Leitura Partilhada
domingo, maio 31, 2009
  Conjunto patrimonial e aldeia literária (associada a Vergílio Ferreira) de Melo (Gouveia)

“Eu tenho pela minha aldeia uma afeição que é mais do que isso, porque é essa forma profunda com que se moldou a minha sensibilidade. Na pessoa que sou, o ambiente em que me criei deixou uma marca que com essa pessoa se confunde. Não sei, pois, como ser possível separa-las. Nada, pois, mais encantador do que expressar a ligação do meu destino à aldeia em que nasci e me criei”
(Carta de Vergílio Ferreira ao Presidente da Câmara Municipal de Gouveia - 19-4-1986)
Melo é uma aldeia que com património construído assinalável, com 4 imóveis classificados: Capela de Santa Marta, a Casa da Câmara e o Paço, como Imóveis de Interesse Público e o Pelourinho como Monumento Nacional. Falta ainda classificar a capela da Misericórdia e as três casas onde viveu o escritor Vergílio Ferreira - e é muito por ele que classifico Melo como notável. Melo é a terra natal e de vivência do autor, e é um espaço único na nossa literatura, porque em quase todos os seus romances, Melo está presente, principalmente a sua casa amarela, porque é aqui que os seus protagonistas autodiegéticos, em solidão, no dealbar da sua vida fazem profundos balanços da sua vida e procuram o seu Eu metafísico.


A casa de nascimento, o Pelourinho e a Casa da Câmara.
Vergílio Ferreira nasceu numa casa que ainda existe, embora desfigurada, num beco, próxima do Pelourinho e da Casa da Câmara.
A casa podemos encontra-la nas últimas páginas do Para Sempre, quando Paulo diz “Depois desço para o outro lado da aldeia, a minha casa era aí. A empena mais alta reveste-se de lousas como escamas…a pedra da varanda sobressai do quarto…”
Quando os pais partem para a América, Vergílio vai morar com as tias e a avó materna para a casa no Cabo; próximos viviam os Borralhos eternizados em Vagão J e Manhã Submersa.
O menino Vergílio de certeza que brincou em redor do esbelto pelourinho manuelino datado do século XVI coroado com esfera armilar. Em frente encontra-se a antiga Casa da Câmara, presumivelmente erigida no século XVII. Destaco nela uma pedra de armas com o brasão de Melo, constituído pelas armas de Portugal, cingido por dois ramos em assentam dois melros. A da Câmara foi adquirida pelo edil de Gouveia para ser o centro de interpretação do autor. Ao fundo da rua da Praça pode ainda ver a Capela de Santa Marta construída no século XVII e de estilo maneirista.
Deixemos agora o harmonioso largo, façamos um pequeno desvio numa quelha para dar uma espreitadela na casa onde nasceu o autor; já na rua principal-Aquiles Gonçalves, paramos para observar uma casa brasonada, que foi por um rol de anos a escola primária e onde Vergílio aprendeu as primeiras letras.
A Igreja da Misericórdia
“Atravessamos a aldeia pela noite de estrelas, as ruas revolvidas de neve, tia Luísa leva-me o violino ao peito, suspende a lanterna a decifração dos pés. Quando chegámos a Misericórdia, ensaiávamos numa galeria ao lado que dá para a nave da igreja, tia Luísa entregou-me ao Padre Parente. Éramos quantas figuras? Aí umas quinze ou vinte, representavam as artes e ofícios, alguns dos tunos vinham pela noite de quintas longínquas à procura do mistério com as suas violas e bandolins”. In Para Sempre
O templo da misericórdia é pequeno mas muito harmonioso, com a galeria onde Vergílio aprendeu a tocar violino, os seus quadros quinhentistas, provavelmente de um discípulo de Grão Vasco, nas paredes laterais e o Menino Jesus Capitão.
“…porquê este menino vestido de militar? Tem um chapéu bicórnio, influência napoleónica? Uma casaca e calção”. E eu respondo, veste deste modo para agradar aos invasores napoleónicos e deste modo aplacar a sua fúria destruidora.
O Paço de Melo
Um pouco acima está o Paço de Melo, que é entre todos, o edifício mais monumental de Melo. O conjunto começou a edificar-se no século XIII e foi objecto de várias transformações até ao século XVIII. Disposto horizontalmente compondo-se do muro da cerca com merlões, da capela do Senhor do Calvário, das ruínas do edifico do paço e da torre sineira. O interior é um triste destroço desmoronado. Seria importante para Melo recuperar o seu paço.
Vergílio teve uma infância profundamente religiosa e seu baptismo foi feito na igreja matriz, onde está sepultado o Bispo da Guarda, refugiado no Paço durante a terceira invasão francesa. Ao lado da igreja está a casa paroquial onde viveu o Padre Parente imortalizado no Para Sempre.
Recordações da Casa Amarela
Partamos agora para a Casa Amarela e reparemos nas casas dos romances - a casa apalaçada do Senhor Ximenes (In Signo Sinal), as casas Queimadas (In Para Sempre) a Casa de Trás (In Para Sempre)…e chegamos por fim a “casa amarela” - provavelmente a habitação mais importante da literatura portuguesa.
“É alta, toda de amarelo, agora desbotado. Loja, dois pisos. As empenas chanfradas, um ar poliédrico no seu facetado” In Para Sempre.
Os pais quando regressaram da América, já o nosso escritor tinha treze anos, mas retornam aquele País, entretanto vão construindo esta moradia com quintal que dá pelo nome de Vila Josephine, que era o nome da mãe americanizado, para melhor se integrar naquela sociedade. Era o nome relativo a Josefa. Era importante que a habitação fosse a casa museu de Vergílio Ferreira, a semelhança daquilo que acontece com a casa Miguel Torga em Coimbra.
O seu interior é descrito em vários romances. Lá está o violino, a galinha inspiradora do conto com o mesmo nome…
E da varanda, as vistas solenes para a montanha, espaço sempre presente na obra literária, acolá as escombreiras das antigas minas da Alegria Breve, ali as ruínas do Paço de Melo; é todo o exterior a fornecer pistas para a descoberta do Eu metafísico de Vergílio Ferreira…
Entre muitas citações da casa, escolhi a abertura da Aparição em homenagem a tertúlia literária online do Leitura Partilhada.
“Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro. Uma lua quente de Verão entra pela varanda, ilumina uma jarra de flores sobre a mesa. Olho essa jarra, essas flores, e escuto o indício de um rumor de vida, o sinal obscuro de uma memória de origens. No chão da velha casa a água da lua fascina-me. Tento, há quantos anos, vencer a dureza dos dias, das ideias solidificadas, a espessura dos hábitos, que me constrange e tranquiliza. Tento descobrir a face últimas das coisas e ler aí a minha verdade perfeita.
Mas tudo esquece tão cedo, tudo é tão cedo inacessível. Nesta casa enorme e deserta, nesta noite ofegante, neste silêncio de estalactites, a lua sabe a minha voz primordial”. In Aparição.

