muitas vezes se perde o fio condutor – porque a António Lobo Antunes não lhe interessa contar uma história mas expor o ser humano que somos –, onde uma única voz interpreta a voz de todas personagens, e resumindo: para o leitor que não está habituado a outro tipo de escrita diferente da do romance comum, com personagens, actos, cenários, espaços e tempos claramente definidos, iniciar-se na leitura de Lobo Antunes deverá ser gradual, começando do princípio, para que se habitue a incarnar os livros um a um para poder digerir os mais ricos e complexos sem grande dificuldade, principalmente a partir de Que Farei Quando tudo arde?. Essa iniciação pode ser feita a com O Manual dos Inquisidores, cujo tema do antes e pós 25 de Abril, recorrente mais ou menos na maioria dos livros publicados até 2000, entusiasmará o leitor curioso para saber de nós portugueses durante todo esse período e para além dele.

Porém, desengane-se quem poderá pensar que se trata apenas de um romance de carácter político ou social, e desengane-se também quem procura aqui indícios de um romance histórico. O Manual dos Inquisidores, na continuidade dos anteriores, retrata personagens que nos são próximas, não tanto pelo que viveram na transição do regime político, mas pela sua condição humana: a vaidade, o poder, a frustração, a resignação, a fraqueza, a desilusão, a sua soberania e o desamparo, a ascensão e a degradação. Ingredientes que misturados num caldo de factores psicológicos e morais nos dá a matéria de que somos feitos, nós os portugueses: com muita facilidade nos podemos ver retratados, nos reconhecemos nas personagens que vão surgindo gradualmente, como que se apresentando umas às outras. Um jogo de espelhos, de que muito fala o autor nas suas entrevistas.

Se quiséssemos resumir o livro à história que tem por trás como argumento, diríamos que é um livro sobre um influente ministro do antigo regime, traído pela sua mulher e que após algum tempo se resigna, abusando do seu poder, tendo casos com as empregadas da sua quinta em Palmela, quinta onde recebia Salazar para orientações de como governar o país e que acaba num lar de idosos, na sua fase de decadência, depois de se ter isolado durante o período da revolução na sua quinta lutando contra a ameaça comunista, colocando todos os seus empregados na rua. Tem dois filhos: João, fruto do seu casamento, que cresce desamparado e medíocre, e Paula, nascida da aventura com a cozinheira e que é dada aos cuidados de uma viúva. Mas é tão pouco para dizer do que este livro trata, porque cada personagem, isto é, cada voz que vem falar, traz consigo outras histórias paralelas, uma vez que abordam, em constantes analepses, vivências passadas e presentes, entrelaçando-se com o que disse a personagem anterior e o que dirá a personagem que a seguir vem falar. As vozes mais presentes, no entanto, são do ministro Francisco, da sua Governanta Titina, do filho João e da filha Paula, e também da sua amante Milá. Todas estas personagens trazem consigo outras vozes que enriquecem não uma trama mas a vivência humana e o estado psicológico destas pessoas que atravessaram um momento conturbado da nossa história recente. Nota a salientar é que estas vozes, estas vivências e finalmente estas pessoas pretendem ser a voz de uma facção da sociedade desse momento histórico. Como disse o autor, o livro “é visto sempre pelas pessoas que estão todas de um lado só”, ou seja o “retrato daquilo que se chama direita visto pela própria direita” não havendo qualquer “personagem revolucionária”, mesmo incluindo as personagens que são mais pobres, os subordinados do ministro, a viúva que toma conta da filha bastarda, a mãe da amante, etc.

O humor, não sendo uma característica exclusiva deste livro uma vez que está presente em praticamente toda a obra de Lobo Antunes, faz com que O Manual dos Inquisidores tenha uma faceta alegre, algumas vezes assumindo a caricatura para desanuviar possíveis tensões na narrativa. Não há vilões e heróis: comovemo-nos com a ternura do ministro carente do amor da sua mulher, vivemos a angústia do filho na sua solidão, do seu grito mudo, da sua frustração por ser manipulado, sorrimos com a ambição medíocre da filha depois de tomar consciência de quem é o pai, condoemo-nos do amor silencioso da governanta pelo seu patrão, rimos das atitudes mesquinhas das personagens face às circunstâncias. São todas estas personagens pessoas, de osso carne sangue e nervos, capazes de ternura e atrocidade, de amor e violência, de piedade e indiferença para com os outros.

É um livro rico em fabulações, imagens e metáforas de toda a ordem que faz a delícia do leitor que só tem a ganhar com a sua leitura. Porque aprende. Definitivamente aprendemos a conhecermo-nos ao lermos António Lobo Antunes. Somos nós que lá estamos, antes e depois deste livro.


25 de Abril de 2008
José Alexandre Ramos




nota: este post resulta da sintonia entre a Leitura Partilhada e o site não oficial de António Lobo Antunes, uma parceria que se mantém ao longo do mês de Abril de 2007.

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sexta-feira, abril 25, 2008
  Revolução dos Cravos
Em Manual dos Inquisidores, António Lobo Antunes mostra-nos a Revolução dos Cravos através dos olhos das distintas personagens. Algo desencantado, o "povo" descobre a mesma pobreza. Os ricos e poderosos fogem como podem e tentam salvaguardar os seus bens.


Nascida em 1975, sinto que perdi um dos mais grandiosos momentos da nossa história. A Revolução que começou e terminou em 21 horas, sem perda de vidas, beneficia esta generação a que pertenço e que tanto se esquece que a liberdade foi ganha por alguém.

Os militares de Abril tudo arriscaram, as suas vidas, a vida das suas famílias. Duvido que tivessem imaginado o sucesso que alcançaram. E por eles, ninguém pendura bandeiras nas janelas (excepto eu).

O "povo" saiu à rua, mas poderia ter ficado em casa. Também eles arriscaram tudo, na esperança de Abril.

Viva o 25 de Abril!

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  Da existência dos Anjos I
os anjos sonham




nessa época o meu sono durava um segundo se tanto e admirava-me que sonhos compridíssimos coubessem num espacinho de nada, sonhos por exemplo em que eu dava um pulito e voava que séculos, sonhos por exemplo em que bichos de chifres com corpo de bois e cara de gente galopavam atrás de mim, eu não ligrava correr, os pés pesadíssimos agarravam-se ao chão, e no instante em que o bicho batia em mim, pumba, lá estava o sol nas vidraças, a minha madrinha à minha beira e eu afinal mexia os pés

- O bicho?

