Leitura Partilhada
sexta-feira, julho 31, 2009
  isto é o pior de tudo – isto de uma pessoa sentir a alma a morrer

A bebedeira universal da humanidade?? Pois… Andam todos perdidos e enfastiados, a gastar o tempo e a saúde e a vitalidade que ainda têm numa burlesca série de equívocos, com os fantasmas e as fragilidades em carne viva, quando ao lado tinham mexicanos doentes e subnutridos e, pelo mundo, uma guerra ia matando milhões. É assim o ser humano, não se consegue desligar das suas pequenas tragédias pessoais, mesmo que tudo o resto esteja a arder. Tanto sofrimento individual num País cheio de chagas… Tanto tédio quando, neste mundo que é nosso e dos nossos filhos, neste jardim que deveríamos saber preservar, homens armados se perseguiam matavam torturavam, civis eram violados chacinados, cidades e vilas eram despedaçadas.

Na tourada, as únicas pessoas felizes eram os bêbedos. Não há ali grandeza, é tudo um pouco desprezível, e os dilemas existenciais destes seres profundamente entediados e pusilânimes que o vulcão foi progressivamente engolindo, conferem ao livro uma aura de frivolidade que me incomoda. Que repugnante, que incrivelmente odiosa era a realidade! Mas ainda há quem lide com as dificuldades de forma um pouco mais construtiva e consiga evitar que os filhos destruam o jardim que é seu, e impeça que destruam o jardim que é dos seus filhos.

O amor é a única coisa que imprime sentido aos nossos pobres caminhos neste mundo. Sim, porque é que eles não eram mais simples e não se amavam?! Ninguém pode viver sem amor, quando todos desdenham do amor. Não há aqui nenhum combate para alcançar a luz. O Cônsul não luta e não pretende ser salvo, pois já se entregou. Há derrota, apenas uma inequívoca e clamorosa derrota, uma sucessão interminável de frustrações, que desemboca na frustração do próprio leitor.

- Então, que tal achaste o mescal? (…) / - Parece-me que engoli dez metros de arame farpado. A mim também.

azuki
 
quinta-feira, julho 30, 2009
 
promiscuidades






Ainda não terminei a minha leitura do Debaixo do Vulcão. Leio o capítulo nove, o da tourada mexicana. Creio eu ser diferente das ibéricas, instituídas pela tradição ou pela proibição. Não sou capaz de tomar partido por ou contra as touradas. Estive uma vez na praça de touros em Sevilha e senti o grande respeito que o touro inspira, e senti a morte também e o silêncio e o sagrado. Esta tourada que é descrita aqui, mesmo que certamente ritualística, parece-me aligeirada, talvez porque Lowry decide neste preciso momento do seu auto-intitulado romance barroco, com histórias dentro das histórias, dar voz interior a Yvonne, e vai daí espeta-nos com a infância da menina agora mulher fatal, mais um tio rico, mais um papel de actriz ainda criança, mais uma projecção futura de uma casinha algures no Canadá com o Cônsul - um cuidado de descrição de pormenores que nos permitem um final feliz para tudo aquilo - mais uma cura total do vício da bebida e a anulação da dúvida acerca da fidelidade. Tudo dito enquanto os habitantes de Tomalín se divertem a comer batatas fritas, a beber licor extraído do suco das piteiras e a incitar os que tentam agarrar o touro.

Convenhamos, Malcolm / Cônsul tem algumas coisas a seu favor. Aponto três: Assumir-se como bêbado é a primeira. Um bêbado está sempre a dizer que não está bêbado. Que não bebeu nada, ou só um copo ou dois e que não fez efeito nenhum e que até era capaz de fazer o quatro, ora um bêbedo assumidamente bêbado merece respeito; a segunda coisa é confirmar que o seu grande objectivo foi escrever um livro, e escrever um livro não é assim uma coisa que se faça só porque se quer. É evidente que há muitas coisas a aparecerem na obra, diria sub-repticiamente ( muitas já foram enumeradas pela azuki nos dois posts anteriores). Mas creio que não andarei muito longe se pensar que tudo isso contribui para um sentido trágico que Malcolm / Cônsul quis dar ao seu tão desejado livro. E isso passa pela estafada lei das três unidades: de tempo - o dia de finados; de espaço – Calle Nicaragua e pouco mais; e de acção – esse reencontro, essa correspondência finalmente chegada. Há-de haver um desfecho, aliás já anunciado, porque estas personagens não têm liberdade, têm o destino traçado como nas tragédias gregas.

Finalmente a última coisa que aponto a favor de Malcolm/Cônsul é a que permite compreender como nasce um vício, como uma coisa pequenina pode crescer tanto e devorar a nossa personalidade. E vício, não é só beber, como todos sabemos.

A liberdade que tenho em associar autor e personagem baseia-se no pouco que sei da biografia de M. Lowry. Acredito que a algum momento Malcolm deixa o Cônsul partir sozinho.


