Leitura Partilhada
sábado, maio 26, 2012
  3 Rosas e uma garrafa de conhaque para Poe

Edgar Allan Poe (1809 - 1849) foi um escritor genial, devido a sua alienação o seu romantismo inicial transformou-se num bólide único da literatura. Cria o ambiente “gótico” (não o estilo arquitetónico e artístico medieval) mas o estilo que hoje surge nos jovens de negro, cria ainda a literatura policial com Auguste Dupin (de onde nasce Sherlock Holmes) com os Crimes da Rua da Morgue ou a ficção científica e tudo isto com uma erudição que mais tarde Jorge Luís Borges, por exemplo, retomaria.
Se o vais ler ou já leste preparai-vos para sentir medo e ao mesmo tempo pensar na complexificação psicológica (aqui mais para o mal) que acompanha a evolução do Ser Humano. E foi defunto apenas com 40 anos, o que não poderia ter feito se vivesse mais uns anitos. Se o amigo é delicado por favor ignore o que acaba de ler. Rapazes e raparigas, tataranham! Eis o estranho Deus Edgar“. Na ética o mal é uma consequência do bem, assim na realidade da alegria nasce a tristeza. Ou a lembrança da felicidade passada é a angústia de hoje, ou as agonias que são tem sua origem nos êxtases que poderiam ter sido”. 
Castela
 
sexta-feira, maio 25, 2012
  "As Flores do Mal"
Baudelaire, para quem as situações extremas constituíam uma experiência artística e o modelo de vida burguês era um enorme tédio, foi escritor contra a vontade da mãe e do padrasto, conseguiu destruir a avultada herança paterna com uma existência boémia de patuscadas, alfaiates e amantes (apaixonei-me unicamente pelos prazeres, por uma excitação permanente), vivia com uma mulher que o exasperava e dominava, abusava dos estupefacientes e dos excitantes. Morreu jovem, com uma paralisia hereditária e potenciada pela sífilis, interdito judicialmente (com o acesso impedido ao pouco do que restou da fortuna do pai), obcecado pela penúria e perseguido pelos credores, rejeitado pela família e atraiçoado pela amante. No final da sua relativamente curta mas desregrada vida, talvez o cansaço: O Mort, vieux capitaine, il est temps!
 
Foi o primeiro "Maldito”, venerado pelas gerações subsequentes e fonte de inspiração para homens como Rimbaud, Verlaine e Mallarmé. Original e extravagante, protagonizou uma nova época na poesia francesa (segundo muitos, a mais importante revolução poética do sec XIX), virando a página do romantismo, para inaugurar a poesia moderna. Um insurrecto que afrontou a autoridade (da família, da escola, da religião) e os ideais burgueses, um boémio libertino que desprezava a trivialidade (o dandismo é o último rasgo de heroísmo na decadência), um apreciador do torpor da consciência causado pelo haxixe, o ópio ou o álcool, muito embora à subjectividade bacoca tenha contraposto o raciocínio, a curiosidade e a inquietude. Para Paul Valéry, com Baudelaire, a poesia francesa ultrapassou finalmente as fronteiras das nações.

Isolado e incompreendido, sem pretender convencer ninguém (pelo menos, assim o afirmava), Baudelaire quis extrair a beleza que existe no mal, rebelando-se contra uma sociedade anestesiada e bronca (A França atravessa um período de vulgaridade. Paris é o centro da irradiação da estupidez universal). Em guerra com a monotonia da rima e a postura supostamente acrítica do então glorificado romantismo, Baudelaire ousou "afrontar o sol da estupidez", através da criação desta planta espinhosa, onde, à bonomia prefere a incredulidade e, face à ventura, privilegia a angústia. Ao Diabo, “todos o servem”, mas poucos o reconhecem…

Sílvia
 
sexta-feira, maio 11, 2012
  Os meteoros Cervantes, Assis e Fiódor Dostoiévski
Cervantes fez o mais belo dos livros, Machado de Assis uma das mais singulares obras literárias quando lançou o seu livro primacial -“Memórias Póstumas de Brás Cubas” -que foi também um divisor de águas na sua obra. Dostoiévsky é um gigante intemporal. Todos imortais. A seguir a fase romântica de Machado de Assis surge a Obra que mudou a literatura universal e que ainda hoje continua a viciar novos leitores; peço ao leitor que não deixe de ler as obras-primas que são Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro e Papéis Avulsos (este contos).
No romance “Quincas Borba”, Dom Quixote ressurge transfigurado em todos os seus cambiantes com o nome de Quincas Borba (o homem) e Rubião (este ao inicio Sanchiano e depois quixotesco) com todos a convergirem na morte com o “grãozinho de sandice”. Mas muitos outros livros de outros autores plasmam indivíduos quixotescos nas suas obras - por exemplo Dostoievsky mostrou ao mundo -Alieksiéi Karamazov (nos Irmãos Karamazov) e o humanista e epilético Príncipe Míchkin, mistura de Cristo e Dom Quixote uma dos personagens mais impressionantes de toda literatura mundial. Todas estas personagens referidas são seres afetados por uma grandiosidade puras e por vezes risíveis nos atos mas benévolos nas intenções épicas. Em tempos tão conturbados os Quixotes, Sanchos, Quincas e Rubiões, Míchkin deveriam ser de leitura obrigatória para toda a gente para que a alma fosse guiada para o bem absoluto e o futuro da humanidade teria assim uma luzinha de esperança nas trevas dos Homens. Eis uma ideia para de leitura Partilhada num tempo em que do maior ou mais pequeno dos seres humanos compartilhasse com os seus irmãos os seus sentimentos e pensamentos. Teríamos assim os meses do Dom Quixote, Quincas Borba, Irmãos Karamazov ou ainda do Idiota.
Portando nada melhor para ser mais do que perscrutar a obra destes três ciclones literários que por aqui passaram e por cá estarão mesmo muito tempo depois do nosso fim. Vamos então agir e sonhar, mas sabendo que no final está escrito nas estrelas que o nosso fim será nebuloso, amargo e desabitado?
Carlos Castela
 
quarta-feira, setembro 29, 2010
  “Ler Lolita em Teerão”, de Azar Nafisi (ii)

Para sobreviver, temos de criar a nossa própria contra-realidade.
Henry James

Quem, como eu, for um interessado por esta parte do mundo, só pode rejubilar ao descobrir (casualmente, na internet), um livro destes. “Ler Lolita em Teerão” é um documento notável sobre o processo de transformação de um País, outrora chamado Irão, que passou a denominar-se República Islâmica do Irão, bem como sobre o sofrimento e a opressão que tal mudança provocou na sociedade e em cada um dos seus indivíduos.

