Leitura Partilhada
terça-feira, janeiro 31, 2006
  CONFISSAO
Tenho um segredo para vos contar: Gosto mais de Ricardo que de Hamlet.
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Joana
 
  "Good night, sweet prince!"
"Vous êtes de tous les temps et de tous les pays. Vous n´avez pas vieilli d´une heure en trois siécles. Votre âme a l´age de chacune de nos âmes. Nous vivons ensemble, prince Hamlet, et vous êtes ce que nous sommes, un homme au milieu du mal universel. On vous a chicané sur vos paroles et sur vos actions. On a montré que vous n´etiez pas d´accord avec vous-même. Comment saisir cette insaisissable personnage ? a-t-on-dit. Il pense tour à tour comme un moine du moyen age et comme un savant de la Renaissance ; il a la tête philosophique et pourtant pleine de diableries. Il a l´horreur du mensonge et sa vie n´est qu´un long mensonge. Il est irrésolu, c´est visible, et pourtant certains critiques l´ont jugé plein de décision, sans qu´on puisse leur donner tout à fait tort. Enfin, on a prétendu, mon prince, que vous étiez un magasin de pensées, un amas de contradictions et non pas un être humain. Mais c´est là, au contraire, le signe de votre profonde humanité. Vous êtes prompt et lent, audacieux et timide, bienveillant et cruel, vous croyez et vous doutez, vous êtes sage et pardessus tout vous êtes fou. En un mot, vous vivez. Qui de nous ne vous ressemble en quelque chose ? Qui de nous pense sans contradiction et agit sans incohérence? Qui de nous n´est fou ? Qui de nous ne vous dit avec un mélange de pitié, de sympathie, d´amiration et d´horreur : « Good night, sweet prince !»"
Anatole France
La Vie Littéraire

Fonte : The New Shakespeare Hamlet – Cambridge University Press

Troti
 
 
Hamlet

…o resto é silêncio.

Acto Quinto
Scena II

Troti
 
  Tenho razão e querer; e força; e meios; / …. / Que me estorva?
Hamlet tem razão e querer e força e meios… o que o estorva?! Angustiado, sarcástico, desconcertante, Hamlet vai-se transfigurando ao longo dos 15.000 versos do seu discurso. No último acto, ele libertou-se da opressão do espírito do pai, mas perdeu vida. O príncipe Hamlet é o intelectual por excelência: ele é a nobreza e o desastre da consciência ocidental (Harold Bloom). Quanto mais vamos conhecendo, mais claro vemos? Ou mais claramente vemos que não vemos claro? Quanto mais pensamos, mais facilmente agimos? Ou ficamos tão esmagados que acabamos por não conseguir sair do sítio? O que comanda a vontade? O que a tolhe? A brilhante representação de Hamlet é para si e para nós, público. À medida que o príncipe vai alargando a sua consciência, nós vamos alargando a nossa. Somos nós ali, nos longos solilóquios de Hamlet, como uma janela que se vai abrindo para uma paisagem que nos é familiar... Que paisagem? Uma planície? Ou um precipício?

azuki
 
  A morte de Hamlet
No fim, ele engana a morte e é por ela enganado. (Harold Bloom)

azuki
 
  A invenção do humano
Harold Bloom escreveu um livro intitulado: “Shakespeare: A invenção do humano.” Não li o livro, mas acho que o título diz tudo.

Bom dia!!
azuki
 
 
Hamlet

…sinto uma grande inquietação na alma; mas pouco importa…

...

…quero mesmo desafiar o presságio; um pardal não cai sem licença especial da Providência. Se tem de ser agora, não será logo; se não tiver de ser logo, será agora; se não fôr agora, será mais tarde. O que é preciso é estar preparado: ninguém leva consigo os bens que deixa; que importa deixá-los mais cedo ou mais tarde?

Acto Quinto
Scena II

Troti
 
 
Hamlet

...conhecer bem um homem equivaleria a ser-se esse mesmo homem.

Acto Quinto
Scena II

Troti
 
segunda-feira, janeiro 30, 2006
  WHAT'S IN A NAME?
Em ingles hamlet e um termo arcaico que significa " povoacao mais pequena que uma aldeia", pergunto-me muitas vezes porque e que Shakespeare escolheu este nome.
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Joana
 
  RESPOSTA A GABRIEL
Caro Gabriel, quando escrevi hamlet+england no motor de procura Answer.com esta foi uma das respostas que recebi:

Shakespeare and His Critics
William Hazlitt's Essay on Hamlet ... (first published in Characters of ...
He is currently a "mature" student at the University of Kent in England. ... *
shakespearean.org.uk/

Afinal Shakespeare estava enganado, Hamlet nao morreu, pediu apenas transferencia da universidade de Wittenberg para a de Kent

*De momento ele e um estudante senior na Universidade de Kent em Inglaterra
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Joana
 
  Uma pequena dúvida
Por que Hamlet permitiu que o mandassem para a Inglaterra?

Gabriel
 
  A tragédia de Hamlet
No primeiro acto, na segunda cena, Hamlet diz à rainha: Eu não aparento... não conheço aparências. Na mesma cena, o rei diz a Hamlet que ele demonstra um coração sem força sobre si mesmo. É essa a sua realidade e é essa a sua tragédia.

Hamlet

Havia no meu coração uma espécie de combate que me não deixava dormir; parecia-me que sofria mais do que um encarcerado a ferros; precipitadamente, e louvada seja por tal a nossa precipitação, porque é bom saber-se que a nossa indiscrição serve-nos às vezes melhor que os nossos mais acariciados planos que tanto falham! Isto deveria avisar-nos de que há uma divindade que consente que nossos projectos se realizem quando lhe apraz, qualquer que seja o fim a que obedeçamos…

Acto Quinto
Scena II

Troti
 
 
Hamlet

Vamos, mostra-me do que és capaz. Podes tu chorar? podes combater? podes jejuar? podes cortar-te aos pedaços a ti mesmo? podes tu beber vinagre? comer um crocodilo? Eu farei tudo isso.

Acto Quinto
Scena I

Troti
 
  (não) gastar as palavras
é complicado que nos ponhamos a citar “ser ou não ser” sem que saibamos muito bem o que isso significa só sabemos que dá bom aspecto e ar de intelectual debitar “ser ou não” e outras expressões do género com sorte ninguém nos irá perguntar a que raio se estaria Hamlet a referir eu andei com o Hamlet às voltas nestes últimos quinze dias e ainda não atingi lá muito bem este solilóquio existencial vou tentar gastar menos certas palavras que elas não merecem ser banalizadas

azuki
 
 
Hamlet

...apesar de não estar doido, nem fora de mim, tenho comigo qualquer coisa de perigoso.

Acto V
Scena I

Troti
 
 
Ofélia

...nós sabemos o que somos, mas não sabemos o que viremos a ser.

Acto Quarto
Scena V

Troti
 
  To do or not to do
No texto, a frase isto deve fazer-se está em itálico. Acho que é uma expressão chave para a compreensão de Hamlet. Ele vive, desde o início da sua história, com os passos marcados mas não foi a sua vontade que os determinou. O seu desígnio foi-lhe imposto e a dúvida da sua execução vai dominar o seu pensamento e as suas atitudes. Delírio, paixão, loucura, dor, indecisão, tristeza, raiva, impaciência,revolta, vivem no seu espírito numa difícil comunhão. Hamlet é um homem só no labirinto do seu pensamento. Sentimos a sua desorientação, vivemos a sua angústia, compreendemos a sua aflição. Como é que alguém se prepara para o destino? Como é que alguém aceita o extremo? To do or not to do?


Hamlet
"Que é um homem quando o seu principal bem e o principal emprêgo do seu tempo consistem em dormir e comer?! Um animal, e nada mais. Certamente aquele que nos formou com esta razão, capaz de abarcar ao mesmo tempo o presente e o futuro, não nos deu esta capacidade, esta divina faculdade, para que fiquem inactivas em nós. Será esquecimento bestial? Será escrúpulo medroso do pensamento que se reflecte muito minuciosamente sôbre o acto a praticar - pensamento no qual entram um quarto de prudência e três quartos de covardia? Não sei verdadeiramente, porque ando ainda a dizer comigo: isto deve fazer-se, se tenho causa, vontade, fôrça e meios para o fazer!
...
Ser verdadeiramente grande não consiste em comovermo-nos apenas por uma grande causa, mas em encontrarmos grandeza no objecto do valor duma palheira quando a honra nisso está empenhada. Como é que eu, a quem assassinaram o pai, a quem prostituíram a mãe, estimulantes bem suficientes para a minha razão e para a minha cólera, me deixo adormecer, ao passo que vejo vinte mil homens, sôbre quem a morte anda suspensa, caminharem para a sepultura como quem caminha para o leito, por uma quimera, por uma ninharia da fama, para conquistarem um pedaço de terra tão pequena que mal caberão lá todos e nem chegará para nele se enterrarem os mortos?! Oh! A partir deste momento ou os meus pensamentos hão-de ser sanguinários ou não terão valor algum. "

Acto Quarto
Scena IV


Troti
 
domingo, janeiro 29, 2006
  Um tratado sobre a teatralidade
Hamlet é uma peça sobre a teatralidade e não sobre a vingança (Harold Bloom). Hamlet monta um jogo, sabendo que a vingança saberá a pouco se o for apenas com a espada. Teatro, teatro, teatro… Nesta peça que contém peças, discorre-se sobre o significado do teatro, os actores, as técnicas de representação, os diferentes públicos. Teatro, teatro, teatro… É um exagero, como se Shakespeare quisesse que o seu público se afogasse em tanta teatralidade. (Harold Bloom). Hamlet é dramaturgo e poeta, Hamlet é o melhor dos actores. O que, daquilo que diz, é verdade? Quando estará a representar? Quando estará a falar a sério? Estará lúcido ou louco? Amargurado ou frio? Teatro, teatro, teatro… Em que acreditar?

azuki
 
  Hamlet e a arte da representação
Hamlet:

Diz a tirada que te dei tal e qual; mas sem hesitações, pois se a mastigas como alguns dos teus actores, prefiro que seja o pregoeiro da cidade a declamar-me os versos. Não serres muito o ar com as mãos. Nada de esbracejar; tudo comedidamente pois que até na torrente, na tempestade e, podemos dizê-lo, no próprio ciclone da paixão é possível a temperança que lhe dá suavidade. Cortar-se-me-ia a alma ouvir um latagão de cabeleira a esfarrapar uma paixão, pô-la em rodilhas e rebentar com os tímpanos da geral (…)

Mas não sejais também frio em demasia: deixa que teu bom senso te guie. Que o gesto sirva a palavra como esta ao gesto sirva e a acção explique; com esta nota especial: Se violentas o pendor da Natureza exagerando, infringes a finalidade do teatro que até hoje, desde o seu princípio, foi e é ser espelho da Natureza, mostrar a virtude tal como ela é e da infâmia dar o seu cariz exacto, dar à idade e às vidas o corpo, o tempo, a forma que mais lhe convém. Exageros ou expressão que chega tarde podem fazer rir o ignorante mas apenas ofende o gosto do conhecedor cuja crítica vale mais do que o aplauso de uma sala cheia de burros.