A imagem é a Árvore da Vida que também é referida algures num dos capítulos e que me fascina desde que li o Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco.


clarinda

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quarta-feira, julho 29, 2009
  O que me fica?
A conquista espanhola, a arquitectura, Hitler enquanto jovem, os judeus, Schiller e Chaucer, a guerra civil de Espanha, o bom e o mau jornalismo, Tolstoi, Oaxaca, o comunismo, a comida mexicana, as revoluções, o calor, os ditadores, a corrupção, as festas, os tatus e os prostíbulos. O registo epistolar, o romance policial, a teorização política inacabada, as indicações geográficas dispersas, as notas gastronómicas, uma putativa traição ou a desconfiança de um bêbedo. A tequila e o mescal, o sublime-maligno-assombroso vulcão-inferno (que me transportou a todos os vulcões da minha vida), a descrição da tourada, o sentido de humor, Granada. Um País de desolada beleza e de história cruel, de conflitos políticos e atraso social: o México agressivo dos bandos armados e dos mortos escondidos, das perseguições, das torturas, ensanguentado como uma arena de touros; o México pobre, ignorante, místico, desconsolado, vicioso, esfomeado, preguiçoso e lento; o México colorido da cultura ancestral, apaixonante pela diversidade e pela capacidade de reagir à desgraça, que nos aturde os sentidos com os seus sons, imagens, sabores e cheiros. Ficam-me garrafas e copos vazios, os insectos e o delirium tremens. Fica-me um redemoinhante caos cerebral.

azuki
 
terça-feira, julho 28, 2009
  FAZ HOJE CEM ANOS QUE ELE NASCEU
Imagem do filme 'Debaixo do Vulcão' (1984),
realizado por John Huston, com Albert Finney e Jacqueline Bisset
 
  não gostei
o livro foi concebido a princípio (…) como uma espécie de Divina Comédia ébria.
**
a ideia cara ao meu coração foi a de fazer, no seu género, uma espécie de obra pioneira acabando por escrever a autêntica história de um bêbedo.


(Malcolm Lowry, Prefácio)

Pode toda a entusiasmada bibliografia passiva repetir até à exaustão que se trata de uma das obras literárias de vulto do sec XX, mas eu não gostei. Senti-me incapaz de retirar prazer emocional desta leitura, nem sequer intelectual. Achei-o enfadonho e desconexo, uma miscelânea difícil e incompreensível (de concepção muito pouco linear, repleta de planos de significação que nos fogem), que me desiludiu (esperava descrições marcantes, do vulcão e dos delírios, que não encontrei), com longos trechos de palavras gastas sem consequência (para que tantas considerações em torno de temas ou personagens a que o autor não dá seguimento?), um desperdício de páginas (400 páginas) em torno dos cativantes dilemas de um bêbedo: estaria bêbedo? com quê? tinha uma bebedeira ou várias? ficava mais ou menos lúcido quando se embebedava? quantos minutos aguentava, sem pegar no copo? seria possível viver ser beber?

“Debaixo do Vulcão” pareceu-me, em simultâneo, demasiado longo e inacabado, um livro onde “há profundezas” tão profundas que não se descortinam (não podemos dar-nos ao luxo de o ler várias vezes só para o conseguir fruir e assimilar), colado aos bocados, sem unidade ou equilíbrio. Oh, Cônsul, -Serás incapaz de pensar noutra coisa que não seja em quantas bebidas irás tomar?

azuki
 
segunda-feira, julho 27, 2009
  O Rano Kau, na ILHA DE PÁSCOA
(foto minha)

Este território, de apenas 166 Km2 em total isolamento (é considerado o local habitado mais isolado do mundo, já que nada existe num raio de cerca de dois mil quilómetros), não é só os seus quase mil moais. Também há isto: o Rano Kau. É um dos dois principais vulcões da ilha, situa-se no Rapa Nui National Park e parece que é visível do espaço. Trata-se de um vulcão relativamente baixo (324 metros), pelo que facilmente se atinge o cume, e está extinto, como se pode verificar pela vida exuberante no seu interior (é possível descer ao micro-ecossistema que constitui o lago da cratera, desde que devidamente acompanhado por um guia). Estou convicta de que deve ser a mais bela cratera do mundo. Absolutamente impressionante.

azuki
 
sábado, julho 25, 2009
 
comparações







Sei que José Malhoa não é chamado por Malcolm Lowry para ilustrar a sua obra vulcânica, até porque Malhoa parece escolher, pelo menos nos quadros que conheço, não uma classe de ilustres representantes de sua majestade num país exótico do novo mundo, mas um povinho ninguém que se reúne na taberna para beber.

Mas há um momento em que o autor descreve um quadro - vou deixar parte dessa descrição ali em baixo – que tem o mesmo nome do quadro do pintor português: Los Borrachones, Os Borrachões, Os Bêbados.

O quadro de Malhoa é uma desolação. O abandono total do corpo. O único rosto que nos fixa revela um desdém inquietante perante a subentendida sobriedade de quem o observa. O olhar atento dos dois outros da direita permite supor palavras pronunciadas, ou urros, ou arrotos expelidos. O vinho, esgotado no jarro e na tigela, consente o adormecimento e a prostração dos homens. Braços estendidos, amolecidos e inúteis.
É uma tela, para mim, avassaladora, sem crime ou castigo, ao contrário do que veremos no quadro de Malcolm encontrado na casa-torre de Laruelle, mas absolutamente em sintonia com o nosso país de outrora, quiçá de hoje, trocando o vinho pela cerveja.


