Leitura Partilhada
segunda-feira, janeiro 31, 2005
 
“...eu caminhava deixando a minha sombra para trás, como um barco que prossegue a sua rota através de vastidões encantadas...”

“Os passeios que assim dávamos eram os mesmos que dava em criança; ora, quando vi quão pouca curiosidade sentia por Combray, como não havia eu de experimentar...a sensação de que nunca seria capaz de escrever, a que se juntava a de que a minha imaginação e a minha sensibilidade estavam enfraquecidas? Estava desolado por ver quão pouco revivia os meus anos de outrora....separado dos locais que me acontecia tornar a percorrer por toda uma vida diferente, não existia entre eles e eu aquela contiguidade de que nasce, antes mesmo de darmos por isso, a imediata, deliciosa e total deflagração da memória...A própria Gilberte...aumentava a minha tristeza por partilhar o meu espanto...
...
Um dos meus outros espantos foi ver as “nascentes do Vivonne” que eu imaginava como algo de tão extraterrestre como a Entrada dos Infernos, e que não passavam de uma espécie de lavadouro quadrangular que borbulhava...
...
“Se quiser, podemos sair uma tarde, podemos ir então a Guermantes, tomando por Méséglise, é o caminho mais bonito”, frase esta que, transtornando todas as ideias da minha infância, me fez saber que os dois lados não eram tão inconciliáveis como eu julgara. Mas o que mais me impressionou durante aquela estada foi o pouco que revivi os meus anos de outrora, o pouco de desejei tornara a ver Combray, e como achei o Vivonne insignificante e feio.”

(p.278/279)


As doces lembranças da infância, que nos amparam e onde encontramos a nossa verdade, deviam permanecer insondáveis e intocáveis na nossa recordação. A tentativa de as fazer renascer na idade adulta não passa, na maior parte dos casos, de uma triste e dolorosa experiência.

Troti
 
  ...porque o meu coração mudara ainda mais do que o rosto de Gilberte
.
E, com efeito, não sera verdade que existe a morte entre nós e as mulheres que já não amamos e que tornamos a encontrar passados anos, exactamente como se já não fossem deste mundo, visto que o facto de o nosso amor já não existir transforma em criaturas mortas as mulheres que elas eram então, ou o homem que nós então éramos? (p.281)

Veneza, Albertine, como outrora Balbec e Gilberte enfim (ou Méséglise, ou as margens do Vivonne): perderam-se no tempo. No Tempo. (É este então o Tempo Perdido? São os afectos trasladados, transferidos, apesar de eternos e imutáveis dentro de nós?) Perpassa nestas últimas páginas uma sensação de nostalgia – perda – uma sensação de frustação e falhanço. Estaremos condenados a falhar eternamente os outros, como refere Marcel? Onde os (nos) encontraremos?
nastenka-d
 
  «Adeus, deixo-lhe o melhor de mim mesma.»
(p.7)

E o melhor poderá ser apenas a memória, mais ou menos filtrada pelo amor próprio.

O que mais gosto de Proust é o rescaldo da leitura.

leitora
 
 
“...para os homens, devido à pobreza dos seus sentidos, as coisas apresentam apenas um número restrito dos seus atributos. São coloridas porque temos olhos, mas quantos epítetos não haveriam elas de merecer se dispuséssemos de centenas de sentidos?”
(p.271)

Troti
 
domingo, janeiro 30, 2005
 
“...em frente do hotel um músico cantava o Sole mio. O Sol continuava a descer no horizonte. A minha mãe não devia estar muito longe da estação. Dali a pouco teria partido e eu estaria sozinho em Veneza, sozinho...A minha irrevogável solidão estava tão próxima que me parecia já começada e total. É que sentia-me só, as coisas haviam-se-me tornado alheias, já não tinha calma suficiente para retirar um pouco de estabilidade do meu coração palpitante e introduzi-la nelas. A cidade que estava diante de mim deixara de ser Veneza. A sua personalidade, o seu nome pareciam-me como que ficções enganadoras que já não tinha coragem para aplicar às pedras. Os palácios surgiam-me reduzidos às suas simples partes e quantidades de mármore semelhantes a todas as outras, e a água era uma combinção de hidrogénio e azoto, eterna, cega, anterior e exterior a Veneza, ignorante dos doges e de Turner. E todavia aquele lugar vulgar era estranho como o lugar a que chegamos e que não nos conhece ainda, como um lugar que deixámos e que já nos esqueceu. Já nada lhe podia dizer de mim, já mais nada de mim podia deixar poisar nele; ele contría-me em mim mesmo, e eu já não passava de um coração a bater e de uma atenção que acompanhava ansiosamente o desenrolar do Sole mio...
...
e neste local solitário, irreal, glacial, sem simpatia por mim, onde ia ficar só, o canto do Sole mio erguia-se como uma lamentação da Veneza que eu conhecera e parecia tomar a minha infelicidade como testemunha. Era preciso, sem dúvida, parar de o ouvir se ainda quisesse ir ter com a minha mãe e apanhar o comboio com ela...Mas era justamente o que eu não podia fazer...O meu pensamento, para não encarar a decisão a tomar, tratava apenas de seguir o desenrolar das frases sucessivas do Sole mio...Sentia bem que na realidade era a decisão de não partir que estava a tomar, uma vez que me deixava ficar ali sem me mexer; mas dizer a mim mesmo:”Não vou”, coisa que não me era possível sob essa forma directa, tornava-se-me possível sob esta outra: “Vou ouvir mais uma frase do Sole mio; ...”Afinal é só mais uma frase” sabia que isso significava:”Vou ficar sozinho em Veneza”...cada nota que a voz do cantor soltava, com uma força e uma ostentação quase musculares, vinha ferir-me em cheio no coração;...”Ainda não posso decidir-me, vamos antes de mais nada repetir mentalmente esta frase a subir.” E a frase aumentava a minha solidão, onde descia tornando-a de minuto a minuto mais completa, e em breve irrevogável...”
(p.241 a 243)

Troti
 
 
"Hoje tenho a certeza de que existe um prazer, se não de ver, ao menos o de ter visto uma coisa bela com uma determinada pessoa."
(p.235)

Troti
 
 
"Seria incapaz de ressuscitar Albertine porque era incapaz de me ressuscitar a mim mesmo, de ressuscitar o meu "eu" de então.
(p.231)

...

o meu amor por Albertine fora apenas uma forma passageira da minha devoção à juventude.
(p.233)

...

E assim, aquele amor...depois de me ter obrigado a uma deambulação tão longa e dolorosa, acabava...por obedecer á lei geral do esquecimento.
(p.233)


Troti
 
sábado, janeiro 29, 2005
  Passeio de gôndola II
"O Sol ainda ia alto no céu quando ia juntar-me à minha mãe na Piazetta. Chamávamos uma gôndola. "Como a pobre avó teria gostado desta grandeza tão simples!", dizia-me a minha mãe...Como a tua avó teria gostado de Veneza, e que familiaridade que pode rivalizar com a da natureza ela haveria de achar em todas estas belezas, tão cheias de coisas que não precisam de qualquer arranjo, que se apresentam tais quais são - o palácio ducal...as colunas que tu dizes serem as do palácio de Herodes, em plena Piazzetta ...os pilares de São João de Acre, e aqueles cavalos na varanda de São Marcos! Que prazer a tua avó teria sentido ao ver este Sol a pôr-se sobre o palácio dos doges como sobre um monte."






The St. Jean d'Acre Pillars, Venice
John Ruskin, 1877 Watercolor on paper



Havia efectivamente uma parte de verdade no que a minha mãe dizia, porque, enquanto a gôndola, ao trazer-nos de volta, subia o Grande Canal, víamos como a fieira de palácios pelo meio dos quais íamos passando reflectia a luz e a hora nos seus flancos rosados, e como mudava com elas, menos à maneira de habitações privadas e de monumentos célebres que como uma cadeia de falésias de mármore junto da qual vamos ao entardecer passear de barco, num braço de mar, para ver o pôr do Sol. Também as mansões dispostas de ambos os lados do canal faziam lembrar sítios naturais, mas de uma natureza que tivesse criado as suas obras com uma imaginação humana."
(p.218)





Troti
 
 


"Quando às dez da manhã me vinham abrir as portadas, via flamejar, não o mármore negro em que as ardósias resplandecentes de Santo Hilário se tornavam, mas o Anjo de Ouro do campanile de São Marcos. Rutilante num sol que tornava quase impossível fixá-lo, de braços bem abertos, fazia-me, para quando dali a meia-hora estivesse na Piazetta, uma promessa de alegria mais garantida que a que haveria sido outrora encarregado de anunciar aos homens de boa vontade. Deitado, só podia vê-lo a ele, mas como o mundo não passa de um vasto quadrante solar em que basta um só segmento ensolarado para nos permitir ver que horas são, logo de manhãzinha pensava nas lojas de Combray, no largo d igreja, que ao domingo estavam a fechar quando chegava à missa, ao mesmo tempo que, sob o sol já quente, se sentia o cheiro forte da palha do mercado.”
(p.213)

Troti
 
  Passeio de gôndola I


”A minha gôndola seguia pelos pequenos canais; qual mão misteriosa de um génio que me houvesse conduzido pelos meandros desta cidade do Oriente, aqueles canais pareciam, à medida que ia avançando, abrir-me um caminho cavado em pleno coração de um bairro que dividiam mas quase sem separar com o seu estreito sulco traçado arbitrariamente as altas casas de janelinhas mouriscas;...Sentia-se que entre as pobres habitações que o pequeno canal acabava de separar, e que se assim não fosse teriam formado um todo compacto, nenhum lugar fora reservado. De sorte que o campanile da igreja ou as latadas dos jardins situavam-se a pique sobre o rio, como numa cidade inundada....o mar prestava-se tão bem ao papel de via de comunicação, de rua, grande ou pequena que, de cada lado do canaletto, as igrejas se erguiam da água...os jardins, atravessados pelo rasgão do canal, arrastavam até à água as suas folhas ou os seus frutos espantados,...Às vezes aparecia um monumento mais belo que estava ali como uma surpresa numa caixa que acabamos de abrir,
...
aumentava mais ainda o meu desejo de não estar de fora, antes de penetrar cada vez mais fundo em qualquer coisa de secreto, porque ia sempre encontrando algo de novo que vinha colocar-se junto de mim, de um lado ou do outro, pequeno monumento ou campo imprevisto, como o ar espantado das coisas belas que vemos pela primeira vez e cujo destino e utilidade ainda não compreendemos bem."
(p.216/217)













Troti
 
sexta-feira, janeiro 28, 2005
 
"Porque o homem é aquele ser sem idade fixa, aquele ser com a faculdade de em alguns segundos tornar a ser muitos anos mais novo, e que, rodeado pelas paredes do tempo em que viveu, nele flutua, mas como que numa bacia cujo nível mudasse constantemente e o situasse ora ao alcance de uma época, ora de outra.".
(p.203)

Troti
 
 
"Preferia que a vida estivesse à altura das nossas intuições."
(p.199)

Troti
 
 
"A mentira é essencial à humanidade"
(p.199)

E é uma lástima.

