Leitura Partilhada
terça-feira, junho 30, 2009
  - Não nos esquecemos de nada? Fizemos, com certeza, tudo o que era possível?
- Aquele tipo lá da cadeia dizia assim: “De qualquer maneira, a gente faz o que pode.” E acrescentava: “A única coisa que nos deve importar é dar sempre um passo em frente, por mais pequeno que ele seja. Se depois, a coisa fizer marcha atrás, nunca recuará tanto como andou para a frente. É uma coisa que se pode provar, e é por isso que vale a pena agir. Está provado que nada é inútil, mesmo que o pareça.
“As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck (1939), Editora Livros do Brasil, tradução de Virgínia Motta


(foto minha)

Em face do livro que elegemos para este mês e dos tempos que correm, julgo pertinente transcrever aqui as palavras do meu amigo José Ferraz Alves que, para além do exercício da sua actividade profissional, tem estado a trabalhar de forma muito envolvida na temática do empreendedorismo social:

Porque não integrar a dimensão social na teoria económica?
A generalidade das pessoas preocupa-se com o mundo e com os outros. Os seres humanos têm o desejo instintivo e natural de melhorar a vida dos outros, caso tenham oportunidade. Se pudessem escolher, prefeririam viver num mundo sem pobreza e doença, livre da ignorância e do sofrimento desnecessário.
Porque não construir empresas que tenham por objectivo pagar decentemente aos assalariados e melhorar a sua situação social, em vez de fazer com que dirigentes e accionistas se encham de lucros?
(...)
John Kenneth Galbraith, a propósito da crise de 1928, colocou a desigualdade na distribuição de rendimentos como sendo a sua principal causa.
O problema não era o consumo, mas existirem poucos consumidores, o que tornou a economia dependente de um alto nível de investimento ou de um elevado nível de consumo de bens de luxo, ou de uma composição de ambos.
O capitalismo moderno tentou resolver o problema através do crédito. Mas, a solução passa necessariamente pela correcção real das desigualdades na distribuição de rendimentos.
Numa sociedade onde a riqueza é melhor distribuída, esta circula melhor. Mais vale entregar migalhas a milhões, do que muito a poucos.

azuki

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  Steinbeck e "as vinhas da ira"


Heres a virtual movie of the novelist John Steinbeck (1902 - 1968) discussing his reasons for writing his great novelThe Grapes of Wrath in a sound interview recorded in 1952.

Outro Video, http://www.youtube.com/watch?v=xqaTv8cCWeg

Foi um grande prazer ler este livro e partilhar algumas das minhas opiniões sobre o livro. Escrever na companhia da Azuki e ler os seus textos inspirados acompanhados por belas fotografias, ainda tornou a leitura mais agradável. É como embarcar e viajar por dentro da história, descobrir os mais interessantes detalhes e encontrar o mais significativo da história.
Por todos os teus Posts cheios de vigor, para a Azuki um Beijinho.
Luis Neves

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segunda-feira, junho 29, 2009
  uma sociedade melhor
- Então comecei a compreender. É a miséria que provoca todos os males. (...) um dia, deram-nos feijão azedo. Um tipo começou a refilar, mas não ganhou nada com isso. Berrou que nem um cabrito. Veio um guarda, olhou para dentro e foi-se embora. Então, um outro tipo começou também a berrar. E acabámos por berrar todos. Até parecia que a cadeia ia explodir. Então passou-se uma coisa. Eles vieram, a correr e deram-nos outra comida. Sim, senhor. Trocaram a comida. Compreende?
“As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck (1939), Editora Livros do Brasil, tradução de Virgínia Motta


Hoover Dam, construída durante os anos 30 (foto minha)

Durante a Grande Depressão norte-americana e anos subsequentes, as pessoas vendiam ao desbarato tudo o que possuíam, para alimentar a família e poder partir em busca de uma vida melhor. Em todo o País, uma profusão de filas: filas para arranjar emprego, filas para os subsídios, filas para a distribuição de alimentos. E, enquanto milhões se viam obrigados a recorrer à caridade pública e pais assistiam à morte dos filhos por inanição e doença, os produtores destruíam as colheitas, numa tentativa de parar a espiral de redução de preços. Os EUA dos anos 30 devem ter constituído um cenário tétrico, esse mesmo que pudemos ver numa parte da exposição “Arquivo Universal”, no Museu Berardo.

O New Deal, posto em prática pela administração Roosevelt, vem finalmente determinar a recuperação do País e a melhoria generalizada das condições de vida da população, através:
- da estabilização da produção e normalização de preços (indemnizações aos agricultores para redução da terra cultivada, concessão de crédito agrícola a longo prazo, estabelecimento de preços mínimos, fixação de níveis de produção,..);
- do aumento do poder de compra e da redistribuição dos rendimentos (via aumento de salários, criação de postos de trabalho através de um grande plano de obras públicas, legalização da actividade sindical e Welfare State - semana de trabalho de 40 horas, subsídio de desemprego, salário mínimo nacional,...).

A crise e os seus horrendos custos humanos, a crise do indizível sofrimento, a crise com os seus motores do desespero e da ira, permitiu o surgimento de algo bom: uma sociedade melhor e mais justa. Uma sociedade mais atenta às temáticas da redistribuição dos rendimentos e do equilíbrio económico-financeiro, uma sociedade mais sensível aos interesses das classes mais desfavorecidas, uma sociedade com outra concepção do papel do Estado; uma sociedade mais livre, em que os Homens se podem organizar e reunir para reivindicar os seus direitos e melhores condições de trabalho. Enfim, uma sociedade que reflectiu sobre os modelos vigentes e elencou erros, que reequacionou escolhas e que conseguiu reinventar-se.

Uma sociedade que, todavia, voltou a prevaricar. O que nos reservará esta nova crise do século XXI?

azuki

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sábado, junho 27, 2009
  Mankind is no island
vejam o vídeo que o Luís publicou

é
pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente pungente

azuki

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sexta-feira, junho 26, 2009
  E a ira começou a fermentar
E, enquanto os californianos desejavam muitas coisas: acumular riquezas, triunfos sociais, diversões, luxo e uma boa segurança bancária, os novos bárbaros só desejavam duas coisas: terra e comida.
“As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck (1939), Editora Livros do Brasil, tradução de Virgínia Motta


Nada contra os ricos. Que haja muitos e cada vez mais. Mas, nos EUA dos anos 30, a desigualdade social atingiu níveis obscenos. Tal como hoje.
Nos últimos tempos, devem ter-se produzido incontáveis notícias sobre a transferência de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid (e sobre a taxa de imposto que será aplicada aos rendimentos do jogador). Não li nenhuma, apenas fixei a verba e não pude deixar de sentir vergonha. Um pouco de compostura e de decência nunca fizeram mal a ninguém, mas parece que estes senhores não querem saber disso. Tal como os outros, aqueles dos salários e prémios sumptuosos.