(Hamlet - Acto III, Cena I)

azuki
 
 
REI: ...mas porque acho que o amor se sujeita ao tempo, vejo que, ao ser posto à prova, também modera o tempo e a centelha e o fogo de seu ardor. Na própria chama do amor vive uma espécie de pavio ou mecha que acaba enfraquecendo-a. Nada existe que se mantenha permanentemente no mesmo grau de bondade, visto que esta, aumentando até a pletora, morre no próprio excesso. O que quiséssemos fazer, deveríamos fazer no momento de querer, porque esse "querer" muda e sofre tantas diminuições e adiamentos quantos sejam os lábios, as mãos e os acidentes por que atravessa e então esse "dever" transforma-se numa espécie de suspiro dissipador que causa dano ao ser exalado.

Ato IV, Cena VII

Gabriel
 
sábado, janeiro 28, 2006
 
«I loved Ophelia, forty thousands brothers
Could not with all their quantity of love
Make up my sum...»


Acto V, Cena 1


Ophelia, de John Everett Millais (e talvez a mais famosa - pelo menos é aquela a que sempre associo a personagem)
Fonte: The Ophelia Page

nastenka-d
 
 

Ophelia, De Ernest Herbert
Fonte: Ophelia - Inspired Art

nastenka-d
 
 
«There's rosemary, that's for remembrance; pray,
love, remember: and there is pansies. that's for thoughts.
There's fennel for you, and columbines: there's rue
for you; and here's some for me: we may call it
herb-grace o' Sundays: O you must wear your rue with
a difference. There's a daisy: I would give you
some violets, but they withered all when my father
died.»


Acto IV, Cena 5

nastenka-d
 
 
«Get thee to a nunnery, why wouldst thou be a breeder of sinners? I am myself indifferent honest, but yet I could accuse me of such things, that it were better my mother had not borne me: I am very proud, revengeful, ambitious, with more offences at my beck, than I have thoughts to put them in, imagination to give them shape, or time to act them in: what should such fellows as I do crawling between earth and heaven? We are arrants knaves all, believe none of us - go thy ways to a nunnery...»

Acto III, Cena 1


De John W. Waterhouse
Fonte: Ophelia - Inspired Art

nastenka-d
 
 

Hamlet

Vindes repreender vosso filho muito indolente por ter deixado passar o tempo e arrefecer a cólera, desprezando a importante execução das vossas ordens terríveis? Dizei:


Espectro


Não te esqueças; esta visita tem por fim espicaçar a tua resolução quási amortecida até agora! Mas repara!
tua mãe está completamente assombrada, ela e a sua alma lutam conjuntamente! Oh! Mete-te de permeio; nos corpos mais fracos é que a imaginação actua com mais força. Fala-lhe, Hamlet.

...

Rainha
Com quem estais vós a falar?

Hamlet
Não vedes com quem é?


Rainha
Não; e todavia vejo bem tudo quanto nos rodeia
...


Hamlet
Mas olhai melhor. Não vêdes como êle se retira sem o menor ruído? É meu pai, tal como quando vivia. Reparai; ei-lo que neste momento vai transpôr a porta.


Rainha
Tudo isso é produto do teu cérebro; essa aparição incorpórea é uma das criações fantásticas do teu delírio.


Hamlet
Do meu delírio?! O meu pulso bate com a mesma regularidade do vosso; canta a mesma música de saúde......não, não é loucura que fala: é o vosso crime


Acto Quarto
Scena IV

Troti

 
  Terraplanar
O enorme carisma do príncipe não pode deixar de nos fascinar, mas há certos traços em Hamlet que me são particularmente desagradáveis. Porque vislumbro algum distanciamento, quiçá um certo enfado, que lhe permite destinar a Ofélia uma imensa crueldade e ser quase indiferente às mortes que provocou (ainda que se veja rodeado de gente infame, oportunista, tola, velhaca,..). Quando se está em sofrimento intenso, a agressividade torna-se sádica. Hamlet chega a ser injusto com os outros e é injusto consigo próprio. Como se a descrença e o desapontamento justificassem a impiedade. Como se a amargura nos desse legitimidade para terraplanar tudo o que existe à volta.

Bom fim-de-semana a todos. Ouçam Mozart.

azuki
 
sexta-feira, janeiro 27, 2006
  Uma sala cheia de burros
Exageros ou expressão que chega tarde podem fazer rir o ignorante mas apenas ofende o gosto do conhecedor cuja crítica vale mais do que o aplauso de uma sala cheia de burros. Como se sentiria a sala ao ouvir esta frase? Estaria Shakespeare a dizer que o seu público era um conjunto de energúmenos? O que faz um energúmeno quando percebe que lhe estão a chamar energúmeno? Começa a refrear aplausos? Esforça-se por pensar que aquilo que se está a dizer não é aquilo que se está a dizer? Imagina-se fazendo parte de um vastíssimo público de conhecedores? Não dá importância ao caso porque, afinal, se trata apenas de uma peça de teatro? Abandona a sala e exige um reembolso? Será que o energúmeno que percebe que lhe estão a chamar energúmeno deixa de merecer que lhe chamem energúmeno? Como se sentirá uma sala ao ouvir esta frase?

azuki
 
 
Hamlet
Oh! coração não percas a tua bondade natural!
...
Que da minha boca saiam punhais, mas que as minhas mãos não empreguem nenhum.
...
oh! Minha alma, não consintas que me exceda nos meus actos.


Acto terceiro
Scena II

Troti
 
  Ironia trágica
Nas palavras de Harold Bloom, a de Hamlet é uma ironia trágica. Através dos seus jogos de ironia, Hamlet vai como que passando o interlocutor por uma espécie de máquina trituradora, causando-lhe desconforto e perplexidade. Ou não fosse Hamlet intelectualmente superior e profundamente ambíguo... ou não fosse a ironia algo de profundamente ambíguo. Os receptores desse discurso de equívocos, sem perfeita noção do que se está a passar, conseguem, contudo, intuir que não é um louco quem fala.

Bom dia!!
azuki
 
 
Rosencrantz

...recusando-vos a revelar aos vossos amigos os vossos desgostos, encarcerais em vós mesmo a vossa própria liberdade.

Acto terceiro
Scena II

Troti
 
 
Gonzaga

...os nossos pensamentos pertencem-nos; a realização deles não nos pertence.

Acto Terceiro
Scena II

Troti
 
 
Hamlet

Dai-me um homem que não seja escravo da paixão, eu o trarei perto do meu peito.; sim, eu o trarei no coração do meu coração...

Acto Terceiro
Scena II

Troti
 
 
Rei
...Há na sua alma qualquer cousa que é a origem da sua melancolia; quando essa cousa desabrochar, temo muito que o resultado seja perigoso.

Acto Terceiro
Scena I

Troti
 
 
REI: Minhas palavras voavam para o alto, meus pensamentos permanecem na terra; palavras sem pensamentos, nunca para o céu vão.

Ato III, Cena III

Gabriel
 
 
ATOR REI: Acredito que penseis o que agora estais falando; mas, comumente, rompemos nossas resoluções. A intenção nada mais é que escrava da memória: violenta ao nascer, mas de pouco valor. Agora, está aderida à árvore como fruto verde; mas cai por si só, nem bem se acha madura. É absolutamente inevitável que esqueçamos de pagar a nós mesmos o que a nós devemos. Aquilo a que nos propomos no calor da paixão, acalmada a paixão, é por nós abandonado. A própria violência da dor ou do prazer destrói juntamente com eles suas próprias ações. Onde mais se goza, mais se lamenta a dor; a alegria se aflige e a aflição se alegra ao menor acidente. Nem sempre é perdurável nosso mundo e, assim, não é estranho que até nosso amor mude com nossa sorte, pois é ainda uma questão a resolver, se o amor governa a sorte ou a sorte o amor. Cai o poderoso e vereis os favoritos fugirem dele; sobe o pobre e de seus inimigos faz amigos. E a tal ponto é o amor escravo da sorte que àquele que não o necessita, jamais faltará um amigo e aquele que na penúria experimenta um falso amigo, converte-o imediatamente em inimigo. Mas, para terminar devidamente o que havia começado, nossas vontades e nossos destinos correm por sendas tão opostas, que sempre nossos planos acabam sendo derrubados.

Ato III, Cena II

Gabriel
 
quinta-feira, janeiro 26, 2006
  O herói hesitante
«Why, what an ass am I. This most brave,
That I, the son of a dear father murderer,
Prompted to my revenge by heaven and hell,
Must like a whore unpack my herat with wodrs, And fall a-cursing like a very drab;
A stallion!»


Acto II, Cena 2

nastenka-d
 
 
Uma das primeiras sensações que tive ao ler Hamlet foi a de reconhecimento: eu li o texto com quel relê. Talvez pelas peças, recordo: um Hamlet e o seu duplo no Teatro Nacional São João. Mas a sensação foi próxima à que tive quando vi a primeira encenação de Ricardo Pais; teria eu já visto o filme com Laurence Olivier antes do último Verão? Ou seria apenas aquilo que Calvino (ah!, um teaser!) diz acerca dos clássicos: que deles não se podem fazer senão releituras?
nastenka-d
 
 
Hamlet

Eu sou razoavelmente honesto e contudo poderia acusar-me de tais cousas...
sou excessivamente orgulhoso, vingativo, ambicioso, assaltado por mais tentações de pecados do que pensamentos para os ouvir, imaginação para lhes dar forma, tempo para ceder a eles. Onde está a utilidade de existências como a minha, rastejantes entre o céu e a terra? Nós somos todos uns refinados patifes...

Acto terceiro
Scena I

Troti
 
 
Hamlet

Ser ou não ser, eis a questão. Qual será o partido mais nobre? Suportar as pedradas e as frechadas da fortuna cruel ou pegar em armas contra um mundo de dores e acabar com elas, resistindo? Morrer, dormir, nada mais; dizer que pelo sono poderemos curar um mal do coração e os mil acidentes naturais a que a nossa carne está sujeita – é, na verdade, um desenlace que todos nós fervorosamente podemos desejar. Morrer! dormir; - dormir, sonhar talvez? Sim, aqui está o ponto de interrogação: quais são os sonhos que teremos no sono da morte, quando escaparmos a esta tormenta da vida? Isto obriga-nos a reflectir. É tal reflexão que prolonga por tão largo tempo a vida do miserável: quem quereria suportar, na realidade, as chicotadas e os desprezos doa tempos que vão correndo, as injustiças do déspota, as afrontas do orgulhoso, as torturas do amor incompreendido, os vagares da justiça, a insolência dos poderosos, os pontapés que o mérito paciente recebe dos indignos, quando para si mesmo podia alcançar a paz com a simples ponta dum punhal? Quem quereria gemer, suar sob o peso duma vida de canseiras, sem receio dalguma cousa depois da morte, essa região desconhecida donde nenhum viajante volta? Eis o que embararaça a vontade e nos decide a suportar os males de que sofremos, com medo de irmos encontrar outros que não conhecemos. É assim que a consciência faz cobardes de nós todos; é assim que as cores naturais da nossa resolução mais firme empalidecem perante o frouxo clarão do pensamento doentio e os projectos de grande alcance e de grande importância, graças a esta consideração, mudam de rumo e voltam ao nada da imaginação.

Acto terceiro
Scena I

Troti
 
 
"To be, or not to be: that is the question". - (Act III, Scene I).

Hamlet


Troti
 
 
Hamlet

...Que infame e grosseiro velhaco eu sou!


...

Eu,pobre estúpido e coração de lama...
Serei eu um covarde?


...

é evidente que tenho fígados de pombo e não possuo fel para dar à tirania o amargor que lhe devia dar!
Oh! Que estúpido sou! Ora aqui está a minha coragem eu, filho dum pai assassinado, eu a quem o céu e o inferno incitam à vingança, estou aqui apenas a aliviar o meu coração com palavras, como uma rameira, estou aqui a preguejar como uma cozinheira, como qualquer esfregão! Vergonha das vergonhas! À vossa missão, meu pensamento!