Troti
 
 
« Há erros de visão no tempo, tal como os há no espaço. A persistência em mim de uma veleidade antiga de trabalhar, de reparar o tempo perdido, de mudar de vida, ou, antes, de começar a viver, dava-me a ilusão de que continuava a ser inalteravelmente jovem; no entanto, a memória de todos os acontecimentos que se tinham sucedido na minha vida – e também os que se tinham sucedido no meu coração, porque, quando mudámos muito, somos induzidos a supor que vivemos mais tempo – ao longo daqueles últimos meses de vida de Albertine, fizera com que me parecessem muito mais longos que um ano, e agora era a interpolação, fragmentada, irregular, no meio da minha memória – como uma espessa névoa sobre o oceano e que suprime os pontos de referência das coisas -, desse esquecimento de tantas coisas que, ao separar-me, por espaços em branco, de acontecimentos bem recentes que esses espaços em branco me faziam parecer antigos, porque tivera aquilo a que se chama “tempo” de os esquecer, transtornava, desconjuntava o meu sentido das distâncias no tempo, aqui encolhidas e além distendidas, e que fazia com que me julgasse ora muito mais longe, ora muito mais perto das coisas do que na realidade estava."
(p.182/183)

Troti

 
 
...eu já não sentia calma suficiente para deixar que o meu pensamento poisasse sobre as coisas que tinha à minha frente, estas haviam deixado de conter fosse o que fosse de meu; mais, deixaram de ser Veneza; como se tivesse sido apenas eu a insinuar uma alma nas pedras dos palácios e na água do Canal. (p.244)

nastenka-d
 
quinta-feira, janeiro 27, 2005
 
"Do universo apenas temos visões informes, fragmentadas, e que completamos com associações de ideias arbitrárias, criando perigosas sugestões."
(p.162)

Troti
 
  Remate
Concluo estas minhas dissertações sobre o facias das elites e seus sucedâneos, com o óbvio: existe uma diferença pertinente entre ser bem e ser de bem.

azuki
 
  Notas pessoais
Acabei ontem o 6º Vol. do "Em busca do Tempo Perdido".
Apesar de ter arrastado a leitura das últimas páginas, não posso esquecer o prazer que senti ao ler a página 155 e seguintes!
O Proust volta a deslumbrar-me, como quando li as páginas 189 a 193 do 1º Volume, em que se coloca primeiro na qualidade de observador para depois descrever o observado como escritor,criador!
Agora como autor de um artigo no "Figaro",passa à análise do impacto que o mesmo terá nos leitores e veste-lhes a pele! "Não era apenas o que foi escrito por mim,era o que fora escrito por mim e lido por todos."
ALBB
 
quarta-feira, janeiro 26, 2005
 
A minha irrevogável solidão estava tão próxima que me parecia já começada e total. (p.241)

nastenka-d
 
  Voltando aos cara de cu
A expressão negligé é uma questão de estilo para as elites, mas nem todos estão habilitados a usá-la. De facto, ser ofensivo sem ser grosseiro, é uma arte que não está ao alcance de todos… O que muitos não compreendem é que estas tentativas de ser “bem” redundam, na maior parte das vezes, em má educação e, temo dizê-lo, a má educação não será totalmente a melhor forma de demonstrar a dita superioridade.

azuki
 
terça-feira, janeiro 25, 2005
  Tempo Perdido II
«aquela vã actividade que nos faz perder tempo a forrar a nossa vida de uma vegetação humana vivaz mas parasita, que também virá a ser nada depois de morta, que é já alheia a tudo o que conhecemos, e à qual porém a nossa senilidade tagarela, melancólica e sedutora, procura agradar.» (p. 183)

leitora
 
 
...com o fervor respeitoso e entusiástico da mulher idosa que vemos em Veneza na Santa Úrsula de Carpaccio...
 
  Claro que nada disso seria necessário…
Trate-se de pessoas de sangue azul ou não, a pura categoria social será sempre uma questão de naturalidade. As verdadeiras senhoras e os verdadeiros cavalheiros são iguais a si próprios em qualquer ambiente: seja na pocilga ou no palácio, na taberna ou no jantar de etiqueta, a falar com o nobre ou o com camponês. Quem tem classe não necessita de a apregoar nem de a atirar para cima dos outros. Precisa apenas de ser. E tratar todos da mesma forma, com a simplicidade de quem está sempre confortável, qualquer que seja o contexto.

azuki
 
segunda-feira, janeiro 24, 2005
  Tempo Perdido I
«Há erros de visão no tempo, tal como os há no espaço. A persistência em mim de uma veleidade antiga de trabalhar, de reparar o tempo perdido, de mudar de vida, ou, antes, de começar a viver, dava-me a ilusão de que continuava a ser inalteravelmente jovem.» (p. 182)

leitora
 
  O Desdém de Saint-Germain
A aristocracia do faubourg Saint-Germain causava espanto e admiração, não só pelos sinais de riqueza, pelo saber-estar, pela qualidade de vida, mas também pelo distanciamento a que votava todos “os outros”, com as suas expressões gélidas de indiferença. Marcel passou a sua infância e juventude a admirar, não pessoas, mas aquilo que, para ele, estas representavam. …o que para mim distinguia aquele salão dos outros era o longo estágio que eu fizera na minha imaginação.

azuki
 
 
Estava contemplando pela primeira vez "O Patriarca de Grado Exorcizando um Possesso"...


nastenka-d
 
domingo, janeiro 23, 2005
 
"Dizem alguns filósofos que o mundo exterior não existe e que é em nós mesmos que desenrolamos a nossa vida."
(p.154)


O mundo exterior existe, é palpável e parece estar ao nosso alcance. Parece. A realidade tem outros contornos e as certezas são só aparências. Em nenhum momento somos donos de algo pertencente a esse mundo, a esse misto de fascínio e promessa que nos deslumbra o olhar e exacerba a imaginação. Em nenhum momento, em nenhum, dominamos. Mas sonhamos, e este poder de sonhar, esta capacidade de criar e recriar o mundo exterior, de o reconhecer mesmo sem o ver, de o tocar mesmo que esteja longe, e que é um acto individual e distinto em cada um de nós, permite-nos avançar na crença das possibilidades ilimitadas e dá-nos uma vida própria, a que no fundo nos sustenta e sem a qual morreríamos. É esse o mundo essencial.


Troti
 
 

JAMES MC NEIL WHISTLER (1834-1903)
Vues de Venise , San Biagio
Eau-forte et pointe sèche, 20,9 x 30,5 cm, 1879-1886




JAMES MC NEIL WHISTLER (1834-1903)
Vues de Venise , La Piazzetta
Eau-forte et pointe sèche, 29,3 x 20 cm, 1879-1886


Proust a vu la série des gravures vénitiennes lors de sa visite de l'exposition Whistler présentée en juin 1905 à l'Ecole des Beaux-arts. Il recommande à sa mère de les regarder lorsqu'il lui adresse un plan de l'exposition ainsi qu'un commentaire de sa visite (Kolb, V, 221).
http://expositions.bnf.fr/proust/salles/2/index2.htm

Troti

 
 
 
 
…com mudanças demasiadamente imperceptíveis para que eu pudesse ter consciência dessa mesma mudança. Havia quase por completo renovado tudo em mim…

nastenka-d
 
  …o homem que eu era, aquele jovem loiro, já não existe, eu sou outro
.
nastenka-d
 
 
Agora que Albertine no meu espírito já não estava viva para mim, a notícia de que o estava não me causou a alegria que poderia imaginar. Albertine, para mim, fora apenas um feixe de pensamentos e sobrevivera á sua morte material enquanto esses pensamentos estavam vivos em mim; em contrapartida, agora que esses pensamentos estavam mortos, de modo algum Albertine ressuscitava com o seu corpo. (p.231)

nastenka-d
 
sábado, janeiro 22, 2005
 
«É sem dúvida porque as recordações nem sempre permanecem verdadeiras que o amor não é eterno, e porque a vida é feita da eterna renovação das células. Mas esta renovação, no tocante às recordações, é apesar de tudo retardada pela atenção que detém, que fixa por um momento o que há-de mudar.» (p. 182)

leitora
 
 
 
 
Às vezes, ao crepúsculo, ao regressar ao hotel, sentia que a Albertine de outrora, até para mim invisível, estava contudo encerrada no fundo de mim mesmo como nos «chumbos» de uma Veneza interior, donde às vezes um incidente qualquer fazia rodar os gonzos endurecidos dando-me uma abertura para esse passado. (p.228)

nastenka-d
 
 
"E sentia mais uma vez, primeiro, que a memória não é inventiva, que é incapaz de desejar outra coisa qualquer, mesmo algo melhor que aquilo que possuímos, e, depois que é espiritual, e por isso a realidade não lhe pode fornecer o estado que procura..."
(p.143)

Troti
 
 
"...o meu amor, ao desvanecer-se, parecia tornar-me possíveis novos amores..."
(p.144)

Troti
 
sexta-feira, janeiro 21, 2005
 
«As criaturas só existem para nós graças à ideia que fazemos delas.» (p. 230)

leitora
 
 
 
  Uma Forma de Preservação das Elites
Não é qualquer um que consegue fazer um ar enfastiado por uma questão de estilo. A arrogância tem que ser um apanágio dos "acima da média". Sendo estúpida, a arrogância consegue ser ainda mais estúpida quando não se justifica de todo.