Ao contrário do que muitos yuppies nos querem fazer crer (agora menos, é certo, depois das ajudas públicas a tantas empresas privadas que tão bem tratavam os seus gestores, e do exercício de lucidez a que, finalmente, a administração Obama os obrigou), é incorrecto dizer que os salários e prémios sumptuosos dos gestores de empresas privadas só aos seus accionistas dizem respeito. Isso seria verdade num mundo em que:
- os modelos de governance fossem equilibrados e eficazes e as estruturas accionistas fortes;
- os mercados, incluindo entidades reguladoras, funcionassem (onde, como tal, não fosse possível cobrar preços de monopólio/cartelizados, abrigados da concorrência e excessivos para os consumidores);
- essas empresas não usufruíssem de benefícios fiscais e de benesses públicas várias (como alegadas “permutas de terrenos”, perdões de dívida, favorecimentos e negociatas de conteúdo duvidoso..);
- os trabalhadores auferissem salários condignos;
- os gestores não tendessem a privilegiar os ganhos obtidos no decurso do mandato, pondo em risco a solidez da empresa no mlp + os CA’s de empresas privadas mas com fortes ligações ao Estado não fossem sinecura para os amigos do Partido => os contribuintes não fossem tantas vezes chamados para acudir ao mau resultado dos abusos e das ineficiências destes verdadeiros modelos de generosidade para com os seus gestores.
Acresce que, nos difíceis tempos que correm, existe o argumento da moral pública.

Por isso, se me disserem a mim, que não tenho opinião formada sobre estas questões do futebol, que há importantes contribuições do erário público na actividade do Real Madrid, eu vou achar que a transacção é obscena. E vou pensar que, num país onde há mais de 3,5 milhões de desempregados, estes montantes estratosféricos são um insulto ao povo espanhol. Mesmo que as suas atitudes estejam branqueadas por argumentos apelativos (como o impulso que o jogador trará ao futebol e à economia espanhola, etc, etc), os dirigentes têm a obrigação de saber que há critérios de razoabilidade que não podem deixar de cumprir. Em alturas de enorme penúria e desespero, em que as pessoas andam abatidas e se sentem espoliadas, o exemplo é algo de precioso, como o referiu de forma notável António Barreto, no seu discurso do 10 de Junho. De facto, os bons exemplos não alimentam ninguém, mas melhoram os ânimos e têm efeitos virtuosos. Pelo contrário, os maus exemplos são contributo para a ira.

As companhias e o bancos trabalhavam para a sua própria ruína, mas ignoravam-no. Os campos estavam prenhes de fruta, mas nas estradas marchavam homens que morriam de fome. Os celeiros estavam repletos, mas as crianças cresciam raquíticas e inchava-lhes o corpo com as pústulas da pelagra. As grandes companhias ignoravam quão estreita é a linha divisória entre a fome e a ira. E o dinheiro, que podia ter sido empregado na melhoria dos salários, gastava-se em bombas de gás, em carabinas, em agentes e espiões, em listas negras e exércitos bélicos. Nas estradas, os homens deslocavam-se como formigas, à procura de trabalho e de comida.
E a ira começou a fermentar.
(idem, ibidem)


azuki

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quinta-feira, junho 25, 2009
  A Mãe Joad, a força unificadora da família
" - Eu sei, mas nem reparo nas terras. Só vejo os salgueiros lá da nossa casa, com as folhas a caírem. Às vezes, dá-me para pensar que tenho de consertar aquele velho buraco da cerca, do lado sul. E engraçado! A mulher a dar ordens à família! A mulher a dizer que se vai fazer isto, que é preciso ir para acolá... E eu nem sequer me ralo com isso.
- As mulheres acostumam-se mais depressa que os homens - disse a mãe, para o consolar. Uma mulher tem a vida toda nos braços; o homem tem-na na cabeça. Não te preocupes. Quem sabe?... talvez para o ano já a gente possa ter a nossa casinha.
- Mas, por enquanto, não temos nada - replicou o pai. - E daqui até lá, nem trabalho nem colheitas... O que é que a gente há-de fazer? E como é que vamos arranjar que comer? E não se esqueçam de que a Rosasharn vai ter o menino não tarda muito. Estou tão desgostoso que me sinto incapaz de pensar. Refugio-me nos tempos antigos para não pensar no futuro. Acho que a nossa vida já deu o que tinha a dar; é coisa liquidada.
- Nada disso - argumentou a mãe, sorrindo.- Não é não, pai. E isto é mais uma das coisas de que uma mulher tem a certeza. já reparei nisso. O homem vive como se desse saltos... nasce uma criança e morre um homem, e é como se fosse um salto; arranja uma territa; perde a territa, e é outro salto. Para a mulher tudo corre sem parar, como um rio cheio de remoinhos e de cascatas, mas correndo sem parar. É assim que a mulher encara a vida. A gente não morre, a gente continua... muda, talvez, um pouco, mas continua sempre firme.
- Como é que sabes isso? - perguntou o tio John. - Como é que se pode evitar que as coisas parem e que as pessoas se cansem e queiram fechar os olhos?
A mãe pôs-se a meditar. Esfregou o dorso luzidio de uma das mãos com a palma da outra, e encaixou os dedos da mão direita nos da esquerda.
- Isso é difícil de explicar - continuou. - Parece-me que tudo que a gente faz deve ter continuação. Eu penso assim. Mesmo a fome... mesmo a doença. Alguns morrem, mas os que ficam tornam-se mais fortes. O que vocês têm de fazer é viver somente o dia de hoje, o dia a dia. "

As vinhas da ira, capítulo XXVIII

A Mãe é a personagem do livro que tem mais força e coragem e que mostra à sua família como se tem de resistir às difíceis provações. É a força de união da família Joad, a pessoa que assume as decisões fundamentais para a sobrevivencia da familia. A Mãe tem uma força admirável e tem sempre uma grande ternura para a família.
Talvez como Steinbeck diz nesta passagem do livro, por as mulheres terem uma maior capacidade de se adaptarem a condições difíceis e por terem uma grande resistência psicológica, que os homens nesta história não têm.