...

O espírito que me falou é talvez o diabo: o diabo tem o poder de se vestir sob uma forma agradável à vista: sim, talvez queira tirar partido disto, para me condenar pela minha fraqueza e pela minha melancolia, porque ele tem muito poder nas almas da natureza da minha...Devo caminhar por terreno mais firme do que este...

Acto Segundo
Scena II

Troti
 
  A propósito de ser ou não ser
Um poema de Franscico Octaviano que contém um verso idêntico à fala de Hamlet:

Morrer... Dormir...

Morrer... Dormir... não mais! Termina a vida
E com ela terminam nossas dores.
Um punhado de terra, algumas flores,
E às vezes uma lágrima fingida!

Sim! minha morte não será sentida;
Não deixo amigos, e nem tive amores,
Ou, se os tive, mostraram-se traidores,
Algozes vis de uma alma consumida.

Tudo é pobre no mundo. Que me importa
Que ele amanhã se esb'roe e que desabe,
Se a natureza para mim é morta!

É tempo já que o meu exílio acabe...
Vem, pois, ó morte, ao nada me transporta!
Morrer... dormir... talvez sonhar... quem sabe?

Gabriel
 
 
GUILDENSTERN: Logo, somos os favoritos da Fortuna.

HAMLET: Das partes secretas da Fortuna? Oh! nada mais verdadeiro; é uma prostituta. Quais são as notícias?

ROSENCRANTZ: Não existe nenhuma, meu senhor, exceto que o mundo está-se tornando honrado.

HAMLET: É que está próximo o dia do Juízo Final; mas esta notícia que estais dando, não é verdadeira. Permiti que vos faça perguntas mais detalhadas. Que fizestes à Fortuna, meus bons amigos, para que ela vos enviasse para esta prisão?

GUILDENSTERN: Prisão, meu senhor?

HAMLET: A Dinamarca é uma prisão.

ROSENCRANTZ: Então, o mundo também é.

HAMLET: Uma boa prisão, na qual existem muitas celas, calabouços e masmorras, sendo a Dinamarca uma das piores.

ROSENCRANTZ: Não julgamos assim, meu senhor.

HAMLET: Pois então não o será para vós. Nada em si é bom ou mau; tudo depende daquilo que pensamos. Para mim, é uma prisão.

ROSENCRANTZ: É que vossa ambição vos persuade que seja um cárcere. É apertada demais para vosso espírito.

HAMLET: Oh! meu Deus! Poderia ficar confinado numa casca de noz e, mesmo assim, considerar-me-ia rei do espaço infinito, não fossem os maus sonhos que tenho.

GUILDENSTERN: Sonhos que, verdadeiramente, são ambição, visto que a própria substância da ambição é meramente a sombra de um sonho.

HAMLET: O próprio sonho não passa de uma sombra.

Ato II, Cena II

Gabriel
 
  Os bons conselhos de um pai
Polónio sempre foi tolo e velhaco e é alguém que manda espiar o filho e que monta pequenas tramas usando a filha. Contudo, é também um pai capaz de dar ao filho conselhos destes: conhece-te a ti próprio, não te precipites, sê simples mas nunca vulgar, aceita e prende a ti os verdadeiros amigos, pensa sempre antes de falar, não acredites em tudo o que se diz, guarda alguma prudência face a quem se aproxima, evita a luta ainda que procures sair vencedor, sê atento mas pensa por ti, sê humilde mas reserva a tua opinião, gasta apenas o que tens, não emprestes nem peças emprestado, Acima de tudo sê sincero para contigo mesmo, / Donde virá, como a noite segue o dia, / Que para ninguém falso serás. O que me ocorre dizer é que cada pessoa é uma caixinha de surpresas.

Bom dia!!
azuki
 
  Diagnóstico
POLÔNIO:

...e ele, vendo-se desdenhado, para abreviar a história, caiu na tristeza, depois no fastio, em seguida na insônia, desta no abatimento, mais tarde na instabilidade e, por este declive, passou à loucura onde agora delira, o que todos nós deploramos.

Como são, às vezes, engenhosas as respostas dele! Felicidade que só acontece com a loucura e que nem a mais sã razão e lucidez poderiam atingir com tanta sorte.

Ato II, Cena II

Impossível não lembrar Chesterton - em que pese todo o plano de Hamlet: "o louco é aquele que perdeu tudo, menos a razão".

Gabriel
 
quarta-feira, janeiro 25, 2006
  Hamlet e Orestes: a vingança da morte do pai
Uma mulher não mata o marido, mesmo que este tenha assassinado a filha de ambos. É contra a lei do Cosmos e o poder de Apolo exige que o crime seja punido pelo familiar mais próximo da vítima. Quando, para vingar a morte do pai, Orestes se interroga: Pílades, que hei-de eu fazer? Será que posso matar uma mãe?, tal não se traduz num conflito interior. É apenas um espasmo emocional de alguém que, apesar de vacilar (ou não fosse ele um personagem trágico), está seguro do que deve ser feito. Hamlet é diferente de Orestes. Hamlet tem dúvidas e, por isso, está bem mais próximo de nós.

azuki
 
  No! I am not Prince Hamlet, nor was meant to be
“Prufrock e Outras Observações” (Assírio & Alvim), de T. S. Eliot, foi o vencedor de 2005 da categoria Poesia, na votação realizada pelos leitores do Mil Folhas e do programa Livro Aberto.

(…)
No! I am not Prince Hamlet, nor was meant to be;
Am an attendant lord, one that will do
To swell a progress, start a scene or two,
Advise the prince; no doubt, an easy tool,
Deferential, glad to be of use,
Politic, cautious, and meticulous;
Full of high sentence, but a bit obtuse;
At times, indeed, almost ridiculous—
Almost, at times, the Fool.

(…)

“The Love Song of J. Alfred Prufrock”
T.S. Eliot, “Prufrock and Other Observations”, 1917

azuki
 
  Volúpia, o teu nome é mulher
(ou ainda: és pouco misógino, és)

«That it should come to this,
But two months dead, nay not so much, not two,
So excellent a king, that was to this
Hyperion to a satyr, so loving to my mother,
That he might not beteem the winds of heaven
Visit her face too roughly — heaven and earth
Must I remember! why, she would hang on him
As if increase of appetite had grown
By what it fed on, and yet within a month,
Let me not think on’t... frailty thy name is woman!
A little month or ere those shoes were old
With which she followed my poor father’s body
Like Niobe all tears, why she, even she —
O God, a beast that wants discourse of reason
Would have mourned longer — married with my uncle,
My father’s brother, but no more like my father
Than I to Hercules, within a month,
Ere yet the salt of most unrighteous tears
Had left the flushing in her galléd eyes
She married. O most wicked speed... to post
With such dexterity to incestuous sheets!»


(Acto II, cena 2)

Aliás, eu apenas desculpo a misoginia da frase pela sua beleza. O que me coloca um problema ético de não somenos importância (e não muito inédito, também): podemos amar algo pela sua forma, independentemente do seu conteúdo? Apesar do seu conteúdo?
nastenka-d
 
 
Hamlet
Que obra-prima o homem! Como é nobre a sua razão! Como são infinitas as suas faculdades! Como são expressivas e admiráveis a sua forma e o seu movimento! Como pelos actos se parece com um anjo! Como pela inteligância se parece com um deus; É a beleza do mundo! O tipo supremo dos sêres criados! E contudo para mim o que é essa quinta essência de pó?

...


Há aí alguma coisa que é superior à natureza; assim a filosofia pudesse descobrir o que é.

Acto Segundo
Scena II

Troti
 
 
"What a piece of work is man! how noble in reason! how infinite in faculty! in form and moving how express and admirable! in action how like an angel! in apprehension how like a god! the beauty of the world, the paragon of animals! ". -
Act II
Scene II

Troti
 
 
POLÔNIO: Ainda estás aqui, Laertes? Para bordo! Que vergonha! O vento está soprando na popa de teu navio e só se espera a tua chegada. Aproxima-te. Que minha bênção te acompanhe, bem como estes poucos preceitos que confio à tua memória: Pensa antes de falar e pensa antes de agir. Sê familiar, mas nunca vulgar. Os amigos que tiveres e cuja adoção puseres à prova, sujeita-os à tua alma com arcos de aço, mas não calejes a palma de tua mão com apertos a todo sujeito mal saído ainda implume da casca do ovo. Tem cuidado em não entrar em querela, mas, uma vez nela, faze tudo para que teu contrário sinta temor. Presta ouvido a todo mundo, mas a poucos a tua voz. Escuta as censuras dos demais, porém reserva teu juízo. Que tua roupa seja tão custosa quanto tua bolsa o permitir, mas sem afetação; rico, mas não extravagante, porque a roupa revela o homem e, na França, as pessoas de mais alto conceito e posição são, a este respeito, de finura e distinção. Não peças nem dês emprestado a ninguém, pois emprestar faz perder ao mesmo tempo o dinheiro e o amigo e, pedir emprestado, embota o fio da economia. E isto acima de tudo: sê sincero contigo mesmo e disto se seguirá, como a noite segue o dia, que não poderás ser falso com quem quer que seja. Adeus! Que minha bênção faça frutificar tudo isto em ti!

Ato I, Cena III
Tradução de Oscar Mendes e F. Carlos de Almeida Cunha Medeiros

Gabriel
 
terça-feira, janeiro 24, 2006
 
HAMLET

ACT IV. SCENE V.
ELSINEUR; A ROOM IN THE CASTLE.

KING, QUEEN, LAERTES, OPHELIA, &c.



Ophelia. THERE'S fennel for you, and columbines:—there's rue for you; and here's
some for me:—we may call it herb-grace o' Sundays:—oh, you must wear your rue with a difference.—There's a daisy':—I would give you some
violets; but they withered all, when my father died:— They say, he made a good end,—
For bonny sweet Robin is all my joy,—
Laer. Thought and affliction, passion, hell itself, She turns to favour, and to prettiness.
Oph. And will he not come again?
-And will he not come again?
No, no, he is dead,
Go to thy death-bed,
He never will come again.
His beard as white as snow,
All flaxen was his poll:
He is gone, he is gone,
And we ca'st away moan:
Gramercy on his soul!
And of all Christian souls!' I pray God. God be wi' you!
Laer. Do you 'see this, O God? [Exit Ophelia.

Painted by Benjamin West, President R. A. Engraved by Francis Legat.


Troti
 
 
Hamlet
As cousas são boas ou más, conforme o nosso juízo....
...


Meu Deus! Eu poderia estar metido numa casca de noz e considerar-me rei dum imenso território, se não tivesse sonhos maus.

...


Um sonho não é mais do que uma sombra.

Acto Segundo
Scena II

Troti
 
  to know in what position Shakespeare sat when he began "To be or not to be"
Shakespeare é um dos dramaturgos da sua época de quem mais se sabe e, no entanto, temos dúvidas acerca das suas feições... E esses momentos que não mais deixarão de nos marcar? Escreveu Keats, grande poeta inglês morto aos 25 anos, numa das suas notáveis cartas: The fire is at its last click - I am sitting here with my back to it with one foot rather askew upon the rug and the other with the heel a little elevated upon the carpet...Could I see the same thing done of any great Man long since dead it would be a great delight: as to know in what position Shakespeare sat when he began "To be or not to be".

