Leitura Partilhada
domingo, novembro 30, 2008
  copiar a arte
experimentem: escolham um poema de Sophia, um que gostem, e copiem, letra a letra, formando primeiro sons, depois palavras, depois frases. e no fim, poesia. é estranho. é inebriante.


belém

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  A Poesia - Eduardo Lourenço
" A Poesia, quer dizer a longa trama dos poemas onde a humanidade a si mesma se construiu, a única arca de nóe que sobreviveu a todos os dilúvios - não é a nossa maneira de nos evadirmos do que somos mas de nos apercebermos, embora em figura, como dizia São Paulo, de quem verdadeiramente somos. É uma barca de palavras, mas tem o poder de transfigurar o que é opaco e não humano naquela realidade que tem um sol no meio e chamamos vida, a nossa vida, a nossa única vida. É só nela que nos é dado tocar e ser tocado, por aquilo que uma nossa maravilhosa poetisa , Fiama Hasse Pais Brandão chama o sol da realidade. E como só um poema, que é sempre a poesia toda, diz o que a poesia é, terminarei com ela, "

O Poeta na cidade, hoje

Uma casa que sonha com o mar
tem a luz que está a ser sonhada
Nela, os habitantes vivem e morrem,
ouvindo só o som do mar distante.

Porém um dia, os habitantes saem
para o mar. A casa acorda
e não mais se recorda de seu sonho,
deixando entrar outro sol da realidade.

Fiama Hasse Pais Brandão

Parte final de um texto-ensaio de Eduardo Lourenço, que saíu na revista de Poesia "Relâmpago", cujo tema é o escritor Eduardo Lourenço. Este texto foi retirado do "Jornal de Letras" de Setembro.



-Bom-dia - disse o rapaz. E ajoelhou-se na água, em frente da Menina do Mar.
- Trago-te aqui uma flor da terra - disse; chama-se uma rosa.
- É linda, é linda - disse a Menina do Mar, dando palmas de alegria e correndo e saltando em roda da rosa.
- Respira o seu cheiro para veres como é perfumada.
A Menina pôs a sua cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente.
Depois levantou a cabeça e disse suspirando:
- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas bonitas são alegres.
Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
- Isso é por causa da saudade - disse o rapaz.
- Mas o que é a saudade? - perguntou a Menina do Mar.
- A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.
- Ai! - suspirou a Menina do Mar olhando para a Terra.
Por que é que me mostraste a rosa? Agora estou com vontade de chorar.
O rapaz atirou fora a rosa e disse:
- Esquece-te da rosa e vamos brincar.



diálogo de "A Menina do mar", Sophia de Mello Breyner Andresen


Esta rosa é para as três meninas que escreveram sobre a Sophia no Leitura Partilhada este mês.
Luis Neves

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  FIM
Exílio

Exilámos os deuses e fomos
Exilados da nossa inteireza

O Nome das Coisas in Obra Poética III


Não creio que ao deixar de acreditar nos mitos ou ao excluir o divino nos perderemos. Mas o fim do imaginário e da esperança numa justiça divina, sempre me pareceu um destino cruel para uma ateia.

cristina_pt

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sábado, novembro 29, 2008
  Uma Dúzia de boas razões para ler Sophia (12)
12. a realidade poética não terá nunca um fim



«Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.»


Sophia de Mello Breyner Andresen
Poesia, 1944



belém

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  Porque é tão fácil nos perdermos
Metade de mim cavalo de mim mesma eu te domino
Eu te debelo com espora e rédea

No deserto in Obra Poética III

cristina_pt

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  Mar , Ondas e uma Oliveira
Como o rumor do mar dentro de um búzio
O divino sussurra no universo
Algo emerge: primordial projecto.

Há muito que deixei aquela praia
De grandes areais e grandes vagas
Mas sou eu ainda quem na brisa respira
E é por mim que espera cintilando a maré vasa

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós.
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

Sophia

Waves - Nouvelle Vague

Acho que ficam bem as Ondas dos Nouvelle Vague no Mar de Sophia.

Misturas! Que podem originar um bom prato. Segredos de culinária.

Também gostava de juntar outro ingrediente raro e intemporal. Adicionar um pouco de Manuel de Oliveira; que faz 100 anos, e que começou a filmar um conto do Eça de Queiróz. "Singularidades de uma rapariga loira" Que Maravilha!

E para o final, como tempero, vou salpicar com um pouco de José Saramago, que acaba de lançar o seu último livro "A Viagem do Elefante". (um pequeno fragmento do livro)

Saramago que recentemente (Em Setembro) abriu um novo espaço de escrita, o seu Blog O Caderno de Saramago. E quero deixar os parabéns ao Saramago por ter feito 86 anos este mês de novembro.

Prontos a receita está acabada, é só pôr no forno, e ver se ficou saboroso.

