Leitura Partilhada
terça-feira, dezembro 30, 2008
 
Hoje devia deixar aqui a minha leitura da biografia de Knut Hamsun, como propus no princípio do mês, porém, algo me atraiu mais a atenção. Um osso.





clarinda

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segunda-feira, dezembro 29, 2008
  "abri os olhos..."

"... feliz estado de loucura provocado pela fome,

sentia-me vazio,

não tinha dores ,

meu pensamento não tinha peias,

fiz esforços desesperados para encontrar uma palavra que fosse suficientemente negra para definir aquela escuridão"


Manuel Rodrigues
 
sexta-feira, dezembro 26, 2008
 
o que iremos ler em Janeiro...?
 
 
honesto até à medula

Nem sei bem como hei-de classificar esta construção narrativa que a Fome nos oferece. Dizer que é monólogo interior parece-me académico. Fluxo de consciência está fora de questão, análise psicológica…talvez, em certo sentido. Prefiro dizer, no entanto, que se trata de um longo diálogo dele com ele. Assim: o que o corpo pede e o que a moral reprime.
E a moral tem tanto peso, (ainda tem naquele tempo…por contraste com) que só se acreditando ser cão se pode achar com direito a pedir… um osso.
De arrepiar a medula!

- Ah! Não queria ter a bondade de dar-me um osso para o meu cão – perguntei. (…) Deram-me um osso, um ossinho esplêndido. (…) Entrei furtivamente na passagem Smedgangen o mais fundo que pude chegar e parei, junto de um pátio traseiro. (…) Pus-me a roer o osso.

(p. 181)


clarinda

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  tudo acabava em nada e fizera com que eu tivesse perdido o ânimo.
Chegando a um ponto em que nada mais tinha a perder e o apego à vida fraquejava, já tudo lhe é mais ou menos indiferente. No fim, acaba por conseguir vencer a fome de uma maneira quase fortuita. Morrer ou não morrer de fome, mais do que um acto de vontade, foi uma obra do acaso.

azuki
 
  euforia, clarividência
Aquela radiante sensação de iminente prosperidade inebriava-me e fazia-me sentir grato a Deus e a todo o mundo
Knut Hamsun, “Fome”, pag. 57, Cavalo de Ferro, 2008

Eu não queria ser ridículo, podia morrer-se de excesso de soberba...
idem, ibidem
, pag. 248

azuki
 
  descontrolo, obsessão
Naquele momento, eu estava totalmente consciente de estar cometendo loucuras, mas não podia fazer nada contra isso.
Knut Hamsun, “Fome”, pag. 33, Cavalo de Ferro, 2008

Tive a ideia louca de que poderia tratar-se de um jornal muito especial, algo absolutamente único (...) Porque não segurava ele o jornal como as outras pessoas seguram um jornal, com a primeira página para fora? Que segredos eram aqueles?
idem, ibidem, pag. 44


azuki
 
quinta-feira, dezembro 25, 2008
  O fantasma: fome...
A banda sonora do livro...



Manuel Rodrigues
 
  Natal



08. os amigos.mp3

Feliz Natal



Do Blog Cantigueiro
Luis Neves

 
quarta-feira, dezembro 24, 2008
  "eram dez horas..."

"Ao chegar aos bazares fui a um chafariz e bebi um pouco de água. Olhei para cima - eram dez horas na torre de Vor Frelser (Nosso Salvador)."
Knut Hamsun, "Fome", pag. 27, Cavalo de Ferro, 2008

Vor Frelser Kirke (Igreja de Nosso Salvador) de estilo gótico foi concluída em 1696. A característica peculiar na igreja é a sua espiral de ouro e cobre dourado.




Manuel Rodrigues
 
 
palavras sem significados

As palavras que utilizei para compor o título desta entrada encontram-se no prefácio que o consagrado Paul Auster escreveu para este livro de que vimos falando. Regresso a elas porque, enquanto lia, encontrei na página 96 a passagem de que o autor americano se serve para exemplificar o vazio de linguagem. E uma vez que esta questão da identidade que o nosso miserável escritor-narrador vai esfarrapando, na mesma intensidade com que procura enganar a fome, é leitmotiv das magníficas histórias criadas por Auster que fazem parte de A Trilogia de Nova Yorque; e ainda pela especificidade da quadra que atravessamos, acho que de facto há coincidências e as palavras neste dia devem combinar com o seu verdadeiro significado. Feliz Natal!