Pergunto-me se acrescentaria conhecer os pormenores dos minutos da História que, de alguma forma, moldaram a nossa humanidade… onde estaria Shakespeare, qual a sua expressão, que roupa usava, em que posição se encontrava, que hora seria? Será que chegaria até nós um Hamlet diferente?

Dado o mote, feita a descrição, ficando muito por dizer e ainda mais por explicar, há a delícia que significa envolver algo com a nossa criatividade, percorrendo a admiração, a surpresa, a interrogação. Um caminho para além das imagens, que se alimenta de desejos, de ecos, de sonhos, de nós, de miragens, de pequenos fragmentos do real, de mistério. Entre uma cena erótica vista e uma cena erótica lida, há espíritos para quem a última será sempre mais forte. Eu consigo entender porquê.

Bom dia!!
azuki
 
  Frescor
É impressionante como as frases mais famosas de Shakespeare não perdem o frescor, se lidas na fonte original. Mesmo com o intenso e contínuo desgaste de "ser ou não ser, eis a questão", "há algo de podre no reino da Dinamarca", etc, dentro do contexto as falas têm o vigor reconstituído, como se fosse um copo d'água para quem tem sede.

Gabriel
 
segunda-feira, janeiro 23, 2006
  Sobre a vingança: a Síndrome de Schadenfreude
Mesmo a propósito, encontrei isto, uma referência à Síndrome* de Schadenfreude, n’A Origem das Espécies (um certo prurido impede-me de linkar, todos sabem o que é e de quem é, quando eu for grande eu linko).

* em talhe de foice, deixo esta pequena nota: pode-se dizer o síndromo, a síndroma ou a síndrome (embora seja relativamente comum encontrar apenas as duas últimas).

azuki
 
 
HAMLET

ACT I. SCENE IV.
A PLATFORM BEFORE THE CASTLE OF ELSINEUR.

HAMLET, HORATIO, MARCELLUS, AND THE GHOST.




Hamlet. IT wafts me still:—Go on, I'll follow thee.
Mar. You shall not go, my lord.
Ham. Hold off your hand.
Hor. Be rul'd, you shall not go.
Ham. My fate cries out,
And makes each petty artery in this body
As hardy as the Nemean lion's nerve.—
[Ghost beckons. Still am I call'd;—unhand me, gentlemen;
[Breaking from them. By heaven, I'll make a ghost of him that lets me:
I say, away:—Go on, I'll follow thee.

Painted by Henry Fuseli, R. A. Engraved by Robert Thew


Troti
 
  Fatalidade maldita
Hamlet
Oh! Anjos e núncios do perdão, defendei-me!Quer sejas um espírito bemdito, quer uma alma condenada, quer tragas contigo os perfumes do céu ou as exalações do inferno, quer as tuas intenções sejam maléficas ou caritativas, tu, que me apareces debaixo duma forma tão inquietadora, quero-te falar. Chamo por ti, oh!...responde-me! Não me deixes sucumbir sob a angústia da minha ignorância....Que vens aqui fazer, tu, corpo morto, armado de ponto em branco? Voltas a ver o luar, enchendo a noite de terror e fazes estremecer tão horrívelmente a nossa era com pensamentos que excedem o alcance das nossas almas, a nós que somos ludíbrio ignorante da natureza? Dize-me porquê e para quê? Que devemos fazer?


...

...que motivo tenho eu para recear? Pelo que respeita à minha vida, ligo-lhe menos importância do que a um alfinete; quanto à minha alma, que mal lhe pode fazer, se ela é de essência imortal?

...


O meu destino chama-me em voz alta...

Acto Primeiro
Cena IV


Hamlet
Fala; o meu dever é ouvir-te.


Espectro
E também o de me vingares quando me tiveres ouvido.

...eu sou a alma de teu pai

...durante o meu sono, fui privado ao mesmo tempo da minha vida, da minha corôa, da minha rainha...
se tu tens coração não consintas em semelhante coisa...



Hamlet
...Isto anda fora dos eixos! Ó fatalidade maldita! Para que nasceria eu? Para endireitar o mundo?


Acto Primeiro
Scena V

Troti
 
 
Marcelo

Há seja o que fôr de pôdre no Reino da Dinamarca.

Acto Primeiro
Scena IV

Troti
 
domingo, janeiro 22, 2006
  Quem é Hamlet?
Uma figura principal, de uma peça grandiosa, de um extraordinário escritor?
Não pode ser. Porque as suas palavras ultrapassam a nervura da acção e entram em nós, Hamlet passa a ser a nossa dúvida existencial. Porque todos nós nos colocamos a questão que ele vai lançar e que o vai tornar imortal. Porque todos nós queremos ser actuantes no mais difícil desígnio e fracassamos. Porque todos desejamos o bem e vivemos com o mal. Porque todos almejamos a sublimação mas sabemos que não a conseguimos. Porque todos somos de carne e osso e fibra e sol e sentido e garra e sonho e somos nada.

Troti
 
 
Hamlet

...a gota dum mal infecciona toda a nobre substância com o seu contágio.

Acto Primeiro
Scena IV

Troti
 
 
Horácio

...o ar corta e morde.

Acto Primeiro
Scena IV

Troti
 
 
Laertes

...a virtude não escapa aos botes da calúnia
...
o medo é a melhor garantia de segurança.
...
a juventude é rebelde contra si mesma, ainda que não tenha ninguém a excitá-la.


Acto Primeiro
Scena III

Troti
 
 
Hamlet

As acções indignas hão-de aparecer sempre; não há terra que as oculte aos olhos dos homens.

Acto Primeiro
Scena II

Troti
 
 
Hamlet

Oh! Se esta carne compacta pudesse fundir-se, liquefazer-se, transformer-se em orvalho! Se o Eterno não tivesse formulado decretos contra o suicídio! Meu Deus! Meu Deus! Como são fastidiosos, gastos, vulgares, os bens terrestres! Que mundo êste! Oh! É um jardim inculto em que crescem as ervas bravas!

Acto Primeiro
Scena II

Começam muito cedo as divagações de Hamlet sobre a fuga à vida.


Troti
 
 
Hamlet

…não conheço aparências.

Acto Primeiro
Scena I I


Nota: A edição que estou a ler tem tradução do Dr. Domingos Ramos, é da Livraria Lello e Irmão - editores e não apresenta data de impressão.

Troti
 
sábado, janeiro 21, 2006
  A primeira vez – Hamlet e Dom Quixote
Leio o Hamlet pela terceira vez e o que guardo das leituras anteriores, feitas de forma desenquadrada e leve, não passa de reminiscência longínqua.

O herói do primeiro romance moderno é um leitor, Alonso Quijano, que vendeu terras para comprar livros e até se esqueceu de gerir o seu património. O senhor de Dulcineia é um solitário. Ler é um acto de isolamento e um leitor far-se-á sempre acompanhar por um silêncio muito próprio. Contudo, sei que os momentos únicos e o olhar novo que os livros nos proporcionam serão enriquecidos pela comunhão que o Leitura Partilhada significa.

As minhas duas leituras anteriores irão apagar-se. Esta sim, esta é a primeira vez.

azuki
 
  Hamlet no divã de Freud
(...) a lenda grega capta uma compulsão que todos reconhecem, pois cada um pressente sua existência em si mesmo. Cada pessoa da platéia foi, um dia, um Édipo em potencial na fantasia, e cada uma recua, horrorizada, diante da realização de sonho ali transplantada para a realidade, com toda a carga de recalcamento que separa seu estado infantil do estado atual.(26)Essa compulsão que todos reconhecem na tragédia do destino de Édipo, Freud também a vislumbra no destino, não menos trágico, de Hamlet. Como diz Freud,
A partir da compreensão dessa tragédia do destino só restava um passo para compreender uma tragédia de caráter ? Hamlet, objeto de admiração por trezentos anos, sem que seu significado tivesse sido descoberto ou os motivos de seu autor advinhados.(27)Pensa então Freud que um acontecimento real na vida de Shakespeare o tenha impulsionado a representá-lo em Hamlet. A questão da hesitação em Hamlet em vingar o assassinato de seu pai, perpretado pelo irmão deste, se constitui para Freud como passível de receber uma explicação, a partir da teoria psicanalítica. Freud considera que a hesitação de Hamlet quanto a esta tarefa 3?4 ao ser contraposta a sua ausência de escrúpulos, ao mandar seus cortesãos à morte, ao matar Polônio, e, ao lançar-se a um embate mortal com Laertes 3?4 só poderia ser explicada pela \"obscura lembrança de que ele próprio havia contemplado praticar a mesma ação contra o pai, por paixão pela mãe\"(28). A hesitação de Hamlet é devida ao seu sentimento inconsciente de culpa, que Freud encontra na fala de Hamlet a Polônio no Ato II, Cena II: \"Use every man after his desert, and who should scape whipping?\"(29), traduzido por \"se tratarmos as pessoas como merecem, nenhuma escapa ao chicote.\"(30)
...
Mas, retornando a Hamlet, Freud coloca que neste estamos perante as mesmas determinantes que norteiam (ou desnorteiam) Édipo, ou seja, os impulsos incestuosos-parricidas. Só que em Hamlet, em função do avanço do recalque que ocorreu no largo intervalo de tempo que separa as duas produções literárias (pois, para Freud, o avanço da civilização é concomitante a uma amplitude do recalque, ou seja, quanto mais civilização, mais recalque, e, com isso, mais mal-estar na civilização), esses impulsos permanecem recalcados; enquanto, em Édipo, a fantasia infantil é realizada, isto é, Édipo realmente mata o pai e casa-se com a mãe, a tragédia de Hamlet, em função do recalque, se apresenta ao modo de uma neurose; em Hamlet o enigma não recebe resposta, o caráter do herói permanece enigmático.
O traço de caráter que é o sintoma principal em Hamlet é, como já vimos, a sua hesitação em realizar a vingança da morte de seu pai, matando seu tio fratricida que se tornou seu padastro, ao casar-se com sua mãe
...
Para Freud, a razão da hesitação de Hamlet em vingar seu pai, continua sendo o fato de seu tio ter realizado uma ação que havia sido desejada pelo próprio Hamlet quando de sua infância. Com isso, o ódio sentido pelo tio-padrasto é \"substituído por auto-recriminações, por escrúpulos de consciência, que o fazem lembrar que êle próprio, literalmente, não é melhor que o pecador que deve punir.\"(40)
...
Freud conclui esta análise de Hamlet, alegando que do mesmo modo que os sintomas neuróticos e os sonhos, as obras dos escritores verdadeiramente criativos possibilitam “super-interpretações”, ou seja, todos esses fenômenos são produções de mais de um impulso na mente (tanto na do poeta, quanto na do neurótico comum), e \"estão abertos a mais de uma interpretação isolada


Marcos Chedid Abelhttp://http://www.antroposmoderno.com/antro-version-imprimir.php?id_articulo=475.

