Leitura Partilhada
domingo, abril 30, 2006
  da nossa caixa de correio, o Douro
Recebemos uma simpática mensagem da Papoila, com um pedaço de Douro da sua infância:

UMA VISITA A MEDRÕES

Revisitar o Douro, é fazer um percurso pela infância com todas as surpresas, sabores e aromas que só aos seis anos sabemos gravar no olhar mágico. O recorte da “cabeça do velho” das montanhas do Marão, que avistávamos desde Fontes e nos afirmava estar já próximo da quinta depois de um dia de jornada. Um dia do Porto a Tabuadelo com paragem em Felgueiras para almoçar e apanhar os primos, em Amarante para lanchar, os pregos do Zé da Calçada e as lérias da Lai-Lai e chegar à quinta ainda com Sol alto, para depois de uma rápida lavagem de mãos nos deliciarmos com o suculento jantar que a Maria já tinha preparado (a Maria e Ana iam sempre de véspera…) O cantar dos carros de bois caminho abaixo e acima, para o recolher, o trote dos burricos nos caminhos pedregosos e o ensurdecedor grasnar dos gansos mal nos aproximávamos, quais cães de guarda que não reconhecem o dono. E as grandes passeatas com visita obrigatória à D. Adelaide da Quinta do Outeiro, em Medrões que nos preparava o lanche com scones ainda quentes, doce de abóbora com nozes, marmelada branca, vermelha e cristalizada, doce de marmelo em pedaços, e belas torradas de pão caseiro com manteiga a escorrer!

Aquelas montanhas que se tratam por tu de tão perto, a estrada que ainda serpenteia, e de cada barranco, de cada vertente, a paisagem aparece com distinto relevo, com outro perfil, de fraga e granito. Há que percorrê-la em todos os sentidos, subir a todos os penhascos… é um infinito, como o são todas as coisas para quem as quer conhecer por completo.

As vinhas, alguns soutos, algumas pequenas hortas de sustento, as belas quintas ou as suas ruínas (que também as há) se falassem e cantassem, seriam gente… Gente dura, gente brava, com pés de xisto e granito, que por estes mares de xisto construiu a paisagem, a demonstrar como é possível a harmonia entre o homem e o seu meio. Cada paisagem é o conjunto de faces que a integram e em que se subdivide, e por outro lado pertence a entidades mais amplas, a espaços maiores e obedece a forças muitas vezes invisíveis que operam na ordem social.

O meio físico condiciona a vida do homem, e é por isso que nestas bandas se desenvolve o instinto e a necessidade de luta e violência, pois que aqui se vive ao redor da cepa, que exige a cava, a poda, a erguida, a estampa, a redia e por aí fora até ao culminar da vindima recomeçar novo ciclo. A sua plantação é tarefa hercúlea aqui, nos terrenos saibrosos a pique que obrigam ao subi-los a cerrar os dentes, retesar os músculos, acordar e castigar o corpo que carrega todo o seu peso encosta arriba.

“Para cá do Marão, mandam os que cá estão!”… por muito que se discuta a sua vida, lá, nos bastidores de Lisboa.

Obrigada, Papoila.


leitora
 
  Cosmogonia
Com os seus livros, Agustina dá a sua explicação do mundo - por isso torce a verdade de acordo com as conveniências momentâneas do discurso. A sua sabedoria - Sibla é também ela - nasce-lhe onde? Na terra? Mas será que na sua casa da Rua do Gólgota ela consegue mante-se tão próxima à terra e simultanemaente, às esferas do poder onde tudo se joga?
Os livros de Agustina descrevem o mundo - pequeno, em quadros limitados - com os seus jogos de poder e sedução. Imagino que conhece as mulheres - muito mais do que os homens - e que cria as suas personagens a partir das suas próprias pulsões. Conece-se a si mesma e não recusa a suas incoerências - cujo reconhecimento é, talvez, um dos mais difíceis movimentos em relação à sabedoria.
Não me reconcilei com Agustina - mas reaprendi a admirá-la.
nastenka-d
 
sábado, abril 29, 2006
  Porque é que o livro se chama "Vale Abraão"?
É claro que a pergunta não se refere apenas ao lugar (imagino que se poderia chamar igualmente Vesúvio, não fosse a ressonância biblíca de Vale Abraão), mas porque comecei a imaginar que, ao descrever Ema, Agustina retratou também uma forma de vida que á a duriense - fechada entre a fatalidade e a beleza da sua paisagem.

nastenka-d
 
sexta-feira, abril 28, 2006
  Beleza

Beauty is no quality in things themselves. It exists merely in the mind which contemplates them.
David Hume





azuki
 
  Não amava os homens porque não se amava a ela própria
Se não tens rumo, nenhum vento te será favorável. Uma frase do estóico Séneca que assenta em Ema como uma luva.

Ema cresceu insatisfeita e triste, pensando-se insignificante (pese embora os acidentes de viação), levando uma vida aborrecida, num mundo pequeno. O pai fora o seu carcereiro afectuoso, com a prerrogativa de a ver casada, altura a partir da qual ela ganharia um novo carcereiro afectuoso.

Lendo Vale Abraão, ficamos presos a essa estranheza incómoda que é a não inteligibilidade de Ema, a forma como ela paira sobre a realidade e se dispersa por actos sem significado, entregando-se a pequenas perversões inofensivas. Ema é uma personalidade não enquadrável (- Querem ver uma lógica no que faço (…) Ninguém suporta a não significação), com desejos que nem sequer pretendia saciar (algo distante e nobre, sendo-lhe indiferente poder obter isso). Sem a típica clarividência das personagens femininas agustinianas (não se conduzia como alguém que aprendeu, mas como alguém que está posto num deserto de significados), a Ema faltou a ciência da articulação.

Vítima de um incessante mal-estar crónico, incoerente e desregrada, Ema procurava, encontrava e logo se desencantava, porque queria amar duma maneira heróica, abusiva, selvagem. Por isso mesmo, estava marcada pela insuficiência do desejo e não era capaz de amar, apenas se servindo dos amantes para resolver a sua angústia de querer possuir, querer ser, querer valer.