Nas classes mais elevadas, nas ditas elites (elite é o que há de melhor numa sociedade ou num grupo, o escol, a fina flor), essa sobranceria era sinónimo de superioridade e, também, uma forma de auto-preservação: uma quase rejeição de todos e quaisquer não semelhantes, um olhar que faz questão de frisar “tu não és como nós”. ….uma vez que já tinha notado que a amabilidade, o lado “estamos todos ao mesmo nível”, “somos da mesma igualha”, da aristocracia era uma comédia, porque é que havia de me admirar de não constituir excepção?

As misturas são terríveis para a manutenção das características identificadoras de uma classe ou grupo: afinal, o sangue é azul ou tende para várias tonalidades de verde?!

azuki
 
  Insondável
"...uma recordação que nos chega fortuitamente encontra em nós, intacto, um poder de imaginar, isto é, neste caso, de sofrer, que em parte desgatámos quando, pelo contrário, fomos nós que voluntariamente aplicámos o nosso espírito a recriar uma recordação.
(p.131)

...

eu não desejava saber apenas com que mulher ela passara aquela noite, mas que prazer especial isso representava para ela, o que naquele momento se passava dentro dela."
(p.133)


Nunca será possível saber o que se passa dentro de uma pessoa. Cada um de nós é um poço insondável.


Troti
 
 
"Sem que eu desse por isso, era agora essa ideia da morte de Albertine - e já não a recordação presente da sua vida - que, maioritariamente, constituía o fundo dos meus inconscientes deveneios, de tal sorte que, se os interrompia de repente para reflectir sobre mim mesmo, o que me causava espanto não era, como nos primeiros dias, que Albertine, tão viva em mim pudesse não existir mais à superfície da Terra, pudesse estar morta, mas que Albertine, que já não existia à superfície da terra, que estava morta, tivesse ficado tão viva em mim."
(p.122)

Troti
 
 
De resto, quem seria capaz de me dizer exactamente que é que, neste meu apaixonado estudo das venezianas, havia delas próprias, de Albertine, ou do meu velho desejo de outros tempos da viagem a Veneza? (p.216)

nastenka-d
 
quinta-feira, janeiro 20, 2005
  o poder da memória
«A partir de uma certa idade, as nossas recordações entrecruzam-se de tal modo umas com as outras que a coisa em que estamos a pensar ou o livro que estamos a ler já quase não têm importância. Pusemos algo de nós mesmos em toda a parte, tudo é fecundo, tudo é perigoso, e podemos fazer descobertas tão preciosas num anúncio de um sabonete como nos Pensamentos de Pascal.» (p, 131)

leitora
 
 


James McNeill Whistler, Little Venice (1879-1880)
 
 
"A melhor parte da nossa memória está...fora de nós. Está num ar de chuva, num cheiro a quarto fechado ou no de um primeiro fogaréu, seja onde for que de nós mesmos encontremos aquilo que a nossa inteligência pusera de parte, a última reserva do passado, a melhor, aquela que, quando se esgotam todas as outras, sabe ainda fazer-nos chorar."
(p.119)

Troti
 
  ...em Veneza onde a vida quotidiana não era menos real que em Combray
...
nastenka-d
 
  A Veneza de George Sand
Porque tu és tão bela, ó Veneza, e por que te fazes tão minha amada, quando é certo não poder eu amar mais sobre a terra? Ó mármores sonoros, ecos da alegria, esbeltas abóbadas plenas de risos e de melodias, não sabereis vós, entre todos estes ruídos, apanhar e conservar um soluço abafado, um lamento lúgubre que me recorde ser preciso morrer?
Veneza, cidade louca, sempre branca, bela e risonha entre grilhões, não serás tu apenas um amontoado de muralhas que aprisionam indiferentemente os gemidos do desespero e os urros do deboche? Estará a voz dos moribundos muda para sempre debaixo das lajes húmidas onde passa o canal das prisões? E não é verdade que existe, sob o forro de chumbo do Palácio Ducal, uma voz lastimosa, um coro de espectros errantes que, de tempos a tempos, se eleva acima das fanfarras de Bucentauro e da algazarra do Carnaval? E a voz das máscaras enrouquecida pela bebedeira, não gelará ela por vezes, de repente, ao passar sob a ponte dos Suspiros, à hora em que a sombra de Faliero desce lentamente a escadaria dos gigantes e se senta, imóvel, no último degrau?
Veneza, Veneza, será que só sabes rir e cantar? Nada mais fazes do que dar voz à loucura, e os suspiros dos infelizes acabam por sucumbir nos teus flancos de mármore sem acordar os fantasmas de tantas dores, a memória de tantas e cruéis torturas sepultadas no te regaço misterioso!
Oh!, calai-vos, harmonias da noite! Fechai-vos, luminosas janelas de onde se escapam os acordes dos instrumentos e o espalhafato do baile! Arrebatadas violas, não percorreis assim todo o comprimento das sombrias paredes; canções napolitanas, não vos enredeis mais sobre as ondas do porto com as barcarolas da costa e com as baladas do Tamisa. Cala-te também tu, oboé melancólico, que pareces a voz de um amante mais feliz e mais reservado do que os outros. Perde-te lá em baixo, sob essas pálidas colunatas que envolvem a alvura húmida da lua. E tu também, suave cântico do pescador, apaga-te com o candeeiro que treme aos pés da Madona. Desce de trás dos minaretes de alabastro, lua libidinosa que pareces derramar volúpia e amor com as tuas ondas da tua débil luz, esconde-te atrás das nuvens escuras, abandona esses vapores de prata onde te ocultas como uma cortesã sob a sua mantilha transparente. És pois demais bela, ó Veneza, e é morrer duas vezes, morrer debaixo do teu céu.
As outras cidades são pilhas de pedras separadas por regatos de lama, habitadas por ruídos roucos e vozes discordantes. Nessas cidades, é lúgubre a noite, e as frias horas da aurora no Inverno convidam os infelizes a descerem ao túmulo. Quando o sono estende ainda as suas asas pesadas sobre os tectos enegrecidos, quando tudo se revela sombrio por dentro, uma voz pungente perdida na distãncia, um único som penetrante e plangente, formado por todos os ruídos do trabalho e da miséria que se brotam do campo, plana em torno dos pálidos horizontes e faz entrar o terror no coração do desafortunado que vigia e que duvida.
Por ti, Veneza, a única cidade criada, não pela mão, mas pelo espírito do homem, tu que pareces feita para servir de morada temporária às almas dos justos, e de degrau entre o céu e a terra, paredes habitadas por fadas e animadas ainda por um fôlego mágico, colunatas aéreas que tremeis na bruma, flechas ligeiras que vos confundis com os mastros indulantes dos navios, arcadas que bem poderíeis conter mil vozes para responder a cada voz que passa, miríades de anjos e de santos que pareceis saltar em cima das cúpulas e agitar as vossas asas de mármore e bronze quando a brisa sopra sobre as vossas frontes húmidas, Veneza que não jazes como um túmulo num terrenos sombrio e estéril, mas que pareces flutuar como um bando de cisnes sobre as ondas, cidade viva, paredes melodiosas que escutais e respondeis, lajes palpitantes sob o pé rápido dos amantes, varandas ressoantes de beijos, formas féericas, sombras andantes, reflexos capciosos, ondas sulcadas por fogos, noites sem sono, Invernos sem geada, festas sem fadiga, e sem amanhã, profundidade sem solidão, sem trevas e sem silêncio, ser imenso, vivo, sensível, veneza que foi amada e chorada como uma mulher, beleza que inflama os cérebros e que conquistou os amantes, deixa-me, não me digas nada, não me chames com as tuas mil vozes, não me inebries com as tuas mil formas de sedução, torna-te surda e muda para mim, ou então abre o teu passado aos milhares de cadáveres que a tua tirania enterrou e faz passar por debaixo das minhas janelas uma sangrenta procissão de fantasmas, uma terrível salmodia de gemidos, para que a morte me pareça justa e aceitável, a mim, que sou jovem, que podia ter sido feliz, que mereceria ser amada; a mim, que estou só, sem uma companhia, sem esperança, sem amor, a mim, que estou em Veneza e que vou morrer.

Diário Íntimo
, 1834

Talvez seja excessivo, copiar todo este texto, mas não consegui conter-me nem cortá-lo; não só por ser Veneza, por ser George Sand, por mostrar esta cidade ao mesmo tempo bela e asfixiante e fatal. por isso, se não lerem até ao fim, não faz mal, guardem para um dia em que passem por Veneza, carregados de emoção e de dor.

nastenka-d
 
  Sim, de alguma forma sempre foi…
Será que, no mundo de Marcel, ter cara de cu era bem?

