Leitura Partilhada
quinta-feira, setembro 30, 2004
 
"Sonhamos muito com o paraíso, ou antes, com numerosos paraísos sucessivos, mas são todos, muito antes de morrermos, paraísos perdidos, e onde perdidos nos sentiríamos."
(p.265)

Mas continuamos a sonhar; essa é magia da vida.

Troti
 
  Proust e o porto
"Havia ainda pouca gente em Balbec, poucas raparigas...Porém...havia duas ou três que me pareciam adoráveis. Sempre que via uma dessas apetecia-me levá-la para a Avenida dos Tamarizes, ou para as dunas, melhor ainda, para a falésia. Mas embora no desejo, por comparação com a indiferença, entre já uma certa audácia que é um começo, se bem que unilateral, de realização, a verdade é que, entre o meu desejo e a acção que seria o meu pedido de um beijo, existia todo o indefinido espaço em branco da hesitação, da timidez. Entrava então na pastelaria que servia limonadas e bebia um após o outro sete ou oito copos de porto. E logo, em vez do intervalo impossível de transpor entre o meu desejo e a a acção, o efeito do álcool traçava uma linha que juntava as duas coisas. Já não havia lugar para a hesitação nem para o medo. Achava que a rapariga ia voar para mim."
(p.244)

Maravilhosa descrição da euforia proporcionada pelo nosso querido porto.


Troti
 
 
"...foi às escondidas, para me fazer uma surpresa, que a minha mãe me mandou vir ao mesmo tempo "As Mil e Uma Noites" de Galland e "As Mil e Uma Noites" de Mardrus...


Double page du manuscrit arabe (XIVe siècle, env) d'après lequelA. Galland a fait la traduction française des Mille et une nuitsBibliothèque nationale de France département des manuscrits (manuscrits orientaux)

Não resisti a esta frase. Voltei à minha infância e às maravilhosas histórias que preencheram o meu imaginário.



Les contes des Mille et Une Nuits constituent probablement le pan de la littérature arabe qui est le mieux ancré dans l’imaginaire collectif du monde occidental. Tous les petits enfants sont très tôt initiés aux contes d’Aladin et la lampe merveilleuse, d’Ali Baba et les quarante voleurs ou de Sindbad le Marin. Ce recueil littéraire porte donc souvent une connotation juvénile. Mais les Nuits sont-elles réellement des contes pour enfants? Certes, quelques personnes ont exploité les thèmes à caractère érotique présents dans les contes originaux, et rendus publics par Sir Richard Burton [1] , pour produire des dérivés littéraires ou cinématographiques orientés sur cet aspect érotique. Mais les Mille et Une Nuits sont en fait bien plus qu’un livre de divertissement pour enfants ou d’ébats voluptueux....
...c’est en réalité une œuvre dynamique aux origines mouvementées, témoin culturel de siècles passés, véhicule d’une mythologie et de croyances propres à l’Orient, émergeant surtout du monde arabe. La forme même des Nuits possède un caractère qui les différencie des contes classiques, ce qui ajoute à l’originalité de l’œuvre. La lecture de ces histoires fait ressortir des personnages qui prennent vie autour de thèmes récurrents et qui, concentrés au Proche et Moyen-Orient, étendent parfois leurs péripéties jusqu’aux confins de l’Inde ou de la Chine...
...
C’est autour de l’an 1700 que le Français Antoine Galland mit la main sur des manuscrits des Mille et Une Nuits (Alf laylah wa laylah). Il en fit une traduction, la toute première dans une langue européenne, qu’il publia en 1704. Celui-ci adapta les contes pour l’époque en y omettant les éléments vulgaires et érotiques [15] et en y insérant la galanterie (sans jeu de mots) européenne. Il ajouta, à partir d’autres manuscrits ne faisant pas partie des Nuits, les contes de Sindbad [16] , d’Aladin et de Ali Baba [17] , ce qui décala les nuits par rapport au manuscrit original. Son édition des contes arabes où, pour la première fois, la culture et la religion islamiques étaient dépeintes en Europe de l’œil même des Arabes et non plus seulement rapportées par les Croisades, les pèlerins, les moines ou les marchands européens [18] , fut un succès immédiat; l’œuvre, par ses nombreux éléments merveilleux, contrastant avec les écrits cartésiens de l’époque où l’imaginaire et l’exotisme tenaient alors une place chétive. Les Nuits de Galland furent rapidement traduites dans les autres langues européennes. On peut considérer que l’arrivée des Nuits en France est en partie responsable du développement de l’Orientalisme [19] en Europe grâce à l’engouement qu’elle provoqua pour cette partie du monde plutôt mystérieuse. Dans les années qui suivirent et jusqu’au XIXe siècle, d’autres manuscrits furent découverts, relatant les contes des Mille et Une Nuits dans un ordre un peu différent et avec de nouveaux contes. Ces manuscrits furent à leur tour traduits, ce qui donna lieu à différentes versions des Alf laylah wa laylah.

...



Formes des contes

«Et l’aube chassant la nuit, Shahrâzâd dut interrompre son récit.» C’est par ses contes jamais terminés à l’aube que Shéhérazade réussit à se maintenir en vie face au roi Shâhriyâr qui la menace de mort. Celui-ci, trompé par sa première femme qui avait forniqué avec un esclave noir durant son absence, s’est juré d’épouser une vierge chaque soir, de la déflorer et de la tuer au matin. Shéhérazade demande alors à son père, le vizir, de lui laisser épouser le roi. Elle prie ensuite sa sœur (ou son intendante selon différentes versions), Dunyâzâd, de lui demander de raconter une histoire en présence du roi. Shéhérazade, ne terminant jamais ses récits avant le lever du jour, réussit donc, par la ruse, à éviter l’homicide (ou devrait-on dire le «féminicide»…) du roi grâce à la curiosité de ce dernier, désireux de connaître la fin des contes. Au bout de mille et une nuits, il la gracie après qu’elle lui eut donné un fils (ou trois selon les versions).
http://pages.infinit.net/vdemers/nuits.html


Dessin d´Edmond Dulac illustrant les Nuits


Lithografhie de Marc Chagall illustrant un conte des Nuits

Troti
 
 
"É preciso amar para nos preocuparmos com o facto de não haver apenas mulheres honestas, o mesmo é dizer para darmos por isso, e é igualmente preciso amar para desejar que existam, isto é, para ter a certeza que existem. É humano procurarmos a dor e logo depois livrarmo-nos dela. As propostas capazes de o conseguir parecem-nos facilmente verdadeiras, não se contesta muito um calmante que produz efeito.
...
O ser amado é sucessivamente o mal e o remédio que suspende e agrava o mal."
(p.239/240)


Troti
 
 
"....o ciúme pertence àquela família de dúvidas mórbidas suprimidas muito mais pela energia de uma afirmação que pela sua verosimilhança."
(p.239)


Troti




 
 
"...encontramos na sociedade bem-educada poucos romancistas, poucos poetas, poucos desses seres sublimes que falam justamente do que não se deve dizer."
(p.234)


Troti
 
 
"Quando um deus tem dúvidas acerca de si mesmo, tapa com facilidade as fendas da sua opinião com os irrrecusáveis testemunhos de criaturas que dedicaram a sua vida à sua obra."
(p.228)


Troti
 
 
«Estava a falar-lhe da duquesa de Guermantes. Ora, eu digo-lhe a diferença: a senhora Verdurin é uma grande dama, e a duquesa de Guermantes é provavelmente uma pindérica.» (286)

Cottard tem esta capacidade extraordinária: valorizar desmedidamente a “Patroa”, desdenhar do que não pode sequer observar, e emudecer o nosso Marcel. Foi a Nastenka que me chamou a atenção para este silêncio de Marcel. Eu, que não sou tão benevolente quanto ela, achei o Marcel hipócrita, fraco. Com o silêncio, Marcel consegue fazer pior figura que o ignorante Cottard... Mas, doutor, em todo o caso... seria capaz de dizer isso no Boulevard Saint Germain?

leitora
 
 
«Ela é tão hhhartista!» (p. 230)

Ah, nada como uma acentuação rebuscada. Não esquecer de dizer “hhhartista” sempre que possível. Aliás, rever a expressividade do dia a dia, e beneficiá-la com alterações de ênfase.

leitora
 
  Inteligência
«Não se pode dizer que era estúpida; transbordava de uma inteligência que eu sentia que me era completamente inútil.» (p. 217)


leitora
 
 
«As pessoas, à medida que as conhecemos, são como um metal mergulhado numa mistura que o altera, vemo-las perderem a pouco e pouco as suas qualidades (assim como, às vezes, os seus defeitos).» (p.200)

leitora
 
  O casamento com Albertine afigurava-se uma loucura.
Mas isto era antes de Trieste (este sim um nome carregado de mistério) ter surgido na vida obscura de Albertine, opondo-se a todos os planos, a qualquer bom-senso da parte de Marcel; isto era antes de uma noite desoladora, tão próxima daquela em que Swann procurara Odette nos cafés de boulevards de Paris; isto foi antes de Marcel se aperceber da absoluta necessidade de possuir Albertine. Amor ou desejo ou outra coisa qualquer – seja o que for, tomou forma e tornou-se inevitável. Este caos torna difícil a crença no destino.
nastenka-d
 
  Contactos sociais insuportáveis e penosos
(..) admirável biografia do grande autor, deixando-nos entrever não a figura do dandy cínico e alegórico perante o qual a sociedade parisiense revelou a sua decrepitude e a decadência dos valores burgueses (sobretudo na figura do Barão de Charlus), mas um abalado pelas suas paixões e relações, aterrorizado pela doença e insónias que lhe devastaram a saúde que lhe restava, já de si débil. O uso de drogas (soníferos e cafeína em elevadíssimas doses) terá, ainda, levado Proust a um estado de esgotamento irreversível, desencadeando, na fase final da sua vida, um processo degenerativo de afasia, que lhe tornava os contactos sociais insuportáveis e penosos.