(...)




também tiveram sonhos assim, certo? então passaram pelo tempo de anjos... ou ainda estão lá?





belém

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  Grândola Vila Morena

Grândola, vila morena


Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

Letra e Música de José Afonso




Fonte: Câmara Municipal de Grândola

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quinta-feira, abril 24, 2008
  a malícia dos objectos inanimados IV
para sempre, muito tempo




perguntou-me se tinha medo do escuro e eu senti uma coisa cá dentro, um consolo, um júbilo, um alívio, a certeza de regressar a casa a seguir a uma viagem sem fim porque quando uma mulher pergunta a um homem se tem medo do escuro é sinal que quer ficar com ele para sempre, é sinal que quer ficar com ele muito tempo.




aí está outra das marcas das personagens de ALA: esta consciência da solidão e do desamor, a necessidade de ser amado. E a certeza de que o para sempre, na realidade, não existe; na melhor das hipóteses para sempre é muito tempo - é mais do que amanhã.




belém

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quarta-feira, abril 23, 2008
 
hoje é DIA MUNDIAL DO LIVRO
 
  Entrevista Lobo Antunes na revista Ler
Lançamento da revista Ler

(destaque a entrevista com António Lobo Antunes)
Apresentação da nova revista LER, director Francisco José Viegas

22 de Abril, no Belém Bar Café (BBC).



site http://ler.blogs.sapo.pt/



Luís Neves
 
  a malícia dos objectos inanimados III
ah, os advogados, os advogados...




o advogado que esse sim me ficou com a mobília e as prendas de casamento na conta que me apresentou a seguir ao divórcio, se quando terminar este livro lhe apetecer escrever um romance de advogados traga o gravador, vamos para um sítio calmo, uma estalagenzinha no norte, eu dito-lho num fim-de-semana do primeiro ao último capítulo e sobeja imenso tempo para visitar Guimarães e brincar às escondidas no castelo que aos trinta e três anos, não vai acreditar mas é verdade, continuo menina, (...)




à atenção de todos os candidatos a romancistas

anotem: romance de advogados, incontornável.



belém

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Caro forlegista,

O que me pede é demais para o que lhe posso oferecer.
Apenas lhe possso falar da minha experiência. Advertindo desde logo que tentarei não fazer qualquer tipo de juizo sobre o mérito do Escritor ou das suas Obras.
Li ALA quando era estudante profissional e fi-lo pelo puro prazer de ler. Sem me envolver em qualquer tipo de análise literária ou observação de técnicas utilizadas. Li porque folhei o "Auto dos Danados" e não consegui parar. Li sempre e só por prazer e ganhei admiração por quem escreve assim.
Li principamente as obras mais antigas, Memória de Elefante, Os Cus de Judas, Fado Alexandrino, Auto dos Danados, As Naus,Tratado das Paixões da Alma, A Ordem Natural das Coisas, A Morte de Carlos Gardel, o livro das Crónicas e ainda várias crónicas na imprensa.

De todas estas, apenas me pareceu que "Memória de Elefante" é um pouco mais triste. Se eu tivesse começado pela "Memória de elefante" e desistido provavelmente teria perdido duas daquelas que foram as melhores leituras que já fiz: "Auto dos danados" e "As naus".

Não tenho nenhum roteiro para lhe indicar mas adianto-lhe este poema que encontrei no "Auto dos danados" e que sempre me acompanhou nas leituras de ALA.

"lonely? ah yes

but it is the flowers an' the mirror

sof flowers that now meet my

loneliness

an' mine shall be a strong loneliness

dissolvin' deept' the depths of my freedom

an' that, then, shall

remain my song"
in 11 Outlined Epitaphs
Bob Dylan


Cumprimentos,

PA




Fonte: Mensagem do fórum FORLEGIS, publicada com autorização do seu autor

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terça-feira, abril 22, 2008
  Humor de Lobo Antunes - Personagens de Odivelas III
Doutora Marina e o Zé




"ainda aguentei umas noites sem posição no sofá, a ouvi-lo ressonar no quarto,
acordando quando se levantava a tossir e acendia a luz do corredor, e como se
tal não bastasse no andar por cima do nosso, que no prédio não há um som que não se ouça, a cabeçeira do divã a bater na parede e a ginecologista a estimular o
marido numa berraria de esfaqueada



- Força Zé força Zé



Uma dúzia de pancadas em frenesim, um rangido de molas, uma pausa de exaustão e o Zé, que encontrava carregando de sacos de compras nas escadas ou a tirar os prospectos de supermercados e de telepizas da caixa de correio e a enfiá-los à sucapa na nossa, o Zé num queixume moribundo



- Preciso de beber um copo de água Marina



estou com a boca sequíssima e dez minutos depois, com o prédio em peso numa
expectativa ansiosa a torcer pelo rapaz, o divã a saltar novamente, a cabeceira
a bater na parede, as molas aos guinchos para trás e para diante, o meu sofá a
vibrar com os choques, a doutora, incansável



- Força Zé força Zé



O Adérito, sobressaltado por aqueles recordes, a querer entender-se comigo porque essas coisas pegam-se



- Chega-te para o lado não sejas má Lininha


eu a usar como escudo o prato alentejano que servia de cinzeiro e a prometer
partir-lhe a cabeça com uma ceifeira mal amanhada



- Tira daí o sentido "

"E eu estafada porque após estas guerras peninsulares de discussões, amuos, estrondos de portas e profecias tenebrosas, não lograva dormir com as
cavalarias da doutora



- Força Zé força Zé



a médica que o ano passado acabou por engravidar, calar-se e trazer a paz a Odivelas que os restantes condóminos são normaizinhos benza-os Deus, dois ou três impulsos a despachar que já não é nada mau e chega "



Luis Neves

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  a malícia dos objectos inanimados II
a música como matéria da emoção






músicas que dão vontade de nos deitar e fechar os olhos e que são como ter gripe sem gripe, aqui em Alverca há músicas assim no rádio, páro de bordar e a terapeuta ocupacional

- Então Dona Albertina

páro de bordar e é como se a minha vida inteira fosse esta doçura sem lágrimas no interior de uma lágrima só









[no comments]





belém

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os adoráveis poderzinhos:



A dona Tinita pode dizer o que quiser porque não era da senhora que o senhor doutor gostava era de mim.



in Manual dos Inquisidores



cristina_pt

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  Ainda os pobres de Sofia
"os servíamos, os pobres sentados, nós a servi-los que Cristo também lavou os calcanhares aos apóstolos"



in Manual dos Inquisidores





Aqui está, a meu ver, uma brilhante imagem, representação da altivez, disfarçada de humildade.



Cristina_pt

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segunda-feira, abril 21, 2008
  Humor de Lobo Antunes - Personagens de Odivelas II
terapeuta ocupacional Lina




"e por aqui verifique o meu tormento das nove à uma e das duas às seis a receber um ordenado que merecia a triplicar, com as prostitutas e as drogadas a insultarem-me mal me distraía



- Puta



eu sem descobrir qual fora a



passar em revista cabecinhas inocentes que bordavam, narizinhos inocentes atrás de pétalas de pano, boquinhas inocentíssimas que acompanhavam as músicas do rádio, e o viaduto de Alverca na janela, os prédios inacabados, as camionetas de carga na direcção de Lisboa, um ciscozinho assoreado de rio, eu a pensar na minha vida à procura do lenço na carteira que a tristeza sabe como é dá-me para a sinusite, um falsete lá do fundo



- Puta



comigo a agitar o ponteiro e uma paz de anjos na sala, uma paz de berçário, eu no quarto de banho de pálpebras descompostas porque não é fácil compreende, não é fácil, não é chamarem-me isto ou aquilo que me dói, é o que me tornei, é a ecografia dentro de quinze dias, é a Tânia que não demora nada faz vinte anos e se vai embora