Arrogância, desdém, altivez, presunção, vaidade, afectação, seriam uma forma de estar para muitos, especialmente para aqueles com a minúcia das pessoas cuja vida não tem objectivos.

O ar parado, de quem está a olhar através dos outros, como se entrasse numa sala vazia, a expressão enfastiada, de pura indiferença ao que os rodeia, julgo vê-los na aristocracia de Marcel. Este não é o volume da Recherche que melhor o demonstra, mas não deixa de ter passagens muito relevadoras: …sentia-se que, se os pais e o filho ainda fossem vivos, o duque de Guermantes não hesitaria em recomendá-los para jardineiros. E eis como o faubourg Saint-Germain fala com qualquer burguês acerca dos outros burgueses, quer seja para o lisonjear com a excepção que abre – o tempo da conversa – em favor do interlocutor ou da interlocutora, quer seja antes, ou também, para o humilhar. É assim que um anti-semita, falando com um judeu, e no preciso momento em que o cobre de amabilidades, lhe diz mal dos Judeus, de uma forma geral que lhe permite ser ofensivo sem ser grosseiro.

azuki
 
 
"Amamos por um sorriso, por um olhar, por um ombro. Basta isso."
(p.118)

Troti
 
 
"As duas maiores causas de erro nas relações com outra pessoa: termos nós bom coração, ou então amarmos essa outra pessoa."
(p.118)

Troti
 
  Proust em Veneza


fonte

nastenka-d
 
 
 
  Enfim, Veneza
A minha mãe levara-me até lá e – tal como pode existir tanta beleza nas coisas mais humildes como nas mais preciosas – saboreava então impressões análogas às que tantas vezes sentira noutros tempos em Combray, mas transpostas segundo um modo inteiramente diferente e mais rico. (p.212)

nastenka-d
 
quarta-feira, janeiro 19, 2005
  Homem II
«Não nos curamos de um sofrimento se não o experimentarmos plenamente.» (p. 124)

leitora
 
  Homem
«um desses seres anfíbios que estão simultaneamente mergulhados no passado e na realidade actual» (p. 121)

leitora
 
 
"Ah, eu julgara que não tornar a ver Albertine me seria indiferente, e até agradável, até a sua partida me ter revelado o meu erro. Do mesmo modo, a sua morte fizera-me saber até que ponto estava enganado ao julgar às vezes que lhe desejava a morte e ao supor que esta seria a minha libertação."
(p.101)

Troti
 
 
"Julgara eu que as minhas relações, a minha fortuna, me dispensariam de sofrer, e talvez com excessiva eficácia, visto que achava que me dispensavam de sentir, de amar, de imaginar;..."

!!!

Troti
 
  Ter cara de cu é bem
Diariamente, somos tão agredidos com os múltiplos exemplos da má educação e da antipatia, que há alturas em que apetece desabafar, nem que seja para o teclado.

Todas as épocas tiveram as suas classes sociais e os seus grupos mais ou menos homogéneos e, com essas classes e esses grupos, certos rituais muito próprios. Hoje, existem sociedades abertas, com classes (mais) híbridas, e já não se sofre o fatalismo do bom/mau nascimento. Mas, talvez porque haja menos características que os diferenciem, os ditos classes ou grupos adoptam tiques verdadeiramente surpreendentes. Um deles é a cara de cu.

Ter um sorriso aberto, franco, amigável, não é bem. É demasiado humilde, chega a roçar o simplório. Não ajuda a que nos respeitem e nos considerem. Não dá aquele necessário ar de fulfilment dos que têm sucesso na vida.

O que vale, é chegar a qualquer sítio com aquela cara de enjoado e dizer um olá (não é boa tarde, nem como está) com ar de quem vai vomitar nos próximos dois segundos. E, de vez em quando, nem dizer nada, porque os nossos olás são guardados para os da nossa "estirpe" (ou, se não da nossa "estirpe", pelo menos para aqueles que são mais do que nós: ou mais ricos, ou mais ditos "sociais", ou superiores na hierarquia profissional,..).

Enfim, há que caminhar pela vida como as manequins, que são tão in, com expressão de quem comeu um ovo milenar (um ovo milenar é um autêntico petisco para os chineses: enterra-se durante não sei quanto tempo e acaba por ficar com a gema verde e a clara castanha; maravilhoso, óptimo para desfilar na passerelle e dizer oláááá).

Será que, no mundo de Marcel, ter cara de cu era bem?

azuki
 
  Os nomes
Sempre me assustara a chegada possível desses novos “eus” que deveriam usar outro nome diferente do anterior, em virtude da sua indiferença por aquilo que eu amava. (p.184)

Por vezes os nomes são aquilo que se mantém inalterável... O que nos identifica e, em certa medida, protege. E no entanto, quantas vezes seria preciso alterá-los.
nastenka-d
 
 
"...a confiança, a conversa, coisas medíocres, que importa que sejam mais ou menos imperfeitas, se nelas se introduz simplesmente o amor que esse sim, é divino?"
(p.85)


Troti
 
 
"Desejamos ser compreendidos porque desejamos ser amados, e desejamos ser amados porque amamos."(p.83)

Desejo, compreensão. Dois "ideais" do amor.

Troti
 
 
"...o infinito do amor faz, no seu egoísmo com que as pessoas que amamos sejam aquelas cuja fisionomia intelectual e moral é para nós menos objectivamente definida; retocamo-las sempre ao sabor dos nossos desejos e dos nossos temores, não as separamos de nós, não são mais que um lugar imenso e vago onde podemos exteriorizar as nossas ternuras...

...E o meu erro fora talvez o de não ter procurado mais conhecer Albertine em si mesma."

(p.83)


Troti
 
 
"Agora, os cortinados, as cadeiras, os livros haviam deixado de ser-me indiferentes. Não é só a arte que dá encanto e mistério às coisas mais insignificantes; esse mesmo poder de as relacionar intimamente connosco está também confiado à dor."(p.81)

Troti
 
terça-feira, janeiro 18, 2005
  Um Contributo de Proust para a Literatura
em palavras do próprio:

«esta longa lamentação da alma que julga viver encerrada em si mesma só na aparência é um monólogo, visto que os ecos da realidade a fazem desviar-se, e uma vida assim é como uma experiência de psicologia subjectiva espontaneamente realizada mas que fornece a alguma distância a sua "acção" ao romance puramente realista de uma outra existência, e cuja curva, por sua vez, as peripécias vêm a reflectir mudando a direcção do ensaio psicológico.» (p. 87)

leitora
 
  Este livro tem frases tão belas (2)
...amava como um selvagem, ou até, já que não tinha a liberdade de me mover, como uma flor. (p.154)

nastenka-d
 
  Este livro tem frases tão belas (1)
...e não tivesse sido arrastada para um sistema mais vasto onde as almas se movem no tempo como os corpos no espaço... (p.145)

nastenka-d
 
segunda-feira, janeiro 17, 2005
  Variações sobre um post da Nastenka-d
Carne

Engraçado que só após tantas páginas destes 6 volumes apareça o pico de sensualidade, para mais depois de três paixões arrebatadas de Marcel e da morte de Albertine. É a perda final que solta o vocabulário de Marcel; na página 85 de A Fugitiva esperam-nos entre outras estas palavras: lábios, lígua, deslizar, pescoço, carícias superficiais, penetração, prazer dos sentidos...

A perda irreparável eleva ao máximo a sensibilidade de Marcel, não apenas no aspecto adjectivado da dor, mas também de todas as memórias do tempo perdido.

leitora
 
 
A partir de uma certa idade, as nossas recordações entrecruzam-se de tal modo umas com as outras que a coisa em que estamos a pensar ou o livro que estamos a ler já quase não têm importância. Pusemos algo de nós mesmos em toda a parte, tudo é fecundo, tudo é perigoso. (p.131)

nastenka-d
 
domingo, janeiro 16, 2005
  ...e perdoei-lhe
.
nastenka-d
 
  Editar o vivido
Nesta dicotomia Marcel personagem e Marcel autor, Albertine ficção e Albert realidade, Proust, talvez por pura ironia ou por vingança, decide editar os factos da sua vida: Proust mata Albertine, não se limitando a terminar a sua existência de papel, mas fazendo-o no momento exacto em que Albertine revê a sua decisão de fuga e implora para voltar para Marcel, rendendo-se completamente. Mais do que um brilhante movimento dramático, não será a rectificação orgulhosa do amor que inspira esta história?

leitora
 
  O amor – será que existe (3)
Amamos por um sorriso, por um olhar, por um ombro. Basta isso: então, nas longas horas de esperança ou de tristeza fabricamos uma pessoa, compomos um carácter. E quando mais tarde convivemos com a pessoa amada, já não podemos, por mais que sejamos colocados diante de algumas cruéis realidades, retirar esse bom carácter, essa natureza de mulher que nos ama, à criatura que possui um tal olhar, um tal ombro, tal como, quando envelhece, não podemos retirá-los a uma pessoa que conhecemos desde a sua juventude. (p.118)

nastenka-d
 
sábado, janeiro 15, 2005
 
«O homem é o ser que não pode sair de si, que só em si conhece os outros e que quando diz o contrário mente.» (p. 38)

Se podemos estranhar de início esta afirmação que o homem não pode sair de si, e outros seres o poderão, temos de reconhecer a marca proustiana deste pensamento: tudo está dentro de nós, todo o conhecimento é pessoal. Será que a inteligência e o medo nos prende ao nosso umbigo de forma irremediável? E a Recherche é mesmo isto, um homem a conhecer o mundo dentro de si próprio.

leitora
 
 
Sim, todos os meus desejos me ajudavam em certa medida a compreender os dela, e este era já um grande sofrimento em que todos os desejos se mudavam em tormentoa tanto mais cruéis quanto mais vivos eles haviam sido. (p.104)

Tal como o mal que eu fizera à minha avó, o mal que Albertine me fizera constituiu um último laço entre ela e eu, e que sobreviveu até ás recordações, porque com a conservação de energia que tudo o que é físico possui, o sofrimento nem sequer precisa das lições da memória. (p.113)

nastenka-d
 
 
“Parecia-me ter de escolher entre dois factos, qual deles era o verdadeiro, de tal modo o da morte de Albertine...entrava em contradição com todos os meus pensamentos relacionados com ela, com os meus desejos, as minhas saudades, a minha ternura, a minha fúria, o meu ciúme. Uma riqueza assim de recordações extraída do reportório da sua vida, uma tal profusão de sentimentos que invocavam, que implicavam a sua vida, pareciam tornar inacreditável que Albertine tivesse morrido. Tal profusão de sentimentos: porque a minha memória, conservando a minha ternura, mantinha-lhe toda a sua variedade. Não era apenas Albertine que não passava de uma sucessão de momentos, era também eu próprio. O meu amor por ela não era simples, à curiosidade do desconhecido somara-se um desejo sensual e, a um sentimento de doçura quase familiar, ora a indiferença, ora um furioso ciúme. Eu não era um só homem, mas o desfile de um exército compósito onde havia apaixonados, indiferentes, ciumentos...