Capítulo VII

Por cima da janela […] pendia um quadro terrível […] que ele ( o Cônsul) começara por confundir com um tapeçaria. Chamava-se Los Borrachones. Assemelhava-se a qualquer coisa de intermédio entre o primitivo e um cartaz proibicionista remotamente influenciado por Miguel Ângelo. De facto aquilo equivalia a um cartaz proibicionista, embora lhe parecesse datar de há um século ou meio século. Só Deus sabia a que período poderia corresponder. Em baixo, precipitando-se impetuosamente no Hades, com uma expressão egoísta no rosto rubicundo e iluminado pelas chamas do inferno, via-se a Medusa, rodeada de uma tumultuosa legião de demónios e de outros monstros eruptantes que mergulhavam no ar, desastradamente ou com a perícia das andorinhas […] Todos estes seres demoníacos mergullhavam os bêbados nas chamas eternas…

Imaginem para onde vão os abstémios.

Imagem: José Malhoa

clarinda

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quinta-feira, julho 23, 2009
  O Monte Tarawera, na NOVA ZELÂNDIA
(foto minha)

Voámos de helicóptero até à sua cratera, passando por um vasto território desabitado, feito de lagos e florestas e estradas como serpentes. Fica na zona de Rotorua, na Ilha Norte (região conhecida pelos maoris, geysers e piscinas de água efervescente), e é um dos mais famosos vulcões da Nova Zelândia. Não é lá muito bonito, mas não deixa de ser impressionante, com a sua estrutura irregular pintada de verde, branco e rosa. De facto, tem poucas semelhanças com a forma tradicional dos vulcões e eu lembro-me de ter achado que estava a sobrevoar um complexo de vulvas gigantescas… (Na wikipédia, lê-se: "consiste numa série de cúpulas de lava riolíticas que foram fendidas numa erupção basáltica em 1886. Os seus três picos são Ruawahia Peak, Tarawera Peak e Wahanga Peak. O cume situa-se a 1111 m de altitude. A cratera do vulcão é uma série de rifts com seis quilómetros estendendo-se na direcção nordeste-sudoeste”; “rifte (do inglês rift), é a designação dada às zonas do globo onde a crosta terrestre e a litosfera associada, estão a sofrer uma fractura acompanhada por um afastamento em direcções opostas de porções vizinhas da superfície terrestre”). Lá em cima, quando aterrámos, só imensidão e silêncio. E uma enorme paz.

azuki
 
quarta-feira, julho 22, 2009
 
Um dia de pavor neste Porto hoje. Vento forte, chuva muito oblíqua, nenhum romantismo oculto. Refugio-me no centro comercial, uma livraria, muitos títulos em cores vistosas. Mas não procuro qualquer livro. Tenho tanta coisa para ler em casa, à espera da minha fome. Detenho-me nas Cartas de Hellisum e no Livro de Horas de Rilke. Hei-de lá voltar penso, mas não agora. Agora procuro a Time tendo na capa Michael Jackson. Quero saber tudo, mas em inglês, como se o cantor-dançarino fosse o ponto de partida para a aprendizagem de uma língua que, mesmo tão quotidiana, continua bárbara para mim.
Chego ao Leitura Partilhada e continuo a ver vulcões que a azuki vai coleccionando nas suas viagens, belos e misteriosos, mas um mistério que não tenho vontade nenhuma em desvendar. Deixá-los lá a compor a paisagem e a servir de matéria-prima para os geólogos. Penso neste que está perto da casa do Cônsul, em Cuernavaca, penso no Cônsul e no Hugh. Parei exactamente no tal capítulo seis que referi no princípio do mês, por via dessa outra personagem que está em paz lá nos céus a cantar baixinho you are not alone. De volta à viagem de Hugh, sigo o relato das suas experiências na qualidade de marinheiro. Um marinheiro que dá a volta ao mundo, guardando as suas memórias, cruzando-as com outros portos, tudo ali na tal calle nicaragua. Sei que há-de aparecer o momento em que alguém aguarda uma correspondência que demora. Chegarei lá.

clarinda

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  O Licancabour, no CHILE
(foto minha)

Este País tem dezenas de vulcões (ou centenas?) e, sempre que passamos por uma montanha (o que acontece permanentemente), surge a dúvida: será um vulcão…? Ao norte, na região do deserto de Atacama (o mais seco deserto do mundo e, seguramente, um dos mais belos), lá estava o Licancabour. Ao longo da estrada, de qualquer estrada, fossemos para onde fossemos, ele espreitava-nos. Sublime, maciço, forte. O Licancabour, mudando de traje colorido com a alteração das condições pluviométricas e à medida das transfigurações da luz no decurso do dia. Há muitos turistas que se dirigem ao norte do Chile só para o escalar. Eu, contentava-me com a sua beleza magnífica, ao longo da estrada.

azuki
 
segunda-feira, julho 20, 2009
  O Arenal, na COSTA RICA
(foto minha)