Texto também publicado em http://www.portugalnotavel.com/

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quando dará flor o aloendro?*




Na história de Alberto aquele Verão não fugia à regra. Trazia dias infernais de calor, compactos e estáticos como os que vamos vivendo agora cada vez mais. A cidade de Évora surge de repente engalanada de festa. Até ali, as pessoas anónimas que povoam o romance estavam nos campos, nas casas, nos cafés. Que melhor dia há para a comunhão de uma cidade com a sua gente que um dia de feira?

O último capítulo, digamos, a nossa despedida de Évora, é o palco da tragédia anunciada. Do fundo de um telefonema anónimo vêm-lhe as palavras: Só você é responsável. Só você. Alberto deambula como um louco: Ponho-me a correr a feira numa fúria. Barracas de tiro, carrosséis, bichas para os circos, esplanadas… Mas, dá-se conta que está a retardar o desfecho como um efeito teatral para o qual já não há mais paciência e, em duas frases, remata a sua história com Sofia apunhalada e encontrada num caminho que parte do Chafariz Del-Rei. Assim, sem nenhuma sombra para nos resguardarmos.

O relógio da imagem estava, salvo erro, no liceu de Alberto, actual Universidade de Évora. Com certeza, Vergílio /Alberto deve ter olhado para ele nas suas horas mortas, nos ‘furos’ das aulas ou quando se dirigia ao gabinete do Reitor. Tenho uma imagem do Chafariz d’El-Rei, mas perde a sua força cénica com os carros que se intrometeram na hora do clique. Um dia que lá regresse, serei paciente para conseguir uma boa fotografia. Ah, e se pudesse, diria a Alberto que, com tanto calor, já os aloendros devem ter florido.



*cap.XXIII

clarinda

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sábado, maio 30, 2009
 
que cada qual esgote a sua voz*



Já no final das aulas, tal como nestes dias quentes de Maio, Alberto revela-nos o tédio que o envolve. Diz que se cansava à procura de motivos para inventar uma novidade e vencer o mormaço da aula e a falta de convicção dos alunos e dele. Fale-nos de qualquer coisa, incitavam os alunos e Alberto ia considerando que já lhes tinha falado de tudo: histórias de pintores, a aventura da arte moderna, a crise do mundo, a contingência absoluta do nascimento, até as aporias dos Eleatas.
Trata-se também de um momento de amarração da trama – como nas histórias infantis, ao Outono sucede o Inverno, a Primavera, o Verão – e o núcleo Moura tem de provar agora a sua utilidade em todo este percurso narrativo. Repare-se como Alfredo se transforma ‘no melhor da fita’, como Ana se acomoda na maternidade adoptiva dos filhos do Bailote, até Sofia cumpre o seu desígnio alimentando com o seu corpo os inquietos Alberto e Carolino. Mas há outra funcionalidade nestes momentos da história. Provar que o ideal do jovem professor é imarcescível e continua no velho que fala da sua casa na Beira: a fome da nossa condição não se esgota num estômago tranquilo, clama ele com a voz do 'Novo', sede bons, amigos, sede compreensivos. Mas é Ana que remata com a frase certeira: que cada qual esgote a sua voz! Que a esgote até ao fim.
Por isso este romance acaba por nem ter desfecho, a não ser essa morte da Sofia (falarei disto amanhã no último post), porque Alberto continuará Alberto no seu devir, como diz o Castela, e uma nova cidade surge no horizonte: Faro. Se Vergílio não a aproveitou foi porque não quis.
*cap XXIV

imagem da net

clarinda

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  Não gosto de Alberto, o Novo
Acabado de (re)ler o livro e é arremessado para a estante dos “quatro” (o equivalente a muito bom) , tudo aquilo que é a inferior a esta nota é doado. Como diz Azuki, com menos umas 20 páginas de monólogos interiores redundadntes o romance melhorava. Curiosamente foi assim que mais tarde pensou Vergílio.
Alberto, o novo, quando chega a Évora, ainda é um jovem, porque apenas estes sentem que estão na razão em si, e que de alguma forma estão destinados a grandes descobertas.
Alberto descobre-se ( e deve ser a função de todos nós) e como jovem petulante, tenta incessantemente exigir aos outros que escutem a sua descoberta. É nesta (a)feição um fanático religioso, inexperiente que tenta desenfreadamente os outros. Quando foge de Évora está presente em si a desilusão e o tédio, porque Alberto sabe que é culpado. Culpado de ter acendido na alma dos outros dúvida existencial. Se para uns é um facto positivo para outros é causa de uma violência maior interior, capaz de levar Carolino a alienação. Quanto a Sofia, insere-se dentro do grupo das heroínas literárias excêntricas, inquietas e problemáticas, que hoje em dia estão internadas ou andam por ai com haldol, por isso não lhe coloco qualquer valia. São fonte de problemas para os outros e principalmente para eles próprios. Mas Alberto sabendo do facto não deixou de sentir atracção física e concretizar o acto- sempre que Sofia está em estado psicótico. Reparai nas belas palavras que utiliza para sentir repúdio por Alfredo, a melhor das pessoas em Évora. Mas que petulante!
Em Alberto não reconheço o existencialismo que me moldou e pela sua soberba- o existencialismo não é humanismo. O rapaz até está cego para Évora, que é mais bela cidade portuguesa!
Mas o Homem é devir e Alberto, o Velho, já é um verdadeiro existencialista que sabe que ser livre é ser-se responsável (Alberto, o novo, é um irresponsável); que a liberdade da escolha gera a angústia, que pode levar a descoberta de si próprio e desencadear o melhor ou o pior de nós (assim todo o cuidado é pouco). Infelizmente todos sabemos o que aconteceu ao Bexiguinha- que quando mata a galinha descobre o seu gosto pela destruição da vida. E aqui o romance é notável. Alberto é culpado. Mas quase todas as pessoas, em Évora, são desagradáveis.
De alguma forma o romance continua, numa segunda parte, no romance kafkiano e existencialista, que se passa na Guarda de nome Estrela Polar.
Castela