A estrutura do texto assenta nas considerações que Azar Nafisi, professora universitária de literatura, vai tecendo (em versão de aula aos seus alunos) sobre alguns dos mais significativos escritores de sempre e respectivas obras, e que constituem uma das paixões da sua vida, a par dos afectos, da liberdade e da beleza: Nabokov, James, Bellow, Austen, Fitzgerald… É através dos livros que esta professora e os seus mais brilhantes alunos se libertam, se iluminam, se confortam, se conseguem reconhecer melhor e melhor entendem o mundo, se perturbam e põem em causa, e é com eles que sacodem a indiferença e preservam o seu equilíbrio interior, numa sociedade que pretende reduzi-los a autómatos e, no caso das mulheres, a autómatos de segunda categoria.

Ao longo de 480 páginas, acompanhamos os passos e as perplexidades das alunas, mulheres feitas que sabem discutir Joyce e D. H. Lawrence com sapiência, mas a quem são estranhos os processos que lhes permitiriam sentir que se cumprem enquanto indivíduos: as relações homem-mulher, o exercício da cidadania e essa espécie de bem-aventurança a que chamamos felicidade. Vamos percebendo também que talvez não haja assim tantos inocentes e que a vitória dos Ayatollahs contou com uma cumplicidade generalizada, uma vez que, nessa época, até os estratos mais esquerdistas e seculares da população bramavam contra a influência satânica dos imperialistas ocidentais (é claro que os milhares que tiveram a coragem de se manifestar -e muitos, muitos outros, que não se manifestaram mas que, por qualquer motivo, aborreceram algum medíocre com poder-, acabaram na prisão para serem sumariamente executados).

Nafisi descreve-nos o regime que os esmaga e humilha, que os monitoriza até ao mínimo detalhe (a forma como andam como riem como se vestem como se relacionam), o regime que pretende roubar-lhes a dignidade, aniquilar toda e qualquer chama, controlar os seus pensamentos e emoções, até os transformar numa ordeira e inócua insignificância. Contudo, mesmo com uma versão islâmica de Big Brother a observá-los permanentemente, existe aquele luminoso espaço de liberdade que a literatura, com o seu sublime poder, mantém vivo: a imaginação, essa parte de nós que a tirania não consegue sufocar.

Sílvia
 
terça-feira, setembro 28, 2010
  Ler, em Teerão
Durante um breve período, os nossos debates sobre Gatsby pareceram-nos tão electrizantes e importantes como os conflitos ideológicos que alastravam pelo país. De facto, à medida que o tempo passava, outras versões deste debate acabaram por dominar a cena ideológica e política. Incendiaram-se editoras e livrarias, por divulgarem obras de ficção imorais. Uma romancista foi posta na prisão por causa dos seus escritos, sendo acusada de divulgar a prostituição. Vários repórteres foram parar à cadeia, encerraram-se revistas e jornais, e alguns dos nossos melhores poetas clássicos, como Rumi e Omar Khayyan, foram censurados ou proibidos.
Como todos os outros ideólogos antes deles, os revolucionários islâmicos pareciam acreditar que os escritores eram os guardiães da moralidade. Esta imagem distorcida dos escritores, ironicamente, conferia-lhes um lugar sagrado, e ao mesmo tempo paralisava-os. O preço que tinham de pagar pela sua nova proeminência era uma espécie de impotência estética.


(“Ler Lolita em Teerão”, de Azar Nafisi, Editora Gótica, Pags 197)
 
  Poesia em Teerão
Não parava de perguntar a mim própria: “Quando é que perdemos esta qualidade, esta capacidade de levar a vida com ligeireza através da poesia? Em que preciso momento é que isto se perdeu?” Aquilo que tínhamos agora, esta retórica delico-doce, estas hipérboles pútridas e enganadoras, tresandavam a água-de-colónia barata.
Lembrei-me de uma história que ouvira várias vezes sobre a conquista da Pérsia pelos Árabes, uma conquista que trouxe o Islão para o Irão. Segundo esse relato, quando os Árabes atacaram o Irão, ganharam porque os próprios Persas, talvez fartos da tirania, atraiçoaram o seu rei e abriram as portas aos inimigos. Mas depois da invasão, quando lhes queimaram os livros, lhes destruíram os seus lugares de oração e os proibiram de falar a sua língua, os Persas vingaram-se, recuperando a sua história queimada e pilhada através dos mitos e da linguagem. O nosso grande poeta épico, Ferdowsi, tinha reescrito os mitos confiscados de reis e heróis persas numa linguagem pura e sagrada. O meu pai, que ao longo de toda a minha infância me lia Ferdowsi e Rumi, costumava dizer por vezes que o nosso verdadeiro lar, a nossa verdadeira história, estava na nossa poesia. A história voltou-me ao espírito nessa altura porque, num certo sentido, tínhamos voltado a fazer o mesmo. Desta vez tínhamos aberto as portas, não a invasores estrangeiros, mas a invasores domésticos, àqueles que tinham vindo ter connosco em nome do nosso próprio passado mas agora distorciam cada centímetro dele, e nos roubavam Ferdowsi e Rumi.

(“Ler Lolita em Teerão”, de Azar Nafisi, Editora Gótica, Pags 245-246)
 
segunda-feira, setembro 27, 2010
  Ler “O Grande Gatsby” em Teerão
“Portanto, agora, vamos rever todos os pontos que discutimos. Sim, o romance trata de relações vivas e concretas, do amor de um homem por uma mulher, e da traição dessa mulher a esse amor. Mas também fala de riqueza, da sua grande atracção bem como do seu poder destrutivo, da falta de senso que a acompanha, e, sim, sem dúvida que fala do sonho americano, um sonho de poder e riqueza, da luz enganadora da casa de Daisy e do porto de entrada para a América. Também fala da perda, da forma como morrem os sonhos depois de serem transformados na dura realidade. É a nostalgia, a sua imaterialidade, que torna o sonho puro.
Aquilo que nós no Irão tínhamos em comum com Fitzgerald era este sonho que se tornara a nossa obsessão e que se apoderara da nossa realidade, esse sonho lindo e terrível, impossível na sua realização, pelo qual qualquer tipo de violência podia ser justificado e perdoado. Era isto que nós tínhamos em comum, embora na altura não tivéssemos consciência disso. Os sonhos, Sr. Nyazi, são ideais perfeitos, completos em si próprios. Como podemos impô-los numa realidade incompleta, imperfeita, constantemente a mudar? Tornar-nos-íamos num Humbert
[o personagem masculino de “Lolita”], destruindo o objecto dos nossos sonhos; ou num Gatsby, destruindo-se a si próprio.”
Quando saí da aula nesse dia, não lhes disse aquilo que eu própria começava a descobrir: até que ponto o nosso destino se estava a tornar semelhante ao de Gatsby. Ele queria preencher o seu sonho, recriando o passado, e no fim descobriu que o passado estava morto, que o presente era uma fraude, e que não havia futuro. Isto não fazia lembrar a nossa revolução, que viera em nome de um passado colectivo e estragara as nossas vidas em nome de um sonho?