Chegámos ao fim da tarde e logo nos dirigimos ao Arenal (antes de o ver, conseguíamos ouvir as suas exalações). Lá estava ele, poderoso e esplêndido, constrangedor na sua força, magnético de beleza. Cuspia fogo. Era já noite, víamos as labaredas a saltar, espectáculo laranja num céu negro. No dia seguinte, outro panorama, o mesmo vulcão: em torno da cratera, as fumarolas misturavam-se com as nuvens, os fragmentos de rocha saltavam; e o som, ruooommm, como uma fera enjaulada... Pensei que seria necessária uma grande dose de coragem para viver perto de um bicho daqueles; cedo percebi que não se tratava de coragem, nem da fertilidade dos campos, mas da naturalidade com que se encara tudo que pertence ao cenário do nascimento – e, passadas umas horas de habituação, até os turistas (o nosso hotel distava 4 Kms do Arenal) se convenciam de que a constância das expulsões evitava a concentração da sua fúria. Uma noite, acordei assustada com um estrondo e corri para a janela. Nada de jactos de fogo, apenas trovoada.

azuki
 
sexta-feira, julho 17, 2009
  Malcolm Lowry’s Mysterious Death (1957)
Uma verdadeira telenovela em torno das garrafas…

The truth behind Lowry's death will probably never be known, except maybe to Lowry, who told a psychiatrist that either he was going to kill Bonner, or she was going to kill him. (ler mais)

azuki
 
quinta-feira, julho 16, 2009
  Uma das 7 maravilhas naturais do mundo?

Há mais do que uma lista para as denominadas SETE MARAVILHAS NATURAIS DO MUNDO. O Paricutín consta desta, compilada pela CNN:
Grande Canyon, nos EUA
Grande Barreira de Coral, na Austrália
Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, Brasil
Monte Everest, entre o Nepal e a China
Aurora Boreal, na região polar
Vulcão Paricutín, no México
Cataratas Vitória, entre a Zâmbia e o Zimbabué

Está em curso, desde 2007, a elaboração da lista para as NOVAS SETE MARAVILHAS NATURAIS DO MUNDO: all voting is currently on hold, as the New7Wonders Panel of Experts is considering the TOP77 nominees from the second phase (…) On 21 July 2009 at 7 minutes past midday GMT, at the headquarters of New7Wonders in Zurich, the 28 Official Finalist Candidates will be announced, and on that day voting resumes in the Official New7Wonders of Nature, as chosen by over 1 billion votes and to be revealed in 2011.

Desta vez, vota-se para o Popocatépetl.

azuki
 
quarta-feira, julho 15, 2009
 

hoje, o LP faz seis anos
 
terça-feira, julho 14, 2009
  a tourada
Goya, “Diversión de España”
(do conjunto de litografias denominado “Los toros de Burdeos”)

Arena Tomalín...
Como toda a gente se divertia maravilhosamente, como todos se sentiam felizes, como toda a gente se sentia feliz! Como o México ria, esquecendo a sua história trágica, o passado, os mortos debaixo da terra!
(...)
O pobre e velho animal parecia agora realmente um ser atraído, arrastado para acontecimentos dos quais não possuía verdadeira compreensão, por pessoas com quem desejaria entrar em relações cordiais, divertir-se, até, pessoas que o incitavam, encorajando-o a ter desses desejos e com as quais, afinal, por desejosas de o desprezarem e humilharem, acabava por se ver enredado.
(...)
O touro lutou mais um pouco contra as forças contrárias das cordas; depois, submeteu-se melancolicamente, abanado a cabeça para um e outro lado, com movimentos que varriam o chão, quase revolvendo o pó, onde, temporariamente derrotado, se assemelhava a um fantástico insecto apanhado no centro de uma enorme teia vibrante...
(...)
Tumba, tumba, tumba – matraqueavam as guitarras, enquanto o cavaleiro lançava um olhar furioso para os lados; agarrou a corda com maior firmeza em torno do pescoço do touro; puxou-o com um movimento brusco e, por um momento, o animal fez realmente aquilo que dele se esperava, ao que parecia, projectando-se violenta e convulsivamente como uma máquina e dando pequenos saltos no ar com as quatro patas.
(...)
A orquestra atacou de novo os compassos da Guadalajara, e o touro urrou, com os chifres presos nas grades, através das quais, indefeso, ia sendo picado com varas no que lhe restava dos testículos. Cocegavam-no com varinhas flexíveis, com uma faca de mato e, depois de o animal se ter desembaraçado e de novo deixado enredar, continuaram a importuná-lo com um ancinho de jardim; atiravam-lhe com poeira e bosta aos olhos congestionados.
“Debaixo do Vulcão” (1947), de Malcolm Lowry, Edição "Livros do Brasil" Lisboa, tradução de Virgínia Motta

Lendo esta passagem, mais se reforça o meu muito emocional e inflexível antagonismo às touradas. Quais são as razões soberanas em nome das quais faremos má figura perante gerações futuras, (desejavelmente) não familiarizadas com a barbárie? Celebração colectiva, identificação cultural, prática ancestral, estratégia de diferenciação para projecção da terrinha e estímulo económico, simplesmente porque se gosta…? Por motivos de contenção, abstenho-me de referir onde desejaria que as pontas (quando existem) daqueles animais assustados desorientados maltratados extenuados se fossem enterrar.