Aborrecia-se. Aborrecia-se de morte de todos os papéis, todos os estilos, todos os grandes passos na vida. Pergunto-me se Ema teria predisposição para a felicidade, pergunto-me se haverá algo capaz de proporcionar contentamento a quem diz não estou bem em nenhum lugar.

Achando que a vida era outra coisa e que aquela em que vivia não passava dum sistema de agressões e defesas, como um jogo que só a morte podia resolver, Ema desapareceu com um derradeiro acto de loucura e de orgulho: não gritou por socorro.

azuki
 
 
Era um equívoco; a vida andava sustentada por equívocos e corria assim da melhor das maneiras. Se tudo fosse mais conforme à realidade, ao que se passava no coração humano, seria completamente insuportável.

azuki
 
 
O sogro achou-o meio doido (…) e pensou que talvez Ema precisasse de outro marido, aquele era brando demais, corrompera-a pelo consentimento. Cardeano achou que não era bom aproximar-se dos infelizes. Carlos tinha o que merecia.

azuki
 
  Para que se entenda o temperamento feminino
azuki
 
 
“Ema era feliz, Osório não a decepcionava. Era um homem de boa índole e estava apaixonado.”
“Fernando Osório não lhe resistia, excepto quando a esquecia”

“Excepto Osório… não se interessava muito por homens.”
“Fernando Osório não a interessava muito”

Deve haver partes que são um misto das desatenções da escritora, das incoerências da personagem e da usura do tempo.

azuki
 
  Anonimato
A morte de Ema fará juz à sua vida? Creio que a resposta está na forma como a imaginamos. Eu penso na vidade Ema como uma sucessão de episódios sem ligação entre si, sem capacidade de segurar a areia do tempo. (Afinal, de que forma se pode conseguir isso?)
Imagino que a vida de Ema, por muito escândalo que fosse dando na pequenez de Vale Abraão, ia perdendo importância à medida que se ia afastando desse centro. Caia no anonimato da mole humana, da metrópole (à escala provínciana das escarpas do Douro) do Porto. A sua vida não foi memorável, fosse pelo sublime ou pela degradação; e a sua morte rapidamente esquecida. Seria essa (também) a tragédia de Ema?
nastenka-d
 
  Região Demarcada do Douro comemora 250 anos
Passaram-se já 250 anos desde o “acto fundador”, nas palavras de António Barreto.

Dia 10 de Setembro de 1756. Esta é a data mais sagrada da Região Demarcada do Douro. Foi neste dia que D. José I assinou o alvará régio que instituiu a demarcação das vinhas durienses e a criação da poderosa Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Com este documento, elaborado e assinado poucos dias antes, a 31 de Agosto, por Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, e pelos principais “lavradores de Cima do Douro e Homens Bons da Cidade do Porto”, iniciava-se a primeira era de proteccionismo aos vinhos durienses – sem o saber, Pombal inaugurava também a era das regiões demarcadas, criando códigos e regras de exploração agrícola e comercial que, no século seguinte, influenciaram os franceses e, depois, o resto do mundo vitícola. (Público)

:) Homens Bons da Cidade do Porto… :)

azuki
 
  Lamego












azuki
 
  Beleza


O que é belo é sempre querido
Eurípedes







azuki
 
quinta-feira, abril 27, 2006
  O amante essencial
E os seus gritos de tédio que encobriam a humilhação de não merecer um amor louco, assustavam os homens. As mulheres sempre reservam uma parte mais ou menos obscura de si para a “imagem do amante essencial”. Isso ajuda-as a lidar com os amantes não essenciais. O problema existe quando essa imagem ultrapassa certos limites. Debatia-se com os seus fantasmas de infância, o amor em grande estilo. A partir daí, nenhum homem terreno será capaz de corresponder.

azuki
 
  O desejo não faz parte das condutas possíveis entre um homem e uma mulher quando ambos são desiludidos profundos.
azuki
 
 
- Não gosto de prisões.
- Assim não te safas.


azuki
 
  -Não sei a quem pedir o que quero. Dantes pedia-se a um homem comida, roupa, amor, mas isso passou.
azuki
 
  - O pecado não me diz nada. (…) Estarei amaldiçoada?
azuki
 
  Beleza



Belo é o que se ama
Safo







azuki
 
  Emma desperta-me simpatia e repugnância
Todas as mulheres são Emma, mas geralmente dominam-se, por boas ou por más razões. Emma Bovary atreveu-se a ter desejo, o que me parece bastante saudável, mas isso não pode/deve justificar a deslealdade.

Não a vejo como uma mulher pérfida ou manipuladora, pelo contrário, encontro-lhe fragilidade e fraqueza escondidas por trás da mentira e da irresponsabilidade. Analisar o comportamento alheio é complicado e estarmos de fora constitui, no mínimo, uma posição confortável. Emma vivia numa época e num meio que não lhe ofereciam alternativas e tinha um marido bronco, inépcia para a maternidade, uma vida vazia, um coração ardente e um homem venal à espreita. O que faríamos no seu lugar? Sempre a quiseram enformar (o pai, as freiras, a sogra, o marido), mas parece que ela não era domesticável. O problema é que escolheu a pior das vias para se insurgir.

azuki
 
  A Senhora
azuki
 
  Vesúvio
On the death of the owner in 1835, Vesuvio was bequeathed to his son, António Bernardo Ferreira II, who had married his cousin Antónia Adelaide Ferreira just a year before. A decade later Dona Antónia was widowed and the destiny of Vesuvio was left in her exceptionally capable hands. One of the most celebrated figures in the Port trade, Dona Antónia devoted her energy and immense fortune to the upkeep and development of her numerous Douro vineyard properties. It was under her stewardship that Quinta do Vesuvio consolidated its prestige and attained its legendary status.