(“Ler Lolita em Teerão”, de Azar Nafisi, Editora Gótica, Pags 207-208)
 
sexta-feira, setembro 24, 2010
  “Ler Lolita em Teerão”, de Azar Nafisi
Imagino uma terra calcinada, mas onde as árvores e as flores crescem viçosas, por entre nuvens de poeira. Imagino uma cidade poluída e sobrelotada, rodeada de montanhas que quase tocam o céu. Imagino um povo gentil e afectuoso, de olhar encurralado e movimentos contidos. Não consigo imaginar o que foram aqueles oito anos de guerra com o Iraque. Imagino o negrume monótono da indumentária das jovens iranianas e as suas expressões furtivas. Não consigo imaginar o que é ser-se mulher na República Islâmica do Irão. Tento imaginar os demónios ódios maldade ignorância que vivem no interior dos elementos das brigadas da moralidade. Não consigo imaginar o que se passa nas mentes dos homens de turbante e de tamancos. Imagino a expressão "Em nome de Deus" no início de todos os documentos oficiais e palestras. Imagino um lugar povoado de vultos com a cara encostada ao chão, que se defendem atrás do silêncio. Imagino que, ali, a alegria só exista no movimento incessante das ruas e nesses jardins dos meus sonhos, talvez a mais bela herança da tradição persa. Imagino que as rotinas diárias permitam criar uma estranha noção de estabilidade a um povo aprisionado. Imagino uma espécie de estado geral de resignação e que, apesar de tudo, a vida continua. Imagino uma professora e seus alunos, a ler secretamente “Lolita”, numa casa anónima de Teerão.

Sílvia
 
quinta-feira, setembro 23, 2010
  “Morte na Pérsia” – de Annemarie Schwarzenbach
Tentei tudo ao meu alcance para viver na Pérsia. Falhei. […]
Durante os primeiros meses, viajei com novos amigos e conheci tudo: Persépolis, Ispaão, os jardins de Xiraz, as ermidas dos dervixes nos rochedos descarnados, as grandes portas das mesquitas, as estradas sem fim, as planícies sem fim. Atravessei desfiladeiros e segui de mula pelos caminhos no sopé dos montes Elburz. Vi a margem do mar Cáspio, selva a arrozais, zebus no areal fustigado pela tempestade, telhados de colmo debaixo de fortes chuvadas, lenhadores e pastores turcomanos, e as grandes praças vazias das capitais de província, Recht e Babul. Vi a rica cidade de Mazandaran, quinta-essência da melancolia. […]
E depois comecei a apreender a grandeza mortífera desta terra, que todas as manhãs nos abismava com a sua beleza e as suas alvoradas etéreas.

(“Morte na Pérsia” – de Annemarie Schwarzenbach, Tinta da China)

Este é o relato da segunda viagem que Annemarie Schwarzenbach faz até à Pérsia, a qual consiste numa dupla fuga: da Europa nazi e da sua própria alma atormentada. Aqui, encontramos belíssimas descrições dessa terra árida e grandiosa, a par das reflexões de uma mulher culta, corajosa, curiosa, fisicamente resistente, mas profundamente triste e em constante conflito interior. Acabaria por falecer de forma trágica aos 34 anos, na sequência de um acidente de bicicleta. É uma das minhas heroínas.

Sílvia
 
quarta-feira, agosto 18, 2010
  "o remorso de baltasar serapião", de valter hugo mãe
valter hugo mãe e Gonçalo M. Tavares são os dois mais espantosos escritores da minha geração. Li a pouco o primeiro livro do valter “o nosso reino” e agora o genial “o remorso de baltasar serapião”, faltam-me ainda os dois mais recentes.
É espantosa a galeria de personagens inesquecíveis marcadas pelo mundo mágico-religioso e por uma sexualidade que dá prazer mas que ronda a animalidade selvagem que causa sofrimento e morte.
Sim amigas, o homem tem cometido um horrendo crime sobre vós e sobre este crime esteve assente durante muitos milhares de anos a Humanidade. Ou seja a subjugação da mulher e a destruição/atenuação das suas qualidades, para que tal sucedesse foram utilizados diferentes artimanhas. E nunca nenhum livro retractou isto de modo mais intenso como valter hugo no seu “remorso...”. Aqui o crime é sucessivamente cometido pelo baltasar à sua ermesinda, pelo pai do baltasar à sua mãe, pelo povo à bruxa, pela família do serapião a brunilde, pelo dom afonso a todas as mulheres em seu redor...daqui só a sarga se livra. No mundo ocidental, esta libertação está quase ganha, apenas falta a ostracização católica ceder, mas alguns países muçulmanos ainda têm um longo caminho a percorrer.
A linguagem utilizada é original e de grande beleza plástica e aquilo que parece vinda da Idade Média, mas não é tudo criação fabulosa do valter, meu amigo.
“Este livro é um tsunami, não no sentido destrutivo, mas da força. Foi a primeira imagem que me veio a cabaça quando o li....
Quando foi publicado? E os sismógrafos não deram por nada? Oh que terra insensível: este livro é uma revolução. Tem de ser lido, porque traz muito de novo e fertilizará a literatura”.
José Saramago
Resposta: 2006; deram por ela.
E os leitores da Leitura Partilhada já leram valter hugo?
“Numa Idade Média brutal e miserável, Baltazar Serapião casa com a mulher dos seus sonhos e - tal como o pai fizera antes com a mãe e com a vaca, fêmeas irmanadas em condição e estatuto familiar - leva muito a sério a administração da sua educação. Mas o senhor feudal, pondo os olhos na jovem esposa, não desiste de exercer sobre ela os seus direitos... Entregue aos desmandos do poder e do destino, Baltazar será então forçado a seguir por caminhos que o levarão ao encontro da bruxaria, da possessão e, finalmente, do remorso.Com um notável trabalho de linguagem que recria poeticamente a língua arcaica e rude do povo, O Remorso de Baltazar Serapião, é uma tenebrosa metáfora da violência doméstica e do poder sinistro do amor”.
http://www.goodreads.com/book/show/5394968-o-remorso-de-baltazar-serapi-o

Castela
 
terça-feira, agosto 03, 2010
  "Fome", de Knut Hamsun
I. No início da leitura, escrevi que…

Não me revi no prefácio de Paul Auster, por não conseguir vislumbrar, na personagem, impertinência intelectual ou uma diletante vontade de experimentar os efeitos alucinogéneos de um estado de subnutrição profundo. Tão-pouco a achei incapaz de convocar a minha simpatia.