Deixo aqui um poema do Nuno Júdice que encontrei no Blog A a Z ,
que nos dá uma visão da importancia da Mulher na vida rural.

Luta de classes - O campesinato
A chave do campo está na mão das mulheres
que o lavraram, desfazendo os nós do inverno
com a exactidão da pá. Vi estas mulheres no
grande caminho da História, perdendo as suas
vidas em cada nova colheita. O sol tisnou
a sua pele; o frio enrugou os seus rostos. À
noite, quando o vento batia nas janelas
de madeira, os seus olhos atravessavam
a treva e perdiam-se em destinos que
não conheciam, como se tivessem outra
saída. Ouvi as suas queixas no murmúrio
das árvores que as abrigaram; e vi os
seus corpos deitados nas igrejas, sem
ninguém que os velasse, a caminho da vala
comum. Amei-as, sem que o soubessem;
e ouço o ruído das pás na terra, quando os
seus rostos me atravessam a memória,
e o inverno cai sobre a lama dos campos.

Luis Neves

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quarta-feira, junho 24, 2009
  São uns malditos de uns Okies, uns ignorantes imundos
Reinou o pânico no Oeste, quando se multiplicaram os homens nas estradas. Os homens receavam pelas suas propriedades. Homens que nunca tinham tido fome viam os olhos dos esfaimados. Homens que nunca na sua vida tinham sentido verdadeira necessidade de qualquer coisa viam a chama da necessidade arder nos olhos dos homens das estradas. E os homens das cidades e dos campos suburbanos que rodeavam as cidades preparavam a defesa. Tinham estabelecido que eles é que eram bons e que os outros – os invasores – eram maus, como fazem sempre os homens antes dos combates. E diziam: “São uns malditos de uns Okies, uns ignorantes imundos. São uns degenerados, uns maníacos sexuais. Uns ladrões, esse Okies danados, que roubam tudo o que encontram. Não têm consciência do direito de propriedade. (...) São uns imundos que espalham epidemias. Não podemos consentir que os filhos deles frequentem a mesma escola que os nossos. Eles são estranhos. O que é que tu dirias se a tua irmã fosse passear com um deles?
“As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck (1939), Editora Livros do Brasil, tradução de Virgínia Motta



(tirei estas fotos na exposição "Arquivo Universal", Museu Berardo;
infelizmente, desconheço o nome dos seus autores)

Uma crise clássica de superprodução, conjugada com uma crise financeira, em círculo vicioso:
(1) década de aumento exponencial da produção agrícola e industrial (mecanização, movimentos de concentração de empresas, acesso ao crédito, reconstrução europeia) => insuficiente procura nacional e recuperação pós-guerra na Europa: excesso de produção => acumulação de stocks => quebras de preços, falências, defaults =>
(2) década de aumento exponencial das transacções e cotações em bolsa: ebulição e especulação => crash na bolsa de NY => perdas colossais (de bancos, empresas e indivíduos) => falências, defaults =>
(1) + (2) => despedimentos em massa => quebra do poder de compra, crise de confiança, restrições no acesso ao crédito => contracção do consumo e do investimento, mais falências e despedimentos => pobreza, criminalidade, tensões sociais => ...


Durante a década de 20, o American Way of Living com os seus high standards estava pujante, assistindo-se a um aumento exponencial da produção agrícola e industrial e à vertiginosa subida das transacções em Bolsa. Com a mecanização e o aumento da dimensão das empresas, atingiram-se níveis de produtividade nunca vistos; o acesso ao crédito era cada vez mais fácil; todos jogavam no mercado de capitais, mesmo os que não tinham preparação técnica ou desafogo financeiro para assumir riscos tão elevados; a Europa estava a reconstruir-se e os fluxos de capitais americanos e suas exportações eram bem-vindos. Como sempre em que não há mecanismos que façam acalmar espíritos e ganância, entrou-se numa espiral de elevado consumo, especulação e preços inflacionados. A esta década de enorme prosperidade, seguiu-se uma crise mundial sem precedentes.

As crises de superprodução e financeira originaram graves problemas sociais: desemprego pobreza suicídios, mas também banditismo e criminalidade, bem como violência e repressão. Os períodos de dificuldades exacerbam os ânimos e, seja porque se sentem ameaçados na sua segurança e estabilidade (pelo Outro: o esfomeado, que vem do campo ou da fábrica que fechou, ou o diferente – negro, hispânico, judeu), seja porque há preconceitos que a prosperidade tinha permitido atenuar, os indivíduos gastam as suas energias a violentar ameaçar rejeitar, em vez de, como cidadãos solidários, as utilizarem de uma forma virtuosa. Nas fases de penúria, acentuam-se os movimentos "de cariz centrípeto" (nacionalismo, proteccionismo, racismo, xenofobia,...): apoia-se mais facilmente a tirania, descobrem-se argumentos para o ódio, encontra-se legitimidade para a violência. De crise económica e financeira para a crise social e dos valores.

- Vão por caminho errado, diabo! Não queremos aqui nenhum Okie dos diabos, ouviu?
(...)
- Dê meia volta e siga para os lados do Norte. E não volte cá antes da safra do algodão!
Idem, ibidem

azuki

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terça-feira, junho 23, 2009
  Mankind is no island
Para quem queira ler o livro, encontrei no site http://www.esnips.com/ , onde podem fazer o Download neste endereço
http://www.esnips.com/doc/38477a75-c77f-4eba-a356-acfac0586fb7/John%20Steinbeck%20-%20As%20vinhas%20da%20ira%20(rev

Vale muito a pena ler o livro. É de leitura muito fácil. Tem muitos diálogos.

E podem ver este pequeno filme feito com um telemóvel, é muito bom. Ganhou o prémio do festival Tropfest NY 2008 , o título é "Mankind is no island."


"- Hum... Olhe cá, ó mãe. Tenho passado os dias e as noites sozinho, aqui escondido. E sabe em quem me tenho entretido a pensar? No Casy! Ele falava muito. Às vezes aborrecia-me. Mas, agora, tenho pensado e repensado no que ele dizia, e lembro-me, lembro-me bem de tudo. Ele disse uma vez que tinha ido para o mato, à procura da própria alma, e que, por fim, descobrira que não tinha uma alma que fosse só dele. Disse que tinha unicamente uma pequena parte de uma alma enorme. E ele achava que não servia de nada andar em sítios desertos, porque aí, a tal pequena alma que ele tinha não servia para nada. Só tinha utilidade quando estava junto das outras com que formava um todo. É engraçado como eu me lembro de tudo isso! E, no entanto, tinha, nessa altura, a impressão de que mal o ouvia... Mas, agora, sei que um indivíduo solitário não tem préstimo nenhum. (...)