Luis Neves

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sexta-feira, novembro 28, 2008
  Catarina Eufémia
...
Porque eras mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste

E a busca da justiça continua

Catarina Eufémia in Obra Poética III


A escassez de tempo obriga a escolhas. Por vezes, não as melhores. Ao escolher a ligação de Sophia à mitologia, posso ter condenado a minha leitura, embora me pareça que, pela mitologia, a ligação ao terreno e profano surge em domínios variados. A transcrição supra, é um desses exemplos.

Um momento marcante da história portuguesa surge, como história que é, por vezes com erros factuais. Porém, a jovem história sempre foi mais sentida que representada.

Antígona surge como a protectora na morte. Certamente representará o povo que, não tendo impedido a morte, impediu a sua ocultação.

cristina_pt

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A forma justa

(…)
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é o meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo


“O nome das coisas”, Sophia de Mello Breyner Andresen


É verdade que sim, os teus poemas aproximam-nos da perfeição do universo.

azuki
 
 
Deus escreve direito

Deus escreve direito por linhas tortas
E a vida não vive em linha recta
Em cada célula do homem estão inscritas
A cor dos olhos e a argúcia do olhar
O desenho dos ossos e o contorno da boca
Por isso te olhas ao espelho:
E no espelho te buscas para te reconhecer
Porém em cada célula desde o início
Foi inscrito o signo veemente da tua liberdade
Pois foste criado e tens de ser real
Por isso não percas nunca teu fervor mais austero
Tua exigência de ti e por entre
Espelhos deformantes e desastres e desvios
Nem um momento só podes perder
A linha musical do encantamento
Que é teu sol tua luz teu alimento.


“O Búzio de Cós”, Sophia de Mello Breyner Andresen


Termino com um dos meus mais amados poemas, que me fala de liberdade de pensamento e de capacidade de deslumbramento. Pois só seremos justos connosco e com o mundo se formos autênticos e soubermos procurar a maravilha, como diria Eugénio de Andrade. Existindo asfixiados em rotinas e automatismos que provocam cegueira emocional, a maior das sabedorias será conseguir ouvir o bater do próprio coração e cultivar a capacidade de nos enternecermos com a beleza do mundo, que está por todo o lado. Pois que é a vida sem liberdade e encantamento?

azuki
 
  Uma Dúzia de boas razões para ler Sophia (11)
11. pelo querer da contemplação



«Quero
Nos teus quartos forrados de luar
Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar.
E sentar-me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro contemplar-te,
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar.»


Sophia de Mello Breyner Andresen
Coral, 1950



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quinta-feira, novembro 27, 2008
  Uma Dúzia de boas razões para ler Sophia (10)
10. pela liberdade e pela disciplina

«O poema é
A liberdade
Um poema não se programa
Porém a disciplina
- Sílaba por sílaba -
O acompanha
Sílaba por sílaba
O poema emerge
- Como se os deuses o dessem
O fazemos»


Sophia de Mello Breyner Andresen
O Nome das Coisas, 1977



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Esta gente

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca

De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo


“Geografia”, Sophia de Mello Breyner Andresen

“Maria”, Graça Morais, 1996

A industrialização do país está num estado muito incipiente quando Salazar sobe ao poder e assim se manterá por longos anos. Não existia, aliás, nada que se parecesse com uma alta burguesia industrial implantada. A ordem é de cariz feudal, o poder do clero é restaurado, o paradigma de desenvolvimento encaixa numa lógica rural e de subsistência, os cargos importantes são de confiança política e não de cariz meritório. Província, tradição, proprietários da terra, donos de um pequeno negócio no sector terciário…, até ao final dos anos 50, esta ordem de coisas não vai mudar.

E, claro, a verdadeira pedra de toque do regime, o aparelho de Estado. Monstro de inércia, máquina burocrática imensa e inamovível, cuja única função é levar papéis, trazer papéis, carimbar papéis, assinar papéis, multiplicar papéis, com vias em duplicado, em triplicado, em quadruplicado, passar papéis daqui para ali, da estante de cima para a estante de baixo, da mesa da direita para a mesa da esquerda, embrulhar-se em papéis, afogar-se em papéis, mobilizar equipas imensas à volta dos papéis, para se chegar ao fim e se começar tudo de novo, porque o importante é o processo de movimentação e de multiplicação dos papéis.

Uma economia débil, pobreza, analfabetismo, imobilismo social, desequilíbrios sectoriais e regionais. A quantos anos de atraso económico, social e político fomos condenados?

azuki
 
  Destinos
Átropos o Las Parcas - Francisco de Goya

As três Parcas que tecem os errados
Caminhos onde a rir atraiçoamos
O puro tempo onde jamais chegamos
As três Parcas conhecem os maus fados.

Por nós elas esperam nos trocados
Caminhos onde cegos nos trocamos
Por alguém que não somos nem amamos
Mas que presos nos leva e dominados.

E nunca mais o doce vento aéreo
Nos levará ao mundo desejado
E nunca mais o rosto do mistério

Será o nosso rosto conquistado
Nem nos darão os deuses o império
Que à nossa espera tinham inventado.

As três parcas, Obra Poética II

Em Roma, as Parcas (equivalentes às Moiras na mitologia grega) eram três deusas do destino: Nona (Cloto), Décima (Láquesis) e Morta (Átropos).