Adeus mãe


é o apartamento de Odivelas, o despertador a arrancar-me bocados de carne às sete da manhã, é o comprimento dos sábados, principalmente o comprimento dos sábados, a Tânia e eu aborrecidíssimas no centro comercial, a Tânia e eu aborrecidíssimas numa esplanada, a Tânia e eu aborrecidíssimas na Gata Borralheira, chamem-me puta à vontade que eu aguento mas eliminem Odivelas,
o despertador, os sábados, o serão nos meus pais com a minha mãe a lamentar-se
da úlcera da perna, se voçe adivinhasse o que são os sábados para uma mulher
sozinha, "



Luis Neves

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  Tinita
A fiel cuidadora de João recorda os tempos que o Ministro era amistoso (talvez feliz). Desculpa-o.





e o próprio senhor doutor, tão diferente do homem em que se tornou depois, me convocava ao escritório e me mandava sentar como se fosse igual a ele






Afinal, o senhor doutor, mudou. Mudou por causa de Isabel. A esposa infiel e mãe ausente de Joãozinho. Ou talvez isso seja demasiado simplista. ALA já nos mostrou o futuro e já não sentimos (de forma enganosa) a mesma simpatia de Tinita.




E no final, a compaixão da bondade que não irá ser retribuída.




Deus me perdoe mas quem me apetecia nesse momento pegar ao colo não era Joãozinho, era o pai, pegar-lhe no colo, afastar-me do quadro de hóspedes com ele apertado no peito, de nariz no meu pescoço, despi-lo, deitá-lo na cama, tapá-lo com a coberta, e ficar de mão dada, a balouçar devagarinho o corpo até o senhor doutor adormecer.




in Manual dos Inquisidores




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  a malícia dos objectos inanimados I
o choro da cozinheira




eu choro como choram os pinheiros para dentro do púcaro de resina sem ninguém dar por isso, são necessários anos para um único púcaro e não se vêem as lágrimas



a poesia está com os humildes, não com as sofias e os tios e afins.





belém

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  Infantilização do idoso
Lobo Antunes é magistral no seu retrato da infantilização do idoso. De sábios e venerados a excedentes desta sociedade que os expulsa para locais onde devem morrer fora da vista de todos.



"o meu pai calado, submisso, inútil, sem cigarrilha, sem dentadura postiça, sem lábios, sem chapéu, estendido no colchão como um espantalho de cana, as empregadas a comporem-lhe a coberta


(...)


o meu pai de molerinha na almofada"



in Manual dos Inquisidores



cristina_pt

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domingo, abril 20, 2008
  rancor resignado de Mafalda
- Apetecia-me estar morta apetecia-me que estivessemos todos mortos
e palavra que há alturas me que pensando bem não deixo de lhe dar razão.

in Manual dos Inquisidores

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  OFERTA DE LIVRO
temos um livro sobre António Lobo Antunes para oferecer:



Os Romances de António Lobo Antunes
de Maria Alzira Seixo
Para se candidatar a este prémio escreva-nos, explicando a sua relação com a obra de Lobo Antunes.
O vencedor será anunciado brevemente, e receberá um exemplar desta obra, novinho em folha, ansioso por ser lido...

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  Humor de Lobo Antunes - Personagens de Odivelas I
Lina e Adérito


"Com a crise de emprego a crescer por aí a gente agarra-se ao que aparece e a mim o que apareceu foi um lugar de terapeuta ocupacional na Misiricórdia de Alverca. Depois de me separar do Adérito vivia com a miúda em Odivelas num rés-do-chão de duas assoalhadas e a cozinha onde a Tânia e eu comemos ..."
Luis Neves

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  qualquer palhaço ...
o tio e os possidónios


mas voltando aos suburbanos há pormenores que eles coitados não aprendem por mais que a gente os eduque, por mais amestrados que pareçam estar, continuam a dizer lábios em lugar de beiços, funeral em lugar de enterro, vermelho em lugar de encarnado, prenda em lugar de presente, vista em lugar de olho, conduzir em lugar de guiar, falecer em lugar de morrer, escutamos uma palavra dessas e sentimos um arrepio a paralisar-nos a espinha, quando a minha secretária, para não ir mais longe, se me sentava ao colo e me chamava fofo perdia a erecção para um mês, é uma tristeza ter de afirmar isto mas a verdade é que existem três categorias de pessoas, nós, os possidónios e aqueles que os possidónios acham pirosos



diz-me o teu vocabulário e dir-te-ei quem és?
ah, as palavras, o peso e a força das palavras...



belém

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  Autocrítica - Manual dos Inquisidores II
"Este livro é visto sempre pelas pessoas que estão todas de um lado só (...) aparecem alguns pobres, mas inquinados pelos pontos de vista dos patrões. O próprio 25 de Abril é visto do ponto de vista dos pobres."
"Eu acho o livro profundamente alegre. Talvez um dos livros com mais humor que eu já tenha escrito. (...) No final o antigo ministro está cheio de esperança."
"Mas queria que o livro comovesse e fizesse rir e te sentisse perto da vida. Sobretudo tentando aperfeiçoar a forma de as pessoas se iluminarem umas às outras e de nós percebermos como elas são infinitamente contraditórias. Por exemplo: a personagem do velho é capaz da ternura e de coisas de uma estrema crueldade e violência. Uma das coisas que me impressionou nele e quase me comoveu foi o profundo amor dele pela mulher desaparecida. (...) que o traiu. E a tentativa de ele a recuperar através de outras mulheres."
"Não acho o livro magoado. Posso achá-lo violento e cruel, terno, mas magoado não. Houve alturas em que senti que a coisa me sentia como a «Cavalgada das Valquírias», no «Apocalipse Now» ."






António Lobo Antunes
in Jornal de Letras, Artes e Ideias, Setembro de 1996






Fonte: CITI





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sábado, abril 19, 2008
  voar como um pássaro desconhecido III
a Sofia dos pobres que foi nora do ministro no tempo da ditatura



Depois do embate tremendo com a Odete e as suas memórias, vistas por ela e por João, chega-nos Sofia, uma caricatura da burguesia caduca, sofia, que em tempos teve o seu pobre, e que casou com o filho de um importante ministro de Salazar.





confesso que depois da dureza da história da filha do caseiro, a narrativa de Sofia me divertiu tremendamente. A crueldade atroz, de certa forma a relembrar-me de "AS NAUS", magistralmente escrita, como de costume. Querem uma amostra?




eu tinha um pobre só para mim às quartas feiras, um pobre a quem me proibiam de dar dinheiro para ele não o gastar logo em aguardente que é aquilo que os pobres fazem assim que se apanham com um tostão no bolso, só sapatos e roupas que já não serviam e coisas sobradas do jantar da véspera que o veterinário dizia que pelo tempero podiam fazer mal aos cães e embaciar-lhes o lombo, quando o meu pobre morreu de tuberculose na barraca em que morava, numa colina sobre o mar cheia de vento e de ervas e de vazadouros e de florinhas brancas, notei que na cabana dele existita um lustre pendurado do tecto a balouçar os pingentes de vidro, um canário numa gaiola de cana entretido com uma folha de alface e um corpo no chão no meio de trapos imundos, com uma camisola do meu irmão Gonçalo a servir de cobertor, e após a morte do meu pobre ofereceram-me um pobre mais novo que durasse mais tempo, saudável, ainda sem tosse, baptizado e com as vacinas em dia, aconselhado pelo senhor prior por não ter vícios nem ser capaz de me faltar ao respeito, (...)