clarinda

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terça-feira, dezembro 23, 2008
 
a mentira da mentira

Parece que a única pessoa com quem o narrador é realmente sincero é o leitor. Basta ver a facilidade com que inventa nomes e situações que são autênticos propulsores do enredo e o certificam como bom escritor, apesar da indigência - o que, no caso concreto desta obra, se revela como condição necessária.
Mas para além do escritor há o homem. O que passa fome e frio, o que delira e entontece, o que se arrelia e se emociona. Como na passagem em que um polícia lhe dirige uma frase de simpatia e compreensão depois de ter sido literalmente gozado. Uma única frase: “Seja como for são horas de você ir para casa. Quer que o acompanhe até lá?”, serenou o irado e faminto escritor. De tal forma que lhe subiram as lágrimas aos olhos e lamentou não ter cinco coroas para dar a quem tão bem lhe lembrou a compaixão humana.


clarinda

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  até onde estamos dispostos a ir para sobreviver?
Mal podia ter estado em meu pleno juízo, no momento em que decidi praticar aquela má acção; quanto mais pensava nisso, mais irrazoável me parecia. Devia ter sido um ataque de fraqueza, uma ou outra frouxidão interior, que me tinha apanhado desprevenido. Tão-pouco tinha caído na armadilha, pressentira que algo errado estava a ponto de acontecer e tentara explicitamente com os óculos primeiro. Alegrou-me muito o ter-me livrado da ocasião de cometer um crime, que iria conspurcar as minhas últimas horas de vida.
Knut Hamsun, “Fome”, pags. 122-123, Cavalo de Ferro, 2008


TNSJ

Inspirado numa história verídica, este monólogo para uma actriz em forma de conto poético e político atravessa cinquenta anos da História da Alemanha, entre os anos 30 e os anos 80, e conduz-nos ao longo da vida de Ella. Ella é uma jovem de origem humilde que não consegue arranjar emprego, e casa com um homem mais velho para poder ter um tecto e o que comer. Quando Ella descobre que a ciática que Max diz ter é afinal cancro, decide juntar toda a informação necessária sobre o trabalho do seu marido. Max Gerricke morre, mas é Ella quem é “enterrada”.
Vinte e seis quadros que percorrem anos de recessão, a chegada de Hitler, a Segunda Grande Guerra, o pós-guerra, a divisão do território alemão entre os aliados, o renascimento da Alemanha Ocidental, chegando até aos anos 80, mesmo antes da queda do Muro de Berlim. Vinte e seis quadros que relatam a vida trágica de Ella, uma mulher que para sobreviver teve que mentir, traficar, matar, prostituir-se, roubar, diluindo-se na perda da sua identidade, da sua dignidade humana.
(…)
Parece-nos um texto particularmente pertinente, por nos falar das escolhas que temos de fazer ao longo da nossa vida, entre sobreviver a qualquer preço ou procurar uma vida na verdade. (…)
Carlos Aladro e Beatriz Batarda

Fui assistir, no sábado, a esta peça de Manfred Karge, soberbamente interpretada por Beatriz Batarda (momentos de êxtase, sem dúvida, e um facto que convoca toda a minha incredulidade: havia cadeiras vazias no TNSJ). Um texto propício à reflexão sobre a condição humana e onde, tal como em "Fome", (também) se explora o difícil equilíbrio entre uma aflitiva luta pela sobrevivência (que pode levar-nos a assumir o papel de SA num campo de concentração ou a vender o corpo por um saco de grão) e uma não menos aflitiva luta pela preservação da identidade (com momentos de tocante dignidade e respeito por si própria). Magnífico espectáculo.

azuki

 
segunda-feira, dezembro 22, 2008
  sem esteios
O seu estado é de total abandono e desorientação. Não se percebe como não existia ninguém que o pudesse ajudar, um bom amigo ou um primo distante. Talvez se tratasse de um rapaz pobre da aldeia, convencido do seu enorme talento literário, que resolve tentar a sorte numa grande cidade onde não conhece ninguém. E, se o equilíbrio frágil resvala, não há como evitar a desgraça. No fundo, casos de indigência como estes, de certa forma incompreensíveis, porque atacando pessoas com capacidade intelectual e sem vícios a assinalar, de hábitos simples e que se contentam com pouco, não serão assim tão raros. Quando passo pela Rua da Alegria à noite, pergunto-me que história será a daquelas pobres silhuetas femininas...

azuki
 
sábado, dezembro 20, 2008
  Kristiania
fonte
Kristiania, essa cidade curiosa donde ninguém parte sem levar consigo uma marca indelével...