Determinavam o curso da vida humana, decidindo questões como vida e morte, de maneira que nem Júpiter (Zeus) podia contestar suas decisões. Nona tecia o fio da vida, Décima cuidava de sua extensão e caminho, Morta cortava o fio.

Eram também designadas fates, daí o termo em ingles "fate"(destino) é interessante notar que em Roma se tinha a estrutura de calendário solar para os anos e lunar para os actuais meses.

A gravidez humana é de nove luas, não nove meses; portanto Nona tece o fio da vida no útero materno, até a nona lua; Décima representa o nascimento efetivo, o corte do cordão umbilical, o início da vida terrena, o individuo definido, a décima lua. Morta é a outra extremidade, o fim da vida terrena, que pode ocorrer a qualquer momento.

Fonte: Wikipédia

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quarta-feira, novembro 26, 2008
  Uma Dúzia de boas razões para ler Sophia (9)
9. por ser novembro



«A respiração de Novembro verde e fria
Incha os cedros azuis e as trepadeiras
E o vento inquieta com longínquos desastres
A folhagem cerrada das roseiras»


Sophia de Mello Breyner Andresen
Geografia, 1967



belém

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O velho abutre

O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais pequenas


“Grades”, Sophia de Mello Breyner Andresen


A desordem e o descrédito da 1ª República vieram demonstrar que, em Portugal, não existia uma classe burguesa activa e capaz de ser o seu motor de desenvolvimento. A verdade é que Salazar apareceu num momento em que o País desesperadamente desejava que pegassem nele, que lhe conferissem estabilidade e confiança, que impusessem regras no meio da anarquia. Porém, num segundo momento, seria necessário mais do que alguém honesto, inteligente e organizado para gerir o País; precisávamos de um líder audaz, com visão, que entendesse os apelos da modernidade, que pugnasse pelo desenvolvimento económico e social, que nos ajudasse a despertar. Mas Portugal ficou parado no tempo, a ver a carruagem passar.

Provinciano, desconfiado, doentiamente autoritário, de fato escuro e hábitos simples, Salazar afasta todos os que não lêem pela mesma cartilha; “sei muito bem o que quero e para onde vou”, diria em 1932. Salazar geria o país com tacanhez e sem sobressalto, na lógica de que mais-vale-um-pássaro-na-mão-do-que-dois-a-voar. Evitando tudo o que comportasse risco, inovação, modernidade, arrojo, expansão, defendia que a administração do Estado deveria ser “tão clara e tão simples como a pode fazer qualquer boa dona de casa – política comezinha e modesta que consiste em se gastar o que se possui e não se despender mais do que os próprios recursos”.

azuki
 
  Musa
Erato com Eros - Simon Vouet
Musa ensina-me o canto
Venerável e antigo
O canto para todos
Por todos entendido
Musa, Obra Poética II

Érato, a Amável, foi uma das nove musas da mitologia grega. Era a musa da poesia lírica, frequentemente representada com uma lira.

Sophia invoca-a, pedindo ensinamentos. Não sei se, efectivamente, "o canto para todos/por todos entendido" será verdade. Talvez a poesia necessite de voltar à rua.

critina_pt

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terça-feira, novembro 25, 2008
  Uma Dúzia de boas razões para ler Sophia (8)
8. até pela ausência



«Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.»


Sophia de Mello Breyner Andresen
Mar Novo, 1958



belém

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Regresso

Quem cantará vosso regresso morto
Que lágrimas, que grito hão-de dizer
A desilusão e o peso em vosso corpo?

Portugal tão cansado de morrer
Ininterruptamente e devagar
Enquanto o vento vivo vem do mar

Quem são os vencedores desta agonia?
Quem os senhores sombrios desta noite?
Porque agoniza e morre e se desvia
A antiga linha clara e criadora
Do nosso rosto voltado para o dia?


in "Grades", Sophia de Mello Breyner Andresen


embarque de tropas portuguesas

A minha geração, nascida pouco antes do 25 de Abril, tem uma noção inquinada da História, que lhe é dada pelo acesso aos testemunhos intensos dos opositores do regime, não tomando consciência de que os testemunhos passivos, e mesmo a própria ausência de testemunhos, também são importantes do ponto de vista sociológico. Quer isto dizer que a maioria da população (pelo menos, até final dos anos 50) vivia relativamente bem com aquele estado de coisas: os pobres não tinham capacidade para pôr em causa, os remediados levavam a sua vida sem grandes sobressaltos e os ricos tiravam os devidos proventos da situação. Acabavam por ser os sectores mais dinâmicos da sociedade (no sentido de progressistas, da vanguarda) a rebelar-se (os cidadãos politizados, os intelectuais de esquerda, os artistas,…) mas sempre de forma subterrânea.