(Maria João Cantinho)

azuki
 
quarta-feira, setembro 29, 2004
 
"Ah, esteve na Holanda, conhece os Vermeer?" perguntou imperiosamente a senhora de Cambremer e no tom em que diria: "Conhece os Guermantes?", porque o snobismo quando muda de objecto não muda de tom."

Jan or Johannes Vermeer van Delft, b. October 1632, d. December 1675, a Dutch genre painter who lived and worked in Delft, created some of the most exquisite paintings in Western art.
His works are rare. Of the 35 or 36 paintings generally attributed to him, most portray figures in interiors. All his works are admired for the sensitivity with which he rendered effects of light and color and for the poetic quality of his images.


"Rapariga com brinco de pérolas"

Troti
 
 
"o senhor estava a falar de nenúfares: penso que conhece os que Claude Monet pintou. Que génio!"

Monet, Claude (b. Nov. 14, 1840, Paris, Fr.--d. Dec. 5, 1926, Giverny) French painter, initiator, leader, and unswerving advocate of the Impressionist style. He is regarded as the archetypal Impressionist in that his devotion to the ideals of the movement was unwavering throughout his long career, and it is fitting that one of his pictures--Impression: Sunrise (Musée Marmottan, Paris; 1872)--gave the group his name



"Ah, as catedrais!"



Troti
 
 
"Le Sidaner era o artista eleito pelo amigo dos Cambremer..."

Henri Le Sidaner(1862-1939) spent his early years with his family in the West Indies before they returned to their native France in 1872. He first studied art with the history painter Alexandre Desmit in 1877 and then, beginning in 1882, with artist Alexandre Cabanel at the École des Beaux-Arts in Paris.
...
After the turn of the last century, Le Sidaner turned from figurative painting to landscapes, gardens and interiors. He became well known for his moody scenes of urban and rural houses bathed in twilight and moonlight, undisturbed by human figures. He also painted scenes from his own home and gardens, also devoid of human figures, though a set table or an open book often implied a human presence.
Le Sidaner's art was quite popular, and by 1897 he exhibited regularly in one-man shows in Paris, London, Brussels and the United States. In 1930 he was knighted with the Légion d'Honneur and elected a member of the Académie des Beaux-Arts.



Troti
 
 
"...acrescentei que era uma pena ela não ter tido antes a ideia de vir na véspera, porque à mesma hora teria podido admirar uma verdadeira luz de Poussin."


POUSSIN, Nicolas (b. 1594, Les Andelys, d. 1665, Roma)
French painter, a leader of pictorial classicism in the Baroque period. Except for two years as court painter to Louis XIII, he spent his entire career in Rome. His paintings of scenes from the Bible and from Greco-Roman antiquity influenced generations of French painters, including Jacques-Louis David, J.-A.-D. Ingres, and Paul Cézanne.


"Verão"

Troti
 
  Nomes de terras: o nome
Das longas explicações de etimologia com que Brichot nos ocupa as viagens, fica-me apenas o seguinte: é que neste volume, onde tantos nomes são enfim explicados, nenhuma parte ou capítulo se chama precisamente os Nomes.

Os nomes já meio esvaziados de um mistério que a etimologia substituíra pelo raciocínio haviam descido mais um grau. (p.511)

nastenka-d
 
  A figura arquetípica do pederasta
Proust sempre conviveu sempre mal com a realidade, permanentemente atravessado pela dor e pelo sentimento de perda, apaixonando-se frequentemente pelos seus jovens amigos, sofrendo a rejeição e a indiferença daqueles que amou. A sua homossexualidade, desde cedo assumida, é um dos traços que marcará a sua vida e a figura arquetípica do pederasta aparecerá transfigurada na personagem do perverso Barão de Charlus, na Recherche.

(Maria João Cantinho)

azuki
 
terça-feira, setembro 28, 2004
 
"A angústia é erradamente interpretada por aquele que a sofre, e este julga estar ansioso por causa daquela que não chega. O amor nasce nesse caso, como certas doenças nervosas, da explicação inexacta de um penoso incómodo. Explicação que não convém corrigir, ao menos no que toca ao amor, que é um sentimento que (seja qual for a sua causa) é sempre erróneo."
(p.204)

Prefiro pensar que o amor é um sentimento sempre prometedor.

Troti
 
 
"...a amabilidade não se manifesta em toda a gente da mesma maneira."

Troti
 
 
"Nunca nos devíamos encolerizar com os que, quando os apanhamos em falta, se põem com risos escarninhos. Fazem-no, não porque estejam a troçar, mas porque temem que possamos ficar descontentes."
(p.201)

Troti
 
 
"Quanto à linguagem do ascensorista, é curioso que alguém que ouvia cinquenta vezes por dia um cliente chamar: "Ascensor" nunca deixasse de dizer "acensor".
(.p.199)

Proust é exímio na observação do comportamento humano.

Troti
 
  Complexo de Édipo
Ficamos também a saber (apesar de a Recherche nos dar conta disso, desde as primeiras páginas) o modo como a relação edipiana que Proust manteve com a sua mãe o marcou de forma tão dramática, não tendo nunca conseguido abandonar esse fantasma, ao longo, não apenas da sua obra, como também da sua própria vida.

(Maria João Cantinho)

azuki
 
 
É assim que em teoria achamos sempre que deveríamos explicar-nos com toda a franqueza e evitar os mal-entendidos. Mas muitas vezes a vida combina-os de tal maneira que, nas raras circunstâncias em que tal seria possível, haveria que revelar, ou – o que não é o caso – alguma coisa que ainda maior melindre causaria ao nosso amigo que o err imaginário que ele nos assaca, ou um segredo cuja divulgação – e era o que acabava de me acontecer – nos parece ainda pior que o mal-entendido. (p.504)

nastenka-d
 
segunda-feira, setembro 27, 2004
  Senti que podemos estar junto da pessoa que amamos sem contudo a termos connosco.
No mundo, só ela existia para mim; perseguia-a, ora lhe tocava, ora a perdia com o meu olhar fugidio, e era indiferente ao futuro, contentando-me com aminha rosácea como uma borboleta poisada que gira em torno de uma borboleta poisada com a qual vai acabar a sua vida num acto de suprema volúpia. (p.419)

A conversa de uma mulher que amamos assemelha-se a um solo que cobre uma água subterrânea e perigosa; a todo o momento sentimos atrás das palavras a presença, o frio penetrante de um lençol invisível; distinguimos aqui e além a sua pérfida exsudação, mas ele permanece oculto. (p.420)

nastenka-d
 
 
"Gostava de fazer ver aos cépticos que a morte é na verdade uma doença de que as pessoas se curam."
(p.190)


Troti
 
 
"...nunca mais poderia apagar aquela contracção do seu rosto, e aquele sofrimento do seu coração ou, antes, do meu; porque, como os mortos já só existem em nós, é em nós mesmos que batemos incessantemente quando teimamos em recordar-nos dos golpes que neles vibrámos.
(p.167)

....


podemos dizer que a morte não é inútil, que o morto continua a actuar sobre nós. Actua até mais que um vivo, porque, como a verdadeira realidade só o espírito a pode discernir, como objecto de uma operação espiritual, apenas conhecemos verdadeiramente o que somos obrigados a recriar pelo pensamento, o que a vida de todos os dias nos oculta..."
(p.178)


...

Como é evidente, estive a sofrer o dia inteiro, que passei diante da fotografia da minha avó. Era para mim uma tortura."
(p.186)

...

"Que queres tu, os mortos são os mortos."
(p.187)

Troti
 
 
"Muitas vezes pensar é um desgosto."
(p.170)



O melhor é conseguir viver na doce inconsciência.

Troti

 
 
"Si on ne lit Proust qu’une fois, on n’a pas lu Proust."
Françoise Sagan dans l’émission Un siècle d’écrivains, 1996.