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sexta-feira, maio 29, 2009
 
Évora também é um lugar de partida



Lembro-me da primeira vez que lá fui, da ânsia em conhecer uma cidade que faz parte do nosso imaginário colectivo. Já tinha lido Aparição e Manhã Submersa de Vergílio mas não procurei os lugares dos livros. Tive sempre muita vontade de entrar na catedral, a cor avermelhada da pedra fascinava-me à distância das imagens que ia descobrindo nos livros, nas fotografias. Depois o branco da própria cidade no seu conjunto, a praça Giraldo - o Bandarra das nossas trovas sobre o Encoberto - , o templo de Diana, a lonjura da planície, o silêncio e a cor do céu ao anoitecer. Isso bastava.
Ao reler agora as múltiplas aparições de Vergílio, reconheço que também ele se deixou prender pelo misticismo que exala de tudo ali e que ir a Évora é uma espécie de peregrinação que cada português deve fazer, pelo menos uma vez na vida.
Já lá regressei mais vezes, uma delas fui, como já disse, com os alunos em visita de estudo. Lembro alguns pormenores do percurso da Aparição: começar na praça Giraldo, passar pelo senhor dos Terramotos, a Catedral, o Jardim de onde se vê o Alto, o busto da Florbela,o liceu que agora é a Universidade, a curva da estrada, local do acidente que vitimou Cristina, e outras mais informações de que já não me recordo.

Mas Évora também é um lugar de partida. Alberto deseja partir quase como se partir de Évora pudesse ser partir da sua história e estar só. O capítulo XXII corresponde a uma digressão pelo país e cada local que Alberto visita responde como um eco à sua busca interior:

Aceito o mar e o seu reconforto, sigo a orla marítima, vou com os ventos de viagem. S. Martinho, Nazaré, subo ao alto das falésias, os mareantes de outrora…’ Que ilusão! A busca indefinida é o destino do homem.’


imagem: Universidade de Évora

clarinda

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quinta-feira, maio 28, 2009
  Vou visitar Florbela
Sento-me, reconciliado, nos bancos de azulejo, fechados em recantos clandestinos, vou visitar Florbela, olho-a de um banco de madeira que lhe fica em frente, medito com ela. É uma cabeça calma, triste e majestosa. Banha-se de grandeza e gravidade desde a fronte cansada, que verga sobre as mãos em repouso, até às espáduas largas, em que o pescoço se espraia. Sinto que ela prevaleceu sobre a melancolia dos séculos e que chegou até nós para nos dar testemunho. Não está bem ali, rodeada de lirismo. E imagino-a num limite da cidade, frente à planície deserta, num alto pedestal tocando os astros...
Capitulo XXIII, Aparição

E eu também fui procurar uns poemas da Florbela Espanca, a famosa poetisa do alentejo, para acompanhar aqui o Vergílio Ferreira.

EU

Até agora eu não me conhecia.
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos escrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me - pobre louca! -
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!

Alentejano

Deu agora meio-dia; o sol é quente
Beijando a urze triste dos outeiros.
Nas ravinas do monte andam ceifeiros
Na faina, alegres, desde o sol nascente.

Cantam as raparigas, brandamente,
Brilham os olhos negros, feiticeiros;
E há perfis delicados e trigueiros
Entre as altas espigas de oiro ardente.

A terra prende aos dedos sensuais
A cabeleira loira dos trigais
Sob a bênção dulcíssima dos Céus.

Há gritos arrastados de cantigas...
E eu sou uma daquelas raparigas...
E tu passas e dizes: «Salve-os Deus!»

no livro "Sonetos", Florbela Espanca

Luis Neves

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quarta-feira, maio 27, 2009
 
as fieiras pálidas dos apóstolos desajeitados*



O encontro de Ana e Alberto na catedral é fortuito (o jeito que uma chuvada dá a uma narrativa) e corresponde a mais um ‘ajuste de contas’ entre aquela família Moura e o jovem professor. Ana é uma personagem dolorosamente convicta, não podendo ter filhos transfere para Cristina o seu afecto maternal, assinalado na revisitação do lugar onde foi depositada a urna da irmã.
O diálogo que se estabelece então levanta duas questões: o que há para além da morte física? O que há para além de mim?


*cap.xx

foto: Catedral de Évora (colagem)

clarinda

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terça-feira, maio 26, 2009
  A escrita
Não escrevo para ninguém, talvez , talvez: e escreverei sequer para mim? O que me arrasta ao longo destas noites, que, tal como esse outrora de que falo, se aquietam já em deserto, o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto, o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse, que é recuperá-lo pela evidência da arte.
Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.

Capitulo XVII, Aparição

Vergílio Ferreira revela aqui a sua necessidade e a sua identificação com a escrita. Escreve para ser. É um Ser escritor.
Luis Neves

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segunda-feira, maio 25, 2009
  Os Livros de Leitura
O reitor veio para mim com o seu andar patudo de gigante:
...
- Está quente, está bom. Hã ... Então como se vai dando por cá?
Eu ia-me dando bem. E estava satisfeito com os alunos, com as técnicas que experimentava, as redacções, por exemplo, senhor reitor, e as leituras, de vez em quando, à margem das matérias obrigatórias, e a cidade e o tempo, a memória, o silêncio, é claro, ...
- Esta cidade ... É preciso cuidado, muito cuidado. Essas redacções, é claro, são curiosas, são muito curiosas. Mas dê outras, dê outras. O groom, a costureira e tal. É claro são redacções curiosas. Mas não as dê, não as dê. Há outras. A Primavera e tal. Uma tempestade. As histórias dos meninos que dão esmola a um pobre e assim. As histórias de esmolas são sempre bonitas. E ficam contentes os ricos e os pobres ...
Ria com o seu riso de catarro, a sua infinita bonomia para as loucuras do mundo.