...

A complexidade do meu amor, da minha pessoa, multiplicava, diversificava os meus sofrimentos."
(p.76/77)

Troti
 
  A fantasia dos que sofrem (ou estratégias para eludir a dor)
E, fazendo-me compreender muito bem a existência de certas loucuras mansas em pessoas que parecem muito sensatas, eu sentia coexistirem em mim a certeza de que ela tinha morrido e a incessante esperança de a ver entrar. (p.100)

nastenka-d
 
sexta-feira, janeiro 14, 2005
 
«se a felicidade ou, pelo menos, a ausência de sofrimentos se pode atingir, não é a satisfação, mas a redução progressiva, a extinção final do desejo, que é preciso procurar.» (p. 37)

Bem, o Marcel estava mesmo triste quando pensou isto. Veremos no Tempo Reencontrado se esta perspectiva é ou não totalmente alterada... A mim não me parece nada razoável, porque sem anima nada de bom poderá acontecer.

leitora
 
 
“De modo que não teria de aniquilar em mim uma só Albertine, mas inúmeras. Cada uma ligada a uma ocasião, em cuja data dava comigo recolocado quando revia essa Albertine. E esses momentos do passado não são imóveis, conservam na nossa memória o movimento que os arrastava para o futuro – para um futuro que se tornou também passado -, nós mesmos nos arrastando para lá."
(p.76)

Troti
 
 
“Somos apenas porque possuímos, só possuímos o que nos está realmente presente, e tantas são as nossas recordações, as nossas disposições de humor, as nosas ideias que partem para viagens longe de nós mesmos, em que as perdemos de vista! Então deixamos de poder tomá-las em linha de conta na totalidade que é o nosso ser. Mas têm caminhos secretos para regressar a nós. E certas noites, depois de ter adormecido quase já sem sentir a falta de Albertine – só podemos sentir a falta daquilo de que nos lembramos – ao acordar deparava com toda uma esquadra de recordações que tinham vindo navegar em mim na minha claríssima consciência, que eu distinguia perfeitamente. Chorava então o que via tão bem e que na véspera era apenas nada. O nome de Albertine, a sua morte haviam mudado de sentido, as suas traições tinham de súbito recuperado toda a sua importância.”
(p.75)


Troti
 
 
“Além disso, à memória das horas, mesmo puramente naturais, haveria por força de juntar-se a paisagem moral que as tornas algo de único.”
(p.72)

Troti
 
 
“Ligada como estava a todas as estações, para que eu perdesse a memória de Albertine seria preciso que a todas esquecesse, para depois recomeçar a conhecê-las...seria preciso que renunciasse a todo o universo. Só uma verdadeira morte para mim mesmo ( mas que isso é impossível) seria capaz, pensava eu, de me consolar da morte dela. Não imaginava que a morte de nós mesmos não é nem impossível, nem extrordinária; consuma-se sem que o saibamos, contra nossa vontade se for preciso, todos os dias.”
(p.71)

Troti
 
 
“De resto, a memória de todos os meus desejos estava tão impregnada dela, e de sofrimento, como a memória dos prazeres. Àquela Veneza onde julgara que a sua presença me seria importuna...preferia agora não ir, agora que Albertine já não existia. Albertine parecera-me um obstáculo interposto entre mim e todas as coisas, porque para mim era ela que as continha e dela, como de um vaso, é que podia recebê-las. Agora que esse vaso estava destruído, já não sentia em mim coragem para lhes pegar, e já não havia uma só da qual, abatido, não me afastasse, preferindo não a saborear. E assim a minha separação dela de modo algum me abria o campo dos prazeres possíveis que julgara ter-me sido vedado pela sua presença. Por outro lado, o obstáculo a que viajasse, a que gozase a vida, que efectivamente a sua presença para mim teria constituído, apenas me dissimulara, como sempre acontece, os outros obstáculos, que reapareciam intactos agora que esse desaparecera.”
(p.70)

Troti
 
  O amor – será que existe (2)
...tinha a certeza de que poderia não ter sido a ela que eu tivesse amado, de que poderia ter sido outra.. (p.88)

Lucidez que falta à maior parte dos amantes – poderiam estes continuar a sê-lo, se disso tivessem consciência?

Única como a julgamos, ela é inúmera. E, contudo, é compacta, indestrutível aos nossos olhos, que a amam, por longo tempo insubstítuivel por outra. (p.90)

nastenka-d
 
quinta-feira, janeiro 13, 2005
 
«Nunca se sabe o que se esconde na nossa alma.» (p. 32)

Felizmente também se esconde algo de bom, alma humana, entre o monstruoso e o admirável.

leitora
 
 
«Deixemos as mulheres bonitas para os homens sem imaginação.» (p. 27)

Eu sei, Nastenka e Azuki, não havia necessidade de repetir a frase aqui tão próxima. Mas tentem imaginar a minha alegria ao verficar que afinal eu a sublinhei com destaque, afinal também é um pouco minha! Ah, frases há que despertam mesmo uma leitora eventualmente a cair de sono... :)

leitora
 
  Carne
De novo via Albertine sentada à sua pianola, rosada sob o seu cabelo negro, sentia nos meus lábios que ela tentava afastar a sua língua, a sua língua maternal, incomestível, nutritiva e sagrada, cuja chama e orvalho secretos faziam com que, mesmo quando Albertine apenas a fazia deslizar pela superfície do meu ventre, essas carícias superficiais mas de algum modo feitas pelo interior da sua carne, tornado exterior como um tecido que mostrasse o forro, se revestissem, mesmo nos contactos mais externos, como que da misteriosa doçura de uma penetração. (p.85)

Foi preciso que Albertine morresse para termos uma descrição – tão vívida que quase prenuncia Joyce, pelo menos no que lhe concede de sagrado – dos prazeres que ambos partilhavam; e esta espera semi-casta em que Proust nos manteve torna ainda mais forte e erótica a sensação que descreve.
nastenka-d
 
 
“o nosso castigo mais justo e mais cruel pelo esquecimento tão total, tranquilo como o dos cemitérios, com que nos desligámos das pessoas que já não amamos, é o de entrevermos esse mesmo esquecimento como inevitável relativamente à pessoa que amamos ainda. A bem dizer, sabemos que ele é um estado não doloroso, um estado de indiferença. Mas, não podendo pensar ao mesmo tempo naquilo que era e no que viria a ser, pensava com desespero em todo aquele tegumento de carícias, de beijos, de sonos agradáveis, de que em breve teria de me deixar despojar para sempre. O impulso dessas tão ternas recordações, ao vir quebrar-se contra a ideia de que ela estava morta, oprimia-me devido ao choque entre fluxos tão contrariados que não podia permanecer imóvel – e levantava-me, mas de repente parava, aterrado: a mesma luz de alvorada que via quando acabava de deixar Albertine, ainda radioso e quente dos seus beijos, estendia por cima dos cortinados a sua lâmina agora sinistra, cuja brancura fria, implacável e compacta, me vibrava uma espécie de facada.”
(p.69)

Troti
 
 
“Só tinha uma esperança para o futuro – esperança muito mais dilarecante que um medo -, que era a de esquecer Albertine.”
(p.69)

Troti
 
 
“Já não bastava cerrar os cortinados, tratava de tapar os olhos e os ouvidos da memória para não tornar a ver aquela faixa alaranjada do poente, para não ouvir aqueles invisíveis pássaros que conversavam de uma árvore para outra, de cada lado de mim, que tão ternamente beijava então a mulher que estava agora morta. Tratava de evitar aquelas sensações que nos vêm da humidade das folhas ao entardecer, que nos vêm de subir e descer estradas montados num burro. Mas já essas sensações se haviam reapoderado de mim, me haviam arrastado para longe do momento actual, de modo a criarem todo o eco, todo o impulso necessário a que viesse atingir-me de novo a ideia de que Albertine estava morta.”
(p.67)

“Como o dia demora a morrer nestas desmesuradas tardes de Verão! Um pálido fantasma da casa em frente continuava a aguarelar indefinidamente no céu a sua persistente brancura. Por fim, era noite no apartamente; esbarrava nos móveis da antecâmara, mas na porta da escada, no meio da escuridão que julgava total, a parte envidraçada era translúcida e azul, de um azul de flor, de um azul asa de insecto, de um azul que acharia belo se não sentisse que se tratava de um último reflexo, cortante como o aço, de um supremo golpe que o dia me vibrava ainda na sua infatigável crueldade.
A escuridão completa, porém, acabava por chegar; mas, então, bastava uma estrela vista ao lado da árvore do pátio para me fazer recordar as nossas saídas de carruagem depois do jantar....Ah, quando acabaria a noite? Mas ao primeiro frescor da madrugada estremecia, porque ele devolvera-me a suavidade daquele Verão em que, de Balbec a Incarville, de Incarville a Balbec, tantas vezes nos havia acompanhado um ao outro até ao romper da manhã.”
(p.68/69)

Troti
 
 
“Grande fraqueza, sem dúvida, para uma pessoa, esta de consistir numa simples colecção de momentos; e grande força também: depende da memória, e a memória de um momento não está ao corrente de tudo o que se passou depois; esse momento que ela registou perdura ainda, vive ainda, e com ele a pessoa que nele se perfilava. E, além disso, esse esfarelamento não faz apenas viver a morta, como a multiplica. Para me consolar, não seria uma, mas inúmeras Albertine que eu deveria ter esquecido. Depois de haver conseguido suportar a tristeza de ter perdido uma, tinha de recomeçar com outra, com outras cem.
Então a minha vida mudou inteiramente....