Troti
 
 
Diário de Notícias
26 de Setembro 2004

Françoise Sagan morreu:
boa noite, adeus tristeza

"Poderei escrever cem livros que não terei acabado. Ninguém poderá. Não se termina nunca com o problema da solidão e o desejo de evasão. Parece-me que é este o motivo que domina a vida de três quartas partes das pessoas, o seu pensamento, a sua inquietação, tudo... Ninguém pode acolher a noite quando ela cai ou, não importa em que momento, esse terrível caminho quotidiano para a morte."...
A solidão será o tema eleito dos seus livros, essa "consciência de um "Eu" inalterável, bastante isolado e incomunicável ao mesmo tempo".

Ana Marques Gastão


Troti
 
 
Françoise Sagan (1935-2004)
Por ANA NAVARRO PEDRO, ParisDomingo,
26 de Setembro de 2004


Morreu de demasiado viver

Françoise Sagan conseguiu finalmente acabar de queimar a sua vida. Oficialmente, a escritora morreu de uma embolia pulmonar na sexta-feira à noite, no hospital de Honfleur, aos 69 anos. Na realidade, a autora de "Bonjour tristesse" morreu de demasiado viver. "O que sempre me seduziu é queimar a minha vida, beber, atordoar-me", escrevia em "Bleus à l'âme".
....

Nascida em 1935 numa família de industriais abastados, de seu verdadeiro nome Françoise Quoirez, teve de adoptar um pseudónimo porque em 1954 era menor, e os pais não a autorizaram a "manchar" o nome de família com um escândalo literário e mundano. Sagan foi roubado a Marcel Proust - a princesa de Sagan no tomo "Du côté de chez Guermantes".

Público, 26 de Setembro 24



Troti
 
  Em total isolamento
Todavia, muitos anos seriam ainda necessários para que a Recherche se desenvolvesse. Foi preciso o derradeiro sacrifício da "prisão" (durante vinte anos) que Proust construiu para si próprio, fechado aos estímulos exteriores e isolado da sociedade, para que o fermento da sua experiência cedesse lugar à sua construção literária. Não deve ter sido fácil a uma pessoa mundana abdicar de modo tão radical do seu modo de vida, delirante e indisciplinado, para se dedicar ao projecto da Recherche. Durante toda a sua vida, Proust lutou contra todos os condicionalismos que lhe impediam a realização do trabalho, dormindo enquanto o mundo vivia, escrevendo à noite, e reflectindo sobre a sua experiência na sua escrita.

(Maria João Cantinho)

azuki
 
domingo, setembro 26, 2004
 
"Porque até aqueles que têm razão, como a Françoise, é preciso também que deixem de a ter, para que a Justiça se torne uma coisa impossível."
(p.185)

!!!


Troti
 
 
"...se o hábito é uma segunda natureza, impede-nos de conhecer a primeira, da qual não possui as cruezas nem os encantos."
(p.162)


Os hábitos são uns carrascos.


Troti


 
 
"...deixara havia muito de procurar extrair de uma mulher uma espécie de raiz quadrada do que ela tinha de desconhecido, e que muitas vezes não resistia a uma apresentação."
(p.162)

Pobre Marcel !


Troti
 
 
"Pensava nas imagens que me haviam decidido voltar a Balbec. Eram muito diferentes das de outros tempos, a visão que vinha procurar era tão resplandecente como a primeira era brumosa; mas não iriam desapontar-me menos. As imagens escolhidas pela memória são tão arbitrárias, tão estreitas, tão impalpáveis, como as que a imaginação construíra e a realidade destruíra. Não há qualquer razão para que fora de nós um lugar real possua mais as imagens da memória que as do sonho."
(p.160)



...


Além disso, não ia para Balbec imbuído de um espírito tão poético como da primeira vez; existe sempre menos egoísmo na imaginação pura que na memória."
(p.163)

Troti
 
  Uma intensa risibilidade
Há, no entanto, passagens no livro que são de extrema ironia e o autor soube atravessar o lado trágico da vida do autor, para encontrar uma intensa risibilidade, sobretudo na passagem em que descreve a época em que Proust, tendo reconhecido a sua instabilidade psicológica, decidiu dar entrada numa clínica de doenças psiquiátricas. Apenas lá ficou quinze dias, concluindo, no final dessa temporada, que o tratamento (que, afinal, consistia numa vida equilibrada e sã, pautada por horários normais relativamente à alimentação e ao sono) lhe fazia muito mal ao sistema nervoso.

(Maria João Cantinho)

azuki
 
  Galeria de personagens mítico-fabulosos
Citati aborda não apenas a galeria de personagens mítico-fabulosos (a família Guermantes, por exemplo) que habitam a Recherche, como determina as origens desses personagens, a partir de uma reinterpretação da mitologia grega, reactualizada pelas próprias leituras de Proust (que era um grande admirador de Goethe, Dostoiewsky e de poetas simbolistas como Mallarmé e Baudelaire). Aborda ainda o tema, tão caro a Proust, da rememoração e da memória involuntária. Uma obra emocionante e que nos toca profundamente.

(Maria João Cantinho)

azuki
 
  A regra
...na humanidade a regra – que comporta naturalmente excepções – é que os duros são fracos rejeitados e que os fortes, pouco preocupados que os rejeitem ou não, são os únicos que possuem aquela doçura que o homem vulgar toma por fraqueza. (p.449)

nastenka-d
 
sábado, setembro 25, 2004
 
"É esta dupla personalidade, a descoberta que, por trás do cómico ordinário, se escondia outro homem, o que me faz interessar por este caso...?
Ou é apenas porque me fala de coisas que conheci, do "pub" em St. Martin´s Lane..., dos espectáculos que vi...dos filmes( mesmo péssimos) que vi nas tardes da minha juventude?
Porque leio, em Lisboa, tantos anos depois, porque me pus a ler sem parar este "Diário" de interesse local? Porque me interessa a dualidade dos actores? Ou porque Kenneth Williams raspa a superfície da Londres por onde andei e me conta outros segredos, faz acordar monstros, aponta crimes e gritos, troça do que eu vi e dei por certo?
É porque a dúvida se instala que o leio. Porque me faz olhar para trás e suspeitar do que vivi. Porque me descobre uma nova camada de tinta por baixo do vermelho dos palcos. Porque me faz ver mais.
Mas, não tivessem sido esses os anos da minha juventude, e estaria tão ansioso a lê-lo? Ler não é sempre procurar a outra face da vida, a escondida, a invisível, a imprevisível dualidade? Ler não é sempre querer ver mais? Mas, com o avançar dos anos, não é andar às arrecuas, à procura do tempo perdido?"

Jorge Silva Melo
(Público, 25 Setembro 2004)



Troti
 
 
Agora, para mim, esses caminhos eram já apenas a maneira de me juntar a Albertine, reconhecendo-os todos iguais, sabendo até onde iam a direito e onde fariam curva, lembrava-me de que seguira por eles pensando na menina de Stermaria e também de que já sentira aquela mesma pressa de chegar junto de Albertine a sentira já em paris descendo as ruas por onde passava a senhora de Guermantes; eles assumiam para mim a monotonia profunda, o significado moral de uma espécie de linha que acompanhava o meu carácter. Era natural, e porém não era indiferente; eles recordavam-me de que a minha sina era apenas perseguir fantasmas, seres cuja realidade estava em boa parte na minha imaginação; há com efeito criaturas – e fora esse, desde a juventude, o meu caso – para quem tudo o que possui um valor fixo, verificável por outras pessoas, a fortuna, o êxito, as situações proeminentes, não conta; do que precisam é de fantasmas. (p.415)

nastenka-d
 
 
"Se eu tivesse já "produzido" alguma coisa que se tivesse notado, teria concluído que uma parte de snobismo pode aliar-se ao talento."
(p.158)

Como tão bem podemos verificar.


Troti
 
 
"Se a senhora de Guermantes não tinha um "salão", então que era um "salão"?"
(p.159)

Sim, que era um salão?


Troti


 
 
"A doença é o mais ouvido dos médicos: à bondade e à sabedoria, promete-se apenas; ao sofrimento, obedece-se."
(p.152)

Sofrer nunca é o nosso desígnio. Mas a frase anterior explica a força que o vocábulo contém.

Troti
 
  Um jovem inseguro e frágil
A Pomba Apunhalada: Proust e a Recherche, de Pietro Citati
Cotovia, 2000, 352 pp.



Com um olhar profundamente conhecedor da obra de Proust e da sua vida, Citati conduz-nos através dos labirínticos meandros que constituem a densa complexidade da personalidade de Proust. Citati procura encontrar uma intersecção entre os factos da sua vida e a obra extraordinária que foi Em Busca do Tempo Perdido.