A Quinta do Vesúvio pertence aos Symington que, conjuntamente com o Grupo Sogrape e com o Grupo Taylor, são os líderes do mercado do vinho do Porto.

azuki
 
quarta-feira, abril 26, 2006
 
azuki
 
  Beleza



- O that deceit should dwell / In such a gorgeous palace!
W. Shakespeare






JULIET
O serpent heart, hid with a flowering face!
Did ever dragon keep so fair a cave?
Beautiful tyrant! fiend angelical!
Dove-feather'd raven! wolvish-ravening lamb!
Despised substance of divinest show!
Just opposite to what thou justly seem'st,
A damned saint, an honourable villain!
O nature, what hadst thou to do in hell,
When thou didst bower the spirit of a fiend
In moral paradise of such sweet flesh?
Was ever book containing such vile matter
So fairly bound? O that deceit should dwell
In such a gorgeous palace!

(Romeo and Juliet, III-2)

azuki
 
  Ter alternativas
É certo que Emma Bovary vitimizou (enrola-se-me o estômago, quando penso no que fez ao pobre do marido e na negligência que votou à filha), mas também ela foi uma vítima: não nasceu com a placidez das outras mulheres, foi-lhe coarctado o amor de mãe cedo demais, o isolamento em que vivia no convento e em casa não lhe oferecia poder de escolha e era propício ao desregramento da imaginação. Com a capacidade de fantasiar hipertrofiada pela solidão e pelo ócio, Emma foi obrigada a viver num mundo sem riscos, sem sobressaltos. Porque precisava disso para se sentir viva e porque a época e o meio assim o condicionaram, acaba por entrar numa espiral maligna da qual já não sairá (a partir de certa altura, perde-se e os seus comportamentos tornam-se execráveis). Hoje, Emma poderia aspirar a uma identidade autónoma e à realização pessoal, o que significa que teria uma alternativa.

azuki
 
  Peso da Régua
Vila desde 1837, cidade em 1985, a Régua encontra-se a 125 m de altitude, na margem direita do Rio Douro e é, salvo o extraordinário enquadramento, um bem cuidado cais fluvial com área pedonal, a simpática Rua da Ferreirinha e as casas senhoriais do século XVIII, uma cidade bastante feiosa.

Está rodeada de montes e de encostas cobertas de vinhas plantadas em socalcos, inseridas nas quintas tradicionais da região. Relativamente próximo, situa-se o Miradouro de São Leonardo (Galafura), com uma vista incrível para o vale do Douro.

Capital da Região Demarcada do Douro, desde que nela foi criada a Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro, pelo Marquês de Pombal, em 1756 (com a delimitação das áreas de produção dos melhores vinhos, colocando nas vinhas do Vale do Douro os marcos de feitoria, surgia aquela que será a primeira Região Demarcada do Mundo), a Régua centralizava todos os movimentos comerciais e era dela que partiam os barcos rabelos com destino às caves de Gaia.

azuki
 
terça-feira, abril 25, 2006
  Beleza



The best part of beauty is that which no picture can express
Francis Bacon





azuki
 
  Ema podia ter chegado mais alto se fosse mais constante nas suas perversões. Mas escolheu a irrealidade.
azuki
 
  Ema pensava que o desregramento consola de se ser inútil.
azuki
 
  Atrevimento
Estavam diante de um caso único; uma rapariga capaz de livre decisão e que nem sequer tinha ideia do que era a submissão. Uma mulher que se insurja contra o papel que a sociedade resolveu destinar-lhe, é vista como uma aberração. Se era assim antigamente, hoje as mentalidades não mudaram tanto quanto isso. É claro que uma mulher pode ter “quereres”, desde que estes tenham a particularidade de ser inócuos. Queria-a recatada, portanto não a podia entregar à aventura humana de se reconhecer bela e capaz de contrariar a sua condição feminina, isto é, a sua obscuridade. Ema, que foi criada para ser mulher, “agia como um homem” porque tinha desejos e pensamentos contrários ao seu género, o que é imperdoável. Como tal, não era digna de ser tratada pelo nome e nunca seria aceite. Há dias, a Troti perguntava-se qual o motivo que leva a que as mulheres sejam sempre julgadas com tanta severidade. Eu respondo: por quererem entrar em domínios que não são “os seus”, mesmo que demonstrem, em duplicado, ser merecedoras. As mulheres são julgadas com severidade pelo seu atrevimento.

azuki
 
  Vocação
«Deste cabo da tua vida, Ema, porque teimaste em ser a esposa viciosa de um homem digno.»
Será que o drama de Ema foi falhar a sua vocação e, assim, perder a oportunidade de ser feliz? Pedro Lumiares diz-lhe também que ela «não tem vocação, só tiques». Teria sido feliz de outro modo? Ou estaria (estaremos) sempre condenados ao desencanto?
nastenka-d
 
segunda-feira, abril 24, 2006
  Só aos sedentos se deve dar água, eu não tenho sede
Tão óbvio e tão difícil de assimilar.

azuki
 
  Beleza


Viens-tu du ciel profond ou sors-tu de l'abîme,
Ô Beauté?

C. Baudelaire






azuki
 
  Amor e tédio
Tenho-me perguntado qual a motivação de Ema. De Emma também, mas menos; parece-me ser ela bem mais ingénua, crédula, capaz de imaginar, quase até ao fim, que o amor a salvará, seja de que forma for. A lucidez que, a espaços, a faz ver que não é assim é que a leva, parece-me, a afundar-se em desbragamentos. A sua embriaguez... Mas Ema parece-me saber, desde o início, que não encontrará o que procura. Nem no casamento, nem nos amantes, nos excessos ou nas filhas. Ainda assim avança... A sua posição parece-me sempre entre o cinismo e o desencanto. Mas por vezes imagino que radica num conhecimento mais profundo da vida e das suas sucessivas perdas, um conhecimento que lhe vem da raiz onde nascem todas as personagens (femininas) de Agustina. (Os homens nunca são assim retratados, como se apenas as mulheres detivessem o segredo do sentido da vida.) Imagino que Ema tenha nos lábios um sorriso muitas vezes triste e indefinível. Como se soubesse que todas as suas acções (ou omissões) estão destinadas a perder-se e ela mesma não pudesse libertar-se do destino - sem sentido - comum aos homens.
nastenka-d
 
domingo, abril 23, 2006
  World Book and Copyright Day
azuki
 
  O Marquês na Régua
Que o Douro vinhateiro da nossa Bovarinha tenha abundantes referências ao Marquês, é algo que facilmente se compreende, mas escapa-me a associação com a casa dos pastéis de Belém.