- Nesse caso, todas essas coisas deixam de ter importância. Eu estarei em qualquer sítio, na escuridão. Estarei em toda a parte, em qualquer sítio para onde a senhora se puser a olhar. Onde quer que se lute para que a gente com fome possa comer... eu estarei presente. Onde quer que a polícia esteja a bater num tipo, eu estarei presente. Imagine se o Casy soubesse disto! Estarei onde quer que se vejam criaturas a gritar de raiva... e estarei onde as crianças sorriam porque têm fome mas saibam que a ceia não tarda. E quando a nossa gente comer aquilo que plantar e morar nas casas que construir... então também eu estarei presente. Está a ver? Olhe que já vou falando como o Casy. Isto é de pensar nele tantas vezes. Há ocasiões em que até me parece que o estou a ver. "

diálogo de Tom Joad com a sua mãe , As vinhas da ira , Capítulo XXVIII

E um site que encontrei e que ainda não visitei,
http://www.steinbeck.org/MainFrame.html

Luis Neves

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segunda-feira, junho 22, 2009
  esses Okies danados não são humanos
O empregado de branco entrou na barraca de chapa de ferro, onde o seu ajudante trabalhava num livro-caixa.
- Livra! Nunca vi um camião tão cheio de cangalhada!
- Qual? O calhambeque desses
Okies? Todos eles são assim…
- Deus do céu! Eu é que não viajava de semelhante maneira.
- Bem, é que a gente não é trouxa. Mas esses
Okies danados andam completamente malucos, já não têm sentimentos; não são humanos. Um homem não pode viver assim. Nenhum ser humano poderia suportar ver-se assim sujo e miserável. Valem pouco mais do que um gorila.
- De qualquer modo, ainda bem que eu não sou forçado a atravessar o deserto num Hudson Super-Six. Esses carros fazem barulho que nem uma metralhadora.
O outro debruçou-se de novo sobre o livro-caixa. Uma grossa baga de suor caiu-lhe no dedo, parando sobre o maço de facturas cor-de-rosa.
- Sabe, eles não se incomodam muito com isso. São tão estúpidos que nem notam o perigo. Eles não vêem um palmo adiante do nariz, santo Deus! Para que é que você se incomoda tanto com eles?
- Eu não me incomodo. Só disse que eu é que não fazia semelhante coisa.
- É natural. Você sabe o que significa uma viagem dessas. Mas eles não sabem. – E limpou com a manga o suor que caíra na factura cor-de-rosa.
“As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck (1939), Editora Livros do Brasil, tradução de Virgínia Motta


(foto minha)

Sobre as estranhas cumplicidades e os fortes laços que se criam quando se partilha o sofrimento: belas descrições do que a Humanidade tem de melhor, mesmo no limite do desespero e da penúria. Não, eles não eram animais, eles eram bem mais humanos do que tu, porque conservaram a humanidade em situações-limite e tu, nesse teu mundo confortável, não o consegues fazer. Há sempre um sorriso, uma palavra, um acto de carinho e de generosidade para quem sofre tanto ou mais do que nós. Quando um sequioso divide a sua água, quando um esfaimado partilha o seu alimento, quando em desconforto somos ainda capazes de encontrar lugar para mais um, isto é ser-se Homem.

azuki

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sábado, junho 20, 2009
  Dia Mundial dos Refugiados
Hoje é o dia mundial dos Refugiados, sendo a ACNUR a agência da ONU de apoio e protecção de refugiados. Esta agência tem o português António Guterres como o seu presidente. Vale a pena divulgar e conhecer o trabalho desta organização. O seu trabalho é bem importante. E com uma linda embaixadora, a actriz Angelina Jolie.



Angelina Jolie ao lado de Guterres pelos refugiados

Video: Angelina Jolie conta o que aprendeu com refugiados

Sendo que o tema dos deslocados e dos campos de refugiados é um dos mais importantes no livro "As vinhas da ira".

" Reinou o pânico no Oeste, quando se multiplicaram os homens nas estradas. Os homens receavam pelas suas propriedades. Homens que nunca tinham tido fome viam os olhos dos esfaimados. Homens que nunca na sua vida tinham sentido verdadeira necessidade de qualquer coisa viam a chama da necessidade arder nos olhos dos homens das estradas. E os homens das cidades e dos campos suburbanos que rodeavam as cidades preparavam a defesa. Tinham estabelecido que eles é que eram bons e que os outros - os invasores - eram maus, como fazem sempre os homens antes dos combates. E diziam: “São uns malditos duns Okies, uns ignorantes imundos. São uns degenerados, uns maníacos sexuais. Uns ladrões, esses Okies danados, que roubam tudo o que encontram. Não têm a consciência do direito de propriedade.” E esta última afirmação era realmente verdadeira, pois, como pode um homem que nada possui compreender as preocupações dos que possuem alguma coisa? E os que se defendiam, diziam: “São uns imundos que espalham epidemias. Não podemos consentir que os filhos deles frequentem a mesma escola que os nossos. Eles são estranhos. O que é que tu dirias se a tua irmã fosse passear com um deles?”
A gente das cidades esforçava-se por adoptar ares de crueldade. Formava grupos e companhias e armava-os; armava-os com cassetetes, bombas de gás e carabinas. A terra é nossa - diziam. É bom a gente não perder de vista esses danados desses Okies. E as terras não pertenciam aos homens armados, mas estes pensavam que eram os donos das terras. E os empregados, que se exercitavam à noite, nada possuíam de seu e os donos de lojas insignificantes não possuíam outra coisa além de dívidas. Mas até um emprego é alguma coisa; até uma dívida é alguma coisa. "