Fica-nos o retrato de um jovem ainda inseguro e frágil, constantemente dominado pelo medo da sua saúde (tendo desenvolvido a partir daí uma hipocondria), sofrendo de crises de asma violentas e duradouras e em que o jovem se mantinha desperto (a partir daí terá desenvolvido as insónias que irão assombrá-lo ao longo de toda a sua vida), com medo de, a qualquer momento, morrer asfixiado. A sua debilidade física cerceou-lhe desde cedo a vida por uma protecção doentia, relativamente a tudo o que o rodeava.


(Maria João Cantinho)

azuki
 
  A criação de um universo através da linguagem
Não é possível contar ['Em Busca do Tempo Perdido'] a ninguém, não existe como história, há meia dúzia de peripécias, de personagens... Ao nível das peripécias há muitas coisas apaixonantes. As mutações quase rocambolescas das personagens, o que era Odette e o que Odette vai sendo ao longo das 3000 páginas... Mas não é isso que interessa. O que interessa é o que isso significa, é o facto de a vida, o mundo, o tempo correr mais depressa do que nós, e no fundo só podermos descobrir o sentido disso quando o tornamos arte, quando o concretizamos em literatura. (...) ['Em Busca do Tempo Perdido'] é a criação de um universo, no sentido mais universal que a palavra possa conter, através da linguagem.

Pedro Tamen, em entrevista a Maria da Conceição Caleiro (Público, Mil Folhas, 21/6/03)

azuki
 
 
«Muitas vezes pensar é um desgosto.» (p. 170)

E não pensar, o que será?

leitora
 
sexta-feira, setembro 24, 2004
  Actividade intercrural
Tomando por base as conclusões de alguns historiadores, existe uma concepção errada acerca da homossexualidade na Grécia antiga. Não parece haver dúvidas de que seria vista de forma bem mais branda do que na actualidade, mas talvez se distinguisse um pouco da ideia que temos Hoje da homossexualidade.

De facto, estas seriam práticas de homens adultos, com relacionamentos heterossexuais, apenas como forma de complemento à sua lúxuria. E o parceiro seria sempre um rapaz imberbe.

Nada de sexo entre dois homens adultos e nada de trejeitos de maricas. Mais: a penetração era muito mal vista! Dizem estudiosos da matéria que o acto era praticado pelo homem mais velho no meio das coxas do rapaz, que deveria manter-se impassível, sem erecção. Sodomia, nunca.

azuki
 
  O automóvel
Também a arte se modifica com isso, pois uma aldeia que parecia situar-se num mundo diferente de outra torna-se sua vizinha numa paisagem cujas dimensões mudaram. (p.400)

Diminui o atrito territorial, comprime-se o tempo... E corre-se divinamente pelas paisagens normandas, fora da vida e do tempo.
nastenka-d
 
  Quão volúveis somos…
Desejamos apaixonadamente que haja outra vida onde sejamos semelhantes ao que somos neste mundo. Mas não ponderamos que (…), nesta, ao fim de alguns anos, somos infiéis ao que fomos no passado, ao que queríamos imortalmente permanecer. (pag. 265)

azuki
 
 
"Ficaríamos para sempre curados do romanesco se, para pensar naquela que amamos, quiséssemos tentar ser aquele que viremos a ser quando não a amarmos já."


Será que nos curamos do romanesco?


Troti
 
 
"Os progressos da civilização permitem que uma pessoa manifeste qualidades insuspeitadas ou novos vícios que a tornam mais cara ou mais insuportável para os amigos."


A nossa tendência é pensar que o homem é um ser com capacidade ilimitada para se transcender. A realidade, por vezes, é outra.

Troti
 
 
Entre o desdém aristocrático e a duplicidade do povo, sucedem-se exemplos de comportamentos sintomáticos, paradoxais, desconfortavelmente próximos.

A estranha fragmentação da opinião das pessoas do povo, onde o desprezo moral mais profundo se inscreve na estima mais apaixonada, que por sua vez se encavalita em velhos rancores não abolidos, tal como o velho jardineiro da senhora de Cambremer, a quem era fiel até à morte e venerava pela sua bondade, achando-a ao mesmo tempo culpada de traição.

Ou o sentido das prioridades de Cottard, que renunciava às doçuras da quarta-feira, não por um operário que tivesse sofrido um ataque, mas pela coriza de um ministro. “A Excelência bem podia ter escolhido outro dia para se constipar”, dizia este que era tido por um bom homem.

E depois, traços de personalidade que, de tão democráticos, não são difíceis de encontrar em qualquer classe: a senhora Verdurin e o marido haviam contraído na ociosidade instintos cruéis que já não se contentavam com as grandes ocasiões, demasiado raras.

Acabando, enfim, por alargar o leque às próprias multidões e sociedades, governadas pelo instinto de imitação e a ausência de coragem.

azuki
 
  O ciclo do outono
«Parece que o tempo mudou.» Estas palavras encheram-me de alegria, como se a vida profunda, o aparecimento de combinações diferentes que elas supunham na natureza, fosse anunciar outras mudanças, essas na minha vida, nela criando novas possibilidades. (p.379)

nastenka-d
 
quinta-feira, setembro 23, 2004
  Isto sim parece-me grotesco
Será talvez mais gracioso pensar-se que desde há muito tempo um certo número de mulheres angélicas foram incluídas por engano no sexo masculino onde exiladas, enquanto em vão batem as suas asas para os homens, a quem inspiram repulsa física, sabem arrumar uma sala, compõem «interiores». (p.371)

nastenka-d
 
 
"...o mais perigoso de todos os encobrimentos é o da própria falta no espírito do culpado."

Acho que esta frase contém uma das maiores verdades que me tem sido dado constatar. E uma das verdades mais perigosas.


Troti
 
 
"É que os homens podem ter várias espécies de prazeres. O verdadeiro é aquele pelo qual deixam o outro."

Troti
 
  Ansiosos pela explicação
Mais tarde explicaremos esta expressão «defectibilidades nervosas» e por que razão um grego do tempo de Socrátes ou um romano do tempo de Augusto podiam ser aquilo que se sabe sem deixarem de ser homens absolutamente normais, e não homens-mulheres como vemos hoje em dia. (p.358)

nastenka-d
 
 
E, sempre que me arrependo de algo que deixei de fazer, e que já não é possível recuperar, penso qualquer coisa como isto: O ser que eu serei depois da morte não tem mais razões para se recordar do homem que sou desde que nasci do que este para se recordar do que fui antes de nascer (pag 389).

azuki
 
  Gente fina é outra coisa
Tem muito espírito. Nunca deixa um hotel sem se aliviar num armário, numa cómoda, para deixar uma pequena lembrança à criada de quarto que vai fazer a limpeza. Às vezes, até faz num carro de praça (…)

Oh, muito obrigado, senhor. Se toda a gente tivesse tão bom coração como o senhor já não haveria infelizes. Mas, como diz a minha irmã,
tem de os haver sempre para, agora que sou rica, poder olhar para eles por cima da burra (...)

(pags 383, 384)

azuki
 
 
«Não há qualquer razão para que fora de nós um lugar real possua mais as imagens da memória que as do sonho.» (p.160)


leitora
 
 
Desperdiçar

«A perda de toda a bússola, de toda a direcção, que caracteriza a espera, persiste ainda depois da chegada do ser esperado, e, substituindo em nós a calma com que pintávamos a sua chegada como tamanho prazer, impede-nos de saborear qualquer prazer.» (p.146)


leitora
 
quarta-feira, setembro 22, 2004
 
Swann

«Não troce muito deste palavreado idealista, mas o que eu quero dizer é que amei muito a vida e amei muito as artes.»

leitora
 
 
...porque Elstir não podia olhar para uma flor sem a transplantar primeiro para aquele jardim interior em que somos forçados a permanecer sempre... (p.347)
nastenka-d
 
  seria cómico se não fosse trágico

(…) a mulher que um erro da natureza pusera no corpo do senhor de Charlus.

De tanto se julgar um doente, uma pessoa torna-se doente (…) de tanto pensar nos homens com ternura, um homem torna-se mulher (…)


(pag 313)

azuki
 
  "Um dandy que era a flor da sociedade elegante, por alturas do século de Augusto"
(...) falava de Mecenas, de um rato de biblioteca que era amigo de Horácio, de Virgílio, de Augusto. (pag 356)

Nacionalidad: Roma
70 a.C. – 8
Estrecho colaborador de
Augusto, patrocinó con su importante fortuna buena parte de las operaciones de Octavio y colaboró con él en la puesta en marcha de las reformas propuestas por Julio César. Fomentó el desarrollo cultural de su tiempo al apoyar económicamente a Virgilio y Horacio, entre otros. El apoyo prestado a los artistas y literatos ha motivado que su nombre sea utilizado a lo largo de la Historia como promotor y protector de las artes y las letras.