Sim, o nosso herói consegue ser um pouco arrogante e megalómano, mas parece-me mais um homem desajeitado, por vezes patético, com pouca apetência para a gestão dos seus escassíssimos recursos (nem sempre conseguimos ser racionais, muito menos em situações limite). Terá, porventura, traços de bipolaridade, sofrendo de estados de euforia seguidos por períodos de depressão, acabando por entrar num círculo vicioso que não é capaz de contrariar: tinha que escrever para não passar fome, mas a fome impedia-o de escrever e, não escrevendo, passava fome. Acima de tudo, em condições tão penosas, tão extremas, quase impossíveis de imaginar, tentou manter-se uno, conservando, desesperadamente, dignidade e princípios. Qualquer outro teria soçobrado a meio do caminho.

Recordo, com simpatia, os seus momentos de boa disposição e uma ainda preservada capacidade de encantamento:
A fome fez-se sentir de novo, começou a roer-me o peito, a dar-me puxões, a torturar-me com pequenas guinadas agudas. (….) Busquei na memória um homem que tivesse dez cêntimos, mas não encontrei nenhum. Pelo menos, estava um dia bonito, havia sol e luz à minha volta, o céu flutuava como um mar esplêndido.

Não o senti a comprazer-se com o sofrimento e são raros os momentos de auto-comiseração. É certo que uma galopante mania da perseguição o leva a praguejar contra Deus e a sorte, como se o mundo inteiro conjurasse para o prejudicar, mas fazia-o sem amargura ou inveja, o que é notável:
O meu pé estava muito dorido, mas, de resto, não me faltava nada.

Mais do que uma insuportável sobranceria, pareceu-me que a sua cabeça erguida decorria da impossibilidade de processamento mental de uma tão triste condição: de certa forma, e lá está a soberba, sentia-se diferente; ele não pertencia àquela pobreza sem solução, pois era apenas temporariamente pobre e não aceitava que o confundissem com um mendigo. Considerando que nem tudo era válido para sobreviver, fazia questão de se sentir honorável e era ainda susceptível de sentir vergonha (talvez tivesse preferido morrer à fome, a mendigar ou a roubar de forma sistemática):
Que doce sabor tinha o ser de novo uma pessoa honesta! As minhas algibeiras vazias já não me pesavam, senti prazer em ser novamente pelintra. Ao reflectir bem nisso, aquele dinheiro tinha-me causado muita angústia secreta, tinha pensado nele realmente com arrepios, uma vez e outra. Eu não era uma alma insensível. A minha natureza honesta tinha-se revoltado contra o meu comportamento baixo. Graças a Deus, eu havia subido na minha própria consideração.

Pensei que iria encontrar uma criatura insensível e eis que um homem depauperado mental e fisicamente, com frio, fome e dores, tem a capacidade de se preocupar com um entrevado, de sofrer pela rapariguinha com as mãos azuis de frio, de guardar um dos bolos para um rapazinho que tinha visto a ser humilhado:
E os olhos marejaram-se-me de lágrimas com a ideia de que o pequeno iria encontrar o bolo.

Toca-me essa sua incrível inteireza e, ao contrário do que imaginava quando comecei o livro, nada nele me causa antipatia ou repugnância. Ele até podia andar perdido, sem saber quem era, mas conservou a sua humanidade até ao fim. Acho que este homem é “gostável” (escreveu um dia Inês Pedrosa: Gosto das pessoas que nem no desespero perdem a delicadeza).

II. Agora, terminado o livro, pergunto-me se será possível encarar a fome com tal delicadeza e penso que ele mentiu mentiu mentiu.

Sílvia

* todas as passagens foram retiradas de Knut Hamsun, “Fome”, Cavalo de Ferro, 2008
 
sexta-feira, julho 16, 2010
  Encontrei na maior parte dos homens pouca consistência no bem, mas sem terem mais no mal.
Fala-se de mais do mal e do bem, desvalorizando a zona cinzenta que existe entre ambos. Talvez que o verdadeiro problema esteja nessa enorme mole dos assim-assim, vastíssimo conjunto que alberga tipologias díspares, onde se incluem os indiferentes, os egoístas, os ausentes, os fracos, os primários. De facto, o bem está muito longe de ser a ausência do mal, porque há formas de ausência do mal que contêm uma violência indescritível, de total alheamento face ao conceito do Outro, como é o caso da negligência.

Sílvia

Etiquetas:

 
quinta-feira, julho 08, 2010
  Coisa alguma me explica
(o imperador Adriano)

Nunca apreciou fazer parte de um sistema e era diferente, mais diferente do que seria suposto. Ao longo da vida, deixou-se maravilhar, preferindo as alegrias simples aos adornos excessivos. Gostaria de ter sido um centauro: Borístenes é a antítese das ciladas dos homens, talvez a criatura que melhor o compreendeu. Fatigado pelo excesso de solicitude e pelas adulações de que era alvo, ia à cidade o menos possível. Uma parte importante de si foi dedicada ao amor e às artes. O seu percurso não foi uniforme, porque quase sempre se caracterizou pela assumpção de posições extremas, que foi substituindo por outras igualmente excessivas. Toda a verdade provoca escândalo e, contudo, assumiu os sonhos, os caprichos, os delírios, as lacunas, os erros. Estava ciente das limitações dos métodos de avaliação da existência humana de que dispunha, porque os livros mentem, quase tudo o que sabemos de outrem é em segunda mão e um convívio intenso de sessenta anos de um homem consigo mesmo comporta uma enorme margem de erro. Ao reflectir sobre a sua vida, Adriano sabe que três quartos da mesma se mantêm sob uma indefinível névoa.

Sílvia

Etiquetas:

 
quarta-feira, julho 07, 2010
  Em nome do bem

Ignorância - não se conforma com ela. Fraqueza – admite que os homens são fracos, mas não os despreza, e critica que insistamos em ver neles o que valorizamos, esquecendo-nos de valorizar quem são. Amor – ama e é amado, talvez mais do que poderia pedir. Paz e Reconstrução – é um príncipe apaixonadamente pacífico, um reconstrutor, com aversão pela destruição inútil, embora não tenha impedimentos em praticar a guerra, que lhe deu os anos mais felizes da vida; Risquei com um traço as conquistas perigosas (…) forcei a paz (…) não tinha a ingenuidade de acreditar que dependeria sempre de nós evitar todas as guerras, mas queria-as apenas defensivas. Razão - ter razão cedo de mais é errar. Igualdade e Justiça - Lutava com todas as minhas forças contra as usurpações (...) importa que essa prosperidade sirva a todos (...) anulei os privilégios; está consciente de que há leis demasiado duras e complexas, que convidam à transgressão; procura ser justo, refreando a tentação da crueldade (que ele reconhece em si e sabe que vicia, como um animal passa a gostar de sangue depois de o ter provado). Intriga e Lisonja – não as suporta. Luxo e Ostentação – prefere a simplicidade. Devassidão - não se entende com ela, pese embora as suas tentativas para se integrar nos modos dos tempos. Humanidade - Esforçava-me por suavizar a selvajaria da vida dos acampamentos, por tratar aqueles homens simples como homens.