Pouco ficaremos a saber sobre Kristiania, num livro que é o fluxo de consciência de um escritor esfomeado. O contexto que envolve a omnipresente personagem cujo nome se desconhece, é relativamente indiferente, estando a relevância do exterior centrada nas condições climatéricas, alusivas a um estado de abandono: frio, bruma, escuridão. De todo o modo, a frase parece-me bastante exagerada, pois Oslo não é uma cidade marcante (apesar de, claro, ter o Munch e os vikings e os jardins e a linha costeira). Contudo, a recordação que dela guardo torna-a num sítio querido: era um radioso dia de Junho e a esplanada junto ao mar estava repleta de pessoas ruidosas e sorridentes a beber cerveja como se, de repente, o mundo tivesse acordado em feliz e luminosa algazarra.

azuki
 
sexta-feira, dezembro 19, 2008
  entorpecimento e incapacidade
Senti-me como um insecto rastejante prestes a agonizar, apanhado pela devastação (...) comecei a procurar um determinado assunto que pudesse tratar, uma personagem, uma coisa sobre a qual pudesse lançar-me, mas nada me ocorria. Durante este esforço infrutífero instalou-se novamente a desordem nos meus pensamentos. Senti efectivamente como o meu cérebro resvalava, como a minha cabeça se despejava, se esvaziava e como, por fim, se mantinha leve e oca sobre os ombros. Experimentei o vazio da minha cabeça com todo o corpo, senti-me carcomido da cabeça aos pés.
Knut Hamsun, “Fome”, pag. 52, Cavalo de Ferro, 2008


azuki
 
quinta-feira, dezembro 18, 2008
 
Uma breve sinopse de Dóris Graça Dias, na revista Ler:

Passado na antiga cidade de Kristiania, actual Oslo, escrito na primeira pessoa, este é o retrato de um autor em busca de si mesmo, atormentado pela fome que a falta de trabalho e a soberba criativa provocam. Simpático, prestativo, gentil, educado, incansável, bem-disposto e o contrário de tudo isto, através de situações e conversas revela o cínico e o pedante que há em si. Tudo isso rodeado de um discurso marcado pelas sobreposições de estados de espírito e por uma lógica distante desta ponderada conclusão: “Eu, que sempre andara por aí, a considerar-me demasiado bom por tudo e mais alguma coisa, a abanar a cabeça com sobranceria e a dizer “não, obrigado”, agora via aonde isso me conduzira: encontrava-me de novo sem eira nem beira”.

azuki
 
quarta-feira, dezembro 17, 2008
  mania da perseguição
Que se passava comigo? Teria eu o dedo do Senhor apontado para mim? Mas porquê exactamente para mim? Porque não para uma qualquer pessoa na América do Sul, por exemplo? À medida que ponderava o assunto, parecia-me cada vez mais incompreensível que me tocasse justamente a mim estar destinado a ser cobaia dos caprichos misericordiosos de Deus. Era um modo de proceder bastante estranho este de passar por cima do mundo inteiro para me escolher precisamente a mim. Quando aqui havia outros, como o alfarrabista Pascha ou o despachante naval Hennechen.
Knut Hamsun, “Fome”, pag. 39, Cavalo de Ferro, 2008


azuki
 
terça-feira, dezembro 16, 2008
  sobre o autor
Ainda no mesmo texto de Rogério Casanova:

Como Pound, Céline e outras presenças incómodas no Cânone, Hamsun foi politicamente testado pelo século XX – e falhou. As evidências não deixam grande margem de manobra ao revisionismo: apoiante entusiástico do regime nazi, Hamsun chegou a oferecer a sua medalha Nobel a Goebbels, e a escrever um elogioso obituário de Hitler. A posição mais caridosa que se pode adoptar é atribuir esse percurso à senilidade. Orwell escreveu que para produzir uma grande obra de arte as opiniões de um escritor têm apenas de “ser compatíveis com a sanidade”, no mais restrito sentido clínico. Hamsun é um argumento contra essa tese. A sua mundividência não chega sequer a ser ideologia. As grandes monstruosidades intelectuais obedecem a um padrão bem definido: identifica-se um preconceito e ergue-se um edifício ideológico para o sustentar. Hamsun nunca chegou ao segundo estágio; as suas “opiniões” eram pura patologia. Não havia esqueletos no seu armário – apenas sombras e poeira.
Expresso-Actual, 20/Set/08, Rogério Casanova