azuki
 
domingo, julho 12, 2009
 
azuki

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sábado, julho 11, 2009
 
penitências







É o Cônsul que diz que uma das primeiras penitências que alguma vez se impôs a ele mesmo foi aprender de cor a parte filosófica do Guerra e Paz […] mas a única coisa que lhe ficara do livro fora o facto de Napoleão sofrer de um tique nervoso numa perna.*
Se a leitura deste livro for uma espécie de penitência, o que guardará cada leitor desta penitência?
Falo por mim. A leitura nunca foi uma penitência mas um vício, sadio direi, desvalorizando a contradição. E penso que deste livro me vai ficar mais do que a afeição intensa e indestrutível que o Cônsul tem pela bebida.

Por exemplo, essa Calle Nicaragua é deveras inquietante. Os que por lá caminham, os nossos angustiados personagens, primeiro Laruelle, depois o Cônsul que, bêbado, achou ter sido a rua a subir até ele e não ele a nela se estatelar, num exercício extremo de equilíbrio do ponto de vista do narrador,e agora no capítulo quarto Hugh, o irmão do Cônsul, que a percorre na companhia de Yvonne, acabam por a transformar no ponto para onde convergem todas as viagens, as do cérebro e as outras.


Malcolm utiliza a mesma técnica narrativa com os dois irmãos, ou seja, Hugh deixa a coitada da Yvonne a falar sozinha e viaja para muito lados enchendo-nos de informações geográficas sobre o Canadá, históricas e políticas sobre a Espanha, e até sobre a suavidade climática de Trinidad, o seu sonho de ilha. Realço duas conclusões prévias: Yvonne vale pelas emoções que desperta nos irmãos; os irmãos são as duas faces da mesma moeda: de Malcolm. Numa aproximação à heteronímia de Pessoa. Et pour cause.


*terceiro capítulo

imagem: Calle Nicaragua


clarinda

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sexta-feira, julho 10, 2009
 
Nada, no mundo, existia de mais terrível que uma garrafa vazia! A não ser um copo vazio.*

Não tenho dúvidas nenhumas de estarmos perante uma obra que merece uma atenção especial. Imagino o que os estudiosos da literatura e da psicologia poderão retirar destas trezentas e cinquenta páginas escritas a ferro e fogo, ou como quem diz, à luz do álcool, mescal, uísque, estricnina ou sei lá.
O Cônsul é uma personagem próxima de mais do autor Malcolm Lowry. Percebe-se isso pela apropriação constante que este faz do que lhe vai na mente, face à formalidade na composição das personagens exteriores.
Os diálogos são sistematicamente interrompidos por lembranças intrusas de situações vividas. Yvonne, por vezes, fica a falar sozinha, porque, entretanto, o Cônsul distraiu - se com acontecimentos extraordinários que se iam desenrolando dentro do seu próprio cérebro. A dependência do álcool acaba por dar o tom a esta sinfonia de bebedeiras. Bebedeiras adiadas, encobertas ou desenfreadas, que dão mais consistência e mais segurança à mão que segura o copo, ou antes, à mão que escreve, pois não diz o Cônsul, ainda no terceiro capítulo, que se sentia mais lúcido precisamente quanto mais bêbado se encontrava?


*terceiro capítulo

clarinda

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  Popocatépetl
(fonte: wikipedia)

O Popocatépetl é um estratovulcão activo, localizado a 60 km a sudeste da capital mexicana. O seu cume atinge 5.482 metros de altitude e é o segundo mais alto do México. Nos últimos dez anos, sempre no mês de Dezembro, entra em actividade, soltando colunas de fumaça que cessam gradualmente (fonte: wikipedia).

Em Fev/03:
Popocatépetl entra em erupção no México - O vulcão Popocatépetl, a sudeste da capital mexicana, lançou hoje duas novas colunas de fumaça, que alcançaram dois e quatro quilômetros de altura, respectivamente. O Centro Nacional de Prevenção de Desastres (Cenapred), encarregado da observação do comportamento do vulcão, explicou que as exalações estiveram acompanhadas de explosões no interior da cratera, o que ocasionou a expulsão de material incandescente. (…) O coordenador do Plano Operacional Popocatépetl, Ramón Peña, explicou que estas explosões são normais num vulcão ativo e estão relacionadas com a destruição do domo de lava do interior da cratera. Peña garantiu que, apesar da intensidade dos fenômenos, não existe nenhum risco para as pessoas que vivem em comunidades próximas ao vulcão (…) As autoridades do estado de Puebla disseram, por sua vez, que diante do aumento da atividade do vulcão, foi intensificada a vigilância nos arredores. O Popocatépetl, que entrou em atividade em 1994, fica entre os estados do México, Puebla e Morelos. Em maio de 1996, cinco pessoas morreram perto da cratera por causa de uma explosão em seu interior e, em dezembro de 2000, novas explosões fizeram com que milhares de pessoas evacuassem a região. (
fonte)

