Leitura Partilhada
sábado, junho 25, 2005
  Na rota de Dom Quixote
"Bela coisa seria a televisão brasileira percorrer os caminhos que Dom Quixote trilhou nas regiões centrais da Espanha. Reconstruiria uma viagem imaginária agregando a ela ainda mais imaginação presente.
Penso nisto por causa de uma sugestiva reportagem feita em terras lusas por Maria Leonor Nunes para o invejável “Jornal de Letras”, chefiado por um dos mais queridos intelectuais portugueses — José Carlos Vasconcelos. É que a jornalista fez uma coisa simples e invejável: saiu estrada afora para refazer os descaminhos de Dom Quixote, assim como Azorin o fizera em 1905, quando do terceiro centenário do livro, na obra “La ruta de Don Quijote”.
E lá foi ela conferindo a lenda suscitada na obra literária com a lenda que foi ganhando vida nas estradas atuais, nas estalagens e hotéis de hoje, nos teatros e moinhos de vento. Mais que nunca as frases “a arte imita a vida, a vida imita a arte” se confundiram. Bandas de rock e conjuntos musicais barrocos, comerciantes e intelectuais, literatos e turistas entraram num processo de comunhão mítica celebrando Dom Quixote. Isto aconteceu também com algumas grandes obras e grandes autores de outras literaturas. Lembra-me uma crônica de Paulo Mendes Campos dizendo, no caso inglês, da grande indústria que se formou a partir do autor de “Hamlet”, uma espécie de Shakespeare Incorporation em torno da qual vivem milhares e milhares de pessoas em todo o mundo . Os grandes autores geram realidades. E até enriquecem pessoas, pela mente e pelos bolsos.
Por exemplo: no local daquela “venta” onde Quixote foi armado cavaleiro, existe hoje uma estalagem que desde os anos 60 tem armado inúmeros Quixotes que por ali passam. Aconteceu que há cerca de quarenta anos um hóspede vindo de Porto Rico se sentiu impelido a repetir o gesto do cavaleiro andante de Cervantes. Rogou ao senhor que o hospedava que o cingisse cavaleiro. Como recusar um tão augusto e delirante pedido?
A partir desse gesto “sério e divertido”, Dom Antônio já presenciou centenas de pessoas, de todas as profissões e nacionalidades, como o velho Quixote, serem sagradas cavaleiros no pátio da sua hospedaria.
Assim as pessoas saem da realidade e mergulham na fantasia. Que realidade? indagaria o cavaleiro da Mancha. Vai ver que apenas pulamos de uma fantasia para outra. De uma fantasia que chamamos realidade para outra realidade que chamamos fantasia.
Virou moda e até sinal de erudição ficar citando aquele conto do Borges, onde um certo Pierre Menard teria desejado tanto escrever o “Quixote” que imagina escrevê-lo palavra por palavra, como se ele fosse seu. Alguns leitores incautos de Borges, entendendo-lhe erradamente a ironia — pois ele não se “apropriou”, mas satirizou a “apropriação” — começaram então a reescrever obras de outros autores imitando-lhes o estilo, sem entender a sutileza do que Borges estava dizendo. Se Borges fosse tolo iria fazer pastiche de Cervantes. Isto seria fácil, como faz a estética da pós-modernidade. Mas como Borges é pré-moderno e pós-antigo, não se entregou a essa facilidade criativa, mas a ironizou e a superou. Jogou uma casca de banana onde os afoitos escorregaram.
Pois fora do texto de Borges aconteceu um fato que confirma Borges como profeta da escrita coletiva. A ficção fez-se realidade. Na Espanha pôs-se em movimento o desejo de escrever/reescrever o “Quixote” coletivamente. Mais de dois mil copistas trabalhando desde o início deste ano transcreveram, parágrafo por parágrafo, o primeiro volume da obra. Agora começam a escrita/reescrita do segundo volume e mais de cem novas grafias de assinantes já aparecem nas páginas.
Pierre Menard ganhou consistência, agora socialmente. Pela letra as pessoas estão se apoderando do texto cervantino, ou se quiserem, através de seus manuscritos estão devolvendo ao texto original a sua participação. O gestual de Cervantes, há quatrocentos anos, transforma-se no gestual de novos escribas, que em plena era da eletrônica e do computador, voltam à caligrafia. Meu Deus! Se Barthes fosse vivo, que carnaval de beletrismo crítico faria com esse fato!
As comemorações em torno de Cervantes estão contabilizando cerca de três mil eventos na Espanha. Quem quiser se espantar veja o site (www.donquijotedelamancha2005.com). Surgiram em todo o mundo edições do “Quixote”, umas para crianças, outras para adolescentes, outras para universitários, enfim, para todos os gostos. Fizeram uma edição de bolso que vendeu um milhão e meio de exemplares. E até o presidente da Venezuela, o irrequieto Hugo Chávez, entrou na roda de celebrações e mandou rodar um milhão de exemplares do “Quixote” para distribuição gratuita. E para dar mais charme e ampliar o leque ibérico da obra convidou José Saramago para prefaciá-la.
No Museu Cervantino, em Toboso, há uma exposição de exemplares do “Quixote” com autógrafos de personalidades como Mitterrand, Mussolini e Mandela. E isto me fez lembrar que em 1991, quando dirigia a Fundação Biblioteca Nacional, tive a felicidade de poder anexar ao acervo daquela instituição a fabulosa coleção cervantina do doutor Genival Londres.Trata-se de cerca de mil volumes que ele amorosamente a vida inteira colecionou, e que sua viúva gentil e graciosamente cedeu à BN. São exemplares da obra em inúmeras línguas e com autógrafos os mais diversos, a começar com o do ditador e presidente Getúlio Vargas.
“O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha” foi traduzido pela primeira vez para o português em 1793, por um anônimo. Num outro texto já tratei do “Tirant lo Blanc” (1460), traduzido por Claudio Giordano, livro que fez a cabeça de Cervantes. Mas agora chamo a atenção para outra obra, “O livro apócrifo de Dom Quixote de la Mancha (1614)”, de Alonso Avellaneda, editado pela Ed. Itatiaia. Como se sabe, aquele esperto Avellaneda tentou pastichar Cervantes, misturando o falso com o verdadeiro. Cervantes não teve piedade. Botou o pastichador como personagem no segundo volume do “Quixote”, triturando-o com a ironia, confirmando a tese antropofágica de Paul Valéry de que o leão é a soma dos cordeiros assimilados."