Capítulo XXI, As vinhas da ira

Luis Neves

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sexta-feira, junho 19, 2009
  as vinte famílias tornavam-se uma só família
Os carros dos emigrantes arrastavam-se pela estrada principal, vindos dos caminhos que a cruzavam, e despejavam populações para o Oeste. À luz do dia, marchavam como percevejos nesse rumo; quando a escuridão baixava, agrupavam-se como percevejos à volta de um abrigo ou em regiões onde a água abundava. (…) Agrupavam-se estreitamente, falavam uns com os outros sobre as esperanças que depositavam na nova terra, dividiam entre si a comida, a própria vida. (…)
À noite, acontecia uma coisa estranha: as vinte famílias tornavam-se uma só família; as crianças eram filhas de todos. A perda de um lar tornava-se uma perda colectiva, e o sonho dourado do Oeste, um sonho colectivo. E podia acontecer que uma criança enferma enchesse de pena os corações de vinte famílias, de cem pessoas; que um parto numa tenda mantivesse cem pessoas em silêncio e em expectativa durante uma noite e que a manhã seguinte encontrasse cem pessoas felizes com o êxito de um parto de gente estranha. Uma família que, uma noite antes tivesse errado apavorada na estrada, era capaz de procurar entre os seus parcos tesouros, algo que se pudesse dar de presente ao recém-nascido. À noite, sentados em redor da fogueira, os vinte perfaziam um só; uniam-se como um só, nos acampamentos, quer de tarde, quer de noite. Uma guitarra surgia então de sob um cobertor, e soava tristemente e entoavam-se canções – canções populares. Os homens cantavam a letra e as mulheres cantarolavam a melodia.
“As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck (1939), Editora Livros do Brasil, tradução de Virgínia Motta


(foto minha)

O aprendiz de feiticeiro tarde percebeu que a criatura tinha vida própria e já não era controlável. Assim é com a evolução da técnica: surgem as máquinas e deixa de ser possível voltar atrás - elas vão permitir produzir mais e mais barato, irão alimentar muito mais gente (porque o progresso tem um lado bom e até é por isso que se chama assim). Acresce que nós, por ignorância estupidez necessidade, ajudámos a cavar a nossa ruína, abusando até ao limite de uma terra que agora se ergue em poeira enfurecida. Os campos estão exaustos, o clima tornou-se inóspito, os conhecimentos técnicos são parcos, os Bancos já não querem esperar.

Vai-se a terra e, com ela, se vai o que somos e tudo o que alguma vez nossos olhos viram. As famílias tremem, como se houvesse que atravessar uma porta para um outro mundo, mas sabem que ali não podem ficar e que na Califórnia há laranjas e trabalho e que é infinita a capacidade de adaptação do ser humano. Vão empreender uma viagem que porá à prova a sua resistência ao sofrimento. Vai ser enorme, o sofrimento, quase insuportável: desconforto, sol, sede, fome, já não sei quem sou, abandonei o meu lugar, tive que abater porcos e abandonar cães, deixei as camas vazias e os lugares de sempre estão para sempre perdidos, sou responsável por crianças velhos e grávidas cuja dor me causará maior dor do que a minha, não sei o que me espera nem tão-pouco se lá conseguirei chegar, tenho medo, estarei à altura? (para os Joad, o inferno ainda mal começou…) No entanto, quando o transporte é fraco e a comida escassa, quando há excesso de pessoas e de bocas, existe sempre lugar para a dádiva. São passagens como esta que nos reconciliam com a Humanidade.

azuki

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quinta-feira, junho 18, 2009
  prazeres
O livro descreve as condições de miséria em que os migrantes viviam quando chegaram ao Oeste, a terra prometida. A familia Joad tem a sorte de conseguir um lugar num campo para deslocados do governo onde as condições de acolhimento são muito boas.
Num momento de transição do livro o autor mostra que o povo migrante também tinha as suas aspirações para desfrutar de um pouco das alegrias, dos divertimentos, e procurava os prazeres de viver.

O povo em êxodo, correndo atrás do trabalho, procurando a vida encarniçadamente, esse povo também procurava o prazer; andava à cata de prazeres, fabricava prazeres e sentia fome de divertimentos. Às vezes, o seu prazer consistia em conversar; distraíam-se com ditos engraçados.
O Contador de histórias
E acontecia que, nos acampamentos, à beira da estrada ou nos fossos dos rios ou à sombra dos sicómoros, o narrador de histórias se revelava, e a gente reunia-se à luz mortiça das fogueiras, para ouvir os mais dotados. E o interesse com que os homens ouviam as histórias fazia com que essas histórias se tornassem grandiosas.
Eu estive como recruta na guerra contra Jerónimo...
E o povo escutava, e nos seus olhos fixos reflectiam-se as brasas prestes a extinguir-se.
O Cinema
Acontecia também que um homem, desviando vinte cents da comida para o prazer, fosse a um cinema em Marysville ou Tulare, em Geres ou Mountain View. E voltava, então, para o acampamento da beira-rio com o cérebro cheio de recordações. E contava o que tinha visto:
Beber
E sempre que um qualquer arranjava algum dinheiro, tinha o recurso de se embriagar.
A Música
Pode-se fazer tudo com uma gaita; pode-se-lhe arrancar um som agudo e penetrante e acordes simples ou uma melodia de acordes rítmicos. Pode-se moldar a música com as mãos em concha, fazendo-a lamentar-se, chorar como uma gaita escocesa, torná-la volumosa, cheia como um órgão ou fina e amarga como a das flautas das montanhas. E pode-se tocar e guardar o instrumento no bolso. Tê-lo sempre no bolso, sempre acompanhando a gente.
Um viola, já tem mais valor. Tem de se aprender. Os dedos da mão esquerda têm de calejar. O polegar da mão direita também precisa de ter calosidades. Esticam-se os dedos da mão esquerda como patas de aranha, para acertar bem nas marcações das cordas.
O violino, esse, é difícil de aprender. Poucos sabem tocar violino. As cordas não estão marcadas.
A Dança
E esses três instrumentos tocam à noite: gaita, violão e violino. Tocam músicas de dança, batendo o ritmo, as cordas fortes do violão palpitando como um coração, a acompanhar os acordes agudos da gaita e o gemer do violino. As pessoas chegam-se todas. Não resistem. Tocam, agora, o “Chicken Reel”, a dança dos pintos, e os pés batem o compasso e um rapaz magro dá três passos rápidos, com os braços pendentes e frouxos. Fecha-se a roda e começa a dança e os pés batem com força, assentando os calcanhares. As mãos giram e agitam-se. Os penteados desmancham-se; a respiração torna-se ofegante.

Capítulo XXIV , As vinhas da ira

Luis Neves

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quarta-feira, junho 17, 2009
  EUA: da euforia à depressão
Na Califórnia, as estradas estão cheias de gente alucinada, que corre como formigas, à procura de algo para puxar, para arrancar, para erguer, para trabalhar, enfim. Para cada carga a levantar, cinco braços se estendiam; para receber cada mão-cheia de comida, cinco bocas famintas se escancaravam.
“As Vinhas da Ira” - John Steinbeck, Editora Livros do Brasil, tradução de Virgínia Motta

Em Outubro de 1929, no país que apregoava o american way of life, ideal assente no crédito e no consumo, e na crença na felicidade daí resultante, o "tremor" que atingiu a Bolsa de Nova Iorque alastrou rapidamente a toda a economia e provocou graves problemas sociais.