Capitulo X, Aparição

Podem ver no Blog Santa Nostalgia

http://santa-nostalgia.blogspot.com/2008/10/o-livro-da-segunda-classe-edio-de-1958.html

http://santa-nostalgia.blogspot.com/2006/12/o-meu-livro-da-3-classe-editora-educao.html

Na altura em que a história é contada em Portugal vivia-se um regime politico designado "Estado Novo". O Ensino nesse tempo é lembrado pela sua exigência e por uma formação mais profunda dos alunos. Venho lembrar aqui os manuais (livros de leitura do Ensino Primário) que eram universais, e que todas as pessoas mais velhas se recordam. Quem conhece os livros da época, sabe que o ensino tinha uma vertente de apoio ao regime, tinha a intenção de manter certos valores tradicionais de um país rural e de cariz católico, sendo que hoje muitos desses textos são vistos como sendo conservadores e que preservam estereótipos e preconceitos.

Luis Neves

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domingo, maio 24, 2009
 
aparições

Já aqui estabeleci um paralelo entre Aparição e o livro As Benevolentes. Ninguém me acusou de herege por isso vou explorar um pouco mais as semelhanças que me parecem evidentes entre estas duas obras situadas em espaços e contextos muito diferentes, mas unidas pela ‘procura da verdade’ de si. Este ‘si’ é a personagem principal. Em Aparição chama-se Alberto, em As Benevolentes chama-se Maximilien.

Ambos são velhos quando começam a contar o sucedido nas suas vidas; ambos são casados, quotidianos, tributáveis e, certamente, fúteis, de acordo com a poesia de Campos ou Pessoa. As mulheres, estas mulheres iniciais, são simples adereços pendurados nas paredes do espaço de representação trágica a que nós, leitores, acederemos nos capítulos seguintes. Com Vergílio, a mulher está sempre a dormir; com Jonathan desaparece de vez terminada a tocata ou introdução. Depois aparecem outras.
Alberto permanece desgastado ao longo de toda a narrativa. Não é possível conhecê-lo livre dessa longa noite em que se sentou logo nas primeiras palavras da obra, e se isso demonstra uma grande qualidade no domínio da técnica narrativa da parte do autor, revela-se também um ponto fraco por tornar penosa e lenta a digressão interior que o leitor é obrigado a fazer, guiado pela mão de um velho; Maximilien, ao contrário, rapidamente despe esta máscara e assume a pujança da juventude. Também não podia ser diferente, Maximilien espeta-nos com mil e quinhentas páginas, mais ou menos, enquanto Alberto se fica pelas duzentas e cinquenta. Ambos são muito pesados, cada um a seu modo.
A música perpassa pelas duas obras como elemento aglutinador e espaço de revelação. E fico por aqui, ou sei lá, vou um pouquinho mais longe. Agora só com Alberto e as mulheres, ou os anjos e os demónios. Deixo os demónios e falo de anjos. Um anjo. Cristina.


Vamos pé ante pé, o teu piano enche o deserto da casa, as abóbadas, a escadaria, as sombras dos corredores… de costas, a cabeleira loira de Cristina desce-lhe pelos ombros. Tem uma camisola azul. Em frente, aberto na estante do piano, um grande livro de música….toca ainda , Cristina. E que estarás tu tocando? Bach? Mozart? Não sei.*

Sim, belo de mais!


*cap. XV

clarinda

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sábado, maio 23, 2009
 
Alberto conversa com Tomás enquanto a mãe assiste à missa. O tema é profundo, seguindo o ritmo que o protagonista imprimiu à história, Fala-se de fé, de vida e de morte. Tomás revela-se um homem sábio, apesar de se achar inferior a Alberto, que lia muito. A sabedoria vinha-lhe das coisas simples e o professor deu-se conta disso perguntando-lhe se teria achado o que ele tanto procurava. A resposta foi decisiva:

- Não sei o que queres dizer. Mas tenho a certeza de que não achei o que procuras. Porque, se tu procuras, só tu podes achar.*


*cap.XIII


clarinda

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sexta-feira, maio 22, 2009
 
Gosto de Aparição.
1- A (re)descoberta do EU é aqui manifesta, faz-nos pensar na nossa existência como devir, envolvidos em processos de revelações e aparições. As perguntas básicas são feitas aqui. Respondei camaradas, quem é pessoa no vosso espelho?, quem é a pessoa que vos habita? É impossível escapar a isso.
2- Narração imbricada com analepses e prolepses. A estrutura fragmentada em termos de tempos e lugares é sempre para mim uma virtude num romance.
3- A alma de Évora está aqui filtrada por Alberto.
4- Discurso poético belíssimo.
5- O existencialismo é um humanismo
6- Personagens fascinantes: Carolino, Ana, Sofia e...Alberto.
7- Qual é o nosso eu metafísico?

Castela

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quinta-feira, maio 21, 2009
  O que procuramos quando nos vemos num espelho?
Quando olhamos a nossa imagem reflectida diante de um espelho, será que procuramos a nossa verdadeira identidade?
Normalmente quem passa muito tempo ao espelho tem preocupações com a imagem física que quer mostrar aos outros. Não procura entender o que é o seu íntimo, o que nos define aos nossos olhos. Olhamos para nós na perspectiva de agradar aos outros, de estar em condições de se apresentar a alguém a um público.
Antes de se apresentar num programa de TV o convidado ou o actor é maquilhado em frente a um espelho. A intenção é a de pôr uma máscara, mostrar o rosto que mais agrada aos outros.
A imagem do espelho é para a generalidade das pessoas a construção de um "EU" exterior, a imagem do "EU" que se deseja ter e mostrar.

Nicoletta

imagem do Blog Nadir - Post Torquato da Luz (com um poema)


" assim que me levantei, coloquei-me no sítio donde me vira ao espelho e olhei. Diante de mim estava uma pessoa que me fitava com uma inteira individualidade que vivesse em mim e eu ignorava. Aproximei-me, fascinado, olhei de perto. E vi, vi os olhos, a face desse alguém que me habitava, que me era e eu jamais imaginara. Pela primeira vez eu tinha o alarme dessa viva realidade que era eu, desse ser vivo que até então vivera comigo na absoluta indiferença de apenas ser e em que agora descobria qualquer coisa mais, que me excedia e que me metia medo. Quantas vezes mais tarde eu repetiria a experiência no desejo de fixar essa aparição fulminante de mim a mim próprio, essa entidade misteriosa que eu era e agora absolutamente se me anunciava. "
Aparição, cap.VI