Sílvia

Etiquetas:

 
quarta-feira, abril 14, 2010
  Antígona, no TNSJ
Em "Antígona", encontramos múltiplas dimensões: religiosa, política, ética. Individual vs colectivo; direito vs justiça; leis divinas/costumes vs direito positivo; democracia vs tirania,… (neste rol, não incluo a questão do género, porque a entendo deslocada do pensamento de Sófocles).

Antígona presta aos mortos o respeito que lhes considera devido (para um grego, um corpo insepulto representava uma desgraça terrível: o cadáver seria mutilado; o indivíduo seria apagado da memória familiar e da cidade e, sobretudo, não entraria na região dos mortos; acrescia o grave risco da insalubridade); "A religião grega não repousa na palavra, mas na tradição ritual" (W. Burckert); Não nasci para odiar, mas para amar, diz Antígona.

Creonte representa o Poder estabelecido; não pretende dar a um traidor o mesmo tratamento de um cidadão comum; não pode deixar de exercer a lei sobre a sua sobrinha, porque ela é igual para todos.

Hemon contrapõe o despotismo do pai ao interesse da colectividade: o poder não deve ser exercido em desacordo com aqueles que governa.

Há uma inter-penetração entre as esferas de acção, quer do Estado, quer do indivíduo/ família/ costume/ religião, cuja articulação é essencial à preservação da comunidade, mas muito difícil de gerir (recordo-me da lei do véu francesa). A acção do indivíduo tem que estar inserida num ideal de conduta; contrariamente, "em política, não há nada mais perigoso do que um idealista com uma metralhadora"…

Ao invadir os domínios dos deuses com tal radicalismo, Creonte não dá mostras de grande inteligência (há certas fracturas que exigem maturidade social; não se pode destituir uma colectividade das suas grelhas de interpretação do mundo de um momento para o outro). Antígona, por seu turno, tem uma resposta demasiado emocional e peca por excesso de ousadia e falta de sensatez. A intermediação dos conflitos parece não ser possível quando as duas partes em confronto enfermam de obstinação, acabando por se aniquilar uma à outra. Bem vês que, nas torrentes invernais, quando as árvores cedem, os ramos se salvam: quem oferece resistência, perde-se com as próprias raízes.

Sílvia
 
domingo, março 21, 2010
  Hoje é DIA MUNDIAL DA POESIA

 
quinta-feira, março 11, 2010
  PADRE ANTÓNIO VIEIRA E LUÍS MIGUEL CINTRA, NA PÁSCOA DO PORTO

Amanhã, iremos continuar a antecipar/celebrar a PÁSCOA NO PORTO, vendo
um dos melhores actores portugueses, LUÍS MIGUEL CINTRA
ler um sermão de um dos maiores portugueses de sempre, PADRE ANTÓNIO VIEIRA
numa das mais belas igrejas da cidade, IGREJA DE SANTA CLARA

E vai ser assim

Em Fev/08, completaram-se 400 anos sobre o nascimento do Padre António Vieira, missionário jesuíta do sec. XVII, figura maior das Letras e da História portuguesas. Ao longo de 90 anos de vida, o Padre António Vieira constrói uma obra monumental, na qual sobressaem, entre outros, 200 sermões e 700 cartas

Este orador excelente, que sempre falava na maravilha e na catástrofe, que foi diplomata e conselheiro real, mestre nas letras, pensador profético, missionário, filósofo e teólogo, sonhava com um mundo melhor. Impermeável ao fanatismo corrente, foi favorável a uma aproximação aos cristãos-novos e aos judeus (ainda que motivado por algum espírito prático, do foro financeiro); superior ao espírito da época, censurou a escravatura (muito embora, de forma mitigada); crente numa sociedade mais justa, defendeu os direitos dos ameríndios, contra a exploração dos colonos (porventura, em troca de uma outra forma de escravatura); visionário, acreditou até ao fim da vida na quimera do Quinto Império e na construção de um Reino de Deus na terra; lutador feroz contra os interesses instalados e mesquinhos, apontou o dedo aos arrogantes, aos predadores, aos corruptos; extravagante, foi combatido e incompreendido.

Defensor dos injustiçados, voz severa contra os abusos de toda a espécie, corajoso a enfrentar os poderosos, despreocupado com o sucesso material, o Padre António Vieira foi um raro exemplo de quem vive como prega. Incansável, atravessou sete vezes o Atlântico, fez milhares de quilómetros a pé ou de piroga através do Brasil, viajou por vários países da Europa, viveu o desconforto e a doença, foi perseguido pela sua heterodoxia. Vejo-o como um homem audaz, inteligente e sensível, um patriota e um humanista (ao mesmo tempo, teimoso e incauto, talvez até um pouco alucinado), merecedor de figurar por entre os seres humanos que nos servem de referência.

Padre António Vieira foi um homem genial que teve uma existência fascinante. Vale a pena tentar conhecê-lo um pouco melhor.

Sílvia
 
terça-feira, novembro 24, 2009
  150 anos da publicação do livro "A Origem das Espécies"

A "Origem das Espécies", do naturalista britânico Charles Darwin, é um dos livros mais importantes da história da ciência, apresentando a Teoria da Evolução, base de toda biologia moderna. O nome completo da primeira edição (1859) é "On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life"

Comemoração 150 Anos da publicação do livro
"Evolução das Espécies" de Charles Darwin
(hoje, Museu Soares dos Reis -Porto)



Darwin A Origem das Espécies - 1859 :De Rerum Natura


Os 150 anos de «A Origem das Espécies» no Museu Soares dos Reis : Blog Ciência Hoje


Luis Neves

Etiquetas:

 
sábado, novembro 21, 2009
  introdução ao livro
" Although much remains obscure, and will long remain obscure, I can entertain no doubt, after the most deliberate study and dispassionate judgment of which I am capable, that the view which most naturalists entertain, and which I formerly entertained—namely, that each species has been independently created—is erroneous. I am fully convinced that species are not immutable; but that those belonging to what are called the same genera are lineal descendants of some other and generally extinct species, in the same manner as the acknowledged varieties of any one species are the descendants of that species. Furthermore, I am convinced that Natural Selection has been the main but not exclusive means of modification."
"On The Origin of Species", Introduction, pág.6

Charles Darwin

"árvore da vida", diagrama da evolução das espécies

darwin-online.org.uk

Luis Neves

Etiquetas:

 
quinta-feira, novembro 12, 2009
  Mais instrumentos de consulta
http://darwin-online.org.uk

ams
 
 
Hoje no 2º Canal RTP,23:30, Documentário "O que Darwin não sabia"



Ver no You Tube o documentário "What Darwin didn't know"

"A hundred and fifty years ago Darwin published his master work on the origin of species. His explanation for life on Earth was so seductive, so simple that it seams obvious today. Anyone who is serious about science takes evolution for granted. But it's extraordinary that we do, because Darwin's theory was riddled with holes. It contained as he freely admitted much speculation and yet he had no doubt that future generations would complete his work and demonstrate the essential truth of his vision, and for a hundred and fifty years that is what scientist have been doing."