Em Dez/00:
40 mil deixam casas próximas a vulcão no México - Cerca de 40 mil pessoas estão deixando suas casas para fugir da erupção do vulcão Popocatepetl, na região central México. Nos últimos dias o vulcão tem lançado colunas de fumaça e fragmentos de rocha a centenas de metros de altura. De acordo com especialistas, a atividade do Popocatepetl ainda não pode ser considerada uma erupção porque não existe a expectativa de que lava também seja lançada. Mas eles advertem que a pressão está aumentando perigosamente no interior do vulcão, e os fragmentos de rocha que estão sendo lançados constituem um risco real para a segurança dos moradores da região. (…) Um pedaço de rocha chegou a ser encontrado a 10 km de distância do Popocatepetl, que fica a 60 km da Cidade do México. Praticamente todas as pessoas que moram a uma distância de até 6 km do vulcão já foram evacuadas. Mas as autoridades locais estudam evacuar todas as pessoas que moram dentro de uma faixa de 12 km ao redor do Popocatepetl. O presidente Vicente Fox pediu à população que mantenha a calma. (
fonte)

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quinta-feira, julho 09, 2009
  FUNDACIÓN MALCOLM LOWRY
Este blog fue creado con el propósito de unir a la comunidad lowryana de todo el mundo a fin de intercambiar ideas e información sobre el escritor, además de promover y organizar conferencias, coloquios y otras actividades acerca de su obra. Cuernavaca, Morelos.

En el centenario del natalicio de Lowry habrá tres eventos grandiosos a nivel mundial. 1.- El tercer coloquio internacional Malcolm Lowry en Cuernavaca del 25-28 de julio del 2009. 2.- El Festival Internacional Malcolm Lowry en Liverpool Inglaterra durante el mes de septiembre del 2009. 3.- La Conferencia del Centenario de Malcolm Lowry en la Universidad de British Columbia Canadá del 23 al 25 de julio del 2009... y allá nos vemos.

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quarta-feira, julho 08, 2009
  Do prefácio, pelo próprio autor
Este romance tem como tema, para usar a frase de Edmund Wilson, as forças que habitam no interior do homem, e que o levam a assustar-se consigo próprio. O tema é também o da queda do homem, o dos seus remorsos, e do seu incessante combate para alcançar a luz, sob o peso do passado, ou do seu destino. A alegoria é a do jardim do Éden, e o jardim representa este mundo, de que corremos o risco de ser expulsos, talvez mais agora do que na altura em que escrevi o livro. Num desses muitos planos de significação, a bebedeira do Cônsul deve simbolizar a bebedeira universal durante a guerra, ou durante o período que a antecedeu, ou em qualquer altura. Ao longo dos doze capítulos o destino do meu herói pode ser considerado em relação com o destino da humanidade.

(...) O livro situa-se em diferentes planos. A minha intenção foi a de clarificar, na medida do possível, aquilo que a princípio me surgira de uma maneira complicada e esotérica. Este romance pode ser lido simplesmente como uma história no decurso da qual o leitor pode saltar passagens, mas que desfrutará muito mais se o não fizer. Pode ser considerado como uma espécie de sinfonia, como uma ópera, ou como um filme de cowboys. Eu quis fazer música hot, um poema, uma canção, uma tragédia, uma comédia, uma farsa, e assim sucessivamente. É superficial, profundo, distraído, pesado, segundo os gostos de cada um. É uma profecia, uma advertência política, um criptograma, um filme cómico, um absurdo, uma frase escrita na parede. Pode ser considerado uma espécie de máquina: funciona, acredite, descobri-o à minha custa. No caso de suspeitar que fiz qualquer coisa excepto um romance, responder-lhe-ia que afinal de contas a minha intenção foi a de escrever um verdadeiro romance, de facto um romance endiabradamente sério.

Malcolm Lowry

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terça-feira, julho 07, 2009
 
O conteúdo da carta queimada por Laruelle é uma antecipação e corresponde ao ponto final da história que começa a ser contada no segundo capítulo. Aqui, as personagens são de carne e osso, se assim posso falar. Yvonne e o Cônsul reencontram-se, é importante salientar, reencontram-se. Pergunto-me o que leva um casal de divorciados a retomar a relação. É óbvio que o livro vai dizer-me, não sei em que capítulo – não tenho pressa – mas essa pergunta faz-se, mesmo sem ser diante deste livro.

O modo como tomamos conhecimento da primeira parte da relação é muito peculiar: são as malas de Yvonne, três malas e uma caixa de chapéus, floreadas de rótulos dos locais onde estiveram, Honolulu, Granada, Algeciras, Gibraltar, Paris, Londres, que nos informam silenciosamente dessas andanças. Esse é o mundo, provavelmente cheio de fotografias a preto e branco, no entanto, outro mundo se vai revelando, o submundo manifesto na bandeja que Concepta leva para a varanda onde estão os reencontrados ex-marido e ex-mulher: dois copos, uma garrafa John Walker, com uísque até meio, um sifão de soda, um jarro de gelo a derreter-se e uma garrafa de aspecto sinistro, também semicheia de um cozimento vermelho escuro como um clarete de má qualidade. Era a estricnina*.