Luis Neves

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quarta-feira, maio 20, 2009
  Para Sempre
Porque eu estou tão saudoso de ti. Ou não de ti, talvez, mas de um tempo em que tudo em ti se centralizava. Ou não do tempo mas de quanto foi a minha vida e eu procuro numa palavra que viesse desde então até mim e não encontro. Uma vida inteira, assisto ao seu remate, que palavra me sobrou? Que é que eu tenho comigo para enfrentar a morte? Que é que a morte vem matar? Tanta coisa sublime eu ouvi da vida humana, que é que ma resume? Jogo a morte num prato da balança com a vida que ela vai suprimir. Que é que a equilibra no outro prato em valores que conquistei? Não posso apresentar-me assim de mãos vazias perante a morte, a morte tem de matar alguma coisa, não tenho quase nada para matar. Oh, que se coza a morte, estou tão bem assim a pensar. A recuperar na memória o tempo em que transbordava de vida, que colheita então a morte faria, és tão ingrato. Viveste até agora, que importa se a morte te levar só os restos, a carcaça onde tudo aconteceu? é feio o pecado da ingratidão. Relembra, que é que tens a relembrar? Tanta coisa – Sandra. E é o que no fim de contas me lembra só. Como se toda a vida se reunisse nela, passasse nela e nela se iluminasse e tivesse sentido.
“Para Sempre”, de Vergílio Ferreira, Quetzal Editores (16ª edição)



Surge em 1983, vinte e quatro anos após "Aparição", e conquistou-me. Estou presa às palavras aflitas de um homem que se sente velho, só, cansado, um homem que se questiona (como sempre fez, aliás), mas desta feita sem a vitalidade de um futuro ainda por escrever. Este homem pouco mais será, e quer entender quem foi, o que resta de quem foi, o que deixará de si para os que ficam. E deseja partir com dignidade e asseio. Sê inteiro e digno.

Ao longo dessas páginas vibrantes, em que o narrador tenta justificar a vida e preparar-se para a morte (poder respeitar-me nos restos do que sou), sofremos a ideia de insuficiência que o corrói, a sua noção de pequenez perante a fria imobilidade das estrelas, o desespero da proximidade do fim, o isolamento em que se encontra, porque o mundo lá fora continua a rodar e o coração dos outros (empanturrados de futuro) palpita ainda com tanta energia e tanto por fazer e ele está vazio, nada mais tem para oferecer, pouco mais lhe sobra do que recordar (e o que das suas recordações será verdade…?) e absorver com reverência os instantes do resto da sua vida. E de súbito lembro-me: bebe devagar, concentra-te no prazer de beberes, sê o teu corpo que bebe. A vida está tão cheia de milagre. Mas convulsos rápidos distraídos, tanta coisa que se perde. Estás no fim da vida, vive-a milimetricamente.

Este livro é, também, uma longa carta de amor a Sandra, plena de ternura, com passagens que comovem e embalam. E o violino, claro, impossível esquecer aquele violino.

“Para Sempre”, obra de introspecção e balanço, está magnificamente escrito (interessante perceber como Vergílio Ferreira aprimorou a prosa, desde os primeiros anos, conseguindo adaptá-la à modernidade), com um estilo que é actual, elegante, sofisticado. Um livro povoado de destroços, despojos, desespero. De solidão, cansaço, saudade. De emoção e de afecto. De pavor e de derrota, de descobertas e de vitórias. Lindo, maravilhoso, envolvente, tocante. Tão poético, tão belo, tão triste. Um livro verdadeiramente encantador.

Quem sou? Tem piada, não me lembro de jamais mo perguntar – quem sou? E desde quando comecei a sê-lo? Deve ser útil sabê-lo, que é que está dentro de mim? para ao menos saber o que vou entregar à morte.

azuki

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terça-feira, maio 19, 2009
  sobre Bailote e todos os outros como ele
- Veja, senhor doutor, então isto não será ainda uma mão de homem?

Os cânones estéticos dos corpos aspirados e das peles esticadas, os mecanismos em que Hoje assenta o conhecimento, os critérios de performance económica do mito da produtividade e da culpa pela improdutividade, conduziram a que o idoso passasse a ser encarado como um fardo, deixando de ser desejado como agente interveniente.

É preciso encontrar uma outra forma de pensar o envelhecimento e (re)aprender a acarinhar, integrar, respeitar, reconhecer os nossos velhos. Faz parte da leveza da juventude não potenciar a questão do envelhecimento. Mas ter isso em atenção talvez nos permita, não só virmos a ser velhos mais saudáveis, como jovens mais enriquecidos. Numa sociedade cujo esquema moral continua a não diferir muito da lógica do comércio de indulgências e afins, talvez seja sugestivo pensar que, ao encontrarmos um lugar para os nossos velhos, estaremos a encontrar um lugar para nós próprios.

O facto de a Humanidade ter acrescentado 29 anos à expectativa de vida, é a maior conquista do séc XX e o maior desafio do séc XXI.
Alexandre Kalache, responsável pelo Programa de Envelhecimento da OMS

Pois é. A nossa sociedade está a precisar de se reinventar.

azuki

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segunda-feira, maio 18, 2009
 
tudo o que é forte e decisivo acontece como ter fome*


Tanto Sofia como Ana dão lições ao professor Alberto. Na cena memorável da meia-porta (cap.VII) Sofia instiga o professor a ter um comportamento ajustado com o que sente: Ouça, doutor, diz ela, se alguma coisa me preocupou sempre foi ser consequente, unir o que faço ao que sinto, e pergunta porque não fazia ele o mesmo. Em outra cena, supostamente mais familiar, aparentemente menos perigosa, Ana atira-lhe à queima- roupa: quem julga você que é? Que notícia extraordinária nos traz?(cap.IX)

Parece que se inverteram os papéis mas na realidade tudo está no lugar certo. Enquanto Sofia e Ana exibem a fragilidade das certezas, Alberto faz irromper a força da dúvida: não entendiam que assumir a miséria do homem, enfrentar o que humilhava a sua condição era um sinal de coragem mais profunda. Que melhor lição um professor pode dar?