Com o rumor da chuva era-me devolvido o aroma dos lilases de Combray; com a mobilidade do sol na varanda, os pombos dos Campos Elíseos; com o amortecimento dos ruídos no calor da manhã, a frescura das cerejas; o desejo da Bretanha ou de Veneza com o barulho do vento e com o retorno da Páscoa."

(p.65/66)







Troti
 
quarta-feira, janeiro 12, 2005
 
«O plágio humano a que é mais difícil de escapar, nos indivíduos (e mesmo nos povos que perseveram nos seus erros e os vão agravando) é o plágio de nós mesmos.» (p. 23)

Como resistir a este plágio dos nossos próprios erros?

E quem se atreve a identificar os tais povos que temam em agravá-los?

leitora
 
 
Como tinha necessidade da sua presença, dos seus beijos, para suportar o mal que as minhas suspeitas me faziam, ganhara o hábito, desde Balbec, de estar sempre com ela. Continuavca a beijá-la mesmo quando ela saía, quando estava sózinho.E continuara depois de ela estar na Touraine. Precisava menos da sua fidelidade que do seu regresso...Instintivamente, passava a mão pelo pescoço, pelos meus lábios que se viam beijados por ela desde que ela fora e que nunca mais o seriam, passava a mão por eles do mesmo modo que a minha mão me afagara aquando da morte da minha avó...Toda a minha vida futura me fora arrancada do coração. A minha vida futura? Então não pensara eu eu algumas vezes em vivê-la sem Albertine? Não, não! Tinha-lhe então dedicado há muito todos os minutos da minha vida até morrer? Claro que sim! Esse futuro indissolúvel dela, não tinha sabido vê-lo, mas agora que acabava de ser descerrado sentia o lugar que ocupava no meu coração aberto de par em par.
...
Para que a morte de Albertine tivesse podido suprimir os meus sofrimentos seria preciso que o choque a tivesse matado não apenas na Touraine, mas em mim, onde ela nunca estivera mais viva."

(p.62/63/64)

Troti
 
 
“A supressão do sofrimento? Alguma vez terei acreditado nela, terei acreditado que a morte não faz mais que apagar o que existe e deixar o resto de pé, que ela tira a dor do coração daquele para quem a existência do outro já não é mais que um motivo de dores, que ela retira a dor e nada põe em seu lugar? A supressão da dor!
...
Como sabemos tão pouco do que temos no coração!...

Ah, não foi a supressão do sofrimento que em mim causaram as duas primeiras linhas do telegrama: “Meu pobre amigo, a nossa querida Albertine já não existe, perdoe-me que lhe diga esta coisa horrível, a si que a amava tanto. Foi atirada pelo cavalo contra uma árvore durante um passeio...
Não, não foi a supressão do sofrimento, mas um sofrimento desconhecido, o de ficar a saber que ela não regressaria. Mas não tinha eu várias vezes repetido para mim mesmo que talvez ela não regressasse? De facto, tinha-o repetido para mim mesmo, mas percebia agora que nem por um instante havia acreditado.
...
(p.63)


Troti
 
 
Ligada como estava a todas as estações, para que eu perdesse a memória de Albertine seria preciso que a todas esquecesse, para depois recomeçar a conhecê-las.

Não imaginava que a morte de nós mesmos não é nem impossível, nem extraordinária; consuma-se sem que o saibamos, contra a nossa vontade se for preciso, todos os dias.
(p.71)

nastenka-d
 
  Ah, quando acabaria a noite?
(p.69)
nastenka-d
 
terça-feira, janeiro 11, 2005
 
“Abandonei todo o meu orgulho perante Albertine e enviei-lhe um telegrama desesperado pedindo-lhe que voltasse sob quaisquer condições, dizendo-lhe que faria tudo o que quisesse e que só pedia para a beijar durante um minuto três vezes por semana antes de ir deitar-se. E, se ela dissesse: só uma vez, eu aceitaria – uma vez.”(p.63)

Troti
 
  Não teria sido capaz
“Simplesmente, afinal, percebia-o agora, eu não teria sido capaz de a deixar, não teria ido a Veneza. E até, no fundo de mim mesmo, ao mesmo tempo que dizia de mim para mim: “Vou deixá-la em breve” sabia que nunca mais a deixaria, tal como sabia que nunca mais começaria a trabalhar, nem a viver uma vida higiénica – enfim tudo o que todos os dias me propunha fazer a partir do dia seguinte.”
(p.62)

Proust, afinal, era igual a todos nós.

Troti
 
 
Para que a morte de Albertine tivesse podido suprimir os meus sofrimentos seriapreciso que o choque a tivesse matado não apenas na Touraine, mas em mim, onde ela nunca estivera mais viva. (p. 65)

nastenka-d
 
  Organização emocional do Tempo
«Como é evidente, este golpe físico no coração, vibrado por uma separação assim e que, graças àquele terrível poder de registo que o corpo possui, faz da dor algo de contemporâneo de todas as épocas da nossa vida em que sofremos» (p.12)

A este propósito atrevo-me a citar Lobo Antunes, mestre no tratamento do tempo e da memória, que no seu penúltimo romance escreveu «existo ao mesmo tempo em todos os lugares da minha vida». Cada vez mais me convenço que os grandes escritores contemporâneos compreenderam muito bem Proust e Joyce, entre outros.

leitora
 
  O amor – será que existe (1)
E se ela dissesse: só uma vez, eu aceitaria – uma vez. (p.63)

E é amor, ainda, ou dependência (total e absoluta) que com ele se confunde? O amor será assim, incondicional, sempre? Não se sentirá independentemente das acções do objecto amado? Não existirá, independentemente deste? É este sempre objecto – ou, pelo contrário, sujeito?
nastenka-d
 
segunda-feira, janeiro 10, 2005
 
"mas não assentaria a nossa vida numa eterna mentira?"
(p.51)


“Temos mesmo que acreditar que a natureza concedeu ao nosso espírito a faculdade de segregar um contraveneno natural que aniquila as suposições que concebemos sem tréguas e ao mesmo tempo sem perigo.”
(p.61)


Troti
 
 
“...para mim, aquilo a que chamava pensar em Albertine era pensar nos modos de a fazer regressar, de ir ter com ela, de saber o que ela fazia.”
(p.52)

Troti
 
 
“E não fora ela apenas que se tornara uma criatura imaginada, isto é, desejável, mas a vida com ela, que se tornara uma vida imaginária, isto é, liberta de todas as dificuldades, de modo que dizia de mim para mim: “Como nós vamos ser felizes!”
(p.40)

“Mal a carta partiu, de novo concebi o regresso de Albertine como iminente. Continuava a trazer-me à ideia graciosas imagens que de facto neutralizavam um pouco pela sua doçura, os perigos que via nesse regresso. Inebriava-me a doçura, havia muito perdida, de a ter junto de mim.”
(p.48)

“Se ela voltar, terei de regressar à vida verdadeira que, é certo, não estou em estado de apreciar, mas que progressivamente poderá começar a apresentar-se-me como sedutora ao mesmo tempo que a memória de Albertine irá enfraquecendo.”
(p.49)

“falando sem cessar no nome dela, pretendia enfim dar entrada, como a um pouco de ar, a qualquer coisa dela naquele quarto onde a sua partida criara o vazio e onde já nãpo era capaz de respirar. Além disso, procuramos diminuir as proporções da nossa dor introduzindo-a na linguagem falada entre a encomenda de um fato e as ordens para o jantar.”
(p.49)


Troti
 
  Como apreender a Verdade
«o facto de a inteligência não ser o instrumento mais subtil, mais poderoso, mais apropriado para apreender a Verdade é mais uma razão para que se comece pela inteligência, e não por um intuitivismo do inconsciente, por uma fé feita de pressentimentos.» (p.10)

Será mesmo a apreensão científica imune da intuição inconsciente e dos pressentimentos? Essa Verdade maiúscula poderá estar tão próxima do mito, dada a subjectividade do próprio entendimento humano...

leitora
 
  Como um livro por momentos fechado
À medida que avanço na leitura deste volume, mais me dou conta da justeza do que me diziam há anos, quando formulei pela primeira vez o desejo de ler Proust: que aguardasse, que o livro só me tocaria depois de ter sentido o Tempo actuar sobre mim.
Reconheço e convoco os meus próprios sentimentos ao ler o luto de Marcel pelo seu amor por Albertine; revivo-os, ”Porque certos romances são como que grandes lutos momentâneos, que afastam o hábito, que de novo nos põem em contacto com a realidade da vida.” (p.149); compreendo Marcel apenas porque sinto com ele e como ele; e simultaneamente sinto a distância que o Tempo interpôs entre mim e o que vivi – que este livro não foi escrito na dor, mas depois dela.
nastenka-d
 