azuki
 
  O Marquês, ontem
azuki
 
  Flaubertiana
As minhas desculpas, senhora Agustina: afinal descubro que as suas incoerências a tornam uma directa filha de Flaubert, que diz de Emma Bovary, no intervalo de quatro páginas, que desmaiava muito e que nunca tinha tido qualquer desmaio, coisa invulgar numa mulher. São afinal as mesma incoerências que observamos no comportamento das duas Emas, Bovary e Bovarinha; os autores são as próprias persnagens que criam.
nastenka-d
 
sábado, abril 22, 2006
 
"Ela queria uma dramatização somática que estimulasse
as suas relações com o mundo."
(p.103)


Troti
 
sexta-feira, abril 21, 2006
  Beleza



Aimer la beauté, c'est vouloir la lumière
Victor Hugo






azuki
 
 
"Não gostava da cama nem para curar uma gripe; e isso
prejudicava-lhe a linguagem do amor.
E, todavia, a sua fama crescia. Fama de cortesã
privada...Também aumentava nela o nervosismo...a
volúpia de sugerir, mais do que praticar. Começou a
acreditar que, se pusesse niisso a força do
pensamento, podia obter dum homem total obediência
."
(p.100)

Troti
 
  Douro


nastenka-d
 
  O baile
O baile nunca mais se repetiu e ela nunca mais o esqueceu (a Emma de Flaubert via o baile, onde dançou com um visconde, como o mais importante acontecimento da sua existência). Para a bela encenação das Jacas, todos transportaram as suas frustrações e fraquezas, os elos partidos e os sonhos desfeitos, na esperança de que a fruição do convívio e da estética os fizesse sentir que a realidade é suave e os dias luminosos. Geralmente, é isso que se verifica: os acontecimentos sociais, assim como os eventos culturais, têm o poder equilibrante de nos ajudar a esquecer por instantes (e a ganhar determinação para enfrentar) o que de mais pesado a vida contém. Não foi assim com Ema, para quem o baile das Jacas constituiu um ponto de não regresso, o choque onde se apercebeu do seu provincianismo e do tédio em que se movia. O baile alvoroçou-a, algo se quebrou dentro dela e, sem apaziguamento interior, não me parece que se possa encontrar um resquício que seja de felicidade.

Boa sexta-feira, bom fim-de-semana!
azuki
 
  Beleza
Ema fez sensação pela beleza, mas o grupo que a recebeu uma noite (…) tomou uma atitude que é típica da burguesia: a de medo.

...a beleza de Ema tornara-se tão evidente que causava uma espécie de paralisia.

… a beleza dela mostrava-se como algo de impróprio no quadro vegetal da província, vaidosa, cínica e cheia de compromissos de opinião.

...com Ema, as coisas começaram a decompor-se. Ela significava a extremidade de alguma coisa, a sua beleza constituía uma exorbitância e, como tal, um perigo.


azuki
 
quinta-feira, abril 20, 2006
  Beleza



A thing of beauty is a joy forever
John Keats







azuki
 
  Inteligível?
Conheço-lhe apenas quatro livros. Após as muito penosas tentativas (muito, muitíssimo, penosas tentativas, nada mais que tentativas) de leitura de “Os Meninos de Ouro” e de “Um Cão que Sonha”, mantive-me anos sem ler Agustina, com quem me reconciliei através do incontornável “A Sibila”. Revisito agora “Vale Abraão”, concentrada num único pensamento - quem é Ema? – e confesso que esse único pensamento voltou a dar-me algum trabalho. O próximo já está escolhido, é “Embaixada a Calígula”, que procurei com afinco nas livrarias de referência e nos habituais alfarrabistas e nada, nada, nada. O livro é antigo e o Porto é pequeno, terei que me contentar com fotocópias (gosto de rabiscar). Agustina Bessa-Luís diz que Ema “nunca se tornou inteligível”. Pois… por vezes, os personagens e os livros de Agustina têm destas coisas.

azuki
 
 
"Ema tinha um público, mais do que amantes."(p.100)

Troti
 
  Já sabemos, senhora,
que a mulher de Pedro Dóssem era golfista. Para quê lembrá-lo tantas vezes? Receio que a "indirecta" passasse despercebida? (Uma vez ouvi Agustina dizer que as histórias que contava nos livros eram todas "mais ou menos verdadeiras", tendo acontecido lá para a província da província que é o Porto e que ela conhece tão bem. Sempre me deu que pensar o que achariam os seus "conhecidos", nesta sociedade tão pequena em que as caricaturas logo se reconhecem, dos enredos que ela se entretém a narrar.) Nada me move contra o golfe, atenção, a não ser o óbvio facto de não saber jogar.
nastenka-d
 
  Aprender o “ofício”
(Teresa Santos Silva)
Ema aviltava as mulheres e chocava os homens. As primeiras não lhe perdoavam a comparação, os segundos não concebiam que ela pudesse existir para além do seu desejo. Perdulária, extravagante e atrevida, não sei se Ema fugia ou se procurava, “vivendo a vida como uma toupeira que cava galerias desesperadamente.” Comportava-se como se pretendesse preencher um vazio, sem saber como; começou a contrair dívidas e a querer escandalizar; não procurava o prazer, mas precisava de ser desejada; quase não tinha o proveito, mas fez de tudo para ganhar a fama. A sua beleza causava sobressalto, num mundo fechado onde até as transgressões cumpriam as regras. Não obedecia a nada, não quis aprender o ofício, nunca pretendeu iludir, e isso é imperdoável. Afinal, num País onde a integridade é coisa arcaica, não ter estratégia só pode ser um erro crasso.

azuki
 
quarta-feira, abril 19, 2006
  Sobre o filme Vale Abraão:
Não vi.