*cap.IX

clarinda

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domingo, maio 17, 2009
 
porque eu, senhor doutor, tive sempre uma mão funda





Um dos momentos mais emotivos de Aparição e sem dúvida aquele encontro do senhor doutor com o Bailote. O Bailote é também uma aparição das muitas que povoam o romance. Cruel, incisiva e perturbante deixa-nos impotentes diante dos nossos sonhos. Conta bom homem, conta o teu sonho perdido. Tinhas pois uma boa mão de semeador bíblico. Nunca como agora esta verdade andou aí a rondar o dia-a-dia do nosso país. Ainda ontem ouvi na televisão: a mim ninguém me quer para trabalhar. Sou muito novo para a reforma mas já sou muito velho para um emprego. E ouvi, claramente ouvido, que as empresas querem aproveitar esta crise para renovar os quadros, introduzir sangue novo, subentendendo-se que muitos trabalhadores não fazem falta, já não têm a mão funda. Injusto país, pobre Bailote.


imagem: Cristo-Rei, Almada



clarinda

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sexta-feira, maio 15, 2009
  sobre este professor e todos os outros
Porque eu tinha projectos tão ingénuos. Onde se calara a voz da minha gravidade? Subitamente, com efeito, pus-me a falar de coisas extraordinárias a realizar, excitado no meu entusiasmo de principiante. Exercícios, redacções, técnicas modernas de pedagogia, leituras de modernos escritores, cultura, cultura. Também disse, é verdade, como era necessário aprender a distinguir um fado de uma sinfonia, um Picasso de um calendário. Bons deuses! E como tudo isso me foi perfeito na manhã de sol do jardim, na face grave do homem, céus, na minha profunda solidão! O reitor ouvia-me do lado de lá do seu cansaço e parecia animar-se um pouco à passagem da minha juvenilidade. E dizia na sua voz patuda de catarro:
- Sim... Sim...

"Aparição" (1959), Vergílio Ferreira, Bertrand Editora, 20ª edição

numa escola da Costa Rica (foto minha)

Os professores não são coordenadores, avaliadores, auditores ou mesmo motivadores. Eles não são entertainers das crianças e jovens. Os professores existem para ensinar, ou seja, transmitir eficazmente as matérias. Por seu lado, a tarefa dos alunos é aprender. E a aprendizagem não é uma actividade lúdica, ela significa trabalho, esforço, abnegação, até sofrimento. E exercício da memória e rotinas e insistência. E saudável convívio com o desconforto e com a frustração.

Posto isto, se a motivação puder habitar cada sala de aula, tanto melhor. Alberto, ainda transbordante do voluntarismo de um início de carreira, tem mil e uma ideias que, com toda a certeza, irão instigar a curiosidade dos seus alunos, despertá-los para o mundo, sensibilizá-los para as matérias, estimulá-los para o exercício das suas faculdades. Eu gostaria de pensar (e cheguei a fazê-lo) que uma ministra com tantas capacidades e curriculum e experiência sabe o que anda a fazer. Infelizmente, a realidade não o confirma, pois é cada vez mais difícil encontrar um Alberto nas nossas escolas e não há um professor que não ande cabisbaixo. Isto, a par do superior entendimento das sumidades de quem brotou o “eduquês”. E de alguns encarregados de educação, cujo papel a demagogia enaltece. E da incessante alteração de políticas e de práticas, a que pomposamente se chama reformas. Num País cujo grande problema estrutural se chama Educação, tudo isto é o pior que nos poderia acontecer.

azuki

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o que me excitava*

Segundo declarações de Alberto Soares, a história narrada em Aparição é consequência de um convite feito por Chico para colaborar numa série de conferências com o intuito de combater o marasmo de uma cidade onde nada podia acontecer. Foi portanto esse convite que despoletou a necessidade de passar para a escrita, ordenando-as de acordo com estímulos físicos, as grandes questões da existência humana que em algum momento da vida qualquer ser humano coloca, com mais ou menos intensidade e duração, mais ou menos vocabulário e criatividade, mais ou menos sofrimento e inquietação.

Os estímulos físicos, a forma como Alberto os capta, são os pontos fortes deste livro. Cristina e a música, Chico e as ideias, Sofia e o corpo vão provocar grandes ondas de paixão no discreto professor. É assim com cada um de nós, não é?


*ainda dos primeiros capítulos

clarinda

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quinta-feira, maio 14, 2009
  Canto Alentejano
O Alentejo tem uma cultura muito autêntica. E os cantares alentejanos são uma preciosidade.
Aqui ficam 3 cantos alentejanos, retirados do Site MODA - Associação do Cante Alentejano

Lírio roxo

Menina Florentina


Fui colher uma romã



" Évora mortuária, encruzilhada de raças, ossuário dos séculos e dos sonhos dos homens, como te lembro, como me dóis! Escrevo à luz mortal deste silêncio lunar, batido pelas vozes do vento, num casarão vazio. Habita‑me o espaço e a desolação. E é como se aqui ouvisse ainda a tragédia da planície nos teus corais de camponeses. " em Aparição, Vergílio Ferreira, Cap.II

Luis Neves

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quarta-feira, maio 13, 2009
  Aparição
E, todavia, pesa-me como uma pata de violência a realidade da pessoa que somos. Há muita coisa a arrumar, a harmonizar, muita coisa ainda a morrer. Mas por enquanto está viva. Por enquanto sinto a evidência de que sou eu que me habito, de que vivo, de que sou uma entidade, uma presença total, uma necessidade do que existe, porque só há eu a existir, porque eu estou aqui, arre!, estou aqui, EU, este vulcão sem começo nem fim, só actividade, só estar sendo, EU, esta obscura e incandescente e fascinante e terrível presença que está atrás de tudo o que digo e faço e vejo – e onde se perde e esquece. EU! Ora este “eu” é para morrer. Morre como a intimidade de uma casa derrubada. Sei-o com a certeza do meu equilíbrio interior. Mas como é possível? Agora eu sou essa intimidade, agora eu sou o seu espírito, a sua evidência.
Aparição (1959), Vergílio Ferreira, Bertrand Editora, 20ª edição



“Aparição”, publicado em 1959, é um dos anunciadores do nascimento da literatura contemporânea em Portugal. Confesso que não me seduziram os dilemas existenciais do nosso professor beirão de português e de latim e achei o livro (não tenho problemas em reconhecê-lo) sumamente aborrecido. Isso não significa, contudo, que não tenha apreciado a experiência da leitura: Vergílio Ferreira é um dos nomes maiores da prosa nacional (tristemente esquecido nos tempos que correm), cuja obra me era estranha (excepção para “Manhã Submersa”, que por duas vezes li com intensa adoração e dor no peito), e consigo intuir a modernidade que este texto acolhe, numa época em que não se discutia a Pátria, nem a Família, nem a Religião, nem o Trabalho, sacrossantas entidades com letra maiúscula. Muito embora padeça hoje de alguma falta de frescura e novidade, “Aparição” foi um corte com o passado, uma provocação, um exercício de liberdade, um acto visionário de um grande escritor e de um grande homem (sei-o agora, após outras leituras). Há muitas razões para que qualquer pessoa que ame os livros se sinta impelida a conhecê-lo.

