Leitura Partilhada
sábado, novembro 22, 2008
  Sophia, Graça Morais, o Porto e o Café Guarany
Nasci no Porto. A cidade, os seus arredores,
as praias próximas, descendo para o Sul,
permanecem para mim a pátria dentro da pátria, a terra materna,
o lugar primordial que me funda
(....)

Sophia de Mello Breyner Andresen


Café Guarany, Porto

Sobre um desenho de Graça Morais

Nítido e leve ramo de oliveira:
Rijeza firme do tronco
As pálidas folhas como ponta de lança
E o pequeno fruto negro
Compacto e brilhante

“Musa”, Sophia de Mello Breyner Andresen


Um poema de homenagem à pintora cuja obra me recorda a “rijeza firme do tronco” dos transmontanos, as pessoas simples da zona rural da região onde nasceu, de traços corporais marcados pelo esforço da sobrevivência e da precariedade, mas também pelos “pequenos frutos negros compactos e brilhantes” da sua alma. Uma obra feita das recordações de infância da artista, mescladas com a paisagem natal e as imagens da sua gente e cultura, de um colorido intenso, emotivo, quase cinestésico (porque nos toca e apetece tocar), de uma beleza que não é feita de harmonia ou de simetria, mas de realismo e de dureza. Uma obra onde encontro, a par da exaltação das raízes e da tradição, uma mensagem de respeito e de tolerância. Por isso, ninguém mais certo para dar vida ao povo guarani num belo café portuense.

Esta é, também, a minha homenagem ao Sr. Barrias, pela coragem e elevação, pelo seu contributo em prol da qualidade de vida do Porto, por ter devolvido à cidade um dos seus locais de referência e não ter cedido à ganância e ao mau gosto, evitando replicar mais um desses descaracterizados estabelecimentos que vão corroendo um Centro que morre lentamente.

Obrigada, Sr. Barrias, por não nos ter oferecido mais uma lamentável cantina ou um qualquer balcão corrido a fazer lembrar casas-de-banho;
Obrigada, por não ter contribuído para a sangria dos cafés emblemáticos do Porto, traços únicos da sua identidade paulatinamente substituídos por sítios atrozes;
Obrigada, por ter salvado (sim, “salvado” e não “salvo”, viva a tradição) o Guarany, fazendo dele um luxo, um prazer, um dos cada vez mais raros locais da cidade com significado;
Obrigada, por o ter tornado único e aprazível, enriquecendo-o com os esplendorosos painéis de Graça Morais, uma pintora que nos fala das pessoas, de uma humanidade quase dorida e comovente, com rostos, mãos, trajes, expressões e linguagem corporal de gente forte e resistente, como fortes e resistentes são os guaranis;
Obrigada, por ter respeitado a palavra “requalificar” no seu sentido mais nobre (o de “voltar a enaltecer”), porque recuperou a alma, a beleza e o requinte de um lugar onde os guaranis nos observam, atentos, “compactos e brilhantes”, das paredes desse magnífico café da nossa cidade.

Graças à persistência, coragem, visão empresarial e amor à cidade de A. Barrias, foram devolvidos ao Porto, impecavelmente recuperados, o Majestic, jóia da coroa dos Cafés portuenses, e o Guarany.
O
Guarany foi inaugurado em 1933 e sofreu obras de adaptação à modernidade, em meados da década de 1970, que levaram à substituição das mesas por um balcão corrido. Muitos dos frequentadores habituais debandaram perante aquilo que consideravam um atentado ao estilo do Guarany. Fechou em 2001 para obras de requalificação e reabriu, em 2003, mantendo a traça original. Sugestivas pinturas nas paredes e uma óptima decoração, música ao vivo, serviço de refeições ao almoço e ao jantar, atraíram, de novo, muita gente àquele que já voltou a ser um espaço de referência da cidade.
“PORTO, Cidade com Alma”, de J. Tamagnini Barbosa e Manuel Dias, Inova-Artes Gráficas

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