É forte, muito forte... Pese embora me confesse susceptível (claro que sim, especialmente se encontro um alter ego ou qualquer cariz auto-biográfico), não estou disposta a prescindir de Wagner, Picasso ou Naipaul. Se começarmos a excluir músicos/pintores/escritores/cientistas,... com opiniões e/ou comportamentos patológicos ou menos próprios, tornar-nos-emos bem mais pobres. Como nem tudo muda com o tempo, pois ainda temos o MEC, vou citá-lo, sempre exagerado e em vernáculo, mas muitas vezes certeiro:

A personalidade das pessoas não tem nada a ver com a escrita. As coisas têm de se distinguir completamente. Quando se lê um livro de um determinado autor, porque é que se há-de saber a vida dele? (...) A obra é uma coisa que fica. Se tirarmos os filhos da puta da literatura e da pintura, ficamos com nada. Se se tirarem os bêbedos, fica-se com zero. Se deixarmos só os livros feitos por pessoas que se portavam bem, tratavam bem a mulher, eram bons amigos e pagavam as contas a horas, ficamos só com merda.
Ler, Dez/08, entrevista de Miguel Esteves Cardoso a Carlos Vaz Marques


azuki
 
segunda-feira, dezembro 15, 2008
  megalomania
O homem aceitou o dinheiro e começou a medir-me de alto a baixo. (....) O grosseirão julgaria realmente que eu era tão pobre como aparentava? Não tinha eu praticamente começado a escrever um artigo que valia umas dez coroas, pelo menos? (...)
Procurei um banco vazio e comecei a roer com sofreguidão a minha merenda. (...) O meu ânimo depressa se levantou; já não me bastava escrever um artigo sobre algo tão simples e prosaico como os crimes do futuro, que aliás, qualquer pessoa podia prever facilmente ou até ler nos livros de História. Tinha ganas de um esforço maior do que esse, estava a fim de vencer dificuldades e decidi-me por uma tese em três partes sobre o conhecimento filosófico. Naturalmente, teria oportunidade de chumbar alguns dos mesquinhos sofismas de Kant...


Knut Hamsun, “Fome”, pags. 30-31, Cavalo de Ferro, 2008


azuki
 
sábado, dezembro 13, 2008
  para quem ainda não sabe como este livro é brilhante
Rogério Casanova dedica-lhe um texto magnífico, na Actual do Expresso (edição de 20 de Setembro de 2008), que termina assim:

(...) Hamsun e Dostoievski foram os primeiros a realçar o homem não como criatura social ou intelectual, mas como sistema nervoso. Isaac Bashevis Singer, apresentando o livro a uma audiência americana, escreveu que toda a literatura modernista vinha de Hamsun. É difícil não notar as semelhanças com os seus herdeiros directos: Kafka e Beckett. Como eles, Hamsun foi um génio cómico. Como eles, quase patologicamente introspectivo. Fome não nos permite o acesso a um mundo, a um microcosmos naturalista de relações sociais, mas a uma consciência explodida; uma consciência desesperada, que faz do desespero um santuário, e do santuário um inferno.

Publicada originalmente em 1890, Fome é a primeira grande obra-prima do século XX.


azuki
 
quarta-feira, dezembro 10, 2008
  Artigo 25º da Declaração Universal dos Direitos Humanos
AMNISTIA INTERNACIONAL - Portugal
60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos: É altura de cumprir o prometido

Declaração Universal dos Direitos Humanos

Artigo 25°
1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.

2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social.

(Duas Notícias no Jornal Público, 10 Dez 2008)
"Ameaças à Declaração" , Tendência para descartar a centralidade dos direitos humanos

Os direitos humanos fazem hoje parte dos discursos políticos como nunca fizeram. Mas, contraditoriamente, a geopolítica, os interesses imperiais ou nacionais continuam a falar mais alto, por exemplo em Guantánamo ou no Zimbabwe.