azuki

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terça-feira, maio 12, 2009
 
ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

ele achava que o Latim era uma língua de futuro

azuki

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  Prémio Literário Vergílio Ferreira
Mário de Carvalho é o vencedor da primeira edição do Prémio Literário Vergílio Ferreira/Consagração, anunciaram, hoje, as promotoras do galardão, instituído pela Câmara de Gouveia e pela Universidade de Évora.
A escolha do júri foi justificada com «o percurso e a obra» do escritor, autor, entre outros romances, do multi-premiado “Um Deus passeando pela brisa da tarde”. O prémio Vergílio Ferreira/Consagração, com o valor monetário de cinco mil euros, será entregue a 20 de Junho, na Biblioteca Municipal homónima, em Gouveia, que guarda o espólio do autor de “Manhã Submersa”.

fonte

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segunda-feira, maio 11, 2009
 
magrinha como uma suspeita



Com a enxurrada de trabalhos que me caiu em cima por estes dias, a minha leitura de Aparição é intermitente, fragmentada e orientada conforme o estado de espírito do momento, ora locus amenus ora locus horrendus, para recuperar os renascentistas e os românticos. Isto a propósito do interesse repentino que um parágrafo ou uma simples frase pode despertar em nós quando abrimos um livro. Aconteceu, ainda nos primeiros capítulos, deparar-me com outro dos muitos momentos em que Alberto traz as personagens para diante dos nossos olhos, literalmente falando: e tu, pai; e tu, Tomás; e tu, Sofia; e tu, Cristina…
No final do capítulo IV esse tu é a tia Dulce a quem o narrador não queria ofender ao revelar a sua ‘psicologia’, coisa de coscuvilhice de minudências íntimas. No entanto, desvenda-a claramente. E ficamos a saber que esta mulher magrinha como uma suspeita tinha um intransigente apetite, más digestões, uma boca aguçada em conveniência e maledicências, a ganância na defesa do pecúlio de tostões, a gula de beijos como prova de que não havia nojo da sua velhice. Enfim, não querer falar de um assunto, pode ser uma maneira de falar dele, o que em Retórica se chama
preterição.
Acho fundamental o conhecimento da Retórica, não só para os romances mas para a vida.






clarinda

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domingo, maio 10, 2009
 
cercARTE
Descobri este Blog de estudantes do agrupamento de escolas do Cerco do Porto. E gostei, é muito bom.
Tal como o nosso Blog este mês estão a escrever sobre o livro Aparição e sobre Vergílio Ferreira.
Encontrei o seguinte video sobre Vergilio Ferreira que eles publicaram dia 7 Maio, e que deixo aqui no LP.


Luis Neves

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sábado, maio 09, 2009
 
o passado não existe




Foi a objectiva de uma amiga que guardou este ‘instante-limite’ de luz e sombra suavemente recortado pela mão do homem, mestre – pedreiro das catedrais góticas, adornadas de vitrais que resistem ao esquecimento pela beleza e tranquilidade que incutem no coração humano. Procuro um excerto do livro para dialogar com a imagem, encontro-o no capítulo sete. É Alberto que medita acerca da sua vida: o passado não existe. Assim me acontece às vezes que toda a minha vida de outrora se me revela ilegível. Não avanço mais na transcrição que me levará a um encruzilhada e aproprio-me desta palavras do professor para brindar ao futuro, ainda que labiríntico também.

foto: Catedral de Évora
clarinda

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sexta-feira, maio 08, 2009
 
inconveniências



Não posso deixar de misturar nesta releitura da Aparição o caldo de personagens que conheci nos últimos meses. Ocorre-me à mente Maximilien Aue, o carrasco nazi que se apresenta pela mão de Jonathan Littell num pesado calhamaço que a tradução portuguesa suavizou com o gentil título As benevolentes. Não me chamem herege, calma! Afinal estamos aqui a descobrir quem sou eu e somos há muito tempo democratas, certo? Além disso, não foi esta questão que Alberto Soares colocou ao pai, lá, no princípio da memória-narração?
Maximilien precisa de mil quatrocentas e tal páginas para conseguir dar uma aproximação; Alberto precisa de menos mas sente-se profundamente desolado, tudo lhe dói: o casarão vazio, a luz mortal do silêncio, as vozes do vento.
A explicação do pai, tu és meu filho, um homem, um ser vivo que pensa, não o satisfaz; nem a teoria da evolução da vida o sossega pois Darwin não explica tudo. Para Maximilien a resposta é evidente e clara. Quem sou eu? Eu sou como tu.


nota: a foto é da exposição sobre Darwin patente na Gulbenkian.

clarinda

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quarta-feira, maio 06, 2009
  sinto nas vísceras a aparição fantástica das coisas, das ideias, de mim
Sinto, sinto nas vísceras a aparição fantástica das coisas, das ideias, de mim (...) sei-o hoje, só há um problema para a vida, que é o de saber a minha condição, e de restaurar a partir daí a plenitude e a autenticidade de tudo – da alegria, do heroísmo, da amargura, de cada gesto. Ah, ter a evidência ácida do milagre que sou (...) Os astros, a Terra, esta sala, são uma realidade, existem, mas é através de mim que se instalam em vida: a minha morte é o nada de tudo.
Aparição (1959), Vergílio Ferreira, Bertrand Editora, 20ª edição


Catedral de Évora (fonte)

Aparição: uma reflexão sobre a identidade e um exercício de liberdade, numa época em que tal palavra era mal-amada e os espíritos andavam tolhidos pela luta da sobrevivência e por uma atmosfera político-social feita de censura e de tacanhez. Num País religioso e obediente, onde o ritual incessantemente repetido dava tranquilidade aos Homens e os aproximava de Deus (quer fosse na igreja quer nos mais simples actos do dia-a-dia, pois era assim que o regime e que Deus nos queriam, submissos e pacatos, máquinas de pura repetição), nascíamos com existência pré-determinada, a nossa vida já se sabia antes do o sermos, sem que ninguém pusesse em causa esta lógica inviolável. Perigoso, iconoclasta até, Alberto pôs em causa, tentou chegar ao âmago, ver-se sem disfarces, perceber o que sentimos, aquilo que nos define pela procura e pela necessidade de descoberta. Bradar contra os mecanismos que conduzem ao reflexo condicionado, contra a rotina, contra a inconsciência bacoca em que os dias se sucedem, falar até de ateísmo, na dinossáurica cidade de Évora, não poderia ter um bom desfecho.