pronto, já chega. Leiam o resto no livro, quarto capítulo.



belém

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a culpa nasce casada

Para quem não se lembrava que já tinha lido o Manual dos Inquisidores, não será nada surpreendente que também tenha esquecido os pormenores da relação do casal João e Sofia. Na verdade, releio agora pequenas parcelas sem atropelar relatos e comentários, pois é esta a única sequência claramente determinada da narrativa. Estou no segundo comentário, a voz é da Sofia. Fala do João, o marido-pai ausente, diz que ele não reparava em nada, nem nas xícaras, nem nas jarras, nem se deu conta das obras na casa, nem na piscina. Não ralhava aos filhos, não falava com eles, ia ter com o sogro, ajudá-lo a tratar das vacas (que nojo!), ou então ia para o Guincho lançar papagaios. Estivesse frio ou vento ou chuva ou raios e trovões. Assim preto no branco. Litigioso ou não, o divórcio será sempre uma forma de escaqueirar a louça. A nova lei permite que não se faça tanto barulho.
A propósito, hoje o país está debaixo de chuva, vento e frio, quem se arrisca a ir lançar papagaios? Bom fim-de semana.


...
laerce

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  António Lobo Antunes no Casino da Figueira da Foz

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sexta-feira, abril 18, 2008
  Lobo Antunes premiado em Espanha
"O escritor Antonio Lobo Antunes e o realizador Manoel de Oliveira são dois dos nove galardoados da 4ª edição dos prémios internacionais Terenci Moix, que serão entregues no dia 23 de Abril em Barcelona, noticia a agência Lusa."

ver mais

Fonte: IOL Diário

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  voar como um pássaro desconhecido II
mais um exercício de democracia: a resposta. neste manual, cada relato é seguido por um comentário. acaba por ser um mundo de certa forma perfeito: o João desenrola as suas memórias com o conhecimento da Odete, que os revê à sua maneira.



Odete, inseparável da sua condição no passado, da mentalidade que confundia respeito com subserviência e humilhação, a condição de dominada pelo medo - defende o senhor doutor: "não percebo porque é que o menino João há-de dizer coisas horríveis do senhor doutor" - por medo que ele recupere da doença e volte.





De que valerá a liberdade instituida se não penetrar nas pessoas, em especial nas mais humildes?





Ao longo do capítulo desenha-se a lenta conquista da liberdade: por um lado alguma resistência, "a miséria permanecia a mesma só que com mais gritaria, mais bêbedos e mais desordem por não haver polícia"; contudo, a liberdade dá frutos: Odete conta com detalhe a sua vivência da violação, a sua condição de vítima.



novo capítulo, o mesmo trabalho sublime das palavras de ALA. em minha opinião, claro. o enredo, a forma, o contexto político e histórico - prendem-nos à leitura, tornam quase inevitável a leitura continuada, num fôlego...





belém

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quinta-feira, abril 17, 2008
  o rosto da justiça? [Cris, olha, coleguinhas!]
o advogado
vestido de advogado caro
com o tom da camisa a ligar com o tom das meias,
batendo a unha no mostrador do relógio



o advogado caro
de cabelo cortado num barbeiro caro
que me recebeu num gabinete caro
com quadros caros encadernações caras em estantes caras
a mulher cara e os filhos caros a sorrirem numa moldura de prata
e a mobília quase tão cara como a mobília do meu pai

(...)

Manual dos Inquisidores
(primeiro relato)


então, soa familiar? já os vimos não televisão, cerrrto?


belém

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  voar como um pássaro desconhecido I
para quem, como eu, apreciar a entrada de um romance - a primeira linha, o primeiro capítulo,- encontra neste Manual dos Inquisidores consolo para a alma leitora. Quem melhor que o João para nos conduzir na abertura?

a) o tempo: como fluturar num presente em destroços? João entra no jogo da recusa do presente. Concentra-se num passado a vinte anos de distância, no tempo em que a Sofia usava bandolete - e o amava. um dos grandes exercícios individuais de liberdade (e de loucura) é esta recusa do presente: quando me concentro no passado, quando revivo outros momentos, em que tempo estou, de facto: no presente, ou no tempo da memória reinventada?

b) a cena da violação: li em tempos numa entrevista do ALA uma enorme declaração de pudor; que lhe seria impossível descrever uma cena de amor / sexo, porque era demasiado difícil não ser vulgar. Também por isso esta cena que encontramos inesperadamente na terceira página do romance é impressionante. Não vos choca tremendamente encontrar a beleza literária numa cena tão horrenda?


é um livro avassalador, e arranca magistralmente bem. [beata? mas é óbvio que não.]


belém

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à la recherche...

Aprecio esta estratégia de associações que o autor concede ao narrador para desenvolver o enredo. Uma técnica que permite saltar do passado para o presente, de um espaço para outro, de personagem para personagem num processo eficaz de construção narrativa que, se embala o leitor na corrente do discurso, o leva naturalmente à vertigem da solidão existencial do protagonista. É a agitação do tribunal semelhante à agitação na quinta de outrora; é o olhar do advogado caro que remete para o olhar da sogra; é o som da unha no relógio a lembrar as pás do moinho. Tudo entrelaçado de intervenções abruptas na mancha informe da memória que se corporizam graficamente através do discurso directo.

...
laerce

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  O rosto da Justiça


e o juiz entrincheirado de caneta em riste por detrás das leis como para se defender de nós, idêntico a um mestre-escola com a metade inferior da cara oculta por tratados com farpas de cartão a marcarem as páginas, fitando-me como se pedisse desculpa tal como fitei o meu pai quando na semana seguinte ou duas depois da revolução




cristina_pt

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quarta-feira, abril 16, 2008
 
conta-me como foi

A televisão pública tem investido nas memórias do país de Lobo Antunes. Um país de pechisbeque, pequeno de mais para tão altos desígnios entrevistos em Camões, Vieira ou Pessoa da Mensagem. Ainda ontem, num programa a que, infelizmente, apenas pude assistir escassos minutos, uma figura distinta do Movimento Nacional Feminino contava jovialmente o como, o quando, o onde e o porquê da sua intensa actividade de ligação entre os soldados na guerra colonial e as famílias na metrópole. Agrada-me saber que, num registo mais acessível, podemos regressar ao passado recente que um dia de Abril amanheceu envolto em cravos vermelhos e que se atropelou a si próprio no afã de tantas conquistas ditas daquele mês. Mas Lobo Antunes consegue de facto mostrar esse país de todos os lados, fragmentá-lo em metáforas assombrosamente límpidas, recortá-lo com a palavra firme de um anatomista, aplicar-lhe a cor no tom preciso da decadência. Também por isso, vale a pena escalar uma parede.
...
laerce