Gabriel
 
  Vendo o filme "Vale Abraão"
corremos o sério risco de morrer de pasmo.

azuki
 
 
"...agora estava mais madura, um cinismo semelhante ao
bom humor acompanhava os seus pequenos impropérios."
(p.99)

Troti
 
  Em contínuo estado de descompensação
Apesar de não ser uma pessoa romântica, Ema Paiva tinha grande apetência para a paixão, mas a vida não lhe permitiu exercer essa capacidade de uma forma saudável. A sua existência era um contínuo estado de descompensação: não teve amor maternal nem conjugal, nem apego aos filhos, e encontrou os amantes errados. “Eu não sou nada, sou um estado de alma em balouço.” Ema vivia em instabilidade permanente, pois procurava a solidão e nunca tentou agarrar o que de positivo a vida lhe pudesse oferecer. Seria uma revoltada, com um fim previsível?

azuki
 
 
"...o casamento abafava-a, sentia-se isolada,
diminuída, prestes a cair na maior das vulgaridades..."

(p.99)

Troti
 
terça-feira, abril 18, 2006
  O filme "Vale Abraão"
dura 210', porque o dinamismo das cenas assim o exige.

azuki
 
 
"Ema gostava do mal como se gosta duma iguaria fina... Era o seu cadastro antiquíssimo, esse mal que a mulher mistura a todos os actos, a todas as delícias, deveres, condições, sofrimentos. Mas não era possível imaginá-la a realizar o mal; só a macerar o coração dos homens nessa espécie que salga a terra e a faz fecunda." (p.96)

Troti
 
  A importância do nome
Ninguém tratava Ema pelo nome, ela era apenas “a mulher do senhor doutor”. Embora, na maior parte das vezes, tal atitude nada pretenda significar, neste contexto parece-me ser uma forma altamente eficaz de distanciamento (“nós não te aceitamos, tu não és uma das nossas”) e, no limite, de desrespeito pela individualidade (“aliás, tu não és ninguém”).

É através das palavras que nos apropriamos do mundo e é pela sua designação que o objecto se torna objecto e o sujeito se torna sujeito (n'“O Silêncio dos Inocentes”, a jovem tenta, sem sucesso, que o raptor a trate pelo nome, para que este passe a olhá-la como um indivíduo, e não como uma coisa). Proferir o nome de alguém pode ser um acto de amor (quando estamos apaixonados, repetir de forma incessante o nome daquele que amamos, dá-nos um imenso conforto) ou de respeito (entre dois conhecidos, ou mesmo estranhos, chamar o outro pelo seu nome induz a proximidade, criando até uma certa atmosfera de cumplicidade). Para mim, funciona quase como uma carícia, o que faz toda a diferença entre um “Bom dia” e um “Bom dia, Sílvia”.

azuki
 
 
"Ema desinteressava-se de tudo...
Em toda a parte fazia sensação...
Em tudo sugeria o deboche e uma dimensão sentimental
do espectáculo."
(p.93)

Troti
 
segunda-feira, abril 17, 2006
  O filme "Vale Abraão" é
muito mais eficaz que um comprimido de Lexotan.

azuki
 
  Pouca sorte ser mulher, naquela época
Emma Bovary teve pouca sorte. Nasceu mulher, naquela época. Sendo um carácter tão pujante, tão curioso, tão excessivo nas suas emoções, tão pouco acomodatício, após a monótona experiência no convento, entra num casamento despido de encanto. Saiu de uma prisão para entrar noutra, uma vez que a bondade do marido (porque ele era um homem bom, coisa horrível de se dizer de um homem) estará longe de conseguir preencher o vazio. A partir do momento em que Emma percebe e experimenta outros riscos e a excitação de se conhecer, foi saltando de relação em relação (não foram tantas quanto isso, aliás, foram bem poucas se atentarmos na dimensão pejorativa que tal denominação passou a assumir), em busca de algo sublime, que ela nunca encontrou. Mas, nessa procura tortuosa, Emma acabou por dar um exemplo de liberdade.

azuki
 
 
"Às vezes Ema pensava que a vida dela estava acabada e que não lhe restava senão resignar-se, engordar e dedicar-se a promover a carreira do marido. Tentou perceber quais eram os horizontes dele, e o que viu deixou-a prostrada."(p.92)

Troti
 
 
"Estava cada vez mais presa na vaga dos acontecimentos,
sem chegar ao centro deles, sentindo-se incapaz de se
impor em público. Não sabia, como dizia Lumiares,
servir-se dos seus dons. Pertencia à escola do
desencantamento, e a sociedade em declínio, rotas as
bases da própria decomposição, não a podia ajudar em
nada. Deixava-a livre, o que era o mesmo que
escorracá-la
."

(p.93)


Troti
 
 
"Ema era a forma perfeita num bricabraque de aves de
cristal e de cofres orientais."
(p.91)

Troti
 
domingo, abril 16, 2006
 
azuki
 
 



BOA PASCOA A TODOS OS LEITORES E COLABORADORES DO LEITURA PARTILHADA
 
 
"Ema não se dava bem com os amantes. Não brigava, mas
era desabrida por efeito dum incessante mal-estar
crónico, provocado pela própria incoerência dos
desejos."
(p.89)


Troti
 
 
"Ema fez sensação pela beleza, mas o grupo que a
recebeu uma noite, para um jantar seguido de bridge,
tomou uma atitude que é típica da burguesia: a de
medo."
(p.88)

Troti
 
 
"Pedro Dossém percebeu rapidamente o que Ema esperava
dele: contactos com uma sociedade que ela, por si só,
não podia frequentar."

(p.88)


Troti
 
 
"...há, pensava Ema, uma felicidade para noivos e
outra para amantes."
(p.81)

Troti
 
 
"Ema adivinhava que,nela, a obsessão do prazer era
muito mais do que uma história de costumes.
Subitamente entregou-se a uma especie de doença que
estava enraizada na insatisfação profunda do seu ser.
Julgou que a libertação sexual a ia curar, mas durou
pouco esse convencimento."
(p.78)

Troti
 
sábado, abril 15, 2006
  O Pinhão


«Pedro Dossém tinha propriedade valiosa em pleno Dourp Vinhateiro, no Pinhão...»nastenka-d
 
 
"As multidões têm de estar cada vez mais submetidas,
capazes de optar pelo fim sem sofrimento,
desaparecendo modelarmente nas rampas que conduzem à
morgue e aos fornos crematórios. Rapidamente, sem
deixar vestígios."