*Alcalóide! vegetal, muito venenoso, extraído da noz-vómica, que provoca a contracção! e depois a paralisia dos músculos. (Em dose fraca, a estricnina é estimulante.)
Priberam - dicionário online

clarinda

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  Como editar um primeiro livro

Debaixo do Vulcão, considerado por muitos um dos grandes romances do século XX, faz parte de uma enorme lista de originais que foram recusados pelas editoras. Na altura em que foi publicado, era mais difícil “impulsionar” o sucesso de um livro através de uma assertiva campanha publicitária: a qualidade literária era mesmo um critério. E, no entanto…

(…)
A Espera
Enviado o original, tem de saber esperar. Mostrar impaciência passada uma semana é mau sinal. E esperar mais de seis meses revela falta de convicção. O melhor é informar-se dos prazos junto do editor (são poucos os que em Portugal têm o apoio de Comissões de Leitura).
Mas o principal é saber que apenas um em mil originais será aceite. De qualquer modo, envie o seu para vários editores. As possibilidades aumentam e se um deles o aceitar poderá sempre ter o prazer de explicar aos outros que lamenta mas...
Em caso de recusa, pode pensar que o editor é um incompetente, o que pode muito bem ser o caso.
Em Busca do Tempo, Debaixo do Vulcão, Uma Conspiração de Estúpidos e Levantado do Chão, integram a longa lista de originais recusados.
Em alternativa, leia
A Tabacaria com «Desespoir agréable» de Satie como música de fundo, e convença-se que a posteridade saberá reconhecer os seus.
(…)
fonte: Blogue da Relógio D’Água Editores


azuki

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segunda-feira, julho 06, 2009
  Debaixo do Vulcão

Debaixo do Vulcão (1947), é um dos grandes romances do século XX. Passados sessenta anos da sua publicação, e cinquenta da morte do seu autor, mais claro se afigura o seu lugar na tradição literária, a par de A Montanha Mágica, de T. Mann, ou A Morte de Virgílio, de H. Broch, sem esquecer a sombra de Moby Dick, de H. Melville, para citar apenas três bons exemplos. O México aqui descrito oscila entre o naturalista e o alucinatório, palco onde se reúnem numerosas dimensões e significados sobrepostos, do humano ao político, da paisagem interior à natureza selvagem, do mítico e mágico ao religioso, numa tessitura onírica e poderosa. Acima de tudo, é um mural feérico e subjectivo, onde perpassa a nostalgia de um lugar que não seja escuro como um barranco e frio como a ausência do amor.
(...)
O livro, em prosa luxuriante, que em doze partes cobre doze horas, assemelha-se a um sonho semeado de símbolos, a um delírio alcoólico, a um filme expressionista, a uma elegia musical ao amor perdido, mas também a uma viagem xamânica pelo labirinto da existência humana, privada de uma luz redentora, entre memórias e alusões, num sobrevoo de Ícaro, caindo sempre, esperando ainda um regresso a um lugar perdido. A sua estrutura pode ser assimilada à Árvore da Cabala, uma homenagem a Dante e ás aventuras de Alice; o seu herói, ao Louco do Tarot, a um Perceval caído em desgraça, abandonado pela visão do Graal, ao Rei Pescador, ferido de morte, retrato a sépia de um “eu” que se desintegra e perece. A atmosfera sombria e deletéria é atenuada por momentos de pura comédia, incursões e discussões de vária índole, que dão cor e espessura ao cenário, onde se desenrola esse dia singular, com profundos ecos da expulsão do Éden, a queda no mundo e a expiação, no calvário da existência, longe do jardim inicial.
(...)
Rejeitado inúmeras vezes e reescrito sem parar ao longo de uma década, o manuscrito sofreu desastres naturais, incêndios, incompreensões. Numa célebre carta ao seu editor (in “Por Cima do Vulcão”, Hiena, 1991), dá conta dos seus propósitos e intenções, fazendo a defesa acalorada da obra, como se pode aferir no prefácio do autor para esta edição [da Relógio D´Água, 2007]. Tinha razão em defender a sua dama, ou melhor, a sua visão do inferno, onde deambula o Cônsul, vítima sacrificial num mundo de trevas, em busca da lucidez e do retorno ao paraíso, mesmo sem esperança de o alcançar, mas com a paixão de quem cumpre um destino, pois “no se puede vivir sin amor”.

José Guardado Moreira, Expresso (Actual), Nov/07

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domingo, julho 05, 2009
  Blog Foundation Malcolm Lowry


Encontrei este video no Blog http://malcolmlowry.blogspot.com/

Desta vez não vou acompanhar a leitura do livro "Debaixo do Vulcão", mas pelo que vi neste Blog é um escritor que tem um grande número de admiradores.
Uma boa leitura para quem se aventurar a ler este livro.
Luis Neves

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sexta-feira, julho 03, 2009
 
Nisto de separar autor e obra, aliás um assunto também tratado por Malcolm Lowry no dito prefácio, não deixa de ser interessante ler um pouco acerca da experiência de vida do escritor e dos reflexos dessa experiência no enredo. No caso de Debaixo do Vulcão, pelo que fui lendo na net, parece ser demasiado evidente o autobiografismo no acto de criação, o qual está engenhosamente documentado no já referido facto do autor ocupar a torre em que o herói terá tido alguns problemas devido ao atraso de correspondência. Assim sendo, acho que, nestes primeiros dias tradicionalmente atribuídos ao autor e à obra, é possível avançar na exploração do primeiro capítulo, mesmo porque nos previnem que se trata da trave mestra de todo o romance.