No limite, o cidadão comum, dirá "aborrecia-me ter que levar com a cara de Salazar e do Almirante Américo Tomás em todos os sítios", ou "não gostava do excessivo ascendente dos padres…", ou "irritavam-me os tiques da Mocidade Portuguesa", acabando por confessar nunca ter sido impedido de fazer uma vida (dita) normal. A maioria da população só despertou verdadeiramente quanto um facto lhe veio desestabilizar o quotidiano: uma guerra que entrou em cada casa e levou pais, maridos e irmãos para um sítio longínquo.

azuki
 
  Minotauro


Porque pertenço à raça daqueles que percorrem o labirinto

Sem jamais perderem o fio de linho da palavra



Sophia associa a figura do Minotauro (em vários dos seus poemas) à evolução da sua escrita e aos obstáculos que supriu.


Confesso que não consigo dissociar-me de uma outra imagem do Minotauro. O monstro que exige vidas humanas é substituído pelo condenado a tal por infortúnio de nascimento.


Recordo um post da Azuki, de 2006:



Acreditarás, Ariadna? - disse Teseu. - O minotauro quase não se defendeu.
(A casa de Astérion, em O Aleph)


critina_pt

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segunda-feira, novembro 24, 2008
  Uma Dúzia de boas razões para ler Sophia (7)
7. pelo conforto do conhecimento



«Não te chamo para te conhecer
Conheço tudo à força de não ser
Peço-te que venhas e me dês
Um pouco de ti mesmo onde eu habite»


Sophia de Mello Breyner Andresen
No tempo Dividido, 1954



belém

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Pranto pelo dia de hoje

Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis tão peritas
Que nem podem sequer ser bem descritas


in “Grades”, Sophia de Mello Breyner Andresen


foto

“Nunca choraremos bastante quando vemos / O gesto criador ser impedido”. A cultura deveria consistir nas várias formas de expressão de um povo, pelas quais ele próprio se reconhece e se materializa; a cultura deveria ser as diversas faces da consciência que uma nação tem de si própria. E não há verdadeira cultura quando as obras são apreendidas, os seus autores perseguidos, a imaginação tolhida pela censura; quando se vive sob o culto da personalidade e sob o dogma, se perpetua a mediocridade, se estrebucha a cada sinal de mudança. Não há exposições, nem conferências, nem ministérios da propaganda que o valham. Porque o país não se limita a ser o fadinho, a revista e o folclore, nem a erudição de instituições monolíticas. Não há nenhum regime autoritário em que a cultura floresça sem esteios; de uma forma ou de outra, ela vem sempre decepada. Heterogeneidade, pluralidade, modernidade, criatividade, não foram palavras bem-vindas durante décadas. Nunca choraremos bastante.

azuki
 
  Orpheu e Eurycide
Orpheus and Eurydice - G. Kratzenstein-Stub


Em ti eu celebrei a minha união com a terra


este é o poema - engano do teu rosto no qual eu busco a abolição da morte
Porém nem nas marés, nem na miragem eu te encontrei.

E devagar tornei-me transparente
Como morte nascida à tua imagem
E no mundo perdida esterilmente.

Euridice surge na mitologia grega (e na poesia de Sophia) não tanto por mérito próprio, mas pelo amor que lhe devotou Orpheu. Face à morte da ninfa amada, Orpheu tocaria a sua lira de modo tão sentido que, reza a lenda, todas as ninfas e deuses se juntaram na sua dor, chorando. Teria sido sugerido a Orpheu que fosse ao submundo e recuperasse, para a vida, a amada. Aí, convence o seu guardião, Hades, através da música da sua lira. Apenas uma condição lhe é imposta: que no seu caminho para a superfície, caminhe frente em frente a Eurydice, sem olhar para trás. Porém, um ansioso Orpheu não consegue resistir e assim perde a sua Eurycide para sempre.
Orpheu surge assim como aquele que ama profundamente e para quem, sequer a morte é barreira. Mas por vezes, as barreiras encontram-se nos pequenos nadas, nos compromissos e aí, nem o amor de Orpheu conseguiu resistir.
cristina_pt

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domingo, novembro 23, 2008
  Uma Dúzia de boas razões para ler Sophia (6)
6. pela ansiedade sensual oculta em todo o movimento



MÃOS

«Côncavas de ter
Longas de desejo
Frescas de abandono
Consumidas de espanto
Inquietas de tocar e não poder.»


Sophia de Mello Breyner Andresen
Coral, 1950



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sábado, novembro 22, 2008
  Mitos na obra de Sophia
Atrevo-me?

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  Uma Dúzia de boas razões para ler Sophia (5)
5. pelo intervalo precioso



«Dai-me um dia branco, um mar de beladona
Um movimento
Inteiro, unido, adormecido
como um só momento.
Eu quero caminhar como quem dorme
Entre países sem nome que flutuam.
Imagens tão mudas
Que ao olha-las me pareça
Que fechei os olhos.
Um dia em que se possa não saber.»


Sophia de Mello Breyner Andresen
Coral, 1950



belém

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  Sophia, Graça Morais, o Porto e o Café Guarany
Nasci no Porto. A cidade, os seus arredores,
as praias próximas, descendo para o Sul,
permanecem para mim a pátria dentro da pátria, a terra materna,
o lugar primordial que me funda
(....)