Paula Escarameia. A resposta à tragédia do 11 de Setembro de 2001 é quase um case study. "o combate ao terrorismo utilizando métodos que constituem uma violação da proibição da tortura (artigo 5.º), do direito a um julgamento justo (8.º), da proibição de prisões arbitrária (9.º), tem sido uma séria ameaça a um ordenamento jurídico que tanto custou a construir ao longo de tantos séculos".
Mas estas não são as únicas ameaças à Declaração Universal dos Direitos Humanos. "A mais séria talvez seja a pobreza extrema em que vive parte da humanidade, decorrente de uma situação económica mundial de grande disparidade", diz a jurista.

José Manuel Pureza fala no mesmo sentido, e do que chama "tendência para descartar a centralidade dos direitos e liberdades fundamentais, diante das vertigens securitárias que se instalaram nas nossas sociedades".
O professor de Coimbra critica o modelo neoliberal das sociedades contemporâneas e "a permanência da lógica de endeusamento do mercado, que considera os direitos económicos e sociais como privilégios de alguns e não como direitos de todos".

Vítor Nogueira centra os obstáculos que a declaração enfrenta na questão do poder. "As grandes potências não se dispõem a abdicar de parte dos seus interesses imperiais ou nacionais", afirma, dando como exemplo a proibição ainda há dias, em Oslo, das bombas de fragmentação, pacto a que se furtaram Estados Unidos, Rússia e China, e das reservas de vários países ao Tribunal Penal Internacional, garantindo a impunidade aos seus agentes.

"Na China e na Índia vivem 42 por cento dos que têm fome" , Já são 963 milhões os que não têm o que comer no planeta, com dois grandes países emergentes a albergar uma grande fatia do drama
O número do ano passado, em plena crise de alta do preço dos alimentos, já era conhecido: 75 milhões de pessoas engrossaram as já vastas fileiras dos que sofrem de fome. Agora, desde Janeiro, mais 40 milhões passaram a viver nesta imensa carência, pontapeando o dramático número dos famintos para perto dos mil milhões. (1.000.000.000)
.... "Para milhões de pessoas nos países em desenvolvimento, comer o mínimo para ter uma vida sã e activa continua um sonho longínquo. Os problemas estruturais da fome e da falta de acesso a terras, ao crédito e ao emprego, e os preços elevados dos bens alimentares, permanecem uma realidade cruel", disse Hafez Ghanem, subdirector da FAO. 907 milhões de pessoas, dos 963 milhões que não têm acesso a comida suficiente, vivem nos países em desenvolvimento .


Todos os dias se lêem notícias da Fome no Mundo. Neste último ano o problema agravou-se muito. Porque hoje se comemora os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e porque o livro escolhido no mês de Dezembro no LP é "Fome" de Knut Hamsun, achei que era uma boa altura de lembrar o 25º Artigo da declaração, que declara como um direito humano, o dispor de alimentação para a subsistência.
Como é óbvio. Mas é tristemente ignorado.
Luis Neves
 
sábado, dezembro 06, 2008
 
A cidade de Oslo chamava-se naqueles tempos Kristiania. O homem que escrevia para comer e comia para escrever vivia em Kristiania. Pergunto-me se terei grandes panorâmicas da cidade e qual a sua utilidade para a estratégia narrativa, uma vez que se trata de um romance introspectivo, de acordo com o que li no prefácio. Haverá algum leitor partilhado que possa adiantar um pouco esta história, digamos, de Natal?

clarinda

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quarta-feira, dezembro 03, 2008
 
Um homem chega jovem a uma cidade. Não tem nome, casa ou trabalho; ele veio para uma cidade para escrever. Ele escreve. Ou, mais precisamente, ele não escreve. Ele passa fome até estar quase morto.

Knut Hamsun, Fome (prefácio de Paul Auster)


Ao elidir os nomes assim nas primeiras frases do romance (que importa que apareçam mais à frente), o autor compromete o leitor na trama que se seguirá. A cidade pode ser a minha, a tua ou a dele. O homem pode ser um escritor, um imigrante, um desempregado. Afinal, uma história para ser história não precisa de ser contada, ainda que só contada - genialmente contada - passe a barreira do tempo.

Nota: Uma vez que ainda não está feita nenhuma apresentação de Knut Hamsun, proponho que a mesma tenha lugar no último dia do mês trocando assim as voltas à nossa organização mensal de leitura.
clarinda

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O QUE ESTAMOS A LER

(este blogue está temporariamente inactivo)

PROXIMAS LEITURAS

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LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

Primeira Viagem Temática BLOOMSDAY 2004

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