E o que diz o primeiro capítulo? Para além das coordenadas geográficas que trataremos mais tarde; das características da cidade de Quauhnahuac (dezoito igrejas, cinquenta e sete bares, um campo de golfe, quatrocentas piscinas, públicas e particulares, muitos e esplêndidos hotéis e um único cinema); do percurso de uma determinada rua, a Calle Nicaragua; de uma repentina memória da vida passada em Inglaterra pelo francesito Laruelle para introduzir o Cônsul e das referências a um passado recente, temos uma longa carta encontrada por acaso no meio de um livro que o Cônsul emprestara a Laruelle com o objectivo propositado de não o querer devolvido e que Laruelle, por acaso realizador de cinema, esqueceu no acima referido cinema, local onde se encontra no final do capítulo. Deixem-se levar pelo romantismo e leiam a carta! De acordo com Laruelle está escrita em duas folhas de papel de bloco de hotel, papel invulgarmente fino, comprido mas estreito e escrito dos dois lados e sem margens. Leiam! Até porque depois de a ler, Laruelle queimá-la-á.


clarinda

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  Malcolm Lowry (1909-1957)

Malcolm Lowry, nasceu numa abastada família de Liverpool, teve uma infância protegida, mas cedo começou a afastar-se do meio social e familiar. Aos 17 anos embarca num cargueiro rumo ao Japão. Dessa viagem há-se retirar matéria para o primeiro livro, Ultramarine (1933). Ingressa em Cambridge, que frequenta por três anos. É descrito pelos amigos como um tipo jovial, mas dado a excessos de álcool. Em Nova Iorque passa dez dias internado na ala psiquiátrica de Bellevue. A experiência é descrita em Lunar Caustic (Assírio & Alvim, 1985). Finalmente, em 1936, desembarca no México, onde começa a escrever Debaixo do Vulcão. Quatro anos mais tarde fixa-se no Canadá, perto de Vancouver, até regressar à Europa no final da década, não sem antes passar uma segunda vez pelo México, de onde é expulso. A década de 50 é-lhe penosa e, ao mesmo tempo, muito produtiva. A morte vem por “acidente”, ao cabo de uma tentativa de suicídio. Havia escrito: Há mil escritores que podem criar personagens adequadas para um que diz algo de novo acerca do fogo do Inferno, e eu digo alguma coisa nova acerca desse fogo.

José Guardado Moreira, Expresso (Actual), Nov/07

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quinta-feira, julho 02, 2009
 
o livro, esse obscuro objecto





A edição da Relógio d' Água traz um prefácio escrito por Malcolm Lowry para a primeira edição francesa de Debaixo do Vulcão. O prefácio tem o firme propósito de esclarecer e facilitar a compreensão da obra, pois, pelo que é dito a seguir, parece que o leitor profissional que leu o manuscrito ainda não publicado colocou sérias reservas ao conteúdo, sugerindo mesmo que Lowry reescrevesse capítulos e suprimisse personagens. Ora, como muito bem diz o autor, com tanto trabalho feito e tanto tempo gasto na construção, obscura ou não, de uma obra literária, é óbvio que se tornava imperioso esclarecer certos pormenores, quanto mais não fosse para, digo eu, prevenir o leitor de que ele, Malcolm Lowry, - como aliás qualquer outro escritor - nunca teve qualquer intenção de escrever um livro pesado e aborrecido.

A interpretação dada pelo autor acerca do seu romance, já quando considerado obra-prima da literatura moderna, não deixa de ser curiosa por dois motivos: primeiro porque ficamos a saber que Lowry sempre desejou escrever aquele livro e que o seu modelo foi Almas Mortas, de Gógol; segundo que, escrito o livro e criados os personagens, o próprio autor, no momento em que escreve o prefácio, ocupa a torre na qual o herói do romance terá alguns problemas devido ao atraso de correspondência, o que saberemos melhor lendo o capítulo seis da obra, se entretanto lá chegarmos.

Um pouco insensível a este tu cá tu lá leitor autor, resolvi deixar o prefácio (será para mim um posfácio) exactamente no parágrafo que termina na data Novembro de 1938 e acompanhar o francês pelo fim de tarde na cidade de Quauhnahuac. O bar aí em cima está fechado, mas uma bebida calha bem com leitores amadores. Mesmo que seja virtual. À nossa!



imagem da net

clarinda

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quarta-feira, julho 01, 2009
 

2009,
ano do centenário de Malcolm Lowry

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O QUE ESTAMOS A LER

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PROXIMAS LEITURAS

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LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

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"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

Primeira Viagem Temática BLOOMSDAY 2004

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Primeira Tertúlia Casa de 3 2005

Segundo Aniversário LP

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