Sophia de Mello Breyner Andresen


Café Guarany, Porto

Sobre um desenho de Graça Morais

Nítido e leve ramo de oliveira:
Rijeza firme do tronco
As pálidas folhas como ponta de lança
E o pequeno fruto negro
Compacto e brilhante

“Musa”, Sophia de Mello Breyner Andresen


Um poema de homenagem à pintora cuja obra me recorda a “rijeza firme do tronco” dos transmontanos, as pessoas simples da zona rural da região onde nasceu, de traços corporais marcados pelo esforço da sobrevivência e da precariedade, mas também pelos “pequenos frutos negros compactos e brilhantes” da sua alma. Uma obra feita das recordações de infância da artista, mescladas com a paisagem natal e as imagens da sua gente e cultura, de um colorido intenso, emotivo, quase cinestésico (porque nos toca e apetece tocar), de uma beleza que não é feita de harmonia ou de simetria, mas de realismo e de dureza. Uma obra onde encontro, a par da exaltação das raízes e da tradição, uma mensagem de respeito e de tolerância. Por isso, ninguém mais certo para dar vida ao povo guarani num belo café portuense.

Esta é, também, a minha homenagem ao Sr. Barrias, pela coragem e elevação, pelo seu contributo em prol da qualidade de vida do Porto, por ter devolvido à cidade um dos seus locais de referência e não ter cedido à ganância e ao mau gosto, evitando replicar mais um desses descaracterizados estabelecimentos que vão corroendo um Centro que morre lentamente.

Obrigada, Sr. Barrias, por não nos ter oferecido mais uma lamentável cantina ou um qualquer balcão corrido a fazer lembrar casas-de-banho;
Obrigada, por não ter contribuído para a sangria dos cafés emblemáticos do Porto, traços únicos da sua identidade paulatinamente substituídos por sítios atrozes;
Obrigada, por ter salvado (sim, “salvado” e não “salvo”, viva a tradição) o Guarany, fazendo dele um luxo, um prazer, um dos cada vez mais raros locais da cidade com significado;
Obrigada, por o ter tornado único e aprazível, enriquecendo-o com os esplendorosos painéis de Graça Morais, uma pintora que nos fala das pessoas, de uma humanidade quase dorida e comovente, com rostos, mãos, trajes, expressões e linguagem corporal de gente forte e resistente, como fortes e resistentes são os guaranis;
Obrigada, por ter respeitado a palavra “requalificar” no seu sentido mais nobre (o de “voltar a enaltecer”), porque recuperou a alma, a beleza e o requinte de um lugar onde os guaranis nos observam, atentos, “compactos e brilhantes”, das paredes desse magnífico café da nossa cidade.

Graças à persistência, coragem, visão empresarial e amor à cidade de A. Barrias, foram devolvidos ao Porto, impecavelmente recuperados, o Majestic, jóia da coroa dos Cafés portuenses, e o Guarany.
O
Guarany foi inaugurado em 1933 e sofreu obras de adaptação à modernidade, em meados da década de 1970, que levaram à substituição das mesas por um balcão corrido. Muitos dos frequentadores habituais debandaram perante aquilo que consideravam um atentado ao estilo do Guarany. Fechou em 2001 para obras de requalificação e reabriu, em 2003, mantendo a traça original. Sugestivas pinturas nas paredes e uma óptima decoração, música ao vivo, serviço de refeições ao almoço e ao jantar, atraíram, de novo, muita gente àquele que já voltou a ser um espaço de referência da cidade.
“PORTO, Cidade com Alma”, de J. Tamagnini Barbosa e Manuel Dias, Inova-Artes Gráficas

azuki
 
 
Para Sophia de Mello Breyner Andresen
(Parte final do Poema)

De súbito as palavras têm um aroma a vento
e modulam as curvas como sinuosas barcas
Insinuam por vezes matizes de palácios
com pátios interiores onde desliza a água
Nada é um sonho por mais leve que seja
porque tudo é um trabalho sobre a madeira do mundo
Que potência cálida e tão certa entre as árvores
que enlaces naturais e que cintilantes cimos!
O teu destino é já música e sortilégio simples
de uma triunfal harmonia tão límpida e tão firme
que é de todos Porque em ti o mundo se redime
e toda a magia é a realidade da palavra.

António Ramos Rosa

Ver o poema completo em WebClub - Para Sophia...

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sexta-feira, novembro 21, 2008
  Uma Dúzia de boas razões para ler Sophia (4)
4. pelo direito às respostas há muito procuradas



«Porque foram quebrados os teus gestos?
Quem te cercou de muros e de abismos?
Quem desviou na noite os teus caminhos?
Quem derramou no chão os teus segredos?»


Sophia de Mello Breyner Andresen
Dia do Mar, 1947



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  Na Grécia IV
Anfiteatro de Epidauro

Oiço a voz subir os últimos
degraus

Oiço a palavra alada
impessoal

Que reconheço por não ser já a
minha



Epidauro 62, Obra Poética III

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quinta-feira, novembro 20, 2008
  Uma Dúzia de boas razões para ler Sophia (3)
3. pela beleza ilimitada criada só para nós



«Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.»