Na década de 20, a concentração de empresas e os novos métodos produtivos geraram elevados níveis de produção, que a publicidade e o crédito fácil incentivavam a consumir, mas que nem sempre era escoada. O movimento bolsista, onde o recurso ao crédito era também uma prática corrente, cresceu, e o valor das acções multiplicou-se à medida que aumentava a especulação.

No momento em que a produção industrial superou a procura, aumentou o volume de mercadorias armazenadas por falta de mercados e os preços começaram a baixar, levando esta situação, a breve prazo, à falência de empresas e ao desemprego. A recuperação económica dos países europeus, após a guerra de 1914-18, levou à diminuição das importações de bens alimentares e de produtos industriais dos EUA, contribuindo para a acumulação dos stocks, o encerramento de unidades produtivas e o aumento do número de desempregados. A intensa mecanização e a alta produtividade do sector agrícola geraram uma produção excedentária, seguida de uma forte descida dos preços, provocando a ruína dos proprietários endividados e a miséria dos rendeiros, expulsos das terras.

O crash de Wall Street, ocorrido a 24 de Outubro, precipitou os acontecimentos: a ruína dos accionistas; a falência de bancos (mais de 600, no ano de 1929), com a consequente paralisia de uma economia baseada no crédito; o encerramento de empresas; a baixa dos preços; o desemprego crescente, que atinge cerca de 13 milhões de americanos em 1932; a diminuição dos salários; o empobrecimento das classes média e baixa, e a consequente perda de poder de compra, que agrava a diminuição do consumo; o aumento da criminalidade, do racismo e das tensões sociais; a fome e a miséria; o recurso à caridade privada e pública.

A Grande Depressão afectou os Estados Unidos e o mundo inteiro, levando os governos a tomar medidas de carácter intervencionista, quer para a sociedade, quer para os sectores da economia e das finanças.

Maria José

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terça-feira, junho 16, 2009
  O fantasma de Tom Joad



Descobri este album "The Ghost of Tom Joad" do Bruce Springsteen de 1995, que não conhecia e que se inspira no romance "As Vinhas da ira" e no personagem Tom Joad.
Como gosto muito do Bruce , acho que fica muito bem aqui no Blog deste mês.
(Dica: Bruce Springsteen vem este Verão actuar na Corunha).

Letra no site

http://www.brucespringsteen.net/songs/TheGhostOfTomJoad.html

Men walkin' 'long the railroad tracks
Goin' someplace there's no goin' back
Highway patrol choppers comin' up over the ridge
Hot soup on a campfire under the bridge
Shelter line stretchin' round the corner
Welcome to the new world order
Families sleepin' in their cars in the southwest
No home no job no peace no rest

The highway is alive tonight
But nobody's kiddin' nobody about where it goes
I'm sittin' down here in the campfire light
Searchin' for the ghost of Tom Joad

The Ghost of Tom Joad , Bruce Springsteen

Encontrei este albúm do Springsteen através do artigo sobre as relações entre as duas obras que achei muito bom. O Fantasma de Tom Joad Segundo Bruce Springsteen:
Estudos Culturais e uma relação entre a literatura e música
popular americanas

Luis Neves

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segunda-feira, junho 15, 2009
  é a nossa terra. Medimo-la e rasgámo-la. Nela nascemos; fazemo-nos matar nela; morremos nela
O avô havia-se apoderado da terra; tivera de matar os índios e de os expulsar. E o pai nascera ali e matara ervas ruins e cobras. Depois, viera um ano mau e ele tivera de pedir algum dinheiro emprestado.
- E nós nascemos aqui. Esses que estão ali às portas, os nossos filhos, nasceram aqui. E o pai teve de pedir dinheiro emprestado. O banco achou-se então dono da terra, e nós ficámos, mas apenas com uma pequena parte daquilo que colhíamos.
(...)
- (...) é a nossa terra. Medimo-la e rasgámo-la. Nela nascemos; fazemo-nos matar nela; morremos nela. Apesar de não ser boa, mesmo assim é nossa. É isso que faz que ela seja nossa: termos nascido nela, trabalhado nela, morrido nela. Isto é que justifica o direito de propriedade e não um papel com algarismos escritos.

“As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck (1939), Editora Livros do Brasil, tradução de Virgínia Motta


Um homem e a sua família, com as colunas dobradas de sol a sol, já não eram eficazes. O seu duro trabalho manual violava agora todas as regras de produtividade. Havia uma coisa chamada tractor que os iria substituir e um conceito designado escala que traria vantagens competitivas aos senhorios. Assim se diluiriam os custos fixos, assim se aumentaria a rentabilidade da exploração, assim se ganharia poder negocial perante fornecedores e na fase de comercialização. Findava a ligação afectiva do homem à terra: já não seria necessário escolhê-la, prepará-la, semeá-la, tratá-la e colhê-la, cuidando dela como a um filho, adormecendo a pensar nela, temendo pragas insectos pássaros inundações e secas, sofrendo com os seus revezes, derramando nela todas as esperanças. A terra dos avós e dos pais, sustento de toda a família, fonte única de sobrevivência, a terra que era salvação e orgulho, identificação e celebração colectiva, a terra que moldava as suas vidas, através da qual se reconheciam como seres humanos, deixaria de ser sua. Sim, sempre a sentira como sua, ainda que mais não fosse do que um mero rendeiro.

azuki

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sexta-feira, junho 12, 2009
  O monstro e a sua culpa
Os homens, agachados, erguiam os olhos para compreender. Não seria possível esperar mais algum tempo? Talvez o próximo ano seja um bom ano. Sabe Deus se haverá muito algodão no próximo ano? E, com todas as guerras, sabe Deus o preço a que o algodão chegará. Não se fazem explosivos de algodão? E uniformes? Arranjem bastantes guerras e o algodão subirá até ao tecto. No próximo ano, talvez. Olhavam para os senhorios com ar interrogativo.
- Não podemos estar atidos a isso. O banco – o monstro – tem de recolher sempre lucros. Não pode esperar. Senão, morre. Não, os juros estão continuamente a subir. Quando o monstro pára de crescer, morre. Não pode estar sempre do mesmo tamanho.
(...)
Agachados, os homens tornavam a ferrar os olhos no chão.
- Que querem os senhores que a gente faça? Não podemos tirar partilha menor da colheita; estamos quase a morrer de fome. As crianças andam sempre esfomeadas. Não temos roupas; só farrapos. Se todos os vizinhos não estivessem na mesma, teríamos vergonha de ir ao culto.
E, por fim, os senhorios chegaram ao ponto crucial.
- O sistema de arrendamento não pode vigorar mais. Um só homem a guiar um tractor pode fazer o trabalho de doze ou catorze famílias. Paguem-lhe um salário e ele toma para si toda a colheita. Temos de fazer isso. É contra a nossa vontade. Mas o monstro exige-o. Não nos podemos opor a ele.
“As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck (1939), Editora Livros do Brasil, tradução de Virgínia Motta