azuki

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  debruço-me para a noite
" Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro. Uma lua quente de Verão entra pela varanda, ilumina uma jarra de flores sobre a mesa. Olho essa jarra, essas flores, e escuto o indício de um rumor de vida, o sinal obscuro de uma memória de origens. No chão da velha casa a água da lua fascina-me. Tento, há quantos anos, vencer a dureza dos dias, das ideias solidificadas, a espesura dos hábitos, que me constrange e tranquiliza. Tento descobrir a face última das coisas e ler aí a minha verdade perfeita. Mas tudo esquece tão cedo, tudo é tão cedo inacessível. Nesta casa enorme e deserta, nesta noite ofegante, neste silêncio de estalactites, a lua sabe a minha voz primordial. Venho à varanda e debruço-me para a noite. Uma aragem quente banha-me a face, os cães ladram ao longe desde o escuro das quintas, fremem no ar insectos nocturnos. Ah, o sol ilude e reconforta. Esta cadeira em que me sento, a mesa, o cinzeiro de vidro, eram objectos inertes, dominados, todos revelados às minhas mãos. Eis que os trespassa agora este fluído inicial e uma presença estremece na sua face de espectros… Mas dizer isto é tão absurdo! Sinto, sinto nas vísceras a aparição fantástica das coisas, das ideias, de mim, e uma palavra que o diga coalha-me logo em pedra. Nada mais há na vida do que o sentir original, aí onde mal se instalam as palavras, como cinturões de ferro, onde não chega o comércio das ideias cunhadas que circulam, se guardam nas algibeiras. Eu te odeio, meu irmão das palavras que já sabes um vocábulo para este alarme de vísceras e dormes depois tranquilo e me apontas a cartilha onde tudo já vinha escrito… E eu te digo que nada estava ainda escrito, porque é novo e fugaz e invenção de cada hora o que nos vibra nos ossos e nos escorre de suor quando se ergue à nossa face."

Vergílio Ferreira, in Aparição

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terça-feira, maio 05, 2009
 
não me trate por engenheiro

O professor de liceu chega à cidade numa manhã de Setembro. A cidade branca contrasta com o negro do luto e da dor e marca um início, não só da narrativa mas também de um novo mundo, e outras pessoas entram assim na vida da personagem. Mas, sejamos claros, este homem de quem o moço de fretes se abeirou para carregar as malas não é engenheiro. Não é.

clarinda

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segunda-feira, maio 04, 2009
 
tentar, tentar sempre


É a voz do professor Alberto Soares que nos vai guiar na geografia eborense. É ele que vai dizer o que aconteceu aqui, o que sentiu ali, o que viu acolá. Por isso é importante o prólogo em itálico. Ao contrário daquele guia que só conhecemos no momento em que se inicia a visita, nesta nossa viagem temos a possibilidade de o conhecer em estado puro. Não que sejamos voyeuristas, mas porque somos leitores.

Se reparamos bem, o espaço vazio da sala onde se encontra na sua casa da Beira contrasta com o estado interior, repleto de 'coisas', de Alberto Soares. Pois não é assim com quem tenta vencer a dureza dos dias, das ideias solidificadas, da espessura dos hábitos? Não é assim com quem tenta descobrir a face última das coisas? Não é assim com quem não se contenta com o comércio das ideias cunhadas que circulam e se guardam nas algibeiras? Não é assim com quem se reconhece deus que recriou o mundo, que realizou em si um prodígio de invenções, refazendo à sua imagem tanta coisa bela e inverosímil e, por fim, confirma que esse mundo criado nada mais é que o nada absoluto, o silêncio?

clarinda



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domingo, maio 03, 2009
 
Aparição, para além de ser um romance marcado pela preocupação existencial do Eu, como Ser, que se tenta descobrir a si mesmo e o que representa no mundo, é também um espaço de geografia meramente física, com Évora como pano de fundo. Toda a obra de Vergílio Ferreira é marcada por um espaço geográfico, que gira em torno de um aro, que é parcialmente o meu, com vértices em Coimbra, Guarda e Melo. Fundamentalmente, e tal como eu, é um homem da Beira. Esta característica é uma das que eu mais gosto em Vergílio. Este mês vou então reler a Aparição (Évora) e ler pela primeira vez a Mudança (Melo e Gouveia) e o Estrela Polar (Guarda).
Castela

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azuki

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sábado, maio 02, 2009
 
gosto sempre de estudar o mapa da cidade antes de a visitar, e tu?



sobre Vergílio Ferreira


clarinda

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sexta-feira, maio 01, 2009
 
está uma manhã bonita, com um sol íntimo dourando o ar, um vento leve da planície... *


Durante alguns anos, não sei ao certo quantos, a obra de Vergílio Ferreira, Aparição, foi leitura obrigatória nas nossas escolas. Não a li no contexto escolar mas sei que os alunos, de um modo mais ou menos geral, se enfastiavam com as extensas e intensas reflexões do narrador sentado numa sala vazia da sua casa na Beira, como se enfastiam com as pormenores do Ramalhete ou os detalhes da construção do Convento que tomou o lugar da Aparição nas leituras oficiais. Nada contra. Pouco a pouco o enredo ia-os enredando e depois aqueles que de facto liam guardavam belas memórias das personagens, da cidade e da obra.
Fui a Évora em 2003 com um grupo de alunos fazer os percursos de Vergílio/ Alberto Soares. Vimos o liceu, a praça, a casa, a pensão, a curva da estrada, a árvore. Vimos? Não sei se vimos ou se imaginámos. Não me lembro já. Convido os leitores do Leitura Partilhada a mudarem-se neste Maio menino para Évora, a cidade-ermida ou a cidade branca. Ou apenas a cidade.


*Aparição


clarinda

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O QUE ESTAMOS A LER

(este blogue está temporariamente inactivo)

PROXIMAS LEITURAS

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LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

Primeira Viagem Temática BLOOMSDAY 2004

Primeira Saí­da de Campo TORMES 2004

Primeira Tertúlia Casa de 3 2005

Segundo Aniversário LP

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