Sophia de Mello Breyner Andresen
Dia do Mar, 1947



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  Na Grécia III
Tolon
Um mar horizontal corta os espelhos e um sol de sal cintila sobre a mesa

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quarta-feira, novembro 19, 2008
  Na Grécia II
Templo de Poseidon no Cabo Sounion

Na nudez da luz (cujo interior é o exterior)
Na nudez do vento (que a si próprio se rodeia)
Na nudez marinha (duplicada pelo sal)

Uma a uma são ditas as colunas de Sunion

Geografia, Obra Poética III
A obra poética de Sophia M.B. Andresen, constituiu o mais belo guia turístico da Grécia que poderiamos referenciar. E mais que da Grécia, enquanto património arquitectónico é do seu património imaterial.
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  Uma Dúzia de boas razões para ler Sophia (2)
2. pelo privilégio único e incomparável



«As ondas quebraram uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.»


Sophia de Mello Breyner Andresen
Dia do Mar, 1947



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  Fernando Pessoa e as lucidíssimas fúrias da renúncia

Fernando Pessoa

Com o sobretudo abotoado até ao queixo
Embiocado afastado
No lugar mais escuro do café escrevia
O múltiplo poema o canto inumerável
Arrancado ao desejo à paixão à memória
Às lucidíssimas fúrias da renúncia


Sophia de Mello Breyner Andresen, “Musa”, 1994, Editorial Caminho


Fernando Pessoa foi uma das influências da poetisa. Segundo Paulo Marques, “as características estilísticas de Sophia radicaram em determinado período no Simbolismo e em Fernando Pessoa, de quem foi colher na sua escrita a indagação metafísica sobre a condição problemática do homem moderno. Mais tarde, começa a distanciar-se do poeta que, para escrever, abdicou de viver”. Este distanciamento é confirmado pela própria, numa entrevista a António Guerreiro: “...penso que a poesia é uma comunhão ainda mais funda com a vida, não é um exílio, não é uma negação da vida. Não posso aceitar que se escreva, porque não se vive. Escrever é viver ainda de um modo mais total. Essa negatividade que há em Fernando Pessoa é que eu nunca aceitei. Depois de ter escrito as Cíclades desliguei-me totalmente de Pessoa”.

Também eu não consigo interpretar a sua obra sem deixar de desembocar amiúde na não-vida, vendo-o tão sagaz, profundo, esperançado, inovador e vibrante, quanto enigmático, atormentado, introvertido, solitário, fugidio, instável, metódico, soturno, obstinado, múltiplo, insatisfeito, estranho, nostálgico, descrente, alguém para quem o dia é sempre um crepúsculo e não parece existir meio termo. Por tudo isto, ou quase tudo isto, não posso, não consigo, evitar a estranha sensação de quase-aniquilamento que Fernando Pessoa provoca em mim.

azuki
 
terça-feira, novembro 18, 2008
  Para atravessar contigo o deserto do mundo
Canção Popular a Russa e o Fígaro

Autor: Amadeo de Souza-Cardoso (1887 - 1918)


Século: XXAno: c. 1916
Tipo: óleo sobre tela
Dimensões: 80 x 60 cm
Local: Centro de Arte Moderna (Lisboa)

No Blog Pintores Portugueses, podem ver mais quadros de Amadeu Sousa Cardoso http://pintoresportugueses.blogs.sapo.pt/arquivo/124544.html

Para atravessar contigo o deserto do mundo

Para atravesssar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei.


Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso.


Cá fora, à luz, sem véu, do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo


Por isso com teus gestos me vestiste.
E aprendi a viver em pleno vento.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Luís Neves

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  Uma Dúzia de boas razões para ler Sophia (1)
1. pelo mundo inteiro de possibilidades a descobrir



«Às vezes julgo ver nos teus olhos
A promessa de outros seres
Que eu podia ter sido,
Se a vida tivesse sido outra.
Mas dessa fabulosa descoberta
Só me vem o terror e a mágoa
De me sentir sem forma, vaga e incerta
Como a água.»


Sophia de Mello Breyner Andresen
Poesia, 1944



belém

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segunda-feira, novembro 17, 2008
  Aquele que vê o esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo
Revoltavas-te contra a tirania e a injustiça. Participaste na fundação da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos.
Fizeste poesia e prosa, livros infantis, ensaio, teatro e tradução.
Foste a primeira mulher portuguesa a receber o Prémio Camões.
Continuas a iluminar crianças, jovens e adultos com as tuas palavras.
Comovo-me, sempre que leio o discurso que proferiste em Julho de 1964, por ocasião da entrega do Grande Prémio de Poesia, atribuído a “Livro Sexto”:

A coisa mais antiga de que me lembro é de um quarto em frente do mar dentro do qual estava, poisada em cima de uma mesa, uma maçã enorme e vermelha. Do brilho do mar e do vermelho da maçã erguia-se uma felicidade irrecusável, nua e inteira. Não era nada de fantástico, não era nada de imaginário: era a própria presença do real que eu descobria. Mais tarde a obra de outros artistas veio confirmar a objectividade do meu próprio olhar. Em Homero reconheci essa felicidade nua e inteira, esse esplendor da presença das coisas. E também a reconheci, intensa, atenta e acesa na pintura de Amadeo de Souza Cardoso. Dizer que a obra de arte faz parte da cultura é uma coisa um pouco escolar e artificial. A obra de arte faz parte do real e é destino, realização, salvação e vida.