(foto minha)

Sim, parte da culpa era dos Bancos que, não sendo IPSSs, têm, não só o direito, como o dever moral de não emprestar a quem não pode pagar. E, emprestando, de o fazer com serviços de dívida passíveis de serem cumpridos. Mas há outros culpados. A culpa é dos senhores da terra que pedem rendas impossíveis e que depois olham para o lado. A culpa é dos comerciantes da zona que, em situação de quase monopólio, vendem os artigos por várias vezes o preço de custo. A cuja é dos rendeiros, cuja ignorância e falta de preparação abusam de uma terra exausta. A culpa é do poder local que não cria estruturas recreativas que permitam manter os homens longe do vício. A culpa é dos mercados e de quem os regula, que concentram as margens nos circuitos de distribuição e remuneram os produtores de forma miserável. A culpa é dos cidadãos, pela incapacidade de se associarem e tirarem proveito dos avanços da técnica, comprando tractores e empregando a sua força de trabalho em tarefas de maior valor acrescentado; e por não optarem por culturas com potencial superior, chegando ao ponto de desejar a guerra para que o preço do algodão suba. A culpa é da falta de vontade (ou, simplesmente, inércia) dos poderes central e estadual, que sabem que pessoas humildes e analfabetas, que sempre trabalharam a terra, não se associam nem reciclam nem adaptam ao progresso por toques de magia, e que nada fizeram para prestar apoio àquelas famílias, nem os encaminharam para os locais onde seriam necessários, nem tão-pouco proveram para que lhes fosse pago o justo valor pelo seu trabalho. A culpa é, em última análise, do ser humano, por não contrariar o mais vil dos instintos: tirar benefício do desespero alheio.

azuki

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terça-feira, junho 09, 2009
  Route 66 - The Main Street of America
foto no site bocaberta.org

Também conhecida como The Main Street of America a Route 66 foi durante muito tempo uma das principais estradas dos EUA, atravessando todo o continente americano de Leste a Oeste. Com início em Chicago atravessava os estados de Illinois Missouri, Kansas, Oklahoma, Texas, Novo México, Arizona e Califórnia, terminando em Los Angeles após 3,940 km (2,448 milhas). Desde a sua construção em 1926 até à sua desactivação em 1985 foi percorrida por milhares de veículos e contribuiu decisivamente para a afirmação da maior nação do mundo.

Quando foi aberta ao trânsito grande parte da sua extensão era feita em gravilha ou terra batida. Em 1938 foi pavimentada. O seu traçado e o seu perfil muito plano tornou-a desde cedo uma via de comunicação importante, muito procurada por camiões e outros transportes rodoviários. Durante a Depressão foi percorrida por muitas famílias de agricultores que procuravam as terras da Califórnia em consequência do Dust Bowl. Ao longo do seu trajecto a economia prosperava ainda que timidamente em pequenos negócios familiares (restaurantes, estações de serviço, etc.). Foi o berço dos restaurantes drive-thru e da Fast-food - o primeiro McDonald's surgiu em San Bernardino, ponto de passagem da estrada.
no Blog Obvious
" A 66 é o caminho de um povo em fuga, a estrada dos refugiados das terras da poeira e do pavor, do trovejar dos tratores , dos proprietários assustados com a invasão lenta do deserto pelas bandas do norte e com os ventos que vêm ululando aos remoinhos do lado do Texas, as inundações que não traziam benefícios às terras e ainda acabavam com o pouco de bom que ainda possuiam. De tudo isso os homens fugiam e encontravam-se na estrada 66, vindos dos caminhos tributários e das estradas sulcadas de calhas e de marcas fundas de rodas, que cortavam todo o interior.
A 66 é a estrada-mãe, a estrada do êxodo."
Capítulo XII, As vinhas da ira
Luis Neves

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segunda-feira, junho 08, 2009
  Arquivo Universal - Rumo a Oeste
Uma grande exposição de fotografia esteve este ano no CCB "Arquivo Universal - o Documento e a Utopia Fotográfica".


Uma das salas era dedicada ás migrações na América, um conjunto de fotografias sobre a grande travessia para Oeste dos anos da "Grande Depressão" na América, numa fuga à miséria e à procura de uma nova esperança.
Para mim foi uma das partes da exposição que gostei mais. E que me deu mais vontade de ler o livro deste mês "As vinhas da ira" de Steinbeck, pois essas fotografias ilustram perfeitamente a parte do livro da travessia dos camponeses rumo à Califórnia.


Encontrei estas fotografias no Blog Lisboa S.O.S.
Pequeno catálogo da exposição do CCB - http://www.museuberardo.com/Files/MCB_Arquivo_Universal_2009.pdf
Uma boa reportagem sobre a exposiçãono site SaisdePrata-e-Pixels e nos Blogues
http://monami6f.blogspot.com/2009/04/arquivo-universal-exposicao-fotografica.html
http://objectivasubjectiva.blogspot.com/2009/04/arquivo-universal-visita-obrigatoria.html




Dorothea Lange
Destitute pea pickers in California. Mother of seven children, age 32



Nas casinhas em que moravam, os arrendatários examinavam o que lhes pertencia e o que pertencera a seus pais e a seus avós. Reuniam tudo para a grande viagem lá para o Oeste.
...
Os arrendatários arrastavam-se até às suas terras, através da poeira avermelhada.
Depois de vendido tudo o que podia ser liquidado: fogões e camas, cadeiras e mesas, pequenos armários de canto, canos e tanques, ainda havia pilhas de tralha, e as mulheres sentavam-se em torno dessas pilhas, remexedo-as e olhando-as pela frente e por detrás, fotografias, espelhos quadrados e - olha está ali um vaso!
Bem, vocês sabem o que a gente pode levar e o que não pode levar. Nós vamos acampar sempre ao ar livre - algumas panelas para se cozinhar, colchões e outras comodidades, uma lanterna, baldes e uma peça de lona. É para fazer a tenda. Esta lata de querosene vai. Sabe o que é isto? É o fogão. E roupas... levem todas as roupas. E ... a espingarda? Não nos vamos embora sem a espingarda. Quando tudo se for, calçado e roupas e comida - e até mesmo a esperança - teremos ainda a espingarda.
"As vinhas da ira", Capitulo IX
Luis Neves