No DocuWiki

Etiquetas:

 
sexta-feira, novembro 06, 2009
  Carl Sagan explica a selecção natural

Etiquetas:

 
quarta-feira, novembro 04, 2009
 
Charles Darwin
1809-1882

Etiquetas:

 
sábado, outubro 31, 2009
 
O Atticus Finch não vai ganhar, ele não pode ganhar, mas ele é o único homem das redondezas que pode fazer o júri demorar a tomar uma decisão, num caso como este. E pensei para comigo, é um passo...um passo de bébé, mas é um passo em frente.
pg.306
cristina_pt

Etiquetas:

 
  Atticus
Raramente nos pedem para sermos bons cristãos, mas quando pedem, então temos pessoas como o Atticus que vão por nossa vez.
pg. 305
cristina_pt

Etiquetas:

 
 

Etiquetas:

 
sexta-feira, outubro 30, 2009
  Mayella
Era tão triste como os mestiços: os brancos não queriam nada com ela porque vivia no meio de porcos; os negros não queriam nada com ela porque era branca.
(...)
Com uma mão Maycomb dava-lhes cabazes de Natal e dinheiro da segurança social, enquanto que com a outra os enxotava.
(Pg. 273)
cristina_pt

Etiquetas:

 
quarta-feira, outubro 28, 2009
  " Acreditar em algo e não o viver é desonesto." Gandhi
Ele tinha de o fazer, era por isso que o fazia e, de repente, aquele novo facto significava menos problemas e menos discussões. Mas será que explicava a atitude de toda a cidade? O tribunal tinha nomeado Atticus para o defender. E o Atticus queria defendê-lo. Era isso que não lhes agradava era tudo muito confuso.
(pg. 235)
Parece adequado falar um pouco sobre a advocacia. Atticus era advogado e um advogado que está do lado da justiça. Por vezes não é fácil sê-lo. Aliás, é importante esclarecer que estar do lado da justiça, poderá nem significar estar no lado do justo, mas estar lá; porque mesmo o injusto não pode ser injustiçado. Que seria de nós se não pudessemos confiar nos mais elementares princípios de garantia no direito?
Frequentemente poderão questionar-se como a/o advogada/o poderá defender aquele "monstro". Mas a verdade é que o faz porque tem de o fazer. E tem de o fazer não por obrigação de um ofício, mas porque o valor máximo - a justiça - assim o obriga.
Nunca me reconheci tal coragem.
Atticus é o advogado justiceiro. É o garante da igualdade e da protecção dos direitos civis. E é assim que os advogados devem ser. São frequentes as referências da obra e da sua personagem no meio jurídico. É o exemplo a seguir, é aquilo que todos gostariamos de ter coragem de ser e por isso, vamos tentando sê-lo.
Não resisto a citar Miguel Esteves Cardoso, no Público de ontem: "Gosto de médicos e gosto de advogados. São pessoas que aceitam, à partida, uma situação que era má e que, mesmo assim, querem pô-la boa."

Etiquetas:

 
terça-feira, outubro 27, 2009
  bando
Acima de tudo, um bando é constituído por pessoas. E todos os bandos de todas as nossas cidadezinhas do sul são constituídos por pessoas que nós conhecemos...e isso não quer dizer nada acerca delas, pois não?
...
Foi preciso aparecer uma criança de oito anos para os fazer cair na realidade, não foi? - disse Atticus - Isso só prova que...que uma matilha de animais selvagens pode ser detida, simplesmente porque continuam a ser humanos.
Umm, se calhar talvez seja necessária uma força policial composta de crianças.

(pg. 227)
Atticus acredita intrinsecamente na bondade humana. E nessa crença, aliada à sua integridade moral, sustenta a sua vida. E fá-lo, na maneira dos heróis, mesmo que tal o possa colocar em perigo. Atticus é um herói, como poucos existem.

Etiquetas:

 
  Infância
Depois levantou-se e quebrou o que restava do nosso código de infância.
(pg.202)
O percurso dos Finch é também o crescimento das suas crianças. Com grande beleza, Lee vai descrevendo pequenos momentos que reflectem o amadurecimento do jovem Jem, que vemos atingir o estatuto de Mister. Lee deixa-nos o conforto que este irá crescer bem, cada vez mais parecido com Atticus, no seu altruísmo e na sua grandeza moral.

Etiquetas:

 
segunda-feira, outubro 26, 2009
 
Nunca compreendi muito bem a sua preocupação com a hereditariedade. Não sei como, mas tinha ficado com a impressão de que as Pessoas de Bem eram aquelas que faziam o melhor que podiam com a sua consciência, mas a tia Alexandra era da opinião, expressa aliás com alguma obliquidade, que quanto mais tempo uma família habitava um pedaço de terra, mais fina era.
(pg. 187)
A tia é muito tia. A altivez com que se coloca acima dos seus pares e estratifica os cidadãos da pequena cidade, tornam-na merecedora de alguma desaprovação por parte da nossa pequena/grande Scout. Acreditemos que os seus esforços de educar a Scout de acordo com a sua visão redutora do que deve ser uma mulher, sejam infrutíferos.

Etiquetas:

 
  Diplomacia
- O que vocês acham de ela vir viver connosco?
Eu disse que adorava, o que era a mais pura mentira, mas às vezes, sob certas circunstâncias, é mesmo preciso mentir, sempre que a situação escapa ao nosso controlo.
(pg. 185)

Etiquetas:

 
  Doutrina da Impureza da Mulher
Os contrabandistas de álcool tinham causado muitos sarilhos nos bairros dos negros, mas as mulheres eram muito pior. Mais uma vez, como já tinha acontecido tantas vezes na minha igreja, fui confrontada com a doutrina da Impureza da Mulher, que parecia afligir todos clérigos. (pg. 176)
Sim, pobre Scout, como irás descobrir, em relação a tal doutrina, todas as religiões são unânimes na sua concordância.