(...) Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito de verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem. Aquele que vê o esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo. (...)

E é por isso que a poesia é uma moral. (...) E a busca da justiça é desde sempre uma coordenada fundamental de toda a obra poética. (...) Se em frente do esplendor do mundo nos alegrarmos com paixão também em frente do sofrimento do mundo nos revoltamos com paixão. (...)

(...) E o tempo em que vivemos é o tempo de uma profunda tomada de consciência. (...) Não aceitamos a fatalidade do mal. Como Antígona, a poesia do nosso tempo diz: “Eu sou aquela que não aprendeu a ceder aos desastres.” (...)

O artista não é, e nunca foi, um homem isolado que vive no alto de uma torre de marfim. O artista, mesmo aquela que mais se coloca à margem da convivência, influenciará necessariamente, através da sua obra, a vida e o destino dos outros. (...) Mesmo que fale somente de pedras ou de brisas, a obra do artista vem sempre dizer-nos isto: Que não somos apenas animais acossados na luta pela sobrevivência, mas que somos, por direito natural, herdeiros da liberdade e da dignidade do ser.

(...)


Sophia de Mello Breyner Andresen, Arte Poética, in Grades, Publicações Dom Quixote

azuki
 
domingo, novembro 16, 2008
  Poemas Marcantes, de todos nós
Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Este poema é uma homenagem ao seu marido Francisco Sousa Tavares

25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo



Este Poema é considerado um dos que melhor retratam o sentimento português sobre o 25 de Abril.

Em homenagem à poesia de Sophia, este poema está inscrito numa parede junto ao portão do Quartel do Carmo, o local simbólico do derrube da ditadura.

Luis Neves

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  encontrar-nos
Aqui despi meu vestido de exílio
E sacudi de meus passos a poeira do desencontro



Geografia - Obra Poética III


Quantas de nós não desejariam poder dizer o mesmo? Sophia encontrou-se na Grégia, entre o fogo grego encontrou a luz que ilumina a sua poesia. Aí encontrou a luz primordial que é o início da nossa cultura.
cristina_pt

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sexta-feira, novembro 14, 2008
  Gosto dela
Sophia - Arpad Szenes

Gosto dela
pela suavidade e limpidez
pela depuração da linguagem, sem palavras em excesso ou demais tiques barrocos
Gosto dela
celebrando poemas em voz alta
talvez alheada, talvez não
a caminho de um qualquer sítio, com os cinco filhos em redor
Gosto dela
porque era livre e não-rotulável, já que não foi simbolista, maneirista, realista ou surrealista
Gosto dela
pelo seu amor aos elementos e aos astros, o sol, a lua, a terra e, principalmente, o mar
pela presença constante da matriz grega
por apreciar Pessoa e por não apreciar Pessoa
Gosto dela
pela forma como dava corpo à sua consciência humanista
porque acreditava na justiça e na decência
porque foi adversária da censura e da coacção
porque achava que o belo deveria vir acompanhado pelo bom
Gosto dela
pela discrição e pela elegância
Gosto dela

azuki
 
quinta-feira, novembro 13, 2008
  Os primeiros livros - A Menina do Mar
Este foi um dos primeiros livros que tive em criança "A Menina do Mar" da Sophia. A capa ficou em mau estado porque foi mesmo muito usado, deve ter sido lido vezes incontáveis, e em todo o tipo de lugares. Muitas vezes ia connosco para as praias de Sintra para ser lido junto ao mar.


E tinha ilustrações que me encantavam, que nunca se esquecem.


No inicio do livro temos este Poema, que deve ter sido o inicio e a inspiração para escrever a história.


E para relembrar aos que também leram este conto juvenil da Sophia, já há muitos anos, a "Menina do Mar" começa assim.