(fonte)

azuki
 
 
Porque o instinto de imitação e a ausência de coragem governam tanto as sociedades como as multidões. E toda a gente se ri de uma pessoa de quem vê os outros fazerem troça, mas não deixará de a venerar dez anos mais tarde, num meio onde é admirada. (p.338)
nastenka-d
 
 
Saint-Loup

«Porque o amor, percebes, é uma boa peta, e eu cá estou curado.» (p.105)

O nosso belo Saint-Loup, que quando apaixonado trepava pelas costas dos sofás, flutuava no ar...

leitora
 
terça-feira, setembro 21, 2004
 
Senhora de Citri
«Gosta de ouvir aquilo, música? Ah, meu Deus, depende das ocasiões. Mas pode ser uma tamanha maçada! Ah, Beethoven, que seca!» Acerca de Wagner, e depois de Franck, de Debussy, nem sequer se deu ao trabalho de dizer «Que seca!», antes se limitava a fazer com a mão o gesto de quem precisa de água.
«As coisas belas são uma grande maçada! Ah, os quadros são de endoidecer uma pessoa!» (p.97)


Que maçada, que seca... estas damas...

leitora
 
 
Um dos focos de interesse que encontro neste livro são aquelas frases…

… que parecem dar vida aos nossos próprios pensamentos (…) não é só à força de mentirmos aos outros mas também de mentirmos a nós mesmos que deixamos de notar que mentimos (pag. 313)

… que nos levam a pôr em causa a nossa capacidade para descortinar aquilo que, para o autor, parece tão óbvio, mas que se nos afigura absolutamente esdrúxulo (...) se é certo que os olhos são às vezes o órgão onde se revela a inteligência, o nariz é em geral o órgão onde a estupidez mais facilmente se espelha (pag 318).

azuki
 
  O ser que não amamos
e que nos ama parece-nos insuportável. A esse ser, a essa mulher que não diremos que nos ama mas que se agarra a nós, preferimos a companhia de outra qualquer que não terá nem o seu encanto, nem os seus atractivos, nem a sua inteligência. Para nós, só voltará a tê-los quando tiver deixado de nos amar. (p.324)

Será talvez por isso que receamos tanto que o outro descubra que o amamos, e que por isso o tentamos por todos os meios esconder?
nastenka-d
 
segunda-feira, setembro 20, 2004
  Genius Loci
Mas eu bem sentia que, tanto para ela como para os Verdurin, tudo estava, não em contemplar como turistas, mas em fazer por lá boas refeições, receber uma sociedade que lhes agradava, escrever cartas, ler, em suma, viver ali, deixando-se passivamente mergulhar na beleza mais do que fazendo desta objecto das suas preocupações.(p.302)

E por uma vez, mesmo que superficialmente, eu identifico-me a esta forma de viver os lugares – o campo ou a(s) cidade(s) – por não ser uma procura do êxtase a que se assiste, como um espectáculo de teatro, ou um filme mesmo que belíssimo. Os lugares não são paisagens (mesmo que sejam feitos destas) que se vêem de longe, embora não sejam também simplesmente os cenários sobre os quais se desenrola a vida. A essência dos lugares é outra, escapa às palavras – mas não à vivência.
nastenka-d
 
domingo, setembro 19, 2004
 
Mas esses retornos do desejo obrigam-nos a reflectir que, se quiséssemos reencontrar essas raparigas com o mesmo prazer, teríamos que retornar também àquele ano, a que depois se seguiram outros dez, durante os quais a rapariga perdeu o viço. Podemos às vezes tornar a encontrar uma pessoa, mas não podemos abolir o tempo. (p.289)

nastenka-d


 
 
«Um verdadeiro escritor, desprovido do tolo amor-próprio de tantos homens de letras, quando, ao ler um artigo de um crítico que sempre lhe votou a maior admiração, vê citados os nomes de autores medíocres mas não o seu, não tem vagar para se deter no que para ele poderia ser um motivo de espanto: os seus livros chamam-no.» (p.57)

Nem Marcel me fez conhecer um escritor imune à falta de reconhecimento. Será que alguém sem um tolo amor-próprio consegue escrever livros?

leitora
 
sábado, setembro 18, 2004
 
Ora, se a senhora Sherbatoff não olhava para a sala, se ficava na sombra, era para tentar esquecer-se de que havia um mundo vivo que desejava apaixonadamente e não podia conhecer...

nastenka-d
 
 

«Às vezes o futuro está dentro de nós sem que o saibamos, e as nossas palavras que julgam mentir desenham uma realidade próxima.» (p. 49)

Tudo estará dentro de nós. Todos os futuros mais ou menos prováveis. Ao olharmos para trás damos, naturalmente mais importância ao que se relaciona com o que acabamos por ser. Se a vida de Marcel não tivesse dado a volta que deu, esta antecipação acidental nem seria lembrada...

leitora

 
sexta-feira, setembro 17, 2004
  Mas não queres tu, indolente viageira, sonhar sobre o meu ombro, pousando nele a fronte?
E segurei-lhe a cabeça com as mãos mostrando-lhe as grandes pradarias inundadas e mudas que, na tarde a declinar, se estendiam até ao horizonte cerrado sobre as correntes paralelas de valados distantes e azulados.

nastenka-d
 
 
As pessoas adivinham-se de profissão para profissão, e de vício para vício também.
(p.48)


leitora
 
 
Ninguém sabe de início se ele é invertido ou poeta, ou snob, ou perverso.

(p.31)


E no fim?



leitora
 
 
"...na fadiga mais real existe, sobretudo nas pessoas nervosas, uma parte que depende da atenção e que só por força da memória se conserva. Ficamos subitamente cansados logo que receamos estar cansados, e para nos recompormos da nossa fadiga basta esquecê-la."
(p.113)


Troti
 
quinta-feira, setembro 16, 2004
 
Toda a criatura segue o seu prazer, e se não for demasiado viciosa procura-o num sexo oposto ao seu.

(p.29)

Este confronto educacional ou social do Marcel é interesante - quase tanto como o paralelismo botânico das primeiras páginas de Sodoma e Gomorra. Neste rapaz tudo vai evoluir drasticamente: as suas perspectivas, as suas opções, e até o seu fascínio pelos salões e pela sociedade.

Nesta frase gosto especialmente do artigo "num". Manias...


leitora
 
 
A partir de certa idade, e mesmo que ocorram em nós evoluções diferentes, quanto mais nos tornamos nós mesmos mais se acentuam os traços de família. (p.268)
nastenka-d
 
 
"...as pessoas que riem com tanta força daquilo que dizem, e que não tem graça, dispensam-nos assim, tomando a hilaridade a seu cargo, de participar nela."
(p.111)


Troti
 
 
" ...a verdade é que certas qualidades ajudam mais a suportar os defeitos do próximo do que contribuem para sofrer por causa deles; e um homem de grande talento prestará habitualmente menor atenção à tolice dos outros do que o faria um tolo."
(p. 97)


Troti
 
quarta-feira, setembro 15, 2004
  Enquanto trabalhasse não perguntaria a si mesma se era feliz ou infeliz.
Hoje continua-se a fazê-lo, a ocupar incessantemente os dias.
E tu, Marcel?
nastenka-d
 
 
Mulher: era o que ele era!


Chega a comover esta ingenuidade de Marcel, mais todos os seus preconceitos... Mas não tardará a fazer descobertas terríveis sobre si próprio...


leitora
 
  Sociedade VII
"As pessoas são muito curiosas"
(p.112)



Troti
 
  Sociedade VI
"Deixaria de haver salões se fôssemos obrigados a conhecer todos os moribundos."
(p.90)


Troti
 
  Sociedade V
"...A Oriane tem muitas vezes aquilo a que eu chamaria um fingimento de insensibilidade. Mas no fundo ela sente com uma intensidade extraordinária." A senhora de Guermantes, encantada com esta análise do seu carácter, escutava-o com um ar modesto, mas não dizia uma palavra, por escrúpulo de concordar com o elogio, e sobretudo por receio de o interromper."
(p.88)


Troti
 
  Sociedade IV
"Como eu desejava vê-la! D´Annunzio avistou-a de um camarote...era capaz de dar toda a sua vida por dez minutos de conversa consigo...

