São Fernando Pessoa de Lisboa nasceu em Lisboa e morreu em Lisboa. Lis-bo-a. Não viajou pelo mundo, à excepção daquela Durban na África do Sul, para onde imagino ter ido em lágrimas agarrado às saias da mãe, como se fosse ver o Adamastor, mas depressa se naturalizou na língua, fazendo brilhar a dor e o fingidor na esfera armilar de sua majestade the queen, com a dureza e o brilho dos diamantes.
Em Lisboa viveu, portanto, um drama repartido. Deu um bocadinho a Campos, outro a Reis, outro a Caeiro (o Soares não o chamo que me deita abaixo o castelo de areia do fim do verão) e ficou com outra para ele. Diz-se que quem parte e reparte e não fica com a melhor parte …
Nós, leitores que temos também as fases Pessoa, não sabemos bem qual é a melhor parte. Ora somos arrebatados pelas interjeições futuristas de Campos no cais de onde nunca parte, ora pela heresia de Caeiro a contar o dia-a dia da Nossa Senhora no céu, enquanto a pomba se entretém a borrar as costas da cadeira com excremento, ora aceitamos a contra-gosto a Lídia de Reis que, por mais sabedoria que tenha dos clássicos, nos deixa um não sei quê que vem sabemos bem de onde, porque achamos que, pronto, um homem e uma mulher à beira-rio a enlaçar e desenlaçar as mãos é um pouco triste por mais estóico que se seja em nome da sacrossanta literatura. Mas dele mesmo, o Pessoa uno que andava pelas ruas de Lisboa à chuva oblíqua e pensava na pobre ceifeira ou antevia no plaino abandonado o menino de sua mãe que nunca deixou de ser, gostamos verdadeiramente do comboio de corda.
O comboio de corda leva-nos à infância e é com olhos de criança que me aproximo da Mensagem para ouvir a voz das ondas, tremer diante do Mostrengo e sonhar com a Utopia.
São Fernando Pessoa de Lisboa dá licença que partamos!
imagem: Pessoa e eléctrico, de José João Brito, 1985
Clarinda
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