Troti
 
 
"The seeming inconsistencies in the conduct and character of Hamlet have long exercised the conjectural ingenuity of critics; and, as we are always loth to suppose that the cause of defective apprehension is in ourselves, the mystery has been too commonly explained by the very easy process of setting it down as in fact inexplicable, and by resolving the phenomenon into a misgrowth or lusus of the capricious and irregular genius of Shakspeare. The shallow and stupid arrogance of these vulgar and indolent decisions I would fain do my best to expose. I believe the character of Hamlet may be traced to Shakspeare's deep and accurate science in mental philosophy. Indeed, that this character must have some connection with the common fundamental laws of our nature may be assumed from the fact, that Hamlet has been the darling of every country in which the literature of England has been fostered. In order to understand him, it is essential that we should reflect on the constution of our own minds. Man is distingtuished from the brute animals in proportion as thought prevails over sense: but in the healthy processes of the mind, a balance is constantly maintained between the impressions from outward objects and the inward operations of the intellect;—for if there be an overbalance, in the contemplative faculty, man thereby becomes the creature of mere meditation, and loses his natural power of action. Now one of Shakspeare's modes of creating characters is, to conceive any one intellectual or moral faculty in morbid excess, and then to place himself, Shakspeare, thus mutilated or diseased, under given circumstances. In Hamlet he seems to have wished to exemplify the moral necessity of a due balance between our attention to the objects of our senses, .and our meditation on the workings of our minds,—an equilibrium between the real and the imaginary worlds. In Hamlet this balance is disturbed: his thoughts, and the images of his fancy, are far more vivid than his actual perceptions, and his very perceptions, instantly passing through the medium of his contemplations, acquire, as they pass, a form and a colour not naturally their own. Hence we see a great, an almost enormous, intellectual activity, and a proportionate aversion to real action, consequent upon it, with all its symptoms and accompanying qualities. This character Shakspeare places in circumstances, under which it is obliged to act on the spur of the moment:—Hamlet is brave and careless of death; but he vacillates from sensibility, and procrasti-nates from thought, and loses the power of action in the energy of resolve."
Samuel Taylor Coleridge

Troti
 
  You Are Welcome To Elsinore
(acto II, cena 2)
 
 
os sonetos de Shakespeare são confidências que nunca acabaremos de decifrar, pois sentimos imediatas e necessárias.
Jorge Luís Borges

Buenos Aires, treze de dezembro de 1980.

A POESIA DE WILLIAM SHAKESPEARE
Jorge Luís Borges
Trad. Diego Raphael

Troti
 
  Soneto 94
They that have power to hurt, and will do none,
That do not do the thing they most do show,
Who, moving others, are themselves as stone,
Unmoved, cold, and to temptation slow:
They rightly do inherit heaven’s graces,
And husband nature’s riches from expense;
They are the lords and owners of their faces,
Others, but stewards of their excellence.
The summer’s flower is to summer sweet,
Though to itself it only live and die,
But if that flower with base infection meet,
The basest weed outbraves his dignity:
For sweetest things turn sourest by their deeds;
Lilies that fester smell far worse than weeds.

Eles que podem magoar, mas não,
não fazem coisas neles evidentes,
que movem outros e em si mesmos são
de pedra, imóveis, frios, reticentes,
herdam graças do céu, poupam primores
da Natura a desgaste e decadência,
de suas faces donos e senhores.
Outros são servos só dessa excelência.
Embora para si viva e pereça,
a flor do verão ao verão traz a doçura,
mas basta que se infecte e adoeça,
vil erva vai turvar-lhe a compostura.
Se há feitos que os mais doces mais azedem,
os lírios podres mais que as ervas fedem.

Sonetos Completos de William Shakespeare
Tradução de Vasco Graça Moura

Troti
 
sexta-feira, janeiro 20, 2006
 
É dado ao homem obter aquilo que escolhe e ser o que deseja.

Oração para a Dignidade do Homem
Pico Della Mirandola

Troti
 
 
"Deus nos livre de nós mesmos"
San Juan De La Cruz

Troti
 
  Remate
Ricardo
...não deixemos que sonhos estúpidos impressionem nossas almas. A consciência é uma palavra usada pelos cobardes e inventada para enganar os fortes.Seja um braço vigoroso a nossa consciência, sejam as espadas a nossa lei. Avante...lancemo-nos na confusão da peleja e dando-nos as mãos, à falta do Céu, vamos todos juntos para o Inferno...

Acto Quinto
Cena III

Troti
 
 
"Conscience is but a word that cowards use, devised at first to keep the strong in awe". -
Act V
Cena III

Troti
 
  Diálogo entre mim e eu
Ricardo
...Jesus, tende piedade de mim; mas quê? Era apenas um sonho!Oh!
Consciência cobarde, quanto me fazes padecer!
...
De que tenho receio? De mim mesmo? Estou só: Ricardo tem amor a Ricardo e ainda sou eu. Haverá aqui algum assassino? Não! Há sim, sou eu. Fujamos pois; mas fugir de mim? Sim, e era justo! Porquê? Receando que me vingue...o quê? Eu? De quem? Só se fosse de mim. Mas eu, quero-me. Por que motivo? Por causa dos berns com que me presenteei? Não; tenho ódio a mim mesmo, pelos actos odiosos que cometi. Sou um facínora, mas não, mentes Ricardo, não é tal. Insensato, ao menos tu diz bem de ti; mas não te lisonjeies. A minha consciência tem milhares de vozes; cada voz me brada uma acusação diferente e cada acusação me proclama um celerado...Só no desespero acho um refúgio. Não tenho um amigo no mundo e, se morrrer, ninguém lastimará a minha morte.- E por que me lastimariam, pois que nem mesmo eu posso ter piedade de mim? Pareceu-me que as almas de todos aqueles que assassinei entravam na minha tenda, e que cada um deles chamava para amanhã a vingança sobre a cabeça de Ricardo.

Acto Quinto
Cena III

Troti
 
  O cão é morto


Margarida:

Rompe, querido Deus, assim te peço, seu pacto com a vida,
Para que eu possa viver e dizer: "O cão é morto".


Acto IV - Cena IV

azuki
 
  Ricardo III, uma peça poderosa
As três coisas que mais me impressionaram nesta obra: a sua intensidade dramática, a “usurpação” que Shakespeare fez da figura de Ricardo III e a densidade psicológica, focalizada no conflito inerente ao papel do político. Aqui, não encontramos o Homem versus o divino, ou a sociedade, ou o Estado, mas sim o seu relacionamento com essa força que encerra a potencialidade para melhorar a condição humana: o poder. Julgo que analisar esta peça poderia ser um bom exercício para os alunos de Ciência Política.

Esta não é uma história da corrupção de um homem pelo poder, é a história de um homem já corrompido que alcança o poder, da forma como ele o alcança e da forma como ele o perde. Quais os seus vícios e virtudes, como se desenrola o seu pensamento, quais as suas estratégias e técnicas, que objectivos persegue, a destruição que provoca, as vitórias que atinge, que força o derruba. Uma peça difícil, intensa, extraordinária. Uma peça que nos tira ilusões, não podendo deixar de reforçar o nosso cinismo.

azuki
 
  Contrastes II
Ricardo
...tive um sonho temeroso!

...

Richmond
Desde que se retiraram gozei o mais doce sono e tive os sonhos mais felizes que ainda alguém teve dormindo. Pareceu-me que as almas daqueles cujos corpos Ricardo assassinou entravam na minha tenda e me diziam: “Avante!Vitória!” A lembrança de um tão belo sonho, asseguro-lhes, enche o meu coração de júbilo...


Acto Quinto
Cena III

Troti
 
  Contrastes I
Richmond e Ricardo determinam, com estas simples observações, a orientação do futuro.

Richmond
O Sol, fatigado, recostou-se no seu leito de oiro, e o rato luminoso que deixa após si o seu brilhante carro, promete-nos para amanhã um dia lindo.


...

Ricardo
O Sol não brilha hoje; o céu mostra ao nosso exército uma fronte sombria e rancorosa. Hoje não veremos o Sol!...


Acto Quinto
Cena III

Troti
 
quinta-feira, janeiro 19, 2006
 
KING RICHARD THE THIRD

ACT IV. SCENE III.
LONDON: THE TOWER.

THE BURYING OF THE PRINCES, AS DESCRIBED BY TYRREL



K. Richard. KIND Tyrrel! am I happy in thy news?
Tyr. If to have done the thing you gave in charge Beget your happiness, be happy then, For it is done.
K. Rich. But didst thou see them dead?
Tyr. I did, my lord.
K. Rich. And buried, gentle Tyrrel?
Tyr. The chaplain of the Tower hath buried them;
But where, to say the truth, I do not know.

Painted by James Northcote, R.A. Engraved by William Skelton.



Troti
 
  Palavras de Ricardo - Dissimulação
Ricardo
Naufrague eu na luta contra os meus inimigos armados, se não é verdade, que hoje só nutro o sentimento do bem e do arrependimento. Destrua-me eu a mim mesmo!...

Acto Quarto
Cena IV

Troti
 
  Palavras de Ricardo - Manipulação
Ricardo
É impossível fugir ao próprio destino.

...

Acto Quarto
Cena IV

Troti
 
  Palavras de Ricardo - Desespero
Ricardo
...Ensinou-me a experiência que a irresolução loquaz é a tardia companheira da demora: a demora acarreta a impotente miséria, que caminha lenta como o caracol. ...na minha inteligência encontro a força.

Acto Quarto
Cena III

Troti
 
  Palavras de Ricardo - Sangue
Ricardo
...preciso destruir esperanças que mais tarde me poderiam ser nocivas. Hei-de desposar a filha de meu irmão....Mandar assassinar seus irmãos e em seguida tomá-la por esposa, é um meio bem duvidoso para ser bem sucedido! Mas estou tão manchado de sangue, que um crime deve seguir-se a outro: a piedade lacrimejante não habita em meus olhos.

Acto Quarto
Cena II

Troti
 
  Extremo
Ricardo
Dá-me a tua mão. Ricardo está sentado no trono, pelos teus conselhos, e pelo auxílio que lhe prestaste: mas serão estas grandezas efémeras, serão elas duradouras, gozarei eu sempre delas?
...
Ah Buckingham, vou-te submeter agora à prova da pedra-de-toque, para conhecer se o teu oiro é oiro sem liga. O jovem Eduardo vive.- Vê se percebes?

Buckhingam
Fale, meu adorado soberano.


Ricardo
Digo-te que quereria ser rei.

Buckhingam
Já o é, senhor.

Ricardo
Ah! Sou rei! É verdade; mas Eduardo vive.


Buckhingam
Assim é, meu nobre princípe.


Ricardo
...Deverei pois explicar-me claramente: quero que os bastardos morram; e desejava que fosse já. Que dizes agora? Fala, mas sê breve.

Buckhingam
Vossa Majestade pode fazer o que lhe aprouver.

Ricardo
Quê? Pareces feito de gelo, a tua dedicação arrefece. Fala, consentes que sejam mortos?


Buckhingam
Deixe-se, senhor, consultar o meu espírito, antes de lhe dar sobre o assunto uma resposta definitiva. Em breve Vossa Majestade saberá a minha determinação.(Buckhingam sai)

Ricardo
De hoje em diante só me quero entender com cabeças de ferro, sem cérebro, com loucos: aqueles que querem escrutinar os meus desígnios não me convêm...


Acto Quarto
Cena II

Troti
 
  Ao longo desta leitura, pensei…
Nas vicissitudes de um cargo do qual se espera que se trabalhe em prol do bem comum. Na imensa argúcia que exige este jogo de forças, por forma a congregar apoios e vontades, gerir informação e interesses, antecipar, reconhecer adversários, trabalhar estratégias, enfim, manter em equilíbrio uma complexa e instável rede de relações e de contratos. Nesse estado de permanente desassossego e de tensão que é o exercício do poder mas que, ao mesmo tempo, funciona como um estímulo para certos espíritos. Nas reacções e sujeições ao poder (vide Ana, que aceita casar com o homem que lhe matou o marido e que sabe que irá matá-la), na destruição que este provoca, nas vitórias que alcança. Pensei em meandros e em teias. Em lutas e em alianças. Na ascensão e na queda. Na brevidade dos estados de coisas. Em confronto. Em fascínio.

azuki
 
  Um empecilho chamado CONSCIÊNCIA
Os assassinos de Clarence:

Há poucos que a tenham, ou mesmo ninguém.