  O esquecimento (o Tempo)
Essa tranquilidade que acabava de experimentar era a primeira aparição daquela grande força intermitente que em mim ia lutar contra a dor, contra o amor, e acabaria por vencer. (p. 35)

Uma vida em que não mais poderia sofrer por Albertine, em que já não a amaria.

nastenka-d
 
domingo, janeiro 09, 2005
 
«Estava enganado quando julgava ver claro no meu coração.» (p.6)


A paixão só se deixa ver em coloridos vibrantes e mutáveis, cores vivas e que se condensam e evaporam e voltam a concentrar, que por vezes se misturam e aproximam do negro, mas que nunca se ausentam completamente. Impossível ver claro.

leitora
 
  Deixemos as mulheres bonitas para os homens sem imaginação
.
nastenka-d
 
 
...apesar da ilusão com que gostaríamos de ser enganados e com que, por amor, por amizade, por delicadeza, por respeito humano, por dever, enganamos os outros, é sozinhos que existimos. O homem é o ser que não pode sair de si, que só em si conhece os outros e que quando diz o contrário mente. (p.38)

nastenka-d
 
 
“Se a felicidade só parece insignificante por obra da certeza, é porém algo de instável donde só podem provir desgostos. E os desgostos serão tanto mais fortes quanto mais completamente o desejo tiver sido satisfeito, tanto mais impossíveis de suportar quanto a felicidade, contra a lei da natureza, tiver sido prolongada por algum tempo, tiver recebido a consagração do hábito.”
(p.48)

Troti
 
  A tenacidade dos desejos
“Acredita-se que, em conformidade com o nosso desejo, mudaremos as coisas à nossa volta, e acredita-se nisto porque, para além dessa, não vemos qualquer solução favorável. Não pensamos naquela que mais vezes ocorre e que é igualmente favorável: não conseguimos mudar as coisas em conformidade com o nosso desejo, mas a pouco e pouco o nosso desejo muda. A situação que esperávamos mudar por nos ser insuportável torna-se-nos indiferente."
(p.39)

Os desejos mudam, outros desejos adormecem, muitos deles morrem e deixam de ter importância. Mas há-os que são tenazes, que não desarmam, que se nos colam que nem lapas, que nos estrangulam, e com esses temos de viver num amplexo comedido que nos reduz.

Troti
 
sábado, janeiro 08, 2005
 
E uma das causas das nossas eternas decepções em amor serão talvez esses eternos desvios que fazem com que à expectativa do ser ideal que amamos cada encontro responda com uma pessoa de carne que tão pouco contém já do nosso sonho. (p.41)

nastenka-d
 
 
“Como me era impossível ficar sem a ver!”
...
quando acordado, o meu sofrimento ia aumentando todos os dias...

(p.35)

Troti
 
 
“É sempre uma invisível crença que sustenta o edifício do nosso mundo sensitivo...”
(p.32/33)

Troti
 
 
“Entregue a si mesmo, um acontecimento altera-se logo, quer porque o fracasso no-lo amplifica, quer porque a satisfação o reduz..”
(p.31)

Troti
 
  Ilusão vã
“Imaginava-me um ser de tal modo superior que pensava que, se estava dependente de outra pessoa, esta teria de ser absolutamente extraordinária.”(p.24)

Troti
 
 
“O plágio humano a que é mais difícil escapar, nos indivíduos ( e mesmo nos povos que perseveram nos seus erros e os vão agravando), é o plágio de nós mesmos.”
(p.23)

Troti
 
sexta-feira, janeiro 07, 2005
  Só tememos o que achamos provável
«embora há pouco, quando ainda não tocara a campaínha, a partida de Albertine me parecesse indiferente, e até desejável, isso acontecera porque a julgara impossível» (p.5)

Este sentimento de instabilidade, de desejar apenas o que se tem e o que se acabou de perder, ainda que antes não passasse de enfadonho, é marcante na Recherche, em todas as paixões que Marcel nos foi descrevendo. Parece estranho e irracional, mas é tão humano e entranhado em nós. Será, talvez, um dos principais contributos de Proust para os seus leitores.

leitora
 
  Amor pelo outro, amor em si
Proporções minúsculas da figura da mulher, efeito lógico e necessário do modo como o amor se desenvolve, clara alegoria da natureza subjectiva desse amor. (p.20)

O que amamos está de tal forma no passado, consiste tanto no tempo que perdemos juntos, que não precisamos da mulher inteira; pretendemos apenas ter a certeza de que é ela, de que não nos enganamos sobre a identidade, muito mais importante que a beleza para aqueles que amam.(p.28)

Mas quem será capaz de dizer a quem ama que o seu amor é independente (mesmo que não completamente autónomo) do objecto amado? (Este objecto que tão raramente é sujeito...) Quem, de entre os que amam, será capaz de o assumir com frieza? Não será esta ilusão componente necessário do amor?

nastenka-d
 
  O amor como reflexo pavloviano
Talvez haja um símbolo e uma verdade no lugar ínfimo ocupado na nossa ansiedade por aquela a quem a reportamos. É que, de facto, tal pessoa pouco tem propriamente a ver com essa ansiedade em quase tudo, no processo de emoções, de angústias, que determinados acasos outrora nos fizeram sentir a propósito dela e que o hábito com ela relacionou.

nastenka-d
 
  O seu nome
“Quanto a Albertine propriamente dita, ela mal existia em mim, a não ser sob a forma do seu nome, que, salvo algumas tréguas ao acordar, se inscrevia no meu cérebro e não parava de ali permanecer inscrito....Dizemo-lo e, quando o calamos, parece que o escrevemos em nós, que ele deixa a sua marca no cérebro, e que este há-de acabar por ficar, como uma parede onde alguém se divertiu a escrevinhar, todo coberto pelo nome mil vezes reescrito daquela que amamos. Reescrevemo-lo eternamente no nosso pensamento enquanto somos felizes, e mais ainda quando infelizes.”(p.19/20)

Troti
 
  A sensibilidade dos "eus"
havia assim a todo o momento algum dos inúmeros e humildes “eus” que nos compõem que ignorava ainda a partida de Albertine e a quem havia que comunicá-la; era preciso – o que era mais cruel do que se fossem estranhos e não se valessem da minha sensibilidade para sofrer – anunciar a infelicidade que acabava de acontecer a todos esses seres, a todos esses “eus” que não a conheciam ainda, era preciso que todos, sucessivamente, ouvissem pela primeira vez estas palavras:...a menina Albertine foi-se embora! A cada um deles tinha eu de comunicar o meu desgosto, o desgosto que de modo algum é uma conclusão pessimista livremente tirada de um conjunto de circunstãncias funestas, mas a intermitente e involuntária revivescência de uma impressão específica, oriunda do exterior e que não fomos nós a escolher. Há muito que não via alguns desses "eus".
(p.17/18)

Sim, somos compostos por vários "eus", diferentes, complexos, contraditórios, esquecidos, muitos até para nós desconhecidos e que se nos revelam em tempos de fractura.

Troti
 
quinta-feira, janeiro 06, 2005
 
“era com infinita prudência que andava pelo quarto, situava-me de modo a não deparar com a cadeira de Albertine, com a pianola cujos pedais ela pisava com as suas chinelas douradas, com um objecto qualquer que ela tivesse usado e que pareciam todos, na linguagem própria que as minhas memórias lhe haviam ensinado, querer dar-me uma tradução, uma versão diferente, dar-me outra vez a notícia, a notícia da sua partida. Mas, sem olhar para eles, via-os, e faltaram-me as forças...
(p.17)

Troti
 
  O sofrimento nu
“O sofrimento, prolongamento de um choque moral imposto, aspira a mudar de forma, temos a esperança de o volatilizar fazendo projectos, pedindo informações, pretendemos que passe pelas suas inúmeras metamorfoses, e isso exige menos coragem que conservar o sofrimento indisfarçado;”
(p.17)

Viver o sofrimento nu é uma prova duríssima. E nunca estamos preparados para o enfrentar. Tudo o que Proust escreve tem sentido, principalmente "a esperança de o volatilizar fazendo projectos". Fazer projectos é a mais importante etapa no caminho de quem sofre. Além do carinho, claro. Esse é fulcral.

Troti
 
 
“Este era o maior infortúnio da minha vida.”
(p.14)

Troti
 
  Fugitiva e Desaparecida
A versão de Marcel Proust é a primeira, Fugitiva, mas o seu irmão Robert alterou o título para Albertine Disparue logo na sua primeira edição, 3 anos após a morte do autor, por La Fugitive ser o título de outra obra editada na época.