Tenho uma prenda para si, querida", acrescentou virando-se para a duquesa, "e que eu não daria a ninguém senão a si. Os manuscritos de três peças de Ibsen...Fico com um e dou-lhe os outros dois."
O Duque de Guermantes não estava encantado com estas ofertas. Sem saber bem se Ibsen ou D´Annunzio estavam mortos ou vivos, já começava a ver escritores, dramaturgos, a irem visitar a mulher e a metê-la nas suas obras. A gente da sociedade imagina fácilmente os livros como uma espécie de cubo a que retiraram uma das faces, de tal modo que o autor não hesita em "meter" lá dentro as pessoas que encontra."
(p.76)




Troti
 
  Sociedade III
"Começava a conhecer o exacto valor da linguagem falada ou muda da amabilidade aristocrática, amabilidade feliz por derramar um bálsamo sobre o sentimento de inferioridade daqueles com quem se exerce, porém não até ao ponto de o dissipar, porque nesse caso deixaria de ter razão de ser. "Mas você é igual a nós, se não melhor", pareciam dizer os Guermantes com todos os seus actos; e diziam-no da forma mais simpática que se pode imaginar, para que os amassem, admirassem, mas não para que neles acreditassem; era ao poder discernir o carácter artificial dessa amabilidade que eles chamavam ser bem-educados; a má educação consistia em julgar autêntica a amabilidade."
(p.74)


Troti
 
  Sociedade II
"Para explicar três quartos das opiniões que se formam sobre as pessoas, não é necessário chegar ao despeito amoroso, ou à exclusão do poder político. O juízo permanece incerto: determina-o um convite recebido ou recusado."


Troti
 
  Sociedade I
"Muitas mulheres que achei que me poderiam apresentar estavam no jardim onde, enquanto fingiam uma admiração exaltada, não sabiam muito bem o que fazer. As festas daquele género são em geral antecipadas. Só quase no dia seguinte possuem realidade, quando ocupam a atenção das pessoas que não foram convidadas.


( como se comprova pela proliferação de notícias que preenchem a imprensa cor-de-rosa, tão dinâmica no nosso pequeno país...)


Deve dizer-se que, no que dizia respeito às festas da princesa, o espanto era às vezes tão grande entre os convidados como entre os que o não eram. Porque explodiam na altura em que menos eram esperadas, e recorriam a pessoas que a senhora de Guermantes esquecera durante anos. E quase todas as pessoas da sociedade são tão insignificantes que os seus semelhantes usam para as avaliar apenas a bitola da respectiva amabilidade: se são convidados gostam delas, se são excluídos detestam-nas."


Que códigos mais estranhos e que todavia verificamos terem sobrevivido até aos dias de hoje. Porque será que continuamos a ouvir esta realidade?

Troti
 
terça-feira, setembro 14, 2004
  Brevidade
aquela sensação de brevidade de todas as coisas que faz com que se deseje acertar em cheio no alvo e que torna tão comovente o espetáculo de qualquer amor
(p.13)

Urgência de viver...


leitora
 
  O amor matematicamente improvável
Conhecem-se a si mesmos o bastante para saberem que com as mulheres mais diferentes sentiam as mesmas esperanças, as mesmas angústias, inventavam os mesmos romances, pronunciavam as mesmas palavras, para assim se darem conta de que os seus sentimentos, as suas acções, não estão estreita e necessariamente relacionados com a mulher amada, mas lhe passam ao lado, a salpicam, a rodeiam como o jacto que se lança ao longo dos rochedos, e a sensação da sua própria instabilidade aumenta ainda mais neles a desconfiança de que essa mulher, por quem tanto gostariam de ser amados, não os ama. Porque haveria o acaso, já que ela é apenas um simples acidente colocado diante do jorro dos nossos desejos, de fazer com que fôssemos nós o objecto dos desejos dela? (p.235)

nastenka-d
 
 
"Os homens podem ter várias espécies de prazeres. O verdadeiro é aquele pelo qual abandonam o outro."


Troti
 
 
"Mesmo quando as coisas já não são importantes para nós, não é de modo algum indiferente que o tenham sido..."



Troti
 
 
"É muito mais difícil desfigurar uma obra-prima que criá-la."


Troti
 
 
"Toda a acção do espírito é fácil quando não está sujeita ao real."


Troti
 
segunda-feira, setembro 13, 2004
  E, já agora
alguém me explica se era já habitual tal dissolução dos costumes: Sodoma e Gomorra, e as jovens do hotel de Balbec, e Albertine, a burguesinha, entregando-se a jogos dúbios pela madrugada? Se sim, então que ,me expliquem porque se escanadlizam de tal forma com os costumes de agora.
nastenka-d
 
 
On peut quelquefois retrouver un être mais non abolir le temps.


Sodome et Gomorrhe


leitora
 
 
"São inúmeros os erros dos médicos. Pecam habitualmente por optimismo quanto à dieta e por pessimismo quanto ao desenlace. "Vinho? Em quantidade moderada não lhe pode fazer mal, até é um tónico...Prazer físico? Afinal é uma função. Permito-lho sem abusos, espero que me entenda. O excesso é um defeito em tudo."


Não há dúvida que os doentes são uns desgraçados com "alguns" médicos. Pecam por uma total falta de entendimento no que respeita ao raciocínio de um doente - que, por estar doente tem um raciocínio diferente de quem está em estado saudável - e não conseguem orientar as conversas de uma forma racional e sensível ao mesmo tempo. E é uma pena.


"...desde Moliére, a medicina fez alguns pequenos progressos nos seus conhecimentos, mas nenhum no seu vocabulário."


Troti
 
domingo, setembro 12, 2004
 
Les charmes d'une personne sont une cause moins fréquente d'amour qu'une phrase du genre de celle-ci : Non, ce soir je ne serai pas livre...


Sodome et Gomorrhe


leitora
 
  A memória do amor
Certos sonhos de ternura partilhada, sempre flutuantes em nós, aliam-se de bom grado, por uma espécie de afinidade, à memória (desde que esta se tenha tornado já um pouco vaga) de uma mulher com quem sentimos prazer.
E eis então porque razão os primeiros amores nos parecem sempre mais belos, mais puros, mais fortes – por que já não o são.
nastenka-d
 
 
"Às vezes o futuro está dentro de nós sem que o saibamos, e as nossas palavras que julgam mentir desenham uma realidade próxima."



Troti
 
  Alerta permanente
"As pessoas inquietam-se mas, por vezes, só muito tempo depois da hora do perigo, esquecida por se terem distraído, é que se recordam da sua inquietação."


Pois é, e por isso vivemos num alerta permanente que não dá tréguas.

Troti
 
sábado, setembro 11, 2004
 
Une parole de celle que nous aimons ne se conserve pas longtemps
dans sa pureté; elle se gâte, se pourrit.

Sodome et Gomorrhe


leitora
 
  Da posse dos sentimentos latentes
É sem dúvida a existência do nosso corpo, semelhante para nós a um vaso onde estivesse encerrada a nossa espiritualidade, que nos induz a supor que todos os nossos bens interiores, as nossas alegrias passadas, todas as nossas dores estão permanentemente na nossa posse. Talvez seja também inexacto acreditar que elas se escapam ou que regressam. Em todo o caso, se permanecem em nós, ficam a maioria das vezes confinadas a um domínio desconhecido onde não nos servem para nada e onde, até, as mais usuais são recalcadas por recordações de ordem diferente e que excluem toda a simultaneidade com elas na existência. Mas, se o quadro de sensações for retomado, têm por sua vez aquele mesmo poder de expulsar tudo o que com elas for incompatível, de instalar em nós, sozinho, o eu que as viveu. (p.165)

nastenka-d
 
 
"A bondade, a manha, o nome, as relações mundanas, não se revelam, e trazemo-las ocultas"


Troti
 
 
"Verdade se diga que esses sons eram tão violentos que, se não tivessem sido sempre repetidos uma oitava acima por um gemido paralelo, teria podido julgar que estava uma pessoa a degolar outra a meu lado e que, depois, o assassino e a sua vítima ressuscitada tomavam um banho para apagar os vestígios do crime. Daqui concluí mais tarde que existe uma coisa tão ruidosa como o sofrimento, que é o prazer..."
(p.17)

Troti
 
 
"Fosse o que fosse que retinha o senhor de Charlus e o alfaiate de coletes, certo era que o acordo entre ambos parecia estar estabelecido, e que aqueles inúteis olhares eram apenas prelúdios rituais, semelhantes às festas que se celebram antes de um casamento decidido. Mais perto da natureza ainda - e a multiplicidade destas comparações é em si mesma tanto mais natural quanto é certo que um mesmo homem, se o examinarmos durante alguns minutos, parece sucessivamente um homem, um homem-pássaro ou um homem-insecto, etc. -, dir-se-iam dois pássaros, macho e fêmea, em que o macho procurava adiantar-se e a fêmea - Jupien - já não dava sinais de responder a esta manobra, mas olhava o seu novo amigo sem espanto, com uma fixidez desatenta, sem dúvida considerada mais perturbante e a única útil, uma vez que o macho dera os primeiros passos e se limitava a alisar as penas."
(p.14)


Troti
 
 
"...esses traços gerais de toda uma família adquiriam, porém, no rosto do senhor de Charlus uma finura mais espiritualizada, e sobretudo mais doce....Piscando os olhos contra o sol, quase parecia sorrir, e achei que a sua cara, vista assim em repouso e como que ao natural, era qualquer coisa de tão afectuoso, de tão desarmado, que não pude deixar de pensar como o senhor de Charlus se zangaria se pudesse saber-se observado; porque aquilo em que me fazia pensar aquele homem, que era tão obcecado pela virilidade, e que dela fazia tanto alarde, para quem toda a gente era odiosamente efeminada, aquilo em que de repente me fazia pensar, tais eram as feições que dela momentaneamente possuía, tal a expressão, tal o sorriso, era numa mulher."
(p.12)


Troti
 
 
"É a razão que abre os olhos; um erro dissipado confere-nos mais um sentido."