Etiquetas:

 
domingo, outubro 25, 2009
 
mas lembra-te que é pecado matar uma cotovia
(pg. 134)


Etiquetas:

 
  children see, children do

Só espero que o Jem e a Scout saibam procurar as respostas em mim e não no que se diz pela cidade. Espero que confiem suficientemente em mim... (pg. 131)

Etiquetas:

 
sábado, outubro 24, 2009
  Responsabilidades Partilhadas
No one can terrorize a whole nation, unless we are all his accomplices.
Edward R. Murrow

Etiquetas:

 
quarta-feira, outubro 21, 2009
 
- Desta vez é diferente - disse ele. - Desta vez não estamos a lutar contra os ianques, estamos a lutar contra os nossos amigos. Mas lembra-te de uma coisa, por mais complicadas que as coisas se tornem, eles continuam a ser nossos amigos e esta continua a ser a nossa casa. (pg. 115)
Atticus explica à sua filha porque é necessário lutar por algumas causas, mesmo quando sabemos que vamos perder. Porque há batalhas que têm de ser travadas e porque há pessoas que merecem a nossa companhia, especialmente na derrota.
Mas o mais difícil é quando não é possível distinguir os amigos do inimigos. E nessa ambiguidade, ajuda a sensatez de Atticus que confesso não ter.

Cristina_pt

Etiquetas:

 
terça-feira, outubro 20, 2009
 
 
  perguntas difíceis
- Defendes pretos, Atticus? - perguntei-lhe eu nessa mesma tarde.- Claro que sim. Não digas preto, Scout. É feio.
- Mas`é o qu`toda a gente diz na escola.
- Então, a partir de agora passa a ser toda a gente, menos uma pessoa...
-
Mas então, se não queres que cresça a falar desta maneira, por que é que me mandas p`ra escola?
(
pg. 113)

Cristina_pt

Etiquetas:

 

O QUE ESTAMOS A LER

(este blogue está temporariamente inactivo)

PROXIMAS LEITURAS

(este blogue está temporariamente inactivo)

LEITURAS NO ARQUIVO

"ULISSES", de James Joyce (17 de Julho de 2003 a 7 de Fevereiro de 2004)

"OS PAPEIS DE K.", de Manuel António Pina (1 a 3 de Outubro de 2003)

"AS ONDAS", de Virginia Woolf (13 a 20 de Outubro de 2003)

"AS HORAS", de Michael Cunningham (27 a 30 de Outubro de 2003)

"A CIDADE E AS SERRAS", de Eça de Queirós (30 de Outubro a 2 de Novembro de 2003)

"OBRA POÉTICA", de Ferreira Gullar (10 a 12 de Novembro de 2003)

"A VOLTA NO PARAFUSO", de Henry James (13 a 16 de Novembro de 2003)

"DESGRAÇA", de J. M. Coetzee (24 a 27 de Novembro de 2003)

"PEQUENO TRATADO SOBRE AS ILUSÕES", de Paulinho Assunção (22 a 28 de Dezembro de 2003)

"O SOM E A FÚRIA", de William Faulkner (8 a 29 de Fevereiro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. I - Do lado de Swann)", de Marcel Proust (1 a 31 de Março de 2004)

"O COMPLEXO DE PORTNOY", de Philip Roth (1 a 15 de Abril de 2004)

"O TEATRO DE SABBATH", de Philip Roth (16 a 22 de Abril de 2004)

"A MANCHA HUMANA", de Philip Roth (23 de Abril a 1 de Maio de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. II - À Sombra das Raparigas em Flor)", de Marcel Proust (1 a 31 de Maio de 2004)

"A MULHER DE TRINTA ANOS", de Honoré de Balzac (1 a 15 de Junho de 2004)

"A QUEDA DUM ANJO", de Camilo Castelo Branco (19 a 30 de Junho de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. III - O Lado de Guermantes)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2004)

"O LEITOR", de Bernhard Schlink (1 a 31 de Agosto de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. IV - Sodoma e Gomorra)", de Marcel Proust (1 a 30 de Setembro de 2004)

"UMA APRENDIZAGEM OU O LIVRO DOS PRAZERES" e outros, de Clarice Lispector (1 a 31 de Outubro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. V - A Prisioneira)", de Marcel Proust (1 a 30 de Novembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA", de José Saramago (1 a 21 de Dezembro de 2004)

"ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ", de José Saramago (21 a 31 de Dezembro de 2004)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VI - A Fugitiva)", de Marcel Proust (1 a 31 de Janeiro de 2005)

"A CRIAÇÃO DO MUNDO", de Miguel Torga (1 de Fevereiro a 31 de Março de 2005)

"A GRANDE ARTE", de Rubem Fonseca (1 a 30 de Abril de 2005)

"D. QUIXOTE DE LA MANCHA", de Miguel de Cervantes (de 1 de Maio a 30 de Junho de 2005)

"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO (Vol. VII - O Tempo Reencontrado)", de Marcel Proust (1 a 31 de Julho de 2005)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2005)

UMA SELECÇÃO DE CONTOS LP (1 a 3O de Setembro de 2005)

"À ESPERA NO CENTEIO", de JD Salinger (1 a 31 de Outubro de 2005)(link)

"NOVE CONTOS", de JD Salinger (21 a 29 de Outubro de 2005)(link)

Van Gogh, o suicidado da sociedade; Heliogabalo ou o Anarquista Coroado; Tarahumaras; O Teatro e o seu Duplo, de Antonin Artaud (1 a 30 de Novembro de 2005)

"A SELVA", de Ferreira de Castro (1 a 31 de Dezembro de 2005)

"RICARDO III" e "HAMLET", de William Shakespeare (1 a 31 de Janeiro de 2006)

"SE NUMA NOITE DE INVERNO UM VIAJANTE" e "PALOMAR", de Italo Calvino (1 a 28 de Fevereiro de 2006)

"OTELO" e "MACBETH", de William Shakespeare (1 a 31 de Março de 2006)

"VALE ABRAÃO", de Agustina Bessa-Luis (1 a 30 de Abril de 2006)

"O REI LEAR" e "TEMPESTADE", de William Shakespeare (1 a 31 de Maio de 2006)

"MEMÓRIAS DE ADRIANO", de Marguerite Yourcenar (1 a 30 de Junho de 2006)

"ILÍADA", de Homero (1 a 31 de Julho de 2006)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2006)

POESIA DE ALBERTO CAEIRO (1 a 30 de Setembro de 2006)

"O ALEPH", de Jorge Luis Borges (1 a 31 de Outubro de 2006) (link)

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS (1 a 30 de Novembro de 2006)

"DOM CASMURRO", de Machado de Assis (1 a 31 de Dezembro de 2006)(link)

POESIA DE RICARDO REIS E DE FERNANDO PESSOA (1 a 31 de Janeiro de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 28 de Fevereiro de 2007)

"O VERMELHO E O NEGRO" e "A CARTUXA DE PARMA", de Stendhal (1 a 31 de Março de 2007)

"OS MISERÁVEIS", de Victor Hugo (1 a 30 de Abril de 2007)

"A RELÍQUIA", de Eça de Queirós (1 a 31 de Maio de 2007)

"CÂNDIDO", de Voltaire (1 a 30 de Junho de 2007)