Affonso Romano de Sant'anna, poeta, cronista, professor.

Gabriel
 

O QUE ESTAMOS A LER

(este blogue está temporariamente inactivo)

PROXIMAS LEITURAS

(este blogue está temporariamente inactivo)

LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

Primeira Viagem Temática BLOOMSDAY 2004

Primeira Saí­da de Campo TORMES 2004

Primeira Tertúlia Casa de 3 2005

Segundo Aniversário LP

Os nossos marcadores

ARQUIVO
07/01/2003 - 08/01/2003 / 08/01/2003 - 09/01/2003 / 09/01/2003 - 10/01/2003 / 10/01/2003 - 11/01/2003 / 11/01/2003 - 12/01/2003 / 12/01/2003 - 01/01/2004 / 01/01/2004 - 02/01/2004 / 02/01/2004 - 03/01/2004 / 03/01/2004 - 04/01/2004 / 04/01/2004 - 05/01/2004 / 05/01/2004 - 06/01/2004 / 06/01/2004 - 07/01/2004 / 07/01/2004 - 08/01/2004 / 08/01/2004 - 09/01/2004 / 09/01/2004 - 10/01/2004 / 10/01/2004 - 11/01/2004 / 11/01/2004 - 12/01/2004 / 12/01/2004 - 01/01/2005 / 01/01/2005 - 02/01/2005 / 02/01/2005 - 03/01/2005 / 03/01/2005 - 04/01/2005 / 04/01/2005 - 05/01/2005 / 05/01/2005 - 06/01/2005 / 06/01/2005 - 07/01/2005 / 07/01/2005 - 08/01/2005 / 08/01/2005 - 09/01/2005 / 09/01/2005 - 10/01/2005 / 10/01/2005 - 11/01/2005 / 11/01/2005 - 12/01/2005 / 12/01/2005 - 01/01/2006 / 01/01/2006 - 02/01/2006 / 02/01/2006 - 03/01/2006 / 03/01/2006 - 04/01/2006 / 04/01/2006 - 05/01/2006 / 05/01/2006 - 06/01/2006 / 06/01/2006 - 07/01/2006 / 07/01/2006 - 08/01/2006 / 08/01/2006 - 09/01/2006 / 09/01/2006 - 10/01/2006 / 10/01/2006 - 11/01/2006 / 11/01/2006 - 12/01/2006 / 12/01/2006 - 01/01/2007 / 01/01/2007 - 02/01/2007 / 02/01/2007 - 03/01/2007 / 03/01/2007 - 04/01/2007 / 04/01/2007 - 05/01/2007 / 05/01/2007 - 06/01/2007 / 06/01/2007 - 07/01/2007 / 07/01/2007 - 08/01/2007 / 08/01/2007 - 09/01/2007 / 09/01/2007 - 10/01/2007 / 10/01/2007 - 11/01/2007 / 11/01/2007 - 12/01/2007 / 12/01/2007 - 01/01/2008 / 01/01/2008 - 02/01/2008 / 02/01/2008 - 03/01/2008 / 03/01/2008 - 04/01/2008 / 04/01/2008 - 05/01/2008 / 05/01/2008 - 06/01/2008 / 06/01/2008 - 07/01/2008 / 07/01/2008 - 08/01/2008 / 08/01/2008 - 09/01/2008 / 09/01/2008 - 10/01/2008 / 10/01/2008 - 11/01/2008 / 11/01/2008 - 12/01/2008 / 12/01/2008 - 01/01/2009 / 01/01/2009 - 02/01/2009 / 02/01/2009 - 03/01/2009 / 03/01/2009 - 04/01/2009 / 04/01/2009 - 05/01/2009 / 05/01/2009 - 06/01/2009 / 06/01/2009 - 07/01/2009 / 07/01/2009 - 08/01/2009 / 08/01/2009 - 09/01/2009 / 09/01/2009 - 10/01/2009 / 10/01/2009 - 11/01/2009 / 11/01/2009 - 12/01/2009 / 03/01/2010 - 04/01/2010 / 04/01/2010 - 05/01/2010 / 07/01/2010 - 08/01/2010 / 08/01/2010 - 09/01/2010 / 09/01/2010 - 10/01/2010 / 05/01/2012 - 06/01/2012 /


Powered by Blogger

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!