Troti
 
sexta-feira, setembro 10, 2004
  ...aquela incompreensível contradição da memória e do nada...
A propósito da avó, encontro no livro uma extraordinária definição de morte, … aquela incompreensível contradição da memória e do nada (pag. 176), mas depois nem sei o que pensar quando este nosso frágil amigo confessa que… Com o receio de que o prazer sentido naquele passeio solitário enfraquecesse em mim a memória da minha avó, procurava reavivá-la pensando em alguma dor moral que ela houvesse sofrido (pag. 190). E, como nas costas dos outros se vêem as nossas, dou por mim a perguntar se teremos consciência das figurinhas que, por vezes, fazemos.

azuki
 
  Reencontrando-a enfim, acabava de saber que a tinha perdido para sempre
Acabava de distinguir na minha memória, debruçado sobre o meu cansaço, o rosto terno, inquieto e desanimado da minha avó, não o daquela que com tanta surpresa e auto-recriminação eu tão pouco havia chorado, e que dela só tinha o nome, mas o da minha avó verdadeira, cuja realidade viva reencontrava, numa lembrança involuntária e completa, pela primeira vez desde os Campos Elísios onde sofrera o seu ataque. (p.164)

nastenka-d
 
quinta-feira, setembro 09, 2004
 
Aproveitando o mote que a nastenka-d nos deu… Ele desiste de procurar (só) aquilo que constitui o cerne de uma paixão, pois.. deixara havia muito de procurar extrair de uma mulher uma espécie de raiz quadrada do que ela tinha de desconhecido, e que muitas vezes não resistia a uma apresentação… e é realmente a pessoa ideal para beber e respirar salões, pois tão bem se deixa influenciar pelas primeiras impressões e tão bem sabe valorizar a aparência. Pois.

azuki
 
  Genesis 19:1-11
Destruição de Sodoma e Gomorra

18:)Sodoma e Gomorra eram duas cidades cheias de pecado e depravação. Deus decidiu destrui-las mas antes falou com Lot que O convenceu a poupar a cidade se existissem 5 homens justos na mesma. (19:1)Dois anjos vão visitar Lot a Sodoma para verificarem se existem "5 homens justos". Entretanto...
(4)Ainda não se tinham deitado, quando os homens da cidade, os homens de Sodoma, desde os mais novos aos mais velhos, todos sem excepção, rodearam a casa [... e disseram:] "Trá-los para fora a fim de os conhecermos" [...] Lot oferece as suas próprias filhas virgens aos homens da cidade para evitar o confronto com os dois anjos, mas de nada lhe valeu. (Diga-se de passagem que os anjos levaram a melhor e Deus destruiu calma e serenamente Sodoma, Gomorra e tudo à volta)
O termo "conhecermos" significa, abitualmente na linguagem da Bíblia, "SEXO" , daí o facto de se associar Sodoma ao acto sexual entre homens, no entanto Sodoma e Gomorra não são, obviamente, destruídas porque os "homens se deitavam com outros homens" mas sim por uma série infindável de pecados (em que, eventualmente, a chamada sodomia se encontrava).
Segundo Shepherd embora o termo "conhecermos" não implique directamente sexo ou violação (o original hebraico pode ser traduzido por "tomar conhecimento", "verificar credenciais" ou ainda "ter sexo com"), neste caso as intenções dos habitantes parecem indicar um verdadeiro acto de violência sobre os estranhos sob a forma de uma violação.Aliás o acto de violação homossexual não era incomum como forma de humilhação extrema e sem carga sexual.


Fonte: PortugalGay


Penso que tendo em conta a fonte, esta análise levantará pouca discussão. Mas é extraordinário a quantidade de barbaridades que se encontra na net ao pesquisar "Sodoma e Gomorra"...

Leitora
 
 
Mas deixara havia muito de procurar extrair de uma mulher uma espécie de raiz quadrada do que ela tinha de desconhecido, e que muitas vezes não resistia a uma apresentação.

... o prazer com uma mulher não podia proporcionar-me, nem por um instante, no meio das coisas quotidianas, a ilusão de me dar acesso a uma nova vida. (porque, se o hábito é uma segunda natureza, impede-nos de conhecer a primeira, da qual não possui as cruezas nem os encantos.) (p.162)

nastenka-d
 
quarta-feira, setembro 08, 2004
 
As pessoas da sociedade eram na sua maioria tão anti-revisionistas que um salão dreyfusista parecia algo tão impossível como noutra época seria um salão favorável à Comuna. (pag. 152)

azuki
 
 
As imagens escolhidas pela memória são tão arbitrárias, tão estreitas, tão impalpáveis, como as que a imaginação construíra e a realidade destruíra. Não há qualquer razão para que fora de nós um lugar real possua mais as imagens da memória do que as do sonho. E, além disso, talvez uma realidade nova nos faça esquecer, e até detestar os desejos por causa dos quais tínhamos partido. (p.160)

nastenka-d
 
  A minha segunda chegada a Balbec foi muito diferente da primeira.
Ou, como outros diriam, o mesmo homem nunca se banha duas vezes na água do mesmo rio; ou não voltes ao local onde foste feliz; e, sobretudo, não tentes reeditar (ou melhor, reimprimir) exteriormente uma felicidade que é tão alheia como se tivesse sido vivida por outrém. Melhor é saborear a memória, essa sim verdadeiramente nossa, dos dias passados. (E sinto-me a realizar o percurso em relação à reclusão. Chegarei ao fim da Recherche compreendendo o isolamento de Marcel?)
nastenka-d
 
  No que toca a Albertine, eu sentia que nunca viria a saber de nada …. a não ser que a aprisionasse até ao fim.
azuki
 
terça-feira, setembro 07, 2004
 
Sentimos que a memória desses sentimentos está só em nós; é dentro de nós que temos de entrar para a ver. (p.112)

nastenka-d
 
  Definitivamente, o rapaz tem um foro histérico…
Era efectivamente inquietação que eu sentia pela mesma Albertine em quem não tinha pensado três minutos durante o serão Guermantes! Mas, despertando os sentimentos de expectação em tempos experimentados a propósito de outras raparigas, sobretudo de Gilberte, quando tardava a chegar, a possível privação de um simples prazer físico causava-me um cruel sofrimento moral. (pag. 138)

Aprendera em Combray a conhecer, a propósito da minha mãe, aquela terrível necessidade de uma pessoa, e até a desejar morrer quando ela me mandava dizer pela Françoise que não poderia subir. (pag. 141)


azuki
 
  Com franqueza, há tantas mulheres...
...como todos os que não estão apaixonados, imaginava que cada um escolhe a pessoa que ama depois de mil deliberações e em conformidade com qualidades e conveniências diversas... (p.104)

nastenka-d
 
segunda-feira, setembro 06, 2004
 
“Às vezes lamentei morar tão perto da Marie”, disse-me a duquesa, “porque, embora goste muito dela, gosto um bocadinho menos de a ver.”

azuki
 
  Não há vícios que não encontrem na alta sociedade complacentes apoios.
azuki
 
  Amabilidade(s)
Começava a conhecer o valor exacto da linguagem falada ou muda da amabilidade aristocrática, amabilidade feliz por derramar um bálsamo sobre o sentimento de inferioridade daqueles com quem se exerce, porém não até ao ponto de o dissipar, porque nesse caso deixaria de ter razão de ser.

...era ao poder discernir o carácter artificial dessa amabilidade que eles chamavam ser bem-educado; a má-educação consistia em julgar autêntica a amabilidade. (p.72)

Ora tenho aprendido imenso com este corrupio nos salões; até tenho recusado alguns convites por me parecer que aceitá-los é incorrer nesse crime de lesa-sociedade de que nos fala Marcel; infelizmente ainda não consegui desenvolver a sensibilidade apurada que permite distinguir todas as nuances da amabilidade. Corro portanto o risco de recusar convites sinceros, ou de aceitar bálsamos para escândalo dos espíritos. Começo a desejar fechar-me também num quarto calafetado, imune a contaminações.
nastenka-d
 
domingo, setembro 05, 2004
  SodomaMix (2)
...formando uma franco-maçonaria bem mais disseminada, mais eficaz e menos suspeita do que a das lojas...

...todos obrigados a proteger o seu segredo, mas possuindo o seu quinhão do segredo dos outros de que o resto da humanidade não suspeita e que faz com que para eles os mais inverosímeis romances de aventuras pareçam verdadeiros...