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terça-feira, abril 15, 2008
  Opinião sobre o Manual dos Inquisidores
Foi o primeiro livro do António Lobo Antunes que li, e achei o universo do escritor fascinante.
O que me pareceu mais marcante, o que melhor caracteriza a escrita do autor, são as suas descrições muito violentas dos factos e das situações, descrições crueis que incomodam o leitor, e que nos levam a interrogarmo-nos e a tentar entender estes personagens.
O Livro é composto por uma sequência de relatos e testemunhos dos diferentes personagens que intervêm na "história" principal que gira em torno da vida do Ministro de Salazar (Francisco) e de todos os personagens que passam pela vida da familia, a mulher (Isabel), o filho(João), a governanta, a cozinheira, a filha , o caseiro, o motorista. Estes diferentes relatos dos acontecimentos vistos por a cada um dos personagens, torna a visão dos acontecimentos pelo leitor multipla e revela muito sobre as caracteristicas de cada personagem. Este permanente confronto de visões diferenciadas dadas pelos personagens permite uma visão geral dos acontecimentos e da situação social e politica que é o cenário que atravéssa todo o livro.
A história passa-se ao longo de todo o periodo de ditadura com descrições impressionantes da violência da Policia Politica (PIDE), e da morte do general Humberto Delgado. Mas também do periodo pós revolução de abril com as mudanças e consequências que tiveram na vida das personagens.
Outra das grandes caracteristicas do Lobo Antunes é o seu fantástico sentido de humor, e que percorre todo o livro utilizando uma grande ironia, fazendo caricaturas das personagens.É uma grande visão da sociedade portuguesa, uma imagem muito profunda da segunda metade do século vinte português. Penso que o que a obra de ALA representa hoje, será muito semelhante ao que representa a obra de Eça de Queiroz para o final do século XIX, é um grande observador da realidade, um grande cronista de costumes, e que sintetiza muito bem em algumas personagens certos "tipos" sociais marcantes do nosso tempo.
LN

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  primeiros sinais da leitura
li o Manual pela primeira vez em 1996, semanas após o seu lançamento. guardo a cinta da editora, que anuncia um romance genial. essa promessa acompanhou-me na leitura, à calha de marcador.



no início de cada capítulo anotava timidamente a lápis os nomes das vozes, auxiliares de compreensão narrativa.



como de costume, os sublinhados diminuem de quantidade no último quarto do livro - em resultado mais do processo de aprendizagem e de habituação do que das frases destacaveis propriamente ditas.



lembro-me de me ter rido perdidamente com a menina que tinha os seus pobres - e hoje sei que não me riria.



(...)



assusta um bocadinho voltar ao fim de muitos anos a um local onde fomos felizes. estou um tanto receosa do efeito de ler, sim. se calhar não tanto pelo medo do livro. a verdade é que este exemplar está marcado pela pessoa que fui em 1996 - nos sublinhados, nas reacções, na caligrafia. tantos são estes quase 12 anos...

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  João
e a partir do ano em que me separei não haveria mais ninguém na quinta excepto eu a construir um barco na garagem para partir um dia







Uma das primeiras imagens visuais surge-me com a descrição do João. Um homem mental e fisicamente desorganizado: uma corda ata-lhe as calças, sapatos sem graxa, peúgas sem elástico, casaco demasiado curto, cuecas na gaveta da cozinha.





Engenheiro, desiste de prosseguir uma carreira na sua área de formação ("atelier de projectos") para trabalhar no negócio da família da esposa. Aí, mero representante sem opinião, vê o director de pessoal usar o seu desconhecimento (ou inércia culposa) para desfalcar a empresa.





Claro está que todas as culpas lhe são imputadas, gerando a sua cisão, não só com a família da esposa, mas com esta, levando-nos assim à primeira página, nas escadas do tribunal onde decorrerá o decretar do seu divórcio. Aí vê desenrolar-se o fim do seu casamento com Sofia.




É pela mão da família da esposa (Sofia) que verá a quinta arriscar perder-se.



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segunda-feira, abril 14, 2008
  Personagens
Faço tudo o que elas querem mas nunca tiro o chapéu da cabeça para que se saiba quem é o patrão.




Mais que a densidade das personagens é a relação entre elas que se vai mostrando mais desconcertante.

Há provocações evidentes: o pai (ministro e Francisco), em poucas páginas oscila entre o dominador e o dominado, entre o poderoso e o submisso.

O filho (engenheiro e João), entre o dominado e o que desejaria ter dominado.

Mas é a Odete... que mais me provoca.

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  Clube de Leitores - Leitura books & living Bom Sucesso (Porto, 16/Abr)
 
  Das Leituras de Maria Alzira Seixo IV
o comentário ao Manual feito por Maria Alzira Seixo termina de forma esplendorosa:






De uma precisão e rigor minunciosos, os delineamentos complexíssimos e entrelaçados da fábula deste texto desenvolvem um «manual» que é decerto o da mão que escreve, palpa, experiencia ou agride, nno tacto do conhecimento possível, na instrução que também faculta, mas sobretudo exibe em escrita, na dor da impotência e do aniquilamento, ouvindo e escrevendo




os murmúrios e as vozes do passado.


Está dado o mote. É já tempo de ler o livro.








belém

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domingo, abril 13, 2008
  Das Leituras de Maria Alzira Seixo III
a propósito da estética de ALA, um longo trecho luminoso de autoria de Maria Alzira Seixo:



"(...) é como se a estética dos romances de Lobo Antunes, a partir de agora, insistisse nesses contextos impressivos, e o texto fosse ele mesmo um redor de acontecimentos, situações, personagens falas, um liminar acesso a eles ou, ao invés, as sobras do seu percurso inobservado. Daí a fragmentação narrativa, daí as reiterações, daí as mudanças de tipo gráfico - numa espécie de recomeço constante, e insistente, que é ao mesmo tempo uma retoma e a sinalização da pulsação obscurecida da vida (...). São romances de achegas e de restos. Nos fiapos de história, nas situações esboçadas, nas falas partidas, no contar inacabado, na anáfora indecisa de começos sempre subordinados a um anterior e inexplícito acontecer. (...) No que decididamente nunca é uma manta de retalhos, mas é um caminho que se traça em pormenorizada e sinuosa determinação, ou em espiral irregular, ascendente e descendente, muitas vezes dificultosamente lateralizada e impelindo o leitor para uma leitura de composição também sua, isto é, da necessária criação de entendimento do outro. Do outro texto. Deste (e dos outros) textos."







belém

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  Das Leituras de Maria Alzira Seixo II
"este é talvez o grande romance de amor na obra de Lobo Antunes, de um amor que nã passe de horizonte inatingível e de simultânea saudade dele, ou sua tentada reconfiguração (...) amor que neste texto se manifesta perdido e frustado" (p. 296)



Maria Alzira Seixo refere-se a amor entre o homem e uma mulher, o seu filho, a sua filha. Um homem desamado na sua essência, que usa subterfúgios e fuga para se enganar, alimentando uma saudade de um tempo ficcionado e futuro.