**

… é causa de cobardia.

**

Enche um homem de impedimentos.

**

Arruína todo aquele que ficar com ela.

(Acto I – Cena IV)

--

O Rei Ricardo:

Consciência é tão-só uma palavra que os cobardes usam,
Primeiro engendrada para causar temor aos fortes.


(Acto V – Cena III)

--

É bem verdade, a consciência enche um homem de impedimentos.

azuki
 
quarta-feira, janeiro 18, 2006
  A Coroação
Por este diálogo se vê até que ponto Shakespeare pretende desmascarar a capacidade de dissimulação da alma humana. Todas as palavras de Glocester são falsas´.

Buckingham
...seja donzela caprichosa; diga não, mesmo aceitando.

....

solicitamos-lhe, princípe, com a maior instância, que se digne aceitar as rédeas do governo deste país...

Glocester
Sou sobremaneira grato à vossa afeição; mas os meus poucos merecimentos não me permitem aceitar ofertas de uma natureza tão elevada....tenho tão pouca aptidão e tantos defeitos...

Buckingham
...Aceite pois, senhor, e tome nas suas régias mãos essa dignidade que lhe oferecemos...

Glocester
Infeliz! Por que me querem impor o peso de tantos cuidados? Não fui feito, nem para o trono, nem para as grandezas. Conjuro-os, não se ofendam com a minha recusa; não posso nem quero aceder ao seu pedido.
...
Querem absolutamente impor-me esse fardo de dores? Pois bem:...não sou feito de mármore; cedo às suas afectuosas instâncias posto que violente a minha consciência e os meus sentimentos.

Buckhingam
Saúdo-o pois como rei de Inglaterra.

Acto Terceiro
Cena VII

Troti
 
  Piruetas
No terceiro acto, as palavras entram num jogo de piruetas, caprichos e reviravoltas. A dureza da acção e a impotência humana conjugam-se numa espiral de absoluto terrror. As cenas sucedem-se de forma vertiginosa, a mente humana degladia-se na voluntariosidade e na desolação. E os morangos, rubros frutos de deleite, são lágrimas de sangue inocente.

Buckingham
Que havemos de fazer, senhor, se percebermos que Hastings não está disposto a favorecer as nossas tramas?

Glocester
Manda-se decapitar, depois faremos o que for preciso.


Cena I

...................................................................

Catesby
Meu gracioso senhor, é horrível morrer sem estar preparado e quando menos se espera.

Hastings
É horrível, é horrível! Mas é o que ...há-de acontecer a pessoas que se julgam tão seguras como nós dois, que, como bem sabe, estamos nas melhores relações com Ricardo e com Buckingham.

Casteby
Tem-no na melhor conta ( à parte) Em tão boa conta que querem por força ter a sua cabeça.


...

Hastings
....Acredita que, se me não sentisse completamente seguro, teria este ar triunfante que me vê?

Stanley
Os presos de Pomfret, quando deixaram Londres também respiravam alegria e julgavam-se seguros...e contudo vê quão prestes o seu horizonte se anuviou.- Esse golpe súbito, esse acto de vingança, inspira-me receios...

...

Hastings
...Vai à torre?

Buckingham
Vou, mas não me posso demorar lá, hei-de sair antes de Vossa Senhoria.

Hastings
É provável, porque tenciono lá jantar.


Buckhingham ( à parte)
Também lá hás-de cear, apesar de nada suspeitares.~

Cena II

.......................................................................

Glocester
Meu primo Buckhingam, tenho de lhe dar uma palavras ( Chama-o de parte) Catesby sondou Hastings relativamente ao nosso projecto; achou-o inabalável e resolvido a antes perder a cabeça do que consentir que o filho do seu amo, assim o qualifica a sua lealdade, seja despojado dos seus direitos à coroa de Inglaterra.


...

Bispo de Ely
Onde está o Duque de Glocester?
Já mandei buscar os morangos que me pediu.

Hastings
Sua Alteza parece estar esta manhã alegre e satisfeito: é forçoso que duque tenha alguma ideia, que lhe agrade, para que nos desse tão cordialmente os bons-dias esta manhã. Enquanto a mim não há em toda a cristandade ninguém menos capaz de dissimular a afeição ou o ódio;
lê-se-lhe no rosto tudo quanto o coração sente.

Stanley
E que lê no seu rosto, que se passa no seu coração depois das manifestações de hoje?

Hastings
Que não tem malquerença a pessoa alguma das aqui presentes; se houvesse no seu ânimo sentimento contrário, tê-lo-ia dado a conhecer a expressão dos seus olhos.

Glocester
Pergunto a todos, que castigo merecem os que conspiram a minha morte, por danados esconjuros de uma infernal magia...

Hastings

...Quem quer que sejam. Senhor,
digo que merecem a morte.

Glocester
...olhem, o meu braço está descarnado como um tronco seco...
É obra da mulher de Eduardo, dessa monstruosa feiticeira, unida à Shore, a prostituta; foram elas que pelos seus sortilégios assim me marcaram.

Hastings

Se são capazes desse crime, meu nobre senhor...

Glocester
Se são? Porque pronuncias um se, protector dessa danada cortesã? És um traidor...não jantarei, sem que me tragam a tua cabeça decepada.

Hastings
...
Como sou insensato!...
...
Oh! Sanguinário Ricardo! Desditosa Inglaterra! profetizo-te dias mais nefandos, que os que os séculos mais infelizes têm presenciado.


Cena IV

.................................................................


Glocester
Esse homem era-me tão caro que não posso conter as lágrimas; tinha-o na conta da mais franca criatura, do cristão mais inofensivo que respirava sobre a terra; era o livro em que a minha alma escrevia a história dos seus pensamentos mais secretos; era tão hábil em cobrir os seus vícios com a capa da virtude...


Cena V

.......................................................................

O Escrivão
...há cinco horas , ainda Hastings era vivo, insuspeito, não acusado e livre! Bonito mundo é este em que vivemos! Quem será tão estúpido que não descubra o mais palpável artifício? Mas quem terá valor bastante para dizer o que vê? Muito perverso é este mundo! E tudo está perdido sem recurso desde que se vê tanta maldade e forçoso é calar.

Cena VI


Troti
 
 
KING RICHARD THE THIRD

ACT III. SCENE I.
LONDON.

THE PRINCE OF WALES, THE DUKE OF YORK, HIS BROTHER, DUKES OF GLOSTER AND BUCKINGHAM, CARDINAL BOURCHIER, LORD HASTINGS, THE LORD MAYOR, AND HIS TRAIN.




Buckingham
NOW, in good time, here comes the duke of York.

Prince
Richard of York! how fares our noble brother?

York
Well, my dread lord; so must I call you now.

Prince
Ay, brother; to our grief, as it is yours :
Too late he died, that might have kept that title,
Which by his death hath lost much majesty.

Painted by James Northcote, R.A. Engraved by Robert Thew


Troti
 
  O Teatro das Sombras
Os espectros imprimem na noite feridas mortais e marcam a inevitabilidade do seu desígnio. Ricardo será vencido na agonia do desespero.



A Sombra do Princípe Eduardo
Pese a manhã na tua alma a minha memória! Lembra-te que me assassinaste em Tewksbury na primavera da minha vida; morre por isso desesperado!...

A sombra do Rei Henrique
...Lembra-te da torre e de mim e morre no desespero...

A Sombra de Clarence
Pese amanhã na tua alma a memória do infeliz Clarence....morre sem esperança.

A Sombra de Rivers
Seja amanhã a minha memória um peso para a tua alma...Morre desesperado!

A Sombra de Grey
Lembra-te de Grey, e entre o desespero na tua alma.

A Sombra de Vaughan
Recorda-te de Vaughan; e transido de terror, caia-te a lança da mão. Morre na desesperação.

A Sombra de Hastings
Homem sanguinário e criminoso, ergue-te com a consciência do crime, e termina teus dias em sangrenta peleja! Lembra-te de Lord Hastinga, e fina-te desesperado.

As Duas Sombras ( dos filhos de Eduardo)
Lembra-te de teus sobrinhos asfixiados na torre; Pese a nossa memória sobre o teu coração, como uma massa de chumbo, e arremessa-te à ruína, ao opróbio e à morte! As almas dos teus sobrinhos impõem-te a morte e a desesperação.

A Sombra da Rainha Ana
...Morre como réprobo.

A Sombra de Buckingham
...morre possuído do terrror de uma alma culpada! Sonha!, sonha com sangue e mortes! Desespera, e exala o teu último suspiro na agonia do desespero
.

Acto V
Cena II

Troti
 
  Técnicas
Buckingham, obedecendo às ordens de Ricardo, disse aos cidadãos que os filhos de Eduardo eram bastardos, falando da “voracidade insaciável de seu desejo, / E suas violências sobre as mulheres da cidade, / Sua tirania por cousas sem valia, ele próprio ser bastardo, (…).”

Por aqui se vê que estavam familiarizados com a técnica de espalhar boatos, mas ainda lhes faltava alguma mestria na preparação e manipulação de espontâneos ajuntamentos populares, porque os cidadãos ficaram calados que nem petos: “Não, assim Deus me ajude, não disseram palavra alguma, / Mas como estátuas mudas ou pedras que respiram / Olharam-se uns aos outros e pálidos de morte se tornaram.”

Remata-se com esta pérola, também da boca de Buckingham, é técnica quase infalível:
“O Alcaide é aqui por perto. Fingi temor.
Não deixeis que vos fale senão depois de forte insistência.
E não vos esqueça ter na mão um livro de orações,
E permanecer entre dois padres, meu bom senhor,
Que sobre tal farei eu santo sermão.
E não vos deixeis facilmente vencer por nossos rogos,
Fazei de donzela: muito embora digais não, concedei.”

azuki
 
  Em mim próprio por mim próprio não encontro dó
Rei Ricardo

Em desespero cairei. Não há criatura que me ame,
E se eu morrer, ninguém me lamentará…
E porque o fariam, se eu próprio
Em mim próprio por mim próprio não encontro dó?


(Acto V – Cena III)

azuki
 
  O que imagino que Ricardo III nos diria
“Biografias?! Historiadores?! Não, não, não. Por Deus, não. Shakespeare era um dramaturgo e um poeta, não um historiador! O que os senhores se encontram a ler (e, deixem-me adivinhar, torcendo-se todos por pensar que possam existir pessoas como eu) é uma peça de teatro, nunca nada semelhante a uma biografia! Esse “Ricardo III” que aí têm é uma obra cuja dimensão está muito para lá (ou muito aquém, conforme os pontos de vista) do debate histórico. Não digo que não existam pessoas assim, nem pretendo negar certas patifarias, mas a verdade é que…

Então não sabem que há estudos que demonstram que Shakespeare se inspirou no The Chronicles of England, Scotland, and Ireland de Raphael Holinshed, o qual, por sua vez, teve como fontes privilegiadas The History of King Richard III de Thomas More, Anglica Historia de Polydore Vergil e The Union of the Two Noble and Illustrious Families of Lancaster and York de Edward Hall? E que todos eles sofriam de um viés acentuado em favor dos Tudor? E que vários investigadores reconhecem que, nesta época, a história da minha família foi escrita por cronistas que não simpatizavam mesmo nada connosco?