...uma vida cujos prazeres necessários os homens da outra raça não só não compreendem como não imaginam e odeiam, mas também cujo frequente perigo e permanente vergonha lhes causariam horror...

...aqueles seres de excepção de quem nos condoemos constituem uma multidão, como se verá no decurso desta obra, por uma razão que só no fim será revelada, e eles próprios mais se lamentam de derem de ais do que de menos.

nastenka-d
 
sábado, setembro 04, 2004
  SodomaMix (1)
...e que tem que viver o seu desejo na mentira e no perjúrio, visto que o sabe ser considerado punível e vergonhoso, inconfessável, esse desejo em que consiste para toda a criatura a maior doçura de viver...

...ao menos em conformidade com a primeira teoria que eu então esboçava acerca deles...

...decorre, não de um ideal de beleza que elegeram, mas de uma doença incurável...

...cujo nome é a maior das injúrias...

...que só o opróbrio gera o crime...

nastenka-d
 
sexta-feira, setembro 03, 2004
  Ver e sentir o passado à luz ofuscante do agora
Agora o abstracto tinha-se materializado, o ser, enfim compreendido, perdera imediatamente o seu poder de permanecer invisível, e a transutação do senhor de Charlus numa pessoa nova era tão completa que não apenas os contrastes do se rosto, da sua voz, mas também retrospectivamente os próprios altos e baixos das suas relações comigo, tudo isso se tornava inteligível, se mostrava evidente, como uma frase, que não parece ter qualquer sentido enquanto permanece decomposta em letras dispostas ao acaso, exprime, quando os caracteres são recolocadosna ordem devida, um pensamento que nunca mais poderemos esquecer. (p. 22)
Porque não são apenas as notas dissonantes que antes não sabíamos explicar (ou a que não dávamos importância); é a avaliação que fazemos de tudo o que se passou (sobretudo, do que se passou em relação a nós mesmos) à luz do que sabemos agora, e que não podemos deixar de saber. (E, a este propósito, tenho que referir aqui Javier Marías e o seu Coração Tão Branco.)
nastenka-d
 
  Σαπφω
Sappho (Attic Greek Σαπφω, Aeolic Greek Ψαπφα, Sapphô) was an Ancient Greek poet, from the city of Mytilene on the island of Lesbos, which was a cultural centre in the 7th century BC. She was born sometime between 630 BC and 612 BC. It was said that she was small and dark.



Sappho, daughter of Scamander and Cleïs, was married (Attic comedy says to a wealthy merchant, but that is apocryphal) and had a daughter also named Cleïs. She became very famous in her day for her poetry—so much so that the city of Syracuse built a statue to honor her when she visited. Her family was politically active, which caused Sappho to travel a great deal. She was also noted during her life as the headmistress of a sort of Greek finishing school for girls. Most likely the objects of her poetry were her students.

She was a lyric poet who developed her own particular meter, known as sapphic meter, and she was credited for leading an aesthetic movement away from classical themes of gods, to the themes of individual human experience. An epigram in the Anthologia Palatina ascribed to Plato referred to her as the "tenth Muse".

Sappho wrote mainly love poems, of which only fragments survive, save a single complete poem, Fragment 1, "Hymn to Aphrodite". Given her reputation in the ancient world, since only fragments of her work remain, the world lost a valuable treasure in her work.

Some of her love poems were addressed to women, from which she developed a reputation for lesbianism. The word lesbian itself is derived from the name of the island of Lesbos from which she came. (She is also the origin of its much rarer synonym sapphic, derived from her name.)

Due to its homosexual content—and because of its explicit eroticism—her work was disapproved of by the Christian church, which is arguably the main reason why most of it has not survived, due to a combination of neglecting to copy it and undoubtedly in some cases purposeful destruction.

While in the modern period this content is well known, in ancient and medieval times she was more famous for (according to legend) throwing herself off a cliff due to unrequited love for a male sailor named Phaon. However, this legend has no substantiation in Greek history, and it is generally believed that the legend was a fiction created by the Christian church to misdirect attention away from the overtones of her writing. (Of particular note is that a purported consort of hers was named Cercglas of Andros, literally "Penis, from the town of Man").

(wikipedia)

azuki
 
quinta-feira, setembro 02, 2004
 
Mas aquilo a que eu acabava de assistir era também um milagre, um milagre quase do mesmo género, e não menos maravilhoso. (p.36)

nastenka-d
 
  A possibilidade miraculosa de se conjugarem um insecto raríssimo e uma flor cativa
Nos olhos de um e outro era o céu, não de Zurique, mas de uma qualquer cidade oriental cujo nome eu não adivinhara ainda, que acabara de erguer-se no horizonte. (p.14)
Testemunhamos o enamoramento: quais são as probabilidades de se ser o objecto das atenções do objecto que se prefere? Todos conhecemos as (im)probabilidades; todos sabemos que, apesar do número baixissímo a que se chega, há ainda lugar para essa coincidência quase absurda. Mas, e quandoo que é sempre raríssimo para toda a gente se torna quase impossível? Então, diz-nos Proust, a sua felicidade, muito mais ainda que a do apaixonado normal, tem qualquer coisa de extraordinário, de seleccionado, de profundamente necessário. Ou ainda: verdadeira predestinação preparada pelas harmonias dos seus temperamentos. Haverá algo assim de tão verdadeiramente excepcional no amor homossexual? Algo que o diferencie de tal forma do amor banalíssimo destinado a perpetuar a espécie? Ou o amor (e, bem entendido, não falamos apenas do desejo; mas também dele) é o mesmo em toda a parte e sob todas as as suas formas? Haverá algo também de snobismo na forma como alguns apresentam o amor homossexual, como algo de secreto e destinado apenas a uma sociedade seleccionada? Ou essa exclusividade em determinados lugares (onde se formam as sociedades do quotidiano) passa apenas pela mais pragmática das circunstâncias, a de se procurar, nos ambientes mais adequados, os tais insectos raríssimos? Será o encontro entre Charlus e Jupien (completamente fortuito e acidental) algo tão raro?
nastenka-d
 
  Λέσβος


Lesbos (Λέσβος) is a prefecture of Greece, part of the periphery North Aegean.
It is also the name of its main island. This is in the Aegean Sea near Turkey.

In modern Greek, the island's name is Lesvos and its inhabitants are Lesvonians (rather than Lesbians), or Lesviots.

Principal towns on the island are Mytiline (the capital), Kalloni, Mithymna, Plomari, Agiassos, Petra.

The island has been inhabited since the Bronze Age. It is first mentioned in Hittite records as Lazpa. Other ancient names are: Lassia, Imerti, Aegira, Issa, Imerti, Mytonis, Les-Ba.

In Greek mythology, "Lesbos" was also the name of the patron god of the island, son of Lapithes. He married Methymna.

The word lesbian is derived from the island's name. This originates in the poems of Sappho of Lesbos, where love between women was described. Due to this link, Lesbos has often been the destination of cruises and other vacations for lesbians; however, Lesvonian authorities have expressed a dim view of this, with some cruise ships even being denied permission to dock.

(wikipedia)

azuki
 
quarta-feira, setembro 01, 2004
  Ouvi a Palavra do Senhor, vós príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à lei de nosso Deus, vós, ó povo de Gomorra. (Isaías 1.10)
azuki
 
  Sodoma e Gomorra






Ora, eram maus os varões de Sodoma e grandes pecadores contra o Senhor.



E, ao amanhecer, os anjos apertaram com Ló, dizendo: levanta-te, toma tua mulher e tuas duas filhas que aqui estão, para que não pereças na injustiça desta cidade. Ele, porém, demorava-se, e aqueles varões lhe pegaram pela mão, e pela mão de sua mulher, e pela mão de suas duas filhas, sendo-lhe o Senhor misericordioso, e tiraram-no, e puseram-no fora da cidade.



E aconteceu que, tirando-os fora, disse: escapa-te por tua vida; não olhes para trás de ti e não pares em toda esta campina; escapa lá para o monte, para que não pereças.



Então, o Senhor fez chover enxofre e fogo, do Senhor desde os céus, sobre Sodoma e Gomorra. E derrubou aquelas cidades e toda aquela campina, e todos os moradores daquelas cidades, e o que nascia da terra.



Os que saíram ilesos, como a família de Lot, estavam longe do centro da explosão, nas montanhas.



Nesse momento a mulher de Lot virou-se e olhou directamente para o sol. Morreu horas depois.



No outro dia, bem cedo, Lot voltou à cidade. Levantando os olhos para Sodoma, Gomorra e toda a terra adjacente, viu que se elevavam da terra cinzas inflamadas, como fumaça que sai de uma fornalha...



(Génesis)
(Alessandro Bavari, PhotoGallery)

azuki
 
 
Como os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, e lhes nasceram filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram. (Génesis)

azuki
 

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LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

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"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

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...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

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"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

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"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

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