[será das leituras continuadas de ALA que me cruzei com este conceito de "saudade do futuro"?]





torna-se um desafio interessante analisar esta obra do ponto de vista do amor / desamor - o que, salvo erro, se torna quase obsessivo nas obras seguintes de ALA, em que invariavelmente personagens morrem de amor, sofrem de desamor, inventam um amor correspondido, recriam a realidade instantânea com enchimento amoroso sem reflexo material.



[talvez não haja outro tema literário que não o amor, a desilusão e a morte.]





belém

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sábado, abril 12, 2008
  Escritor no Festival de Literatura de Berlim

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sexta-feira, abril 11, 2008
  Das leituras de Maria Alzira Seixo I
segundo a investigadora, confirmam-se as nossas suspeitas de que a escolha do Manual para este mês de leitura partilhada justifica-se e foi acertada: trata-se do livro que marca uma nova fase do escritor com o seu público, marcado pelo "consenso quanto à qualidade indiscutível dessa obra, assim cmo um respeito admirativo de indiciação patrimonial, que a vão integrando insensivelmente, mas definitivamente, na esfera da consagração unânime."



vendo bem as coisas, na minha imensa dificuldade e tendencial recusa de recomendar um livro do ALA a um novo leitor, sempre me inclinei para o Manual e para a Exortação. Alternativamente, sugeri As Naus - em casos muito específicos que me permitiam algum risco e alguma loucura.


O Manual é, de facto, uma boa porta de entrada no universo de ALA. E todo o estilo da fase madura está em construção. E há uma marca de sedução ao longo da narrativa, um enredo político implicito... vários pontos fortes a apelar que nos acompanhe, caro leitor.



belém

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quinta-feira, abril 10, 2008
  Maria Alzira Seixo
nos próximos dias vou aproveitar o saber e as leituras de Maria Alzira Seixo, que publicou um livro que admiro profundamente: "Os Romances de António Lobo Antunes".




tenho andado a brincar sobre manuais de leitura [e continuarei]. mas para quem - como eu - procurar pistas de leitura e tiver curiosidade sobre metodologias de leitura, este é um livro a ler.




fica a dica. prometo alguns sublinhados. porque, como podem verificar, neste momento não estão reunidas as condições...













belém

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  O princípio
O primeiro narrador começa a lançar a teia que une as distintas personagens.

O autor promete: até o ministro é humano. Eu concordo: a humanidade no seu pior. Ou irá ele surpreender-me?

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quarta-feira, abril 09, 2008
  Crónicas
há leituras e há leituras



podemos ler o Manual dos Inquisidores sem ler as crónicas bimensais do ALA na revista Visão



mas porque o fariamos?


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  beato?! não.
o dicionário propõe para beato: devoto com sinceridade ou não. tudo isto a propósito de na passada segunda-feira ter ouvido Mário de Carvalho na tsf falar de leitores beatos. não, não, não, beata nunca. mas fã, sim, que mal tem?

dicas para um manual de sobrevivência de um leitor devoto

1. leia os livros todos ou quase todos do seu escritor eleito [por hipótese, chamemos-lhe A].

2. se não ficar totalmente fascinado com a sua obra, não perca tempo, e escolha outro - veja bem, publicam-se milhares de livros por mês, há muito por onde escolher, não seja teimoso nesta fase. até porque vai precisar de muita teimosia e persistência nos momentos seguintes.

3. leia com atenção. não permita que a sua devoção seja desmontada com facilidade. preste atenção a pormenores, colecione léxico, lugares. se tiver boa memória, decore umas dúzias de frases exemplares, mas não mais de 3 por cada obra.

4. fale sobre essas suas leituras em todas as oportunidades. são excelentes desbloqueadores de conversa, pelo que sempre que se instale o silêncio ou não saiba o que dizer, partilhe a sua paixão.

5. fale de forma apaixonada. verá, caro leitor, que nada atrai mais do que um discurso apaixonado. relembre o ponto dois: se não estiver convicto da paixão, procure outro - são tantos os livros que anseiam uma leitura apaixonada, e você só tem de encontrar o seu...

6. enquanto não for conhecido no seu meio de convívio social como "aquele que leu quase tudo do autor A", ou, melhor ainda "o leitor de A", esteja atento a todas as edições novas, seja o primeiro a ler, o primeiro a tecer comentários informais.

7. pondere os conselhos: não seja prepontente em relação aos que não leram, ou aos que leram e não gostaram. seja medianamente incentivador, não crie expectativas elevadas, porque a expectativa é a maior inimiga da satisfação.

8. dê-se ao luxo de não idolatrar todas as obras. seja criterioso. se não gostou, assuma. se não lhe deu prazer, para quê escondê-lo? será muito mais convicto se se agarrar a uma verdade - ainda que seja uma verdade pequenina.

9. não sinta necessidade de também dizer mal - por exemplo, de um dos livros de A, ou de uma mudança de estilo-, apenas para ser considerado imparcial. para dizer mal e ser tomado a sério convém ter provas factuais. sem provas, será tomado por tonto ou por invejoso.
10. não arrisque em polémicas mal fundamentadas: a paixão é míope mas não totalmente cega, isto não é o futebol, é algo ligeiramente mais ponderado. e, lembre-se, é tentador desmascarar uma paixão, por isso não se ponha a jeito. para quê dizer que "é o melhor escritor" se ser "um escritor extraordinário" é já um feito tremendo? especialmente quando não os tiver lido a todos os que são passíveis da comparação.


e não leu, pois não?

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terça-feira, abril 08, 2008
  qualquer palhaço que voe como um pássaro desconhecido




E ao entrar no tribunal em Lisboa era na quinta que pensava.

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  Autocrítica - Manual dos Inquisidores I
"N`O Manual..., como nos meus últimos livros, procurei escrever uma história em que as personagens se iluminassem umas às outras, sublinhar as contradições tremendas das pessoas, o que elas são difíceis de julgar. Pareceu-me que era importante dar um retrato daquilo a que se chama direita visto pela própria direita. Não há ali nenhuma personagem revolucionária, mesmo os pobres são conservadores. Lembro-me de um chauffeur particular que, a seguir ao 25 de Abril, me dizia que votava no CDS, porque, se acabassem os patrões, ele perdia o emprego. Essa gente, poderosos e pobres, que pretendo retratar. Por outro lado, não pude deixar que os maus fossem completamente maus, e por isso também lhes dei o lado humano."




António Lobo Antunes
in Visão, 26 de Setembro de 1996




Fonte: CITI


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segunda-feira, abril 07, 2008
  na primeira pessoa: voz(es)

Dizem que os meus romances são polifónicos. Não são. É sempre a mesma voz que fala e gostaria que fosse também a voz interior do leitor. Ou melhor: essa voz não fala, nós é que a ouvimos.




António Lobo Antunes



em entrevista ao DN











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domingo, abril 06, 2008
  manual prático de sobrevivência como leitor de ALA
encotrei, casualmente, o case study perfeito. caro leitor, leia com atenção... Alex, tenho aqui um livro que pode ser teu, se assim o desejares...