(p.77)


Troti
 
 
"Não se preocupar era o estribilho de Ema, que,
entretanto, aumentava as suas queixas, nunca estava em
casa e arranjava divertimentos novos...
Ia ao Porto pentear-se e fazer ginástica aerobiótica.
Era tudo bastante inocente...

A época tudo absorvia, não havia em circulação
obsessões que produzissem amor lírico; os prazeres da
hipocrisia superavam os prazeres do leito.... O peso
das instituições e a transferência rápida das classes
impediam os sonhos, calculados ou só românticos, das
pessoas de cultura. Havia toda uma composição de
atitudes novas sobre o dinheiro, a doença, a vida
sexual. Não se vivia para ser feliz, para suportar uma
angústia, para medir forças com o destino; vivia-se
para entrar numa estatística
."

(p.73)

Troti
 
 
"Sentia-se feliz, mas também surpreendida com tantas
emoçoes, entre as quais destacava um desejo absoluto e
constante. Tudo era inferior ao seu desejo e, ao mesmo
tempo, tudo lhe parecia inatingível. Tal é a força do
desejo, que mais imagina do que consome."

(p.69)


Troti
 
sexta-feira, abril 14, 2006
 
homens

Encontro-me mais ou menos a meio do quarto capítulo intitulado Bovarinha. Neste momento, o narrador revelou Ema na sua totalidade (penso eu): infiel, extravagante, deprimida, insaciável. Este senhor absoluto já nos levou a muitos lugares onde pôde inserir Ema, com a finalidade de explicar as diferenças entre a heroína e a ‘fauna’ dos referidos espaços ( até uma viagem a Roma aparece aqui sadicamente retratada). Não há lugar nenhum onde esta mulher se enquadre, apre!


Mas o título do post é homens. Não quero alterar este título porque acho também que, até aqui, já temos traçados os perfis dos homens que caem na rede da Bovarinha. Vejamos: Carlos, as voltas que dá para conservar a mulher são uma prova de subserviência e de apatia; Osório, este então é um espectáculo de apego e bajulação ao dinheiro; Pedro Lumiares, o culto, o sabe tudo, foi ele que deu o epíteto a Ema determinando-lhe a fama e obrigando-a a acarretar com o proveito; Pedro Dossém que, sendo da estirpe de Osório, ainda não caiu nos favores desta mulher fatal, responsável por tanta perdição, se bem que tenha dado o seu contributo com o carro descapotável amarelo, em que Bovarinha dá ares da sua graça pelas sinuosas estradinhas do Douro quando não está nua nas piscinas sulfurosas das termas, ou nos antiquários a comprar talha dourada para embelezar a casa; os manos Nelson e Francisco que fazem parte da arqueologia da personagem principal, quando tinha quinze? Dezassete? Não sei bem.

Posto este painel diante dos olhos do leitor, privo-me de concluir. Verei apenas se outros homens aparecerão.


Nota. Enquanto estava a redigir este pequeno texto, lembrei-me de um lugar onde Ema estaria bem: a varanda do Romesal, não acham? Podemos até propor um sinal de trânsito novo para assinalar a presença dela. Têm sugestões?

Boa Páscoa!
...
laerce
 
 
"Que podia fazer Ema quando estava presa numa era de
alquimia sentimental, meias verdades e paixões
difusas? Queria amar e repartir-se em amor profundo,
sob qualquer pretexto, sendo o conjugal o menos a
propósito...

Ela queria amar duma maneira heróica, abusiva,
selvagem
."
(p.77)

Troti
 
 
"Ema deixou-se deslumbrar pela grandeza secreta dos
lugares, esse Vale Abraão, derrotado, mas soberbo, com
o seu padrão de demarcação ao canto do caminho
solitário....Depois Pedro Lumiares revelou-se um bom
conversador e um mestre para não ter de se ignorar a
ela própria. Foi ele quem lhe chamou a Bovarinha, com
o desprendimento senhorial de quem põe nome a um cão
."

(p.76/77)

Troti
 
quinta-feira, abril 13, 2006
 
narrador

Sem pretender fazer a análise literária de Vale Abraão, não posso deixar de constatar que está centrado na figura do narrador o mérito e, porventura, o demérito da obra.
Não tenho dúvidas, é o narrador a personagem principal, é ele que controla a história, que avança, que recua, que omite, que revela, que dirige a leitura, que opina e que, em última instância, se diverte com as confusões que lança no leitor.
Ema, Carlos e os outros e as outras serão títeres manobrados por alguém que quer comprovar uma tese já verificada em outros ambientes. Por isso, não valorizo muito exemplos como este em que num momento se diz que Ema guarda uma única lembrança da mãe (pág. 14), para mais à frente (pág. 57) se realçar, pela voz da mesma Ema, o papel da hereditariedade materna nas filhas, cujos nomes, Lolota e Luisona, são do mais corrosivo da escrita de Agustina. Corrosão semelhante à transformação da casa com a tal “geladeira onde cabia uma pessoa de pé” (pág.59), ou à peúga horrível de Carlos “a descobrir a pele branca em que se enovelavam pêlos brilhantes” (pág.51).
Este uso dos pequenos detalhes para revelar o ser humano é também o que me prende à leitura.
...
laerce
 
  Boa Páscoa
Uma parede na Régua que pode ser… aquilo/aquele que o nosso olhar quiser.

Tudo calmo, à minha volta (a tarde, é de tolerância de ponto). Maravilhoso silêncio. Aproveito para fazer o arquivo do que se acumulou furiosamente, nestes dias de férias (dos outros) que sempre sobrecarregam quem fica. Sinto-me relativamente exausta, deve ser do muito trabalho, das noites agitadas e da fraca alimentação. Nos próximos dias, pretendo pôr de lado a Bovarinha e dedicar-me à releitura da original (que, espero, seja tão empolgante quanto a primeira vez). Como aperitivo, tinha pensado ocupar parte desta tarde a ver a M. Bovary da BBC (série que comprei juntamente com o filme de Manoel de Oliveira) mas resolvo agora que deixo a Emma para a noite… é melhor ir nadar, preparando-me para os excessos da Páscoa. Depois, acho que vou de cabelo pingado procurar um livro de um poeta italiano (bilingue, porque o idioma me escapa). O Requiem de Mozart na Casa da Música, ao fim da tarde. Amanhã, tomo a direcção de uma pequena aldeia em Trás-os-Montes, onde pretendo (espero conseguir) comer muitos legumes e poucos doces e, claro, ler Flaubert.