É um facto que morreu muita gente à minha volta (o rei Henry VI, o seu filho e primeiro marido da minha mulher, a minha mulher, o meu irmão George, até crianças…) e em circunstâncias algo nebulosas. Sou um personagem bem controverso e sei que não há evidências claras acerca da minha inocência, mas também não as há acerca da minha culpa! Por outro lado, sempre foi assim, a História está cheia destes exemplos; agressividade, ganância, vingança, impiedade, manha, não são apanágio deste que sou. O meu grande azar foi ter aparecido um tal de William Shakespeare que resolve demonizar a minha pessoa…

Enfim, a celeuma já dura há mais de quinhentos anos e talvez persista por outros quinhentos. Que seja tudo por bem do espectáculo, já que um vilão da pior espécie é o sal e pimenta do drama. E, há que reconhecê-lo, é graças ao Bardo que o mundo inteiro sabe que fui eu quem disse Um cavalo! Um cavalo! Meu reino por um cavalo!

Atentamente,
Ricardo III”

azuki
 
terça-feira, janeiro 17, 2006
  Música - Ricardo III

Whooo!
Got up today, what a day, thanks a million,
I spent too much time wondering why I got an opinion, yeah
I know you wanna try and get away,
But it's the hardest thing you'll ever know,

Waiting in line, terrible time, over familiar
Well take them away
They've nothing to say
They're over the hill, yeah

I know you wanna try and get away,
But it's the hardest thing you'll ever know,
Trying to get at you
Trying to get at you

Trying to get at you
Trying to get at you
Trying to get at you
Trying to get at you

I know you wanna try and get away,
But it's the hardest thing you'll ever know,
I know you wanna try and get away,
But it's the hardest thing you'll ever know.


MR
 
  Duplicidade
Glocester
Querido Príncipe,a imaculada virtude da sua idade, ainda não sondou, nas suas profunduras, os enganos do mundo: julga os homens ùnicamente pela sua aparência; e Deus sabe que o exterior é raras vezes, para não dizer nunca, indícios do coração. Esses tios, que desejava ver aqui, eram homens perigosos; Vossa Alteza deixar-se~-ia seduzir pelo mel das suas palavras, sem ver a peçonha dos seus corações. Deus livre Vossa Alteza deles e de amigos tão pérfidos.

O Príncipe
Deus me livre de amigos pérfidos; mas eles não o eram.

...
...Diga-me , meu tio, se meu irmão vier, onde pousaremos até ao dia da minha coroação?

Glocester
...se me é permitido dar-lhe um conselho, creio que Vossa Alteza faria bem de descansar um ou dois dias na torre...


O Príncipe
A torre agrada-me menos que qualquer outro lugar...
...

Ricardo de York! Como estás, meu querido irmão?

...

York
Meu senhor, pois vai para a torre!

O Príncipe
O protector assim o quer.


York
Ser-me-há impossível dormir sossegado na torre.

Glocester
Que receia?

York
O quê? A sombra irritada de meu tio Clarence. Minha avó disse-me que ali fora assassinado.


O Príncipe
Enquanto a tios, não receio os mortos.

Glocester
E ainda menos os vivos, creio eu.


Palavras de Glocester (à parte)
...
Das crianças precoces é curta a vida
...Como meio formal a iniquidade moraliza duas ideias numa palavra.
...Os Estios curtos têm Primaveras precoces.


É extrordinária a forma como Shakespeare nos apresenta esta cena. Vemos a segurança das ideias do Príncipe a precipitarem a sua perdição, sentimos a sua confiança em Glocester a ditar o seu destino, confirmamos a certeza do seu instinto.

Acto terceiro
Cena I

Troti
 
  Palavras de premonição
Isabel

Infelizmente entrevejo a ruína da minha casa. Agora caçou o tigre a tímida corça: a tirania insolente começa a dominar o trono de uma inocente e indefesa criança. Aproximam-se a destruição, o morticínio e a carnificina!

Acto Segundo
Cena IV

Troti
 
  O diálogo dos Burgueses
Esta conversa é exterior à acção, mas dá-nos uma noção do espírito que Shakespeare quer transmitir: o caminho do futuro é incerto e duro...

Segundo Burguês
...Sabe a notícia?


Primeiro Burguês
Sei; dizem que morreu o rei.

Segundo Burguês
Má nova...receio bem que tudo tome um mau caminho.

Terceiro Burguês

Será certa a notícía da morte do bom rei Eduardo

Segundo Burguês
Infelizmente, é certa; Deus nos ajude.

Terceiro Burguês
Nesse caso esperem ver tempos bem carregados e tempestuosos.
...
O duque de Glocester é um homem perigoso; os filhos da rainha são orgulhossos e altanados. Se todos estes indivíduos em vez de governarem fossem governados, então poderia a pátria enferma readquirir a sua primitiva saúde.
...
Quando o Céu se cobre de nuvens, cobre-se o ajuizado com a sua capa; quando as folhas caem está próximo o Inverno, quando o Sol se põe, todos esperam a noite. As trovoadas fora da estação própria trazem a fome e a miséria....


Segundo Burguês
O que é verdade é que o receio entrou em todos os corações...


Terceiro Burguês
É o sinal precursor das revoluções...


Acto Segundo
Cena III

Troti
 
  Liderar é difícil - algumas técnicas possíveis para vilões e não só (II)
. Não ser complacente com assomos de consciência (que enche um homem de impedimentos), de todos desconfiar, ter-se em excelente conta e praticar a ousadia, ser implacável (qualquer momento de fraqueza pode ser fatal), saber esconder no rosto o coração (no caso de se ser portador de um);
. Nunca se desculpar, hesitar ou justificar o que quer que seja (enfim, nada de molezas), não fugir do javali antes que o javali nos siga;
. Fazer favores só para poder cobrá-los, distribuir os amigos certos pelos sítios certos, conservar trunfos (qualquer coisa do género: tu vais mas, se me trais, a cabeça do teu filho rola), ter o contacto de um ou dois marginais a soldo;
. Falar o menos possível, mexer pouco nos poderes instituídos e nos grupos de interesses, dar especial atenção à Igreja (andando sempre agarrado às Escrituras, com um ar pio), fazer como a donzela (…muito embora digais não, concedei);
. Saber que há certos riscos que não se devem pisar (até na indecência e na bandalheira há regras e hierarquias).

Bom dia!!
azuki
 
segunda-feira, janeiro 16, 2006
  Liderar é difícil - algumas técnicas possíveis para vilões e não só
. Aniquilar todos os putativos adversários (ou, pelo menos, lançá-los uns contra os outros), apostar sempre no vencedor, implementar alianças (mesmo que, para isso, seja necessário matar o cônjuge actual);
. Fazer intriga e lançar boatos (aconselhável em situações desesperadas), ser volúvel quanto baste (muito útil, quando o nosso lado começa a perder), conhecer a fundo a arte da traição;
. Trabalhar bem os medos da população (se possível, encontrando múltiplas ameaças, tais como um inimigo comum), acumular toda a informação (bufos são preciosos) e controlar os respectivos canais, fazer o mal e queixar-se logo a seguir (preferencialmente, tendo um bode expiatório);
. Preparar cuidadosamente espontâneas manifestações populares de apoio, saber como deixar as pessoas satisfeitas sem para isso ter mexido uma palha.
(continua)

azuki
 
 
Buckingham

Parece-me, pois, que se deve evitar o receio do mal, quanto o próprio mal.

Acto segundo
Cena II

Troti
 
  Um apelo da Poetria
A compra de um livro pode ajudar a salvar a única livraria do país dedicada exclusivamente à poesia e ao teatro. Passem por lá.
 
 
Glocester

Ninguém na terra pode curar as suas dores com lágrimas.


Acto segundo
Cena II

Troti
 
  Relações dúbias
O Filho ( de Clarence)

Diga-nos, avó, meu pai morreu?
...
A avó confessa então que ele morreu. O rei meu tio praticou uma bem má acção; o Céu há-de vingar a morte de meu pai...

A Duquesa

Calem-se, filhos, calem-se! o rei ama-os muito; pobres inocentes não podem adivinhar quem foi causa de morte de seu pai?

O Filho

O meu bom tio Glocester disse-me que o rei, instigado pela rainha, o mandara prender; quando mo disse chorava, lamentava-me , e beijava-me afectuosamente na face. Disse-me que podia contar com ele como se fosse meu pai, que me amaria como filho.

Duquesa
Ah! Será forçoso que a hipocrisia tome formas tão sedutoras e oculte tanta perversidade diante da máscara da virtude! E infelizmente é, meu filho.



O Filho
Crê que nosso tio nos engana?

A Duquesa

Creio-o, meu filho.

Acto Segundo
Cena I

Troti
 
  Relações falsas
Eduardo
...mantenham esta união, nobres pares....entre os meus amigos estabeleci a paz na terra...dêem as mãos, e não haja entre os senhores mais ódios ocultos! Jurem, pois, mútua amizade.
...

Cumprimos, irmão, uma obra de caridade; fizemos com que o ódio inexplicável que albergavam estes pares irritados se tornasse em paz e afecto.


Glocester
Por certo uma obra meritória, meu bom soberano. Para mim o ódio é a morte; aborreço a inimizade e procuro a afeição de todos os homens honrados...Não conheço um único inglês vivo, ao qual o meu coração tenha o ódio que pode albergar o coração de um recém-nascido. Agradeço a deus o haver-me dado estes sentimentos de humildade.


Acto Segundo
Cena I

Troti
 
  Biografias e Historiadores (iii)


Diz-me ainda Ricardo III:

- É um facto que morreu muita gente à minha volta (o rei Henry VI, o seu filho e primeiro marido da minha mulher, a minha mulher, o meu irmão George, até crianças…) e em circunstâncias algo nebulosas. Sou um personagem bem controverso e sei que não há evidências claras acerca da minha inocência, mas também não as há acerca da minha culpa! Por outro lado, sempre foi assim, a História está cheia destes exemplos; agressividade, ganância, vingança, impiedade, manha, não são apanágio deste que sou. O meu grande azar foi ter aparecido um tal de William Shakespeare que resolve demonizar a minha pessoa…

Enfim, a celeuma já dura há mais de quinhentos anos e talvez persista por outros quinhentos. Que seja tudo por bem do espectáculo, já que um vilão da pior espécie é o sal e pimenta do drama. E, há que reconhecê-lo, é graças ao Bardo que o mundo inteiro sabe que fui eu quem disse Um cavalo! Um cavalo! Meu reino por um cavalo!

azuki
 
  Biografias e Historiadores (ii)
Continuando a imaginar o que Ricardo III diria:

- Então não sabem que há estudos que demonstram que Shakespeare se inspirou no The Chronicles of England, Scotland, and Ireland de Raphael Holinshed, o qual, por sua vez, teve como fontes privilegiadas The History of King Richard III de Thomas More, Anglica Historia de Polydore Vergil e The Union of the Two Noble and Illustrious Families of Lancaster and York de Edward Hall? E que todos eles sofriam de um viés acentuado em favor dos Tudor? E que vários investigadores reconhecem que, naquela época, a história da minha família foi escrita por cronistas que não simpatizavam mesmo nada connosco?

Bom dia!!
azuki
 
domingo, janeiro 15, 2006
 
Clarence

Ficar inflexível, é próprio de fera, de selvagem ou de demónio.

Acto Primeiro
Cena IV

Troti
 
  Biografias e Historiadores


A tentação é grande: tenho pensado em biografias e historiadores, procurando imaginar o que Ricardo III nos diria. Será que poderia ser qualquer coisa como isto?...