Na edição que seguimos aparecem as duas alternativas na capa, que podem ser interpretadas de formas diversas. Quanto a mim, logo na abertura do livro pensei "qual quê, Albertine estava era farta e deu uso à sua liberdade". É uma possibilidade, que a minha leitura prematura tornou a mais provável naquele momento. Claro que Marcel reinventa muitas vezes a história, e a sua miopia é uma das personagens mais interventivas desta obra.

leitora
 
  A dor
E eram de facto todas as inquietações experimentadas desde a minha infância que, ao ouvirem o apelo da nova angústia, haviam corrido a reforçá-la, a fundir-se com ela numa massa homogénea que me sufocava. (p. 12)

A cama onde nos deitamos com a nossa dor parece tão estreita, tão dura, tão fria... (p.17)

nastenka-d
 
  A isto chamam sabedoria...
Mas o facto de a inteligência não ser o instrumento mais subtil, mais poderoso, mais apropriado para conhecer a Verdade é mais uma razão para que se comece pela inteligência, e não por um intuitivismo do inconsciente, por uma fé já feita de pressentimentos. É a vida que a pouco e pouco, caso por caso, nos permite verificar que o que é mais importante para o nosso coração, ou para o nosso espírito, não nos é ensinado pelo raciocínio, mas por outros poderes. E então é a própria inteligência que, dando-se conta da sua superioridade, abdica por raciocínio perante eles, e aceita tornar-se sua colaboradora e sua serva. Fé experimental. (p. 10)

...e é preciso viver antes de chegar a conhecê-la. (Será esta a razão pela qual algumas pessoas dizem chegar à fé através da filosofia, por exemplo?)
nastenka-d
 
quarta-feira, janeiro 05, 2005
 
“Para conceber uma situação desconhecida a imaginação recorre a elementos conhecidos e, por isso mesmo, não a concebe. Mas a sensibilidade, mesmo a mais física, recebe, tal como o rasto traçado pelo raio, a assinatura original e por muito tempo indelével do acontecimento novo.”(p.11)

Troti
 
 
« Também o imprevisto infortúnio em que me debatia me parecia ser já meu conhecido ( tal como a amizade de Albertine com duas lésbicas), por tê-lo lido em tantos sinais onde ( apesar das afirmações contrárias da minha razão, baseadas nas palavras da própria Albertine) eu discernira o cansaço, o que a horrorizava viver assim como escrava; quantas vezes julgara eu escritos tais sinais, como que com tinta invisível, por trás dos olhos tristes e submissos de Albertine, das suas faces de repente inflamadas por um inexplicável rubor, no ruído da janela subitamente aberta. Não me atrevera, é certo, a interpretá-los até ao fim e a conceber claramente a ideia da sua repentina partida. Apenas pensara, de alma equilibrada pela presença de Albertine, numa partida prepararda por mim, numa data indeterminada, isto é, situada num tempo inexistente; por conseguinte, tivera apenas a ilusão de pensar numa partida ...”
(p.11)

Troti

 
  O que acontece é que exigimos (quase) sempre o contrário
Como é que poderia ser difícil sacrificar àquela para que, se dirige constantemente o nosso pensamento (àquela que amamos), sacrificar-lhe esse outro ser em que nunca pensamos: nós mesmo? (p.8)

nastenka-d
 
terça-feira, janeiro 04, 2005
  André Gide
«Proust é alguém cujo olhar é infinitamente mais subtil e mais atento que o nosso, e que nos empresta este olhar enquanto o lemos. E como as coisas que ele olha (e tão espontaneamente que nunca parece perscrutar) são as mais naturais do mundo, parece-nos a todo o momento, ao lê-lo, que é dentro do nós que nos permite ver; através dele, toda a confusão do nosso ser sai do caos, toma consciência e (...) supomos (...) ter experimentado nós próprios esse pormenor, reconhecemo-lo, adoptamo-lo, e é o nosso passado pessoal que um tal pululamento vem enriquecer. Os livros de Proust actuam à maneira de poderosos reveladores sobre as placas fotográficas meio veladas que são as nossas recordações, onde de repente fazem reaparecer um rosto, um sorriso esquecidos, e determinadas emoções que o apagamento delas arrastaria consigo para o esquecimento.» (A Propósito de Marcel Proust, Lettres à Andre Gide)

Fonte: Proust, de Claude Mauriac


Não consigo (ainda?) retirar esta emoção da leitura de Marcel Proust. Mas sinto estas palavras como aplicáveis a todos os escritores de que gostamos muito.

leitora
 
  Era, evidentemente, renunciar a Veneza
.
nastenka-d
 
  Luto
Mas a nossa inteligência, por muito lúcida que seja, não pode aperceber-se dos elementos que compõem o coração e que permanecem ignorados até que um fenómeno, partindo do estado volátil em que a maior parte das vezes eles subsistem, seja capaz de os isolar e de lhes fazer sofrer um começo de solidificação. Estava enganado quando julgava ver claro no meu coração. Mas esse conhecimento que as mais agudas percepções do espírito me não dariam acabava de me ser transmitido, duro, irrecusável, estranho, como um sal cristalizado pela repentina acção da dor. (p.6)

Bem-vindos ao livro do luto – ou pensavam, como Marcel, que bastava uma decisão consciente (mesmo que interiormente formada) para abrir um novo capítulo, assim como quem começa o novo ano? Bem-vindos ao livro do luto, as mudanças não se fazem sem sofrimento, para seguir em frente há sempre algo que tem que ficar pelo caminho.
nastenka-d
 
  Entre nós, a vida tornou-se impossível
.
nastenka-d
 
segunda-feira, janeiro 03, 2005
  Robert Dreyfus
um dos seus mais velhos amigos, escreveu o seguinte sobre Proust:

«Esse tom humilde, então demasiado frequente em Proust, irritava-nos a todos terrivelmente, tornava-o suspeito de insinceridade. Dizíamos amiúde entre nós: "Ele é decididamente melífluo em demasia!..." No fundo, julgo agora que era sobretudo bastante melhor que nós e rebaixava-se assim a si mesmo devido ao constante terror de humilhar outrém.» (Correspondência, V)

Fonte: Proust, de Claude Mauriac

leitora
 
  Autobiografia
Maria Alzina Seixo, no seu estudo "Os Romances de António Lobo Antunes", escreveu o seguinte:

«Proust desenvolve no seu livro uma análise esmiuçada do comportamento próprio como pertencendo a outros, e guardando para si a parte atribuível à convenção.»

Daí que o que lemos não possa ser entendido linearmente como autobiográfico. Proust repartiu características pelas várias personagens, alterou géneros, mas deu-se ao gozo de partilhar o seu primeiro nome com a personagem principal da sua obra. De notar que apenas tardiamente revela essa identidade comum, em páginas que lemos recentemente. Também assim se brinca com a má língua. E eu, leitora, estou aos poucos a rever algumas analises precipitadas que fiz em especial no primeiro volume, relativamente à exposição que Proust se permitia com esta obra e a sua personagem principal. Ainda vai a tempo.

leitora
 
  Notas pessoais...
O começo do 6º volume fez-me chegar à hipótese de compreensão da estranha relação do narrador Marcel com a Albertine! Só pudemos estar perante uma relação "homossexual" em que o parceiro é representado por uma mulher, porque à data da estória, não haviam condições sociais e morais para se assumir publicamente tal relação, contada na primeira pessoa! Fica explicado o estranho ciúme que ele tinha pelas inclinações homossexuais dela, ou que ele lhe atribuia!!! Vamos ver se o resto da obra confirma esta hipótese ou não.
ALBB
 
domingo, janeiro 02, 2005
 
"como o futuro é o que só existe ainda no nosso pensamento, parece-nos ainda alterável pela intervenção "in extremis" da nossa vontade."
(p.6)

Parece-nos...

Troti
 
  Clarice Lispector
em 1947 foi a Paris, depois de ter lido a Recherche. E foi convidada para conhecer o restaurante do Alertine. DO, exactamente. Numa carta a Fernando Sabino, datada de 8 de Fevereiro de 1947, diz o seguinte:

«Soube de coisas que me deixaram confusa, como por exemplo: a Albertina do Proust ainda existe e tem um restaurante, só que Albertine é um Albertino, sempre foi, e hoje está bem gordo, com grandes bigodes. Albertine era um rapazinho empregado do hotel Ritz, e Proust fez uma ótima transposição colocando o caso todo com uma mulher. Fiquei muito confusa. Tinha-se marcado um dia para ver o albertino, mas ficou difícil e eu não insisti muito porque não queria amolar Proust.»

A mim diverte-me pensar que anos depois Proust continua a alimentar conversas sociais. Ainda hoje, não é assim?

leitora
 
 


No seguimento do post de ontem da leitora, aqui fica um retrato de Marcel Proust.
Se quiserem comentar...

Troti
 
sábado, janeiro 01, 2005
 
"..estas palavras: "A menina Albertine foi-se embora!" acabavam de produzir tal sofrimento no meu coração que sentia que já não poderia resistir-lhe mais...E adivinhando confusamente que, embora há pouco, quando ainda não tocara a campainha, a partida de Albertine me parecesse indiferente, e até desejável, isso acontecera porque a julgava impossível,"
(p.5)

Troti
 
  A escrita por vir
A escrita por vir, prevê Frederico Lourenço, terá algo da busca de Clarice Lispector num acentuado fio de Proust."Tenho a certeza de que vai ser cada vez mais um proustianismo, adaptado ao século XXI."
Alexandra Lucas Coelho Pedro Cunha - Revista Pública de 19/12/2004


Acredito que podemos caminhar para uma busca interior mais intensa. Sinto que, quanto mais conhecermos os nossos limites mais poderemos encontrar alguma serenidade.
Mas... uma emoção exacerbada é sempre um problema.

Troti
 
 
"...a nossa inteligência, por muito lúcida que seja, não pode aperceber-se dos elementos que compõem o coraçãol...

Estava enganado quando julgava ver claro no meu coração."

(p.6)

Troti
 
  Fernand Gregh
em 1892 retratou assim Marcel Proust: «Para as mulheres e alguns homens, ele é dotado de beleza. (...) Tem mais do que beleza ou graça ou inteligência; tem tudo isto ao mesmo tempo...»

Fonte: Proust, de Claude Mauriac


leitora
 
  Estamos de volta
ao romance inacabado e à obra gigantesca de Marcel Proust.

Entretanto, votos de um ano feliz e recheado de boas leituras
 

O QUE ESTAMOS A LER

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PROXIMAS LEITURAS

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LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

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"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

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"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

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"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

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