"MOBY DICK", de Herman Melville (1 a 31 de Julho de 2007)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2007)

"PARAÍSO PERDIDO", de John Milton (1 a 30 de Setembro de 2007)

"AS FLORES DO MAL", de Charles Baudelaire (1 a 31 de Outubro de 2007)

"O NOME DA ROSA", de Umberto Eco (1 a 30 de Novembro de 2007)

POESIA DE EUGÉNIO DE ANDRADE (1 a 31 de Dezembro de 2007)

"MERIDIANO DE SANGUE", de Cormac McCarthy (1 a 31 de Janeiro de 2008)

"METAMORFOSES", de Ovídio (1 a 29 de Fevereiro de 2008)

POESIA DE AL BERTO (1 a 31 de Março de 2008)

"O MANUAL DOS INQUISIDORES", de António Lobo Antunes (1 a 30 de Abril de 2008)

SERMÕES DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA (1 a 31 de Maio de 2008)

"MAU TEMPO NO CANAL", de Vitorino Nemésio (1 a 30 de Junho de 2008)

"CHORA, TERRA BEM-AMADA", de Alan Paton (1 a 31 de Julho de 2008)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2008)

"MENSAGEM", de Fernando Pessoa (1 a 30 de Setembro de 2008)

"LAVOURA ARCAICA" e "UM COPO DE CÓLERA" de Raduan Nassar (1 a 31 de Outubro de 2008)

POESIA de Sophia de Mello Breyner Andresen (1 a 30 de Novembro de 2008)

"FOME", de Knut Hamsun (1 a 31 de Dezembro de 2008)

"DIÁRIO 1941-1943", de Etty Hillesum (1 a 31 de Janeiro de 2009)

"NA PATAGÓNIA", de Bruce Chatwin (1 a 28 de Fevereiro de 2009)

"O DEUS DAS MOSCAS", de William Golding (1 a 31 de Março de 2009)

"O CÉU É DOS VIOLENTOS", de Flannery O´Connor (1 a 15 de Abril de 2009)

"O NÓ DO PROBLEMA", de Graham Greene (16 a 30 de Abril de 2009)

"APARIÇÃO", de Vergílio Ferreira (1 a 31 de Maio de 2009)

"AS VINHAS DA IRA", de John Steinbeck (1 a 30 de Junho de 2009)

"DEBAIXO DO VULCÃO", de Malcolm Lowry (1 a 31 de Julho de 2009)

...leitura livre... de leitores amadores (1 a 31 de Agosto de 2009)

POEMAS E CONTOS, de Edgar Allan Poe (1 a 30 de Setembro de 2009)

"POR FAVOR, NÃO MATEM A COTOVIA", de Harper Lee (1 a 31 de Outubro de 2009)

"A ORIGEM DAS ESPÉCIES", de Charles Darwin (1 a 30 de Novembro de 2009)

Primeira Viagem Temática BLOOMSDAY 2004

Primeira Saí­da de Campo TORMES 2004

Primeira Tertúlia Casa de 3 2005

Segundo Aniversário LP

Os nossos marcadores

ARQUIVO
07/01/2003 - 08/01/2003 / 08/01/2003 - 09/01/2003 / 09/01/2003 - 10/01/2003 / 10/01/2003 - 11/01/2003 / 11/01/2003 - 12/01/2003 / 12/01/2003 - 01/01/2004 / 01/01/2004 - 02/01/2004 / 02/01/2004 - 03/01/2004 / 03/01/2004 - 04/01/2004 / 04/01/2004 - 05/01/2004 / 05/01/2004 - 06/01/2004 / 06/01/2004 - 07/01/2004 / 07/01/2004 - 08/01/2004 / 08/01/2004 - 09/01/2004 / 09/01/2004 - 10/01/2004 / 10/01/2004 - 11/01/2004 / 11/01/2004 - 12/01/2004 / 12/01/2004 - 01/01/2005 / 01/01/2005 - 02/01/2005 / 02/01/2005 - 03/01/2005 / 03/01/2005 - 04/01/2005 / 04/01/2005 - 05/01/2005 / 05/01/2005 - 06/01/2005 / 06/01/2005 - 07/01/2005 / 07/01/2005 - 08/01/2005 / 08/01/2005 - 09/01/2005 / 09/01/2005 - 10/01/2005 / 10/01/2005 - 11/01/2005 / 11/01/2005 - 12/01/2005 / 12/01/2005 - 01/01/2006 / 01/01/2006 - 02/01/2006 / 02/01/2006 - 03/01/2006 / 03/01/2006 - 04/01/2006 / 04/01/2006 - 05/01/2006 / 05/01/2006 - 06/01/2006 / 06/01/2006 - 07/01/2006 / 07/01/2006 - 08/01/2006 / 08/01/2006 - 09/01/2006 / 09/01/2006 - 10/01/2006 / 10/01/2006 - 11/01/2006 / 11/01/2006 - 12/01/2006 / 12/01/2006 - 01/01/2007 / 01/01/2007 - 02/01/2007 / 02/01/2007 - 03/01/2007 / 03/01/2007 - 04/01/2007 / 04/01/2007 - 05/01/2007 / 05/01/2007 - 06/01/2007 / 06/01/2007 - 07/01/2007 / 07/01/2007 - 08/01/2007 / 08/01/2007 - 09/01/2007 / 09/01/2007 - 10/01/2007 / 10/01/2007 - 11/01/2007 / 11/01/2007 - 12/01/2007 / 12/01/2007 - 01/01/2008 / 01/01/2008 - 02/01/2008 / 02/01/2008 - 03/01/2008 / 03/01/2008 - 04/01/2008 / 04/01/2008 - 05/01/2008 / 05/01/2008 - 06/01/2008 / 06/01/2008 - 07/01/2008 / 07/01/2008 - 08/01/2008 / 08/01/2008 - 09/01/2008 / 09/01/2008 - 10/01/2008 / 10/01/2008 - 11/01/2008 / 11/01/2008 - 12/01/2008 / 12/01/2008 - 01/01/2009 / 01/01/2009 - 02/01/2009 / 02/01/2009 - 03/01/2009 / 03/01/2009 - 04/01/2009 / 04/01/2009 - 05/01/2009 / 05/01/2009 - 06/01/2009 / 06/01/2009 - 07/01/2009 / 07/01/2009 - 08/01/2009 / 08/01/2009 - 09/01/2009 / 09/01/2009 - 10/01/2009 / 10/01/2009 - 11/01/2009 / 11/01/2009 - 12/01/2009 / 03/01/2010 - 04/01/2010 / 04/01/2010 - 05/01/2010 / 07/01/2010 - 08/01/2010 / 08/01/2010 - 09/01/2010 / 09/01/2010 - 10/01/2010 / 05/01/2012 - 06/01/2012 /


Powered by Blogger

Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!