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domingo, junho 07, 2009
  Henry Fonda

No meu imaginário. As Vinhas da Ira é Henry Fonda e John Ford.

cristina_pt

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  Jonh Steinbeck - A obra
Cup of Gold - 1929
The Pastures of Heaven - 1932
The Red Pony - 1933
To A God Unknown - 1933
Tortilla Flat - 1935
In Dubious Battle - 1936
Of Mice and Men - 1937 (Trad. "Ratos e Homens")
The Long Valley - 1938
The Grapes of Wrath - 1939 (Trad. "As Vinhas da Ira")
Forgotten Village - 1941
Sea of Cortez - 1941
The Moon Is Down - 1942
Bombs Away - 1942
Cannery Row - 1945
The Pearl - 1947 (A Pérola)
The Wayward Bus - 1947
A Russian Journal - 1948
Burning Bright - 1950
Log from the Sea of Cortez - 1951
East of Eden - 1952 (Trad. "A Leste do Eden")
Sweet Thursday - 1954
The Short Reign of Pippin IV - 1957
Once There Was A War - 1958
Winter of Our Discontent - 1961 (Trad. "O Inverno da nossa Desesperança", ou "O Inverno dos Descontentes")
Travels With Charley: In Search of America - 1962
America and Americans - 1966
Journal of a Novel - 1969
Viva Zapata - 1975
The Acts of King Arthur and His Noble Knights - 1976
Working Days: The Journal of The Grapes of Wrath - 1989


Fonte: Wikipédia
cristina_pt

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  John Steinbeck ( 27.02.1902 - 20.12.1968)
Fonte
ad astra per alia porci

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terça-feira, junho 02, 2009
  Dia Mundial da Criança - "As crianças gostam de cágados"
Joad foi caminhando penosamente, arrastando a nuvem de poeira atrás de si. Um pouco adiante, viu a concha abaulada de um cágado, a arrastar-se lentamente através da poeira, num esforço obstinado e espasmódico. Parou a observá-lo e a sua sombra incidiu sobre o animal. Imediatamente, a cabeça e as pernas se recolheram e a cauda curta e grossa se uniu à concha. Joad pegou nela e virou-a. As costas eram de um trigueiro acinzentado como a poeira, mas a parte inferior da concha era de um amarelo creme, limpo e uniforme.
...
- O que tem você ali? Uma galinha? Assim, morre abafada.
- Um cágado velho - respondeu. - Apanhei-o na estrada. Levo-o ao meu irmãozito. As crianças gostam de cágados.
O pregador abanou a cabeça vagarosamente.
- Todas as crianças arranjam um cágado em qualquer altura. Mas ninguém o conserva sempre. Tanto fazem, tanto fazem, até que, um dia, encontram uma aberta e safam-se por onde calha. São como eu. Não me satisfiz com o velho Evangelho, que me estava à mão. Tanto lhe mexi, tanto lhe fiz , até que o rasguei. Às vezes ainda sinto o Espírito, mas já não tenho nada para pregar. Tenho a vocação de guiar o povo, mas não sei para onde o guiar.
- Guie-o para onde calhar - disse Joad. - Mergulhe-o na vala de irrigação. Diga-lhe que vai arder no inferno se não pensa como o senhor. Para onde diabo quer o senhor guiá-lo?

As vinhas da ira , Capítulo IV

Eu também adoro este cágado que é descrito no capítulo III na sua caminhada a subir uma colina e a atravessar uma estrada.

Luis Neves

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segunda-feira, junho 01, 2009
  Falências , a Ira
Fui hoje surpreendido pela notícia de que a gigantesca multinacional norte-americana "General Motors" fez o pedido de "abertura de processo de falência".

Fiquei a pensar... se uma das maiores empresas do mundo está a beira da ruína ... como estará o mundo dentro de algum tempo? Quem pode prever ou adivinhar?
Também em Portugal, e ao fim de vários meses de incerteza e de promessas falhadas, uma das maiores empresas a trabalhar em Portugal a "Quimonda" fez hoje o "pedido de insolvência", levando centenas de pessoas de Vila do Conde para o desemprego.

Que dia apropriado para começar a ler o Livro "As vinhas da ira" de John Steinbeck, um livro que descreve a vida na América mergulhada na sua mais grave crise económica do século XX (de sempre?), a chamada "Grande Depressão" dos anos trinta.

" As pessoas saíam de suas casas e, depois de aspirarem o ar quente e picante, tapavam o nariz com desgosto. As crianças também saíam de casa, mas sem correrem ou gritarem, como fariam se tivesse caído uma bátega de chuva. Os homens postavam-se junto das suas vedações, a olharem para os milheiraisdevastados, agora a secarem inteiramente, apenas com fiapos verdes a mostrarem-se através da camada de pó. Os homens conservavam-se calados e poucos se moviam. E as mulheres saíam das casas, para se pôrem ao lado dos homens - a ver se desta vez eles desanimavam. As mulheres perscrutavam os rostos dos maridos porque o milho podia desaparecer, contanto que o resto ficasse. As crianças mantinham-se por ali, desenhando figuras na poeira com os dedos dos pés nus, e elas próprias olhavam às vezes para os homens e para as mulheres, a ver se o desânimo se estampava na cara dos pais. Os cavalos chegavam-se às selhas e abriam com o focinho as camadas de pó que cobriam a água. Não tardou muito que os rostos dos homens perdessem a confusa indecisão e se tornassem duros, irados persistentes. Então as mulheres perceberam que estavam salvas e que não havia desânimo. E perguntaram: «Que vamos fazer» E os homens responderam: «Não sei.» Mas tudo acabava em bem. "
As Vinhas da Ira , Capítulo 1

General Motors vai declarar hoje falência

General Motors declara falência e fica em 60% nas mãos do Estado

1 Junho , Dia Mundial da Criança
:)
Luis Neves

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O QUE ESTAMOS A LER

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PROXIMAS LEITURAS

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LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

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