Boa Páscoa a todos (mas cuidado com o colesterol).

azuki
 
 


«Causava admiração que tão solitários e agrestes caminhos fossem um dia explorados por gente aparentada na corte e com hábitos de cultura...«
nastenka-d
 
 
"Lumiares entendeu depressa que Ema tinha a capacidade
muito rara, de iluminar o desejo e fazê-lo correr
como um fogo fátuo sobre os cadáveres da virilidade
mítica e obstinada mas, de facto, sofredora, dos
homens. Ele podia aproveitar Ema no sentido de
subornar os outros homens. Era só questão de a
oferecer e distribuir em doses proporcionadas e
ligeiramente venenosas
."
(p.68)


Troti
 
 
"Lumiares era um sábio, à sua maneira...Ela sentia-se
tremer no vestido de seda clara, que Lumiares
escolhera para ela. Dera-lhe instruções de como devia
vestir-se, era como se a preparasse para cometrer um
crime."

(p.66)

Troti
 
  A Arquitectura do Rabelo
Num blogue com belíssimas imagens da minha cidade, encontrei A Arquitectura do Rabelo (…), título de um estudo do prof. arquitecto Octávio Lixa Filgueiras, que serviu como roteiro para um filme documentário produzido por José Monteiro e realizado por Vítor Bilhete. Este documentário correspondeu talvez à última oportunidade de fixar imagens para o futuro, de uma tradição hoje perdida: a construção de um barco rabelo por um dos últimos mestres calafates do rio, já desaparecido, com alguns artífices que com os mestres trabalharam.

azuki
 
quarta-feira, abril 12, 2006
  Ler Agustina (ii)
Ao longo da leitura (…enquanto escrevo, tento encontrar um compromisso entre a seriedade e a patetice, mas receio que, por agora, vá ganhar a segunda…), recordo-me de um tolo imperador que, apesar do seu grande apreço pelas obras de Mozart, achava que estas teriam notas a mais (!). De facto, Agustina tem uma perícia extraordinária para desenvolver, ao longo de milhares de frases, o que qualquer outro escritor, menos dotado de inteligência e de imaginação, teria dificuldade em fazer por mais do que algumas dezenas de páginas. Acresce que certas pequenas imprecisões (uma data, um nome, um sentimento que nega o que foi dito atrás), me levam a pensar que Agustina não é como Eça, que escrevia e depois deixava estar, durante meses ou mesmo anos, enquanto aprimorava os textos com releituras, até que os poucos livros que escreveu se tornassem simplesmente perfeitos.

azuki
 
 
"...a beleza de Ema tornara-se tão evidente que
causava uma espécie de paralisia. Aquilo que se não
critica desenvolve uma obediência capaz de, para
encontrar saída, cair noutras reprovações. Ema passou
a ser pasto de maledicência e ainda não tinha feito
nada de condenável. Foi nessa altura que lhe
inventaram o título de madame Bovary."

(p.65)


Troti
 
terça-feira, abril 11, 2006
  Declaração de intenções
Há uns anos, numa única tarde, comprei meia dúzia de livros de Agustina. Levei-os para casa e li-os de enfiada; fiquei fascinada pela pose de oráculo, pela teia que tecia com as palavras, não as poupando, nem a nós. Para mim Agustina ficou assim gravada; até que, anos depois, pequei num desses livros de novo. A novidade tinha-se evaporado; a escrita deixava à vista todas as imperfeições.
Ao fim de cem páginas, o mesmo episódio tinha sido narrado já três vezes, à laia de recapitulação; não eram os nomes das personagens que mudavam ao longo do texto (caso que suscitou - imaginem! - rasgados elogios em A Jóia de Família) mas a própria essência da personagem: a autora dizia de alguém que era exactamente o contrário do que afirmara páginas antes, apenas porque era isso que servia nessa altura a sua particular explicação do mundo. Desisti da releitura, e não voltei a Agustina.
Esta releitura de Vale Abraão trouxe-me o mesmo desencanto. Continuo sem conseguir classificar a senhora; acho que as evidentes falhas dos seus livros a tornam assim, inclassificável. Poderia ser fantástica se desse um pouco mais de atenção às suas frases, se relesse os livros que escreve; mas creio que a perfeição a interessa muito pouco. A minha declaração de intenções é esta: o que eu escrever aqui será baseado nesta precepção que tenho dela e dos seus livros, com Vale Abraão à cabeça. Advogar o diabo, é o que farei; creio bem que lhe poderia agradar.
nastenka-d
 
  Ler Agustina
(Julio Saens)







Ler Agustina é como… partir pedra. Os seus livros são densos, impossíveis de ler em momentos de menor concentração e, não raras vezes, me vejo obrigada a recuar ao início das frases, não sendo certo que acabe por entendê-las. Para mim, ler Agustina é um infinito exercício de regresso ao início das frases. E de expressões de incredulidade. E de sobrolho franzido, em busca da natureza genial ou, pelo contrário, apenas redonda, de certos parágrafos.

azuki
 
 
"Carlos percebia que Ema estava perto de cometer uma
loucura, e achou que devia premeditar outra loucura
mais conforme o plano da família. Deu-lhe a escolher
Pedro Lumiares que era, no seu entender, um robot com
vantagens sobre os outros homens: sabia falar de amor
.
Era de Pedro Lumiares que Ema precisava para não se
sentir inferior à casta de mulheres amadas....Carlos
conhecia Ema. Amava-a, mas era irredutível a qualquer
originalidade; como o amor é e será sempre. Como
conservar Ema, até que o sexo se tornasse menos
vingativo, era a sua preocupação...
Percebia que Ema estava prestes a cair nos ciúmes
persecutórios que são afinal um desânimo do amor
."
(p.64)

Troti
 
 
"Estamos senis quando nos
consideramos definitivamente amadurecidos."