- Biografias?! Historiadores?! Não, não, não. Por Deus, não. Shakespeare era um dramaturgo e um poeta, não um historiador! O que os senhores se encontram a ler (e, deixem-me adivinhar, torcendo-se todos por pensar que possam existir pessoas como eu) é uma peça de teatro, nunca nada semelhante a uma biografia! Esse “Ricardo III” que aí têm é uma obra cuja dimensão está muito para lá (ou muito aquém, conforme os pontos de vista) do debate histórico. Não digo que não existam pessoas assim, nem pretendo negar certas patifarias, mas a verdade é que…

azuki
 
  O sonho de Clarence
O sonho determina e acentua a malvadez de Glocester e a sua tortuosidade, mas também mostra que Clarence não é totalmente inocente. É um sonho de revelação e também de determinante punição.

Enquanto passeávamos sobre as tábuas lisas do tombadilho, pareceu-me que Glocester escorregava; e quando eu pretendia ampará-lo na sua queda, lançou-me ele pela borda fora às vagas frementes do oceano.
...
...o meu sonho prolongou-se além da morte. Então começou a tempestade para a minha alma; parecia-me que passava o rio da dor, debaixo da sombria direcção do barqueiro de que falam os poetas, e que entrava no império da noite eterna.

..
...achei-me então cercado por uma legião de horríveisa demónios.

Acto Primeiro
Cena IV

Troti
 
  O discurso da verdade de Brakenbury
A dor inverte os tempos, e muda as horas de repouso, da manhã faz noite, e da noite dia. A glória dos príncipes reduz-se a títulos vãos: compram a pompa exterior a preço dos tormentos da alma e muitas vezes, em troco dos prazeres estéreis e imaginários, tem-se um mundo de ânsias todas reais; de modo que entre eles e o vulgo não há outra diferença, a não ser o brilho vão de uma glória aparente.

Acto Primeiro
Cena IV

Troti
 
  O diálogo dos Sicários
Nesta troca de palavras revela-se a ignomínia que Shakespeare reconhece na alma humana. E também a sua capacidade de redenção. Aqui ficam plasmados os baixos princípios, a falta de consciência, a fraqueza do espírito, a luta entre o bem e o mal, a contrição.


Segundo Sicário
Que te parece, assassiná-lo-emos enquanto dorme?

Primeiro Sicário
Isso nunca! Poderia dizer quando acordasse, que o tínhamos cobardemente assassinado.

Segundo Sicário
Quando acordasse?! Imbecil, não poderá acordar senão no dia do juízo.

Primeiro Sicário
Pois bem, dirá então, que o assassinámos enquanto dormia.

Segundo Sicário
Essa palavra juízo despertou em mim, não sei que espécie de remorso.


Primeiro Sicário
O quê, tens medo?

Segundo Sicário
Não de o matar, pois assim me foi ordenado; mas receio, se o assassinar, a condenação da minha alma, e não há ordem no mundo que me ponha ao abrigo desse perigo.


Primeiro Sicário
Julgava-te mais resoluto.

Segundo Sicário
Resolvi deixá-lo viver.


Primeiro Sicário
Vou procurara o Duque de Glocester, para lho comunicar.

Segundo Sicário
Não vás, peço-te que te demores ainda um momento. Espero que este piedoso acesso me há-de passar; ordinariamente só me dura o tempo de contar até vinte.


Primeiro Sicário
Pois bem; como te achas agora?

Segundo Sicário
Confesso-te que ainda me restam algumas veleidades de consciência.

Primeiro Sicário
Lembra-te da recompensa que nos espera, quando tivermos ultimado a obra.


Segundo Sicário
Vamos pois, morra; havia esquecido a recompensa.


Primeiro Sicário
Onde está agora a tua consciência?

Segundo Sicário
Na bolsa do Duque de Glocester.

Primeiro Sicário
Assim quando o duque abre a bolsa para nos recompensar, desaparece a tua consciência.

Segundo Sicário
Que me importa isso, deixá-la ir; há poucas pessoas, se as há, que se conformem com um tal hóspede.


Primeiro Sicário
E se ela voltar a procurar-te?

Segundo Sicário
Nada quero ter de comum com ela; é uma criatura perigosa, torna o homem cobarde: não se pode roubar...não se pode pragujar...não se pode seduzir...É um duende com aparência tímida e corando a cada passo, e que se revolta no nosso seio. Cria-nos mil obstáculos....quem quiser viver à sua vontade, deve confiar só em si e pô-la de parte.


...

Segundo Sicário
Oh! Crime feroz e sanguinário...repete-lhe as minhas palavras, porque me arrependo sinceramente da morte de Clarence.

Primeiro Sicário
E eu não me arrependo: vai cobarde!...

Acto Primeiro
Cena IV


Troti
 
  O MAL DE GLOUCESTER
Ontem a noite, mesmo antes de adormecer e nao sei a que proposito, lembrei-me que Agustina Bessa Luis escreveu um conto em que Ricardo III e uma das personagens.
Agustina encontra Ricardo III ainda crianca no jardim da sua casa do Porto,passeando de madrugada. Os detalhes podem nao ser bem estes porque ja li o conto ha muito tempo e a memoria falha-me. Tambem associo Ricardo a violetas, e vejo-o pequeno e amarelado a fultuar no ar-mas isto deve ser outra historia a intrometer-se pelo meio.
A historia chama-se "O mal de Gloucester" e faz parte do livro Conversações com Dmitri e Outras Fantasias ,(Lisboa, A Regra do Jogo, 1979).
.
Joana
 
sábado, janeiro 14, 2006
  Estou decidido a ser ruim vilão
E assim, já que não posso ser amante
Que goze estes dias de práticas suaves,
Estou decidido a ser ruim vilão
E odiar os prazeres vazios destes dias.


Parece-me um pouco artificial que, porque era torto e feio e pouco operacional, ele tivesse resolvido ser vilão… as pessoas não decidem ser más, pois não? Ainda que o nosso comportamento seja condicionado pela forma como os outros nos olham, ou pela forma como julgamos que os outros nos olham. Ainda que não seja fácil ultrapassar as incapacidades sem uma certa amargura. Ainda que a rejeição e a revolta não sejam boas conselheiras. Ainda que os bons exemplos não abundassem. Ser vilão não resulta de uma opção calculada, embora ajude muito ter um empurrãozinho da natureza e meia dúzia de pessoas decentes à volta. Mas nada disto terá a ver com este Ricardo III (o Ricardo III de Shakespeare, o vilão calculista-monstro disforme-encarnação do demónio que o escritor criou), que eu me abstenho de tentar compreender. Essa coisa está para além do meu entendimento.

azuki
 
 
Margarida

Os que estão altamente colocados são batidos por todos os ventos, e quando caem partem-se em bocados.

Acto Primeiro
Cena III

Troti
 
  Sangue
A cena em que entra a Rainha Margarida é de um enorme dramatismo. As suas palavras arrepiam e vão ser determinantes na acção. Assim como as suas maldições.

Glocester
Impura e rugosa feiticeira, que vens tu fazer à minha presença?


Margarida
A recapitulação dos teus crimes...
...
Será possível que as maldições atravessem as nuvens e penetrem no Céu? Pois bem, rasgai-vos, densas nuvens, para franquear a passagem às minhas penetrantes imprecações...Peço a Deus que nenhum de vós viva o tempo marcado pela natureza, mas que vossos dias terminem por alguma desgraça imprevista.

Glocester
Cessa teus esconjuros, odiosa e descarnada feiticeira.

Margarida
...Detém-te, perro, forçoso é que me ouças.
..seja a tua alma roída pelo veneno do remorso. Suplico ao Senhor, que, enquanto vivas, só vejas traidores nos amigos, e não tomes por amigos os mais íntimos, senão consumados traidores! Nunca o sono baixe sobre as tuas pálpebras, sem que um sonho horrível ofereça aos teus olhos aterrados um inferno inteiro de asquerosos demónios! Aborto predestinado ao crime, alma suína, génio da destruição, tu, que ao nascer, foste marcado pelo Inferno com o seu selo, pela natureza, com os estigmas de seu escravo e de filho do Inferno, opróbio de leite de tua mãe, impuro produto do sangue paterno, farrapo de honra, ente desprezível...
...


Opróbio sobre vós! Todos cansastes a minha paciência.

...

o que se conseguiu com sangue, seja afogado em sangue.



De notar que a Rainha Margarida roga pragas a todos e a Buckingham dirige as seguintes palavras:

...teme esse cão de fila; quando afaga, morde e deixa na ferida um veneno mortal. Não tenhas nada de comum com ele; desconfia sempre; o crime, a morte e o Inferno marcaram-no com o seu selo...

Acto Primeiro
Cena III


Troti
 
  War of the Roses
The Plantagenets
1154—1189: Henry II
1189—1199: Richard I (Coeur de Lion)
1199—1216: John I
1216—1272: Henry III
1272—1307: Edward I
1307—1327: Edward II
1327—1377: Edward III
1377—1399: Richard II
Richard II's reign came abruptly to a halt when he was overthrown by Henry Bolingbroke, later known as Henry IV. With this overthrow began the War of the Roses which lasted from 1399 to 1485 and pitted the house of Lancaster (the red roses) against the House of York (the white roses). Remember, though, despite the different house names, both were of the Plantagenet line.

The House of Lancaster
The House of Lancaster prevailed during most of the War of the Roses - but that's not to say the House of York wasn't fighting wildly for power or that they didn't manage to have the upper hand at times.
1399-1413: Henry IV (aka Henry Bolingbroke, Duke of Hereford)
1413-1422: Henry V (AKA Henry of Monmouth and also Prince Hal)
1422-1461: Henry VI (ascended to the throne at 1 year old; eventual father-in-law of Anne Neville [she married Edward, the Prince of Wales]. Anne would eventually marry Richard, Duke of Gloucester [AKA Richard III who was also, her first husband's killer]

The House of York
1461-1483: Edward IV (AKA the Earl of March; married to Elizabeth Woodville [AKA Lady Grey]; father of the little princes)
1483: Edward V (ascended to the throne at age 13; Richard of Gloucester [AKA Richard III] served as Lord Protectorate at this time)
1483-1485: Richard III (AKA Richard, Duke of Gloucester or simply Gloucester)

The Tudors
The War of the Roses was finally brought to an end when Henry, Earl of Richmond, defeated Richard III at the Battle of Bosworth Field in 1485. He then united the houses of Lancaster and York (his grandmother was Katherine of Valois, wife of Henry V [though his grandfather was her second husband, Owen Tudor not Henry V]; plus he married Elizabeth of York, daughter to Edward IV).
1485-1509: Henry VII (AKA Henry Tudor, Earl of Richmond or simply Richmond)
1509-1547: Henry VIII
1547-1553: Edward VI (son of Henry's third marriage [Jane Seymour]; ascended at age 10)
1553-1558: Mary I (daughter of Henry's first marriage [Katherine of Aragon]; married to King Phillip of Spain).
1558-1603: Elizabeth I (daughter of Henry's second marriage [Anne Boleyn]; died unmarried and therefore the Tudor line ends with her; the Stuarts take the throne next and rule until the Commonwealth period begins. The Stuarts reign again briefly during the Restoration)


azuki
 

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"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

Primeira Viagem Temática BLOOMSDAY 2004

Primeira Saí­da de Campo TORMES 2004

Primeira Tertúlia Casa de 3 2005

Segundo Aniversário LP

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