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  Humor de ALA
14.04.1971, ALA em Aerograma à esposa referindo-se à sua colocação em África, durante a Guerra Colonial:



"O problema principal são as minas, mas eu vou fazer o possível para ver onde ponho os pés."





Novamente em 16.02.1971:



"E depois o risco é mínimo porque os tipos nunca acertam"





In D´este viver aqui neste papel descripto



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  na primeira pessoa: dificuldade em entrar nos livros de ALA

Para mim, os livros que escrevo são óbvios e evidentes. Ao lermos certos autores muito bons - estou a pensar no Conrad -, parece caminhar-se no meio do nevoeiro e, de repente, o nevoeiro começa a levantar-se e o livro fica totalmente claro. Quando, aos 20 anos, via um filme de Bergman, aborrecia-me profundamente.





António Lobo Antunes
em entrevista ao DN






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sábado, abril 05, 2008
  manual de sobrevivência para ler Lobo Antunes
patati patata que ALA é complicado, que é denso, que não sei quê






querido leitor, não se deixe intimidar. ALA é um homem que conta histórias. Conta-as de uma forma muito particular, é certo, mas isso é o que acontece com todos os grandes escritores: encontram uma forma própria de comunicar, de abordar as realidades, de cruzar as informações. Nada mais. Se está realmente com medo, não o assuma, e siga os passos que aqui são propostos. Testes científicos provam que os mesmos tendem a conduzir a uma leitura agradável de ALA - em rigor, testes científicos provarão; assim que se disponibilize para testar este método, e se tiver a amabilidade de partilhar os seus resultados [científicos] connosco.









1. leia a capa: título e autor. certifique-se que se trata mesmo de ALA e não de um sucedâneo



2. comece a ler a primeira página



3. leia sem pressas, num ritmo moderado, nem tão lento que se arraste moribundo, nem demasiado rápido que perca mais de metade da riqueza da escrita



4. antente as quebras de frase, as vírgulas, as mudanças de parágrafo - por questões também de saúde, aproveite cada sinal de pontuação e cada quebra de parágrafo (ainda que artificial) para respirar



5. escute as repetições [de palavras, de frases inteiras], que servem de mote, de ritmo e também de identificação da voz



6. olhe mais fundo: abaixo das frases e palavras que reincidem, atente na rede vocabular e, num nível ainda mais profundo, no dicionário próprio do autor que em cada obra se descobre e transmuta



7. entre cada capítulo, faça uma pausa e imagine as personagens. se possível, ou sempre que necessário, acrescente-lhes características: esta é gorda, aquela anda de sapatilhas, a outra usa um cinto castanho. evite identificar as personagens com os seus vizinhos ou colegas de trabalho: ainda não sabe que destino lhes traçou ALA, e não se comprometa com memórias inventadas demasiado fortes artificialmente agarradas a pessoas que contacte com alguma frequência [como desconfia, na sua maioria as personagens não são vizinhos ou colegas desejáveis]



8. persista. é natural que algo que nos é menos familiar hesite em pertencer-nos. releia sempre que possa, e sempre que necessário. não obrigatoriamente um capítulo inteiro; releia parágrafos, frases marcantes.



9. se tiver paciência, faça um mapa perceptual do enredo / personagens. assim que puder digitalize-o e envie-o para um conjunto de amigos e desconhecidos, onde inclua a minha pessoa. não é por nada em especial, mas sempre gostei de desenhos e não tenho jeito para os executar...



10. faça leituras acompanhadas, partilhadas, e similares. parece que não, mas tem efeitos motivadores em várias dimensões: o carro vai em movimento; o entusiasmo é contagioso; a ignorância é picante; comunicação estimula todas as faculdades, da loucura à clarividência.



11. se estes passos não resultarem na totalidade, acrescente outros que julgue relevantes: contribua para este processo de conquista.



12. vá, colabore, faça de conta que acredita no cariz científico destes passos. chamemos-lhe metodologia, sim? vá, só com uma alteração de designação já se garante 30% de sucesso. quase arrisco em dar-lhe um nome em inglês e garantir mais uma quota de 20% de sucesso - mas não era justo. por isso, fica apenas com 30% de sucesso pré-adquirido. os restantes 70% ficam, então, por conta do caro leitor.









nota importante: pode testar estes passos com outros autores de fama difícil; nesse caso, substitua no título e sempre que necessário o nome ALA pelo autor pretendido.









Belém

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  Mário Crespo entrevista António Lobo Antunes




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  noutro registo, mais autores de referência
Quais são os romances que recorda com mais emoção?

Em primeiro lugar os do Salgari, com aquelas aventuras todas. Depois, os do Júlio Verne. Aos treze ou catorze anos, tive a descoberta dos franceses, com aquela gente, Sartre, Camus, Malraux, que rapidamente me desinteressaram, porque rapidamente descobri os ingleses e os norte-americanos. Graham Greene foi uma grande descoberta para mim. É um escritor que eu ainda hoje admiro. Gosto de ler os livros dele, mas não gostaria de os ter escrito. Mais tarde, foi a descoberta do Simenon, que continuo a achar um grande escritor, homem de três ou quatro frases, espantoso com aqueles ambientes e o modo de descrever as personagens. Depois, ainda, foi a grande descoberta dos russos, com o Tolstoi, o Tchekov… Sobretudo estes dois, e até o Dostoievski, mas muito, muito menos. O Dostoievski era um bocado aborrecido. Mas o Gorki é que me enerva. Aqueles livros davam uma grande vontade de chorar, livros chuvosos, cheios de chuva e de lama, uma coisa horrorosa. Finalmente, a descoberta dos ingleses e dos norte-americanos do século passado, que, para mim, foi decisiva na minha formação.


[pois, nada de Flash Gordon, desta vez. esquecimentos...]

belém

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sexta-feira, abril 04, 2008
  resposta ao manual de sobrevivência para abordar ALA na rua
se a amiga do amigo pensou que ele disse isso, talvez ele tivesse querido dizer mais ou menos isto:

"(Deter-se-ia aqui no penhasco de Lobo Antunes e nas memórias de uma amizade impossível, tinha poucos anos e andava a descobri-lo, nunca lhe lia um livro inteiro, mas lia-o todos os dias, devorava as entrevistas, geria tudo muito envergonhada, profundamente envergonhada, ia percebendo nos seus silêncios que estava com sede, havia pouca amizade no deserto, pouca mas boa, e depois vinham os golpes, o Zé, a Zé (este amor), o Ernesto, afinal tinha uma ternura imensa por ele e queria muito ser sua amiga, amiga verdadeira, nunca fora o cheiro da ribalta ou a cegueira dos holofotes fugazes da fama, nada disso, mas como poderia ela aproximar-se dele sem levar com um ferro incandescente a dizer “fã volátil”, o próprio António Lobo Antunes devia pensar nisso, terei aí amigos em potência espalhados pelo mundo, amizades explosivas e à primeira vista, que ele via-as um pouco como o amor, mas esses nunca se vão aproximar de mim, esses não me vêm pedir autógrafos, não aparecem nas apresentações dos livros, esses talvez me amem demais para me abordarem, pensando que me importunam, e por isso são amizades impossíveis, ela própria era mais nova do que as suas filhas, como entraria no seu mundo? como seria aceite sem suspeitas? galdéria, é o que ela é, quer fama fácil, ao menos se fosse homem podia um dia aproximar-se dele como sonhava, numa tarde parada da feira do livro de Lisboa em que António se escapulia mais cedo, na manhã da tarde, nunca depois das quatro nem antes das três, e ela que era um rapaz talvez chamado Mário, tinha de ter um nome porque ele chamava-nos sempre pelo nome, escolhera Mário porque se encantara com a forma como ele chamava Mário ao Mário Crespo, numa entrevista há muitos anos atrás, divisava-o naquele passeio largo no topo do parque, António a caminhar serenamente para um lado qualquer do sol, os olhos entrefechados naquele ponto em que as pestanas se tocam sem contacto deixando a luz morna submergir a íris, uma espécie de sono desperto, parêntesis hedonal da vida, um livro abraçado sobre o peito, e ela, ele Mário, podia abrangê-lo numa devolução da ternura que lhe conhecia, uma pancada masculina com a mão aberta na escápula direita – parece que mataram a palavra “omoplata” -, prensando esse topo das costas como se a amizade aí se descarregasse em ligação directa