(p.62)

Troti
 
segunda-feira, abril 10, 2006
  CONVITE


Amanhã à noite, vai ver-se o Vale Abraão, na minha casa. Sei que não é um programa de um dinamismo estonteante, mas haverá comiiiiiiiiiiida! Se estiverem interessados, basta avisar (por sms, e-mail, telefone, comentário neste post,…) e serão muito bem-vindos. A quem não puder/quiser aparecer e desejar ver o filme, empresto o dvd (se prometerem devolver!).

azuki
 
  Observação presencial (ii)
Captar uma atmosfera não é assunto do intelecto ou da criatividade, mas da sensibilidade. Há espasmos emocionais, e até mesmo físicos, ao simples contacto com um lugar, que nunca um livro nos poderá transmitir (não é indispensável que se trate de um sítio misterioso e longínquo, basta que tenha uma aura especial ou que esteja associado a vivências singulares). Em última análise, a experiência da leitura é fraca para criar em nós aquilo de que Marcel andou a falar ao longo dos milhares de páginas da Recherche: a “memória involuntária” (sem que as controlemos, as associações livres são uma ligação directa dos sentidos ao coração, constituindo estados de gratificação (ou o seu contrário) que surgem instintivamente, a partir da intensidade de uma luz, de um cheiro familiar, de um breve som). Por seu turno, um bom livro não só transmite informação preciosa, como define um novo olhar sobre a realidade, tendo a enorme vantagem de nos garantir, com elevada probabilidade, momentos únicos com uma muito reduzida dose de esforço.

Concluo que, nisto de criar laços afectivos com os espaços, a leitora “amadora” enriquece a viajante apaixonada. E vice-versa. Como o coração e a razão.

azuki
 
 
"Ema cansava-se de nada fazer.
(p.53)

Parecia mais alta, as botas e as calcas escondiam-lhe
a perna aleijada; e a beleza dela mostrava-se como
algo de imprório
no quadro vegetal da província,
vaidosa, cínica e cheia de compromissos de opiniao.
Ema nao era ainda alguém de quem se espera uma
surpresa má; mas comecavam a olhá-la com um pouco de
interesse, que era o comeco duma ameaca."
(p.54)


Troti
 
 
"Ema usava a arma dos profetas, que é assustar para
obter atencao. O seu defeito, a leve manqueira, era às
vezes mais pronunciado, como quando estava mais
perturbada e infeliz. E nunca parecia coisa de que ela
gostasse de privar-se; despertava, com a deformidade,
uma inquietacao súbita nos outros, o que nao poderia
conseguir com uma presenca banal."

(p59)

Troti
 
 
As causas do comportamento de Ema são explanados no primeiro capítulo.
- A falta da mãe; que já se fazia sentir mesmo antes da sua morte.
- A sociedade hipócrita, que desde há milénios subjugou a existência feminina; relegando metade da humanidade para um limbo castrador.
- Sem dar conta Ema é amoral, mas é também uma lutadora intrépida pela emancipação feminina.
- A futilidade, o egoísmo e a altivez de Ema, torna-a por vezes desprezível; é fruto do seu enquadramento social.
- Os seus olhos não permitem observar a beleza natural que a rodeia, e nisto assemelha-se a toda uma mentalidade cega e tacanha típica de uma ambiente pragmático e preconceituoso.
- Por fim...escalas libidinosas elevadas

Será a beleza realmente ameaçadora?
Não! Simplesmente as fragilidade mentais, individuais ou colectivas, têm a capacidade de deturpar virtudes.

Nota: É importante vermos o filme, relermos Madame Bovary e visitar os locais do enredo.

Castela
 
 
"Os mimos, os pequenos sonhos perdulários que o pai lhe
permitia, estavam proibidos naquela casa que era pior
do que pobre, era mesquinha.
(p.46)

Estava casada h? perto de dez anos e caía nessa
vulgaridade ritual que era fazer um balanco da sua
vida. Aborrecia-se e tomava isso como uma capacidade
de se emancipar das suas desilusoes.
Tivera duas filhas, Lolota e Luisona, mas nao
aprofundara as alegrias da maternidade. Antes disso
revelou-se-lhe o coracao para as paixoes de
risco...Sem repelir Carlos, achava-o cada vez mais
desinteressante, e essa lucidez de opiniao parecia-lhe
funesta para o equilíbrio que pretendia. Porque em
tudo punha uma febre de ambicoes que nao sabia
qualificar
...Era um delírio que se tornava cada vez
mais exigente e que a lancava por caminhos
desconhecidos."
(p.47/48)


Troti
 
 
"casar-me...? um disparate, nem sequer gosto
dele...
(p.39)

Ela levava, como uma sultana dos emiratos, uma bagagem
de sedas e tapetes que alarmou Carlos..."
(p.42)


Mas porque é que Ema casou quando afirma que nem sequer gosta dele? Mas porque será que continuo a assistir a decisoes semelhantes com resultados desastrosos? Será que as pessoas confiam demais na sorte ou sao perfeitamente inconscientes?

Troti
 
domingo, abril 09, 2006
  A terra natal da nossa escritora, ontem
Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa nasceu em Amarante (freguesia de Real), a 15/Out/1922, de onde sai aos onze anos, indo viver para o Porto.
















































Bacalhau à Zé da Calçada, na varanda do restaurante com o mesmo nome. Doces regionais, na Pastelaria da Ponte. Convento e Igreja de São Gonçalo, os claustros, a sacristia, o túmulo. Museu Amadeo de Souza-Cardoso. Ruas da freguesia de S. Gonçalo. Acabei por não ir a Real, em busca da casa da escritora (será que a encontraria?), mas é claro que valeu a pena.

azuki
 

O QUE ESTAMOS A LER

(este blogue está temporariamente inactivo)

PROXIMAS LEITURAS

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LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

Primeira Viagem Temática BLOOMSDAY 2004

Primeira Saí­da de Campo TORMES 2004

Primeira Tertúlia Casa de 3 2005

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