Luis Neves

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quarta-feira, novembro 12, 2008
  Na Grécia I

No Golfo de Corinto
A respiração dos deuses é visível
É um arco um halo uma nuvem
Em redor das montanhas e das ilhas

Geografia - Obra Poética III

cristina_pt


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terça-feira, novembro 11, 2008
  em terras gregas
Aqui vesti meu vestido de exílio

Obra Poética II
Geografia
Sophia de Mello Breyner Andresen fez sucessivas viagens à Grécia. A sua mitologia e os lugares marcados por simbologia histórica, transparecem pela sua poesia.
Naveguemos então...
cristina_pt

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segunda-feira, novembro 10, 2008
  mão que me guias

A civilização em que estamos é tão errada que

nela o pensamento se desligou da mão


Ulisses rei de Ítaca carpinteirou seu barco

E gababa-se também de saber conduzir

Num campo a direito o sulco do arado


O nome das coisas - Obra Poética III



Vivemos numa sociedade em que o trabalho manual é menosprezado (ou mesmo desprezado) em relação ao trabalho intelectual. Desejamos vidas melhores para os que nos sucedem e esperamos que o canudo substitua a enchada e a pá. Assim se envergonha uma advogada, apanhada com a vassoura na mão, ou um engenheiro com uma colher de trolha.


cristina_pt

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domingo, novembro 09, 2008
  No tempo dividido
E agora ó Deuses que vos direi de mim?
Tardes inertes morrem no jardim.
Esqueci-me de vós e sem memória
Caminho nos caminhos onde o tempo
Como um monstro a si próprio se devora.

Sophia Mello Breyner Andresen
Obra Poética II

Assim é, estar viva sem viver.
E viver sem passado que nos guie e nos regule.
cristina_pt

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sábado, novembro 08, 2008
 
azuki
 
quinta-feira, novembro 06, 2008
  Não podemos ignorar

imagem do blog O cheiro da Ilha

Cantata da Paz - Francisco Fanhais


Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar

Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror

A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças

D’África e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados

Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado

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quarta-feira, novembro 05, 2008
  Biblioteca Municipal de Loulé
Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner Andresen
 
terça-feira, novembro 04, 2008
  Sugestão da Andante (Associação Artistica)
Esta gente

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E de um tempo justo

Sophia de Mello Breyner Andresen

Ouvir o Poema - http://www.andante.com.pt/contameumconto.html
Interpretado pela Andante:Voz: Cristina Paiva; Música: Sigur Rós;



ou em http://porosidade-eterea.blogspot.com/

no Post "Sugestão Andante para esta semana" de 03/11 /2008

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segunda-feira, novembro 03, 2008
  Sophia de Mello Breyner Andresen e a Antiguidade Clássica


"Se a civilização grega não tivesse existido... nunca nos teríamos tornado plenamente conscientes, o que significa que, para o melhor e para o pior, nunca nos teríamos tornado humanos."
W. H. Auden


A ligação de Sophia Andresen à Grécia e em especial à Antiguidade Clássica é profícua e revela-se em vários dos seus poemas.

As extensas viagens que aí fez e as diversas referências à sua mitologia e lugares, reflecte um profundo amor pela natureza e a pela beleza intrínseca das coisas.
É nesse fogo grego que revejo a poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen.

Cristina_pt

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domingo, novembro 02, 2008
 
Sophia de Mello Breyner Andresen


Nasceu no Porto, em 1919, e aí passou a sua infância. Posteriormente, fixou-se em Lisboa. Publicou o seu primeiro livro em 1944, intitulado Poesia. Colaborou em importantes revistas literárias do século XX, como Cadernos de Poesia (1940-42), Távola Redonda (1951-53), Árvore (1950-54).
Em 1964, recebeu o «Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores», pela publicação de Livro Sexto (1962). Em 1977, obteve o «Prémio Teixeira de Pascoaes» com O Nome das Coisas. Em 1994, a Associação Portuguesa de Escritores concedeu-lhe o «Prémio Vida Literária». Mais recentemente, pelo conjunto da sua obra, foi distinguida com o «Prémio Camões» (1999).
Para além da sua obra poética e de vários livros de contos, escreveu ainda ensaios e duas peças de teatro. Traduziu também textos de Eurípedes, Dante, Shakespeare e Claudel.

Algumas Obras:

Poesia:
Poesia (1944)
Mar Novo (1958)
Dia do Mar (1974)
O Nome das Coisas (1977)
Musa (1994)
O Búzio de Cós e Outros Poemas (1997)

Ficção:
Contos Exemplares (1962)
Histórias da Terra e do Mar (1984)

Contos para crianças :
O Rapaz de Bronze (1956)
A Menina do Mar (1958)
O Cavaleiro da Dinamarca (1964)

Fonte: Instituto Camões

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sábado, novembro 01, 2008
  Poesia = Sophia
Sinónimo absoluto de Poesia

Dizemos «Sophia» como se esta palavra fosse sinónimo absoluto de poesia.
Dizemos «Sophia» e a nossa memória enche-se do som que as palavras têm.

Dizemos «Sophia» e de repente o ar é limpído, as águas transparentes, há sempre uma casa na falésia e o sol faz rebentar o calor na cal das paredes.

Dizemos »Sophia» e todas as flores e todos os peixes têm nome, e as crianças tornam-se mais ricas quando os encontram.

Dizemos «Sophia» e não precisamos de dizer mais nada.

Alice Vieira

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O QUE ESTAMOS A LER

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PROXIMAS LEITURAS

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LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

Primeira Viagem Temática BLOOMSDAY 2004

Primeira Saí­da de Campo TORMES 2004

Primeira Tertúlia Casa de 3 2005

Segundo Aniversário LP

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