- Olá António, Mário, amigo novo.


- Olá, Mário. Diz, Mário.


Agora íamos os dois com a luz morna a submergir a Íris


- Não te importas que omita aquilo que comungamos, e avance para esse único ponto de discórdia que tenho contigo?


- Não, Mário. Diz, Mário.


- Os poetas, os verdadeiros poetas. Tens dito que se fosses mesmo poeta não querias saber de escrever romances, não entendes a urgência de um poeta em escrever romances.


- Sim, Mário.


- Penso que estás errado. Um poeta pode cansar-se da síntese do mundo.




Mais um silêncio, aquele sorriso franco, paramos.


- Não sei, Mário, não sei.





Semanas mais tarde, diria numa entrevista ao Carlos Vaz Marques, na TSF


- Pela primeira vez tenho um amigo impossível, e não se repetirá, porque não quero que mais ninguém me aborde no passeio quando tenho a íris submersa, mas pela primeira vez tenho um miúdo que é meu amigo, não ficou só nas filas das feiras do livro, é um amigo daquele passeio no topo de Eduardo VII, não combinamos nada, não temos compromissos, só nos encontramos casualmente naquele passeio, uma, duas, três vezes por ano, temos conversas que nos levam facilmente a ultrapassar várias vezes as respectivas portas de casa, e os destinos de cada um, e depois não combinamos nada. Um dia talvez lhe peça o telefone, ou ele a mim. Tenho um amigo impossível, Carlos.)




amigo de uma amiga

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quinta-feira, abril 03, 2008
  manual de sobrevivência para abordar ALA na rua
um amigo de uma amiga confessou ter esperança de um dia abraçar Lobo Antunes e de lhe dizer que o admira - principalmente por ser imperfeito.

se o leitor, amigo de uma amiga minha, ou não, correr o risco de alguma vez se encontrar nesta situação, poderá, caso o entenda, fazer uso de alguns hipotéticos ensinamentos que são expostos nas próximas linhas, ensinamentos genéricos eventualmente aplicáveis a qualquer que seja o seu ídolo artístico:



- nenhum artista é perfeito, pelo menos enquanto permanece no mundo dos vivos. nenhum artista é imperfeito; a imperfeição está na matéria, não no artista; a imperfeição é extrínseca, e a razão da luta e do trabalho de criação. contudo, a própria imperfeição é um mito, como tantos outros, que nos alimentam sentimentos e sonhos. afinal, se existisse perfeição ou sequer imperfeição, para que precisariamos de literatura?

- uma aproximação física a um artista deve ser feita de forma lenta e com bastante precaução. imagine, leitor, que pode interromper o pensamento único e incoerente que o artista perseguiu toda a sua vida? controle-se, então. o ideal seria esperar que o artista o aborde a si. e, repare, a razão porque ainda não pôs essa hipótese [esperar que o artista amado o aborde a si] e antes arquitecta abordar o artista amado na rua é pelo receio inconsciente que o artista nem o veria, que ao cruzar-se fisicamente consigo se manteria num patamar meta-consciência diferente do seu. e se assim fosse, para quê arrancá-lo do outro mundo onde transita a sua consciência criadora, para quê interrompê-lo?

- dirá, hipoteticamente: para o felicitar pelo trabalho realizado. e, ainda hipoteticamente, porque acha que o elogio alimenta a alma. certifique-se, à cautela, se este pressuposto se aplica ao artista em questão - não se aplicará a Lobo Antunes, nem a muitos artistas conscientes do seu valor (ou da falta dele).

- uma abordagem a ALA tem uma condicionante adicional. o autor ouve melhor as vozes interiores do que as exteriores. refugiou-se durante anos no conceito de surdez, numa combinação singular de limitação física, interesse pelo som e intensidade de pensamento. dada a combinação particular, a recente adopção de um aparelho de audição não alterou drasticamente a relação com o som exterior: apurou-se a componente física, mas não se influenciou as outras componentes da combinação. tudo isto para dizer que se o leitor decidir, de facto, abordar o escritor na rua, e quiser ser ouvido, faça-se ouvir com veemência suficiente ao contexto do escritor alvo.

- qualquer escritor, mesmo os que se expressam na terceira pessoa, que reportam a factos históricos demasiado distantes da sua vida, expõem-se. todos eles, sem excepção, são avaliados pessoalmente nos seus livros, como se o único tema passível de expressão fosse o eu. qualquer leitor conhece o seu escritor. quanto mais leitores (e quanto mais aplicado o leitor) mais vezes se desdobra a identidade do escritor em personalidades inventadas - adivinhadas por cada leitor, individualmente. ora, convenhamos: nem quem fala apenas de si próprio deseja ser confrontado com as personalidades hipotéticas desdobradas por cada um dos leitores empenhados. pior ainda, quem fala sobre si próprio procura a sua identidade, e seria frustante fazer essa busca de identidade durante anos e, casualmente, ao dobrar uma esquina, ser presenteado por um pretenso leitor com o desenho da sua identidade. inevitavelmente o escritor tentará desenganar o tal leitor - o que é uma forma de se desenganar a si próprio ou de manter a sua integridade.

- finalmente, e de não menos importância: todo o poeta é fingidor, todo o leitor é enganado. por muito que leia, nada saberei. a leitura, essa, é meramente um prazer, um vício, um passatempo. um exercício de ilusão.





o único ensinamento totalmente sério ficou por escrever, e é este: ALA é um escritor simpático, de bom trato, amável com os leitores. sempre um pouco perplexo por o lerem, por lhe conhecerem as obras, as personagens. tímido pelas avaliações da sua identidade que os leitores pretendem desenhar a partir dos livros. porque tudo o que está nos livros está dentro do autor, vem do seu ser. mas não é o autor, não é a sua imagem. todos os sentimentos expressos são sentidos dentro de si, mas não por si - são sentidos dentro de si pelas suas personagens. porquê confundir, leitor?





Belém

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"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

